terça-feira, 31 de maio de 2011

Só é preso quem quer. A impunidade na justiça brasileira.

A  IMPUNIDADE  NA  JUSTIÇA  BRASILEIRA

Mais uma prova cabal que a justiça brasileira é vergonhosa, incompetente e injusta é o caso recente da prisão do jornalista Pimenta Neves, depois de 11 anos de tramitação no poder judiciário, tendo passado por todas as instâncias possíveis. O caso foi sendo protelado, protelado, protelado... até as últimas conseqüências, é claro, usando as brechas da lei, tudo legal. O réu mesmo confessando o crime só foi preso agora, depois de 11 anos.


É incrível. Como se diz nas ruas, “ladrão de galinha vai para a cadeia, mas rico fica solto.” Ou seja, no Brasil, a lei foi feita para os pobres, as cadeias e os presídios estão superlotados de pessoas de origem humilde, negros, pardos e das camadas mais pobres da população. Pobre não tem dinheiro para pagar advogado bom, não tem dinheiro para se defender; então acaba na cadeia e, muitas vezes por crimes leves como roubar uma pasta de dentes no supermercado. Já o rico, mesmo cometendo os crimes mais hediondos e até confessando o crime para a polícia, não vai para cadeia, fica solto esperando julgamento; com dinheiro ele vai recorrendo, de uma instância para outra, para mais outra, até chegar à última instância. Aí, já se passaram anos e anos, décadas e décadas; e às vezes é absolvido (por fôrça dos argumentos da defesa) ou é solto por falta de provas ou continua solto por prescrição da pena.


Não sou advogado,mas é fácil perceber esta situação. A questão nem é muito a eficiência da polícia brasileira, que sofre muito de falta de infra-estrutura, equipamentos e pessoal técnico; mas principalmente do “sistema” – todo um aparato burocrático complexo, verticalizado, com várias instâncias e o sistema de poder altamente concentrado, fechado, elitizado e conservador. Se o sistema fosse mais aberto e democrático, certamente seria mais eficiente. Contribuindo muito para a produção de injustiças do sistema jurídico brasileiro estão as leis. Aí existe um mundo complexo de leis (que são conflituosas entre si) que foram criadas para complicar e não simplificar. Ou seja, foram criadas para não funcionar – ou melhor na prática funcionar para pobre e não para rico. O grande número de artigos e parágrafos, criam várias situações contraditórias, que oferecem “brechas” para os ricos permanecerem impunes e os menos desavisados irem para a cadeia.

Vejam alguns dados e analises:



A realidade nua e crua: O jornalista Pimenta Neves, assassino confesso, adia sua prisão por mais de uma década, e não passará nem dois anos atrás das grades. (Claudia Jordão - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2168,27.Mai.11).
No caso do jornalista hoje com 74 anos, que matou a ex-namorada Sandra Gomide com dois tiros, em agosto de 2000, a Justiça tardou em excesso e revelou-se branda demais. Condenado a 19 anos de prisão pelo Tribunal do Júri de Ibiúna (SP) em 2006, o réu confesso teve a pena reduzida para 15 anos e, mais de uma década após o crime, estava solto graças a uma série de recursos impetrados em todas as instâncias. A liberdade prolongada de Pimenta terminou às 20h01 da terça-feira 24/05/2011, após o Supremo Tribunal Federal negar a última ação possível apresentada por sua defesa. Por ter ficado sete meses na cadeia, lhe restariam apenas mais um ano e onze meses atrás das grades. Seus advogados usaram todo o arsenal que a legislação brasileira oferece para protelar o cumprimento da sentença Segundo a ministra Ellen Gracie, o caso era um dos mais difíceis de explicar no Exterior.

O caso se explica por si só. O criminoso, réu confesso, ficou só 7 meses na cadeia nestes 11 anos. Porquê ? Porque a lei permite. Porque a lei no Brasil foi feita para proteger os mais ricos e condenar os mais pobres. Afinal, cadeia é pra pobre. Depois de ser condenado por um Tribunal do Júri, um assassino pode recorrer ao Tribunal de Justiça. Em seguida, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e depois ao Supremo. 'Pimenta Neves exerceu em plenitude todos os direitos que a ordem jurídica assegura a qualquer réu', afirmou o relator do caso no STF, Celso de Mello.

Lembram do cantor Alexandre Pires?


Atropelou, fugiu do local do acidente


sem prestar socorro à vítima, que veio a falecer,


mas foi absolvido por “falta de provas” pela nossa justiça.


Ou será injustiça?

Lembram do Jogador Edmundo?


Usando seu carro importado, matou e mutilou,


mas continua solto aguardando ser julgado pela justiça.


Ou será injustiça?


Lembram do jogador Guilherme?


Passou a noite na farra,


lotou seu carro de putas,


amigos e cervejas, matou um inocente.


Mentiu dizendo que não era o motorista,


com certeza para escapar do exame toxicológico,


mas continua solto por ordem da justiça.


Ou será injustiça?


Lembram do cantor Renner?


Dirigindo com velocidade acima do permitindo,


matou duas pessoas inocentes.


Mas continua solto aguardando julgamento


por ordem da justiça.


Ou será injustiça?


Lembram do ex-senador Jader Barbalho?


Acusado de desviar milhões de reais da extinta


SUDAM, teve seu mandato cassado pelo seus pares.


Hoje é deputado federal,


continua solto aguardando julgamento pela justiça.


Ou será injustiça?






Lembram do roubo do TRT paulista?


O chefe da quadrilha era o juiz Lalau,


que hoje encontra-se descansando


em prisão domiciliar.


“Numa bela mansão”.


O restante da quadrilha foi absolvida


em sentença dada em véspera de final


de copa do Mundo.


O juiz responsável pelo processo era


Casem Mazloum, acusado de diversos


crimes pelo ministério público,


mas que continua solto aguardando


julgamento pela justiça.


Ou será injustiça?



Por que existem 150 mil inquéritos de homicídios inconclusos no Brasil?

Um levantamento divulgado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), afirma que existem 151.819 inquéritos sobre homicídios instaurados no Brasil antes de dezembro de 2007 sem conclusão . De 50 mil homicídios ocorridos no país por ano, apenas quatro mil (8%) têm o autor descoberto e preso. Segundo dados do Mapa da Violência 2011, no que se refere à impunidade dos crimes de homicídios no Brasil, quem mata tem 92% de chances de ficar impune pelo crime cometido, pois dos 50 mil homicídios ocorridos anualmente no país, apenas 8% são solucionados. É o que se pode chamar de impunidade quase plena. A tudo isso, soma-se o fato que apenas identificar a autoria de crime no Brasil não é sinônimo de condenação e cumprimento da pena correspondente. Há os que se encontram foragidos e os que são protegidos pela benevolência da lei penal, sem falar na morosidade da Justiça.

Os poucos resultados no trabalho da polícia investigativa, com a notória falta de estrutura necessária, e a frouxidão da lei penal brasileira continuarão incentivando os crimes contra a vida no Brasil. (Por ANTONIO CARLOS LACERDA. PRAVDA.RU)



PARA ESPECIALISTAS, CAUSA ESTÁ NAS LEIS CHEIAS DE BRECHAS E NA CORRUPÇÃO DENTRO DA POLÍCIA.

O promotor de Justiça Marcelo Cunha de Araújo, do Ministério Público de Minas Gerais, é autor do livro “Só é preso quem quer! - Impunidade e Ineficiência do Sistema Criminal Brasileiro” (Editora Basport), 2009, 2ª edição 2010 pela Saraiva. Professor de Psicologia Jurídica da PUC-MG, com experiência nas áreas de Direito Penal e Direito Processual Penal.

O autor do livro, confirma as afirmações que fizemos no início deste texto. Vejam as respostas que ele deu à algumas perguntas feitas na época do lançamento do livro :



Como o sr. explica o título da obra?

Marcelo Cunha de Araújo - O título da obra se iniciou em uma brincadeira em sala de aula em que afirmava aos meus alunos (e, posteriormente, demonstrava minha assertiva) que, caso um criminoso cumprisse 3 requisitos, nunca ficaria preso um dia sequer no Brasil, independentemente do crime que praticasse ou de o ter confessado. Seriam os requisitos: 1) Fugir do flagrante (mesmo assim, em muitos casos, o segundo requisito pode suplantá-lo); 2) Ter emprego e (ou) residência fixa; 3) Não deixar seu caso cair na mídia nacional. Apesar da brincadeira, nessas hipóteses, havendo defesa interessada, o cidadão poderá cometer todo e qualquer crime, desde o homicídio, passando pelo estupro e chegando ao grau máximo da impunidade: os crimes do colarinho branco. Em meu livro procuro explicitar pormenorizadamente como isso ocorre.



Como a Justiça trata ricos e pobres em relação à punição de crimes semelhantes?

Marcelo Cunha de Araújo - Uma vez que as leis de conteúdo explicitamente discriminatório são poucas (como a possibilidade de elidir um crime tributário pelo pagamento - ou mero parcelamento - do tributo enquanto o crime contra o patrimônio individual não tem essa benesse), a diferença de punição entre pobres e ricos é alcançada pela interpretação equivocada dos dispositivos legais associada à falta de aparato legislativo que vise ao combate efetivo dos crimes praticados por ricos. Assim, o cidadão preconceituosamente intitulado “marginal” que rouba uma pequena quantia em dinheiro permanecerá preso por vários anos, enquanto o empresário que sonega bilhões nunca tem qualquer repercussão penal. Aclarar como isso ocorre, de fato, foi um dos objetivos do livro.

Dessa forma, simplificando o problema, temos que vários fatores contribuem à sua configuração. Seriam eles, entre outros: 1) a interpretação de que a garantia de presunção de inocência seja absoluta; 2) O abarrotamento do STF e do STJ; 3) A interpretação extremamente garantista na produção de provas (como, por exemplo, a interpretação de que o direito à intimidade acaba por impedir o acesso a contas bancárias); 4) A falta de aparelhamento material, pessoal e técnico dos setores investigativos; 4) A inexistência de crimes do colarinho branco entre os crimes hediondos; 5) A impossibilidade de configuração das prisões provisórias para os crimes do colarinho branco; 6) A falta de apoio dos juízes de primeira instância que vêem suas decisões serem diariamente reformadas ou anuladas e 7) A falta de compromisso da reprimenda às necessidades do caso concreto (na execução penal).

Livraria da Folha - Qualquer pessoa pode se safar de qualquer tipo de crime, se souber usar as brechas das leis?

Marcelo - Sim. Desde que não tenha sido preso em flagrante, seu caso não caia na imprensa e tenha advogados atuantes, estatisticamente existe uma possibilidade imensa dessa pessoa ficar impune. É bom que se diga que, em certos casos, mesmo com a prisão em flagrante e com o caso na imprensa, tal crime pode acabar caindo na impunidade, como explicito em vários exemplos reais em meu livro. Ainda é interessante se falar que não se trata de uma questão de prova ou de certeza de autoria, uma vez que o criminoso pode até confessar. Trata-se de uma questão de inoperosidade do sistema.



Livraria da Folha - O pobre deve ficar realmente mais apreensivo do que o rico quando é preso?

Marcelo - Com toda certeza! O pobre é o escolhido por esse sistema perverso como bode expiatório para gerar a ilusão, na população em geral, de que o sistema funciona. Assim, apesar do título da obra (que foi pensado apenas como provocativo), não é para todos que vale a máxima de que "só é preso quem quer". Na obra, na verdade, tento explicar, de forma pormenorizada, como se constrói algo que percebemos no cotidiano: o fato de "uns serem mais iguais que os outros", apesar de as leis e os juízes não dizerem isso explicitamente.



Livraria da Folha - O fato de o acusado ter dinheiro interfere diretamente na decisão final do juíz?

Marcelo - Sim, mas não de uma forma direta e explícita. Essa interferência se dá de uma maneira latente e não manifesta, escondida nos recônditos das microdecisões tomadas pelos legisladores e pelos operadores do sistema (policiais, promotores de justiça, juízes etc.).



Por que o sistema criminal não funciona no Brasil?



Ninguém mais tem dúvida disso. Nós partimos da premissa de que a lei criminal, assim como todas as leis, deve ser analisada de forma abstrata, por si só. Nós idolatramos a lei e esquecemos que ela precisa resolver os problemas do dia-a-dia. O sistema criminal não funciona porque as pessoas que elaboram a estrutura desse sistema têm interesse em que ele não funcione. Como nenhuma autoridade pública, legislador, promotor ou juiz vai falar de forma aberta sobre isso, a forma mais fácil de fazer com que o sistema não funcione é diluir em milhares de micro decisões, do policiamento à prisão, para que seja assim.... É uma coisa que vai se estruturando aos poucos, não há uma teoria maniqueísta nisso, o que acontece é que as pessoas vão tomando posições na vida que fortalecem a situação. Um deputado, por exemplo, tem dificuldade em aprovar uma lei que favoreça a investigação de parlamentares. Assim, as coisas vão se direcionando pra não funcionar mesmo.



Como se dá a ineficiência do sistema?



Ela se dá, por exemplo, no processo penal. Por exemplo, a lei fala em prisão em flagrante, preventiva e temporária. O flagrante pode ser aplicado em 3 casos: quando a pessoa acaba de cometer um crime, quando está cometendo ou quando é pega logo após, com objetos e provas que fazem com que ela seja apontada como autora do crime. O flagrante ofende o princípio da igualdade? Não, todos são iguais perante a lei, mas, com mais de 10 anos de experiência, eu nunca vi um flagrante de crime de colarinho branco, por exemplo. A estatística é insignificante. Por que isso acontece? Porque o flagrante é feito para crimes de pobre – os violentos, os de furtos de pequenas quantias patrimoniais... No caso de homicídios, é baixa a incidência do flagrante entre ricos. E o flagrante nunca vai ser usado, por exemplo, para crimes tributários, contra licitações, contra a administração pública, contra o sistema financeiro. Aí, sobram a prisão preventiva e a temporária. Mas a preventiva também não dá. Porque, basicamente, em termos não jurídicos, o cidadão costuma ter emprego fixo e raízes consolidadas, como endereço, família constituída, ele não tem risco iminente de fuga, aí o juiz não decreta a preventiva. Sobra a temporária, mas ela também não dá, porque normalmente a temporária é pra quem ameaça outro no curso da investigação, manifesta intenção de destruir provas etc. Some-se tudo isso ao entendimento do STF, de fevereiro passado, de que todas as pessoas do Brasil devem aguardar o julgamento até a última instância em liberdade, e há então uma mensagem clara para os advogados: adie o julgamento definitivo o máximo possível com qualquer tipo de expediente, porque ou o crime vai prescrever ou a liberdade só será suprimida quando vier o julgamento em última instância, o que costuma levar no Brasil no mínimo 10 anos. Só o Brasil adota esse sistema, porque nos EUA, por exemplo, que é um bom paradigma, depois da acusação formal do promotor, a regra se inverte, a pessoa só permanece em liberdade se o juiz considerar que o caso não é grave e que a pessoa deve pagar uma fiança proporcional ao patrimônio – dependendo do caso, chega a milhões de dólares. O casal de pastores da Igreja Renascer, Sônia e Estevam Hernandes, por exemplo - detido nos EUA por entrada no país de recursos não declarados -, aguardou o julgamento em prisão domiciliar com tornozeleiras; depois de condenado passou a um regime de restrição domiciliar, podendo sair de casa apenas para serviços comunitários. A pastora Sônia pediu à Justiça americana que retirasse as tornozeleiras porque isso a constrangia e a incomodava. Ela ouviu do juiz que, com certeza ela poderia retirar a tornozeleira, desde que concordasse em ir pra cadeia.



O que causa perplexidade na criminalidade brasileira?



Uma pessoa que furta 5 reais e é pega, responde ao processo presa, não vai ter ninguém pra olhar pelos direitos dela e, se for condenada, vai pra prisão. É bem provável. Ainda que ela resolva devolver o dinheiro, vai continuar presa. Agora, se um empresário sonegar 5 milhões de reais e estiver comprovado que ele realmente sonegou ou que se apropriou do dinheiro do empregado que deve ser repassado ao INSS, e ele resolver devolver o dinheiro ou fazer um acordo com o Estado, estará extinta a punibilidade dele, ainda que o acordo aconteça durante o processo. Isso para os advogados é ótimo, porque gera honorários milionários e fica barato pra empresa. Imagine essa sonegação de 5 milhões e honorários de 200 mil reais. O que é melhor pra empresa?... Quem domina a formação acadêmica criminal no Brasil são os advogados, não são os juízes nem promotores, e isso gera um mal-estar. O advogado usa todos os recursos porque o sistema o envolve, oferece a ele essa oportunidade. O papel dos nossos legisladores é não permitir que isso aconteça, mas acontece.



É o que o sr. chama de impunidade diretiva? Fale mais sobre isso?



Sim. O sistema penal escolhe sobre quem ele vai atuar. E isso vale pra qualquer crime. A Lei Seca, por exemplo. Ela diz que ninguém pode dirigir embriagado. Isso significa que todos vão ser presos? Não, porque o sistema define quem vai ser preso ou não. Por exemplo, eu, se for pego, vou dizer “eu não sopro o bafômetro, porque tenho o direito de não produzir provas contra mim”. Então, já há uma diferenciação entre quem tem essa informação e quem não tem. Ainda que uma pessoa rica e esclarecida decida soprar o bafômetro, o boletim de ocorrência é registrado e gera-se o processo penal. Mas ela irá aguardar em liberdade porque institui-se o valor da fiança e o flagrante não será mantido pela aplicação da liberdade provisória, já que não se configuram os requisitos da prisão preventiva, porque o código do processo penal diz que quem tem residência fixa, emprego etc não deve ficar preso. O pior é que isso não vale só para a Lei Seca, se uma pessoa morrer num acidente provocado por um motorista bêbado, o caminho é o mesmo. Eu costumo dizer aos meus alunos que, se alguém cometer um crime e fugir do flagrante e o caso não for divulgado pela mídia, a impunidade vai ocorrer com certeza, independentemente do crime.



O País tem saída?



Tem, as pessoas não podem mais ficar de olhos vendados, sem entender o funcionamento do sistema criminal, elas precisam se indignar. O STF, por exemplo, nunca condenou ninguém que tem foro privilegiado (deputados federais, senadores, ministros, presidentes da República). Fala-se muito, por exemplo, em diminuir a idade da maioridade penal. Os adversários dessa proposta dizem que, antes de reduzir a maioridade, o País tem de investir na Educação. O argumento é válido, pressupondo que a infração cometida pelo adolescente é resultado da questão social. Agora, só dá pra esperar o investimento na Educação se o país passar a punir os crimes de colarinho branco, porque senão nunca teremos os recursos para fazer a coisa acontecer. O conhecimento é a única forma de sair dessa situação, hoje só os advogados dominam o Direito, as pessoas comuns não entendem a lógica do sistema, que é feito pra não funcionar. O caminho é sociedade civil organizada e conscientização eleitoral.



Livraria da Folha - Quanto tempo seria necessário para que o sistema se tornasse justo?

Marcelo Cunha de Araújo - Apesar de a impunidade ser a resultante de um conjunto de microdecisões, para resolver os problemas do sistema não são necessárias muitas mudanças substanciais. O que falta é a vontade política, uma vez que os que mais se beneficiam com a ineficiência do sistema são justamente aqueles que detêm o poder de mudança.







Vamos  promover protestos pela reforma do Judiciário.


“ENVIE PARA TODAS AS PESSOAS


ESCLARECIDAS DESTE PAÍS, SÓ ASSIM,


PROTESTANDO, QUEM SABE SE NO FUTURO


NÃO TEREMOS UM PAÍS COM DIREITOS E


DEVERES IGUAIS PARA TODOS”.

As revoluções árabes na Espanha

As revoluções árabes na Espanha


“quer-se democracia real já, quiçá além do estado e do mercado”

Por Bruno Cava, do Outras Palavras e Universidade Nômade

Como não ficar otimista quando a geração ocupa em massa as ruas e as praças da metrópole? Quando pessoas como você e eu concluem para si mesmas que chegou a hora da verdade e, diante dos imperativos de seu tempo, agarram a chance de mudança e decidem não largar mais? Quando se permitem a heresia de contagiar-se pelo entusiasmo febricitante das multidões, além de suas vidinhas formatadas e previsíveis, para vivenciar esses dias de aventura e risco e sorriso, em que se provam os verdadeiros sentimentos de amor e revolução?

Estamos em 2011, ano da revolução global. Adeus à velha política, ao velho estado, à velha esquerda. Chega de repetir um physique du rôle abatido, ascético, pessimista. Tchau tchau para narrativas jeremíadas que tanto nos entediam: não haveria saída do estado de exceção, não haveria modo de libertar-se do sistema capitalista, não haveria mais sentido nas lutas concretas. Bróder, sai dessa bad trip!

Desde 15 de maio, centenas de milhares de jovens, nem-tão-jovens e aposentados, de desempregados, subempregados, precários, estudantes e revoltados em geral, enfim, uma multidão de desejos e amores irrompeu nas ruas e praças na Espanha, para exigir democracia real já! Com epicentro nas praças Portas do Sol (Madrid) e da Catalunha (Barcelona), o tumulto se disseminou em mais de 100 cidades espanholas e já alcança outros países do Velho Mundo.

Repetindo uma tendência histórica do século VIII, — quando os primeiros muçulmanos do norte da África atravessaram o Mar Mediterrâneo, — o ímpeto revolucionário dos árabes inundou a península ibérica. De forma semelhante, a revolução se concretizou com um novo modo de sentir, uma mudança de percepção que circula e faísca irrefreavelmente, agitando uma geração que o espetáculo procura sedar todos os dias. Como nas revoluções árabes,ela se desenrola numa mistura de desobediência civil e passeatas, turbinada pelas novas mídias e redes sociais.

A mobilização na Espanha nos últimos dias repercute o dezembro quente italiano, a marcha dos 400.000 em Londres e as recentes conflagrações na Grécia contra a bancocracia. Não há demandas precisas. Parece que a convergência está num desejo de viver noutro mundo, noutro modo de produzir e relacionar-se. Um que não seja nesse sistema vicioso em que poucos políticos, banqueiros e empresários vampirizam o trabalho vivo dos muitos.

Romantismo antissistema? dissolução das grandes narrativas? demasiado genérico?

Esse desejo central pode parecer vago, mas é nisso mesmo que reside a força das revoluções árabes e da onda européia de protestos. Coalhadas dos grupos e discursos mais diversos, torna-se difícil enquadrar e debelar as manifestações. Quem não lembra a angústia da ditadura egípcia ao não encontrar interlocutores entre os revoltosos na Praça Tahrir? Quando, no auge da insurreição, tentava um meio de negociar uma saída reformista, doando os anéis para manter os dedos? Na ocasião, nenhuma instância de representação emergiu das redes em movimento, e isso garantiu que suas demandas fossem mais longe que os prognósticos mais otimistas (e delirantes).

Na Europa, não há um Mubarak ou um Zine Ben-Ali, algum símbolo claro para canalizar o descontentamento, mas existem a classe política e os bancos. Alvo da maioria dos discursos, os europeus simplesmente querem outra coisa além disso. Eis uma percepção bastante aberta e ampla contra “tudo o que está aí” (como diria Leonel Brizola). O desencanto levou-os a contestar inclusive o processo eleitoral (na Espanha, três partidos dividem entre si o poder do estado, um tipo de comodato ideologicamente pastoso). De que adiantam campanhas onde os partidos e candidatos se limitam a repetir bordões com as palavras cidadania, social, humano etc? ou então promessas genéricas para um grupo, uma região, uma causa? Multiplica-se a impressão que as eleições estão se tornando rituais melancólicos: nos restringimos a escolher quem vai decepcionar nos próximos quatro anos.



Todo esse trabalho da multidão não vem não só como resposta à ainda-mais-uma-crise do capitalismo — que, desde 2008-09, vem impondo medidas de austeridade às políticas públicas. Talvez tenham chegado à conclusão, num raciocínio mais ou menos articulado, mais ou menos consciente, que, no fundo no fundo, não exista uma crise do capitalismo, mas que o capitalismo é a crise, — depende dela e só pode funcionar com ela. Em suma, os pobres pagam o pato e os ricos recebem “ajudas públicas” e é assim mesmo. Enquanto isso, a “culpa” é atribuída ardilosamente ao “custo social” e aos “gastos públicos”, isto é, aos pobres, os que trabalham para que tudo funcione. Essa narrativa enviesada tem servido para fortalecer uma direita chauvinista, ressentida e racista, cada vez mais despudorada na sua agenda excludente, contra imigrantes e precários.

Nesse aspecto, a esquerda da Islândia teve o enorme mérito de ser a primeira a claramente recusar e conseguir vencer as “medidas emergenciais”. Nessas horas, elas costumam aparecer na boca de “especialistas” da tecnocracia dirigente, sendo então divulgadas ad nausea pelos meios de comunicação. Porque, na verdade, essas “soluções de contingência” constituem o cerne do capitalismo atual, onde estado e mercado fazem tabelinha ao redor da insegurança do trabalho. Noutras palavras, privatizam o ganho e socializam a perda, concentram a riqueza e distribuem a pobreza, particularizam a bonança e universalizam a crise.

Basta: quer-se democracia real já, (http://www.democraciarealya.es/) quiçá além do estado e do mercado. Se a luta é contra a corrupção, esta não configura alguma exceção ou acidente a ser corrigidos, em busca de um capitalismo mais sustentável ou humano, mas a regra mesma das dinâmicas de representação e exploração do trabalho. Afinal, o capitalismo consiste na corrupção sistematizada.

Aqui no Brasil, a grande imprensa não divulga as multidões na Europa. Se acaba divulgando, — porque até a imprensa internacional começou a cobri-las e é preciso macaquear,— não vacila em encaixá-las em narrativas comportadas, descontextualizando o movimento, escondendo o seu devir revolucionário, a sua pertinência para todos. Foi assim com a Praça Tahrir, as ocupações de Wisconsin e a rebelião de Jirau, — de que pouco ouvimos falar na TV e jornalões. Pois a grande imprensa sabe que, ao mostrar a verdadeira face da revolução, incentivará as pessoas a tomar as praças daqui.

Podemos aprender com a revolução 2.0 em Roma, Túnis, Tahrir, Atenas e Puertas del Sol, nessa dinâmica expansiva tão contagiante e alegre. Aprender como uma cacofonia dos insatisfeitos, vozes dispersas pelo tecido social, convergem na polifonia das ruas e praças. Fora da lógica da representação, todos e cada um exprimem a potência de quem não se conforma em viver subjugado e improdutivo, sem perspectivas para crescer e desenvolver-se. Diante de um arranjo político surdo e autoritário, e cada vez mais intolerante, não dá pra continuar sentado na poltrona ante a TV. É preciso sair de casa e determinar-se a exercer um papel ativo, junto de tantos cidadãos tratados como massa de manobra, como meros eleitores e consumidores. Porque a rua é nossa. É tudo nosso.

domingo, 29 de maio de 2011

Dissidentes dizem que PSDB paulista "faz política com raiva"

Dissidentes dizem que PSDB paulista "faz política com raiva"

O grupo de vereadores que decidiu deixar as fileiras do PSDB em São Paulo publicaram nesta quinta-feira (28) uma carta na qual expõem as razões da debandada. No documento, eles não citam nenhum nome, mas referem-se claramente ao grupo liderado pelo governador Geraldo Alckmin como responsável pela "arenização do PSDB" que os levou a abandonar o partido

Leia, abaixo, a íntegra do documento assinado pelos vereadores Dalton Silvano, Gilberto Natalini, Juscelino Gadelha, Ricardo Teixeira, Souza Santo e José Police Neto. Police Neto é também o atual presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Todos têm alguma relação de proximidade com José Serra.

28 de Abril de 2011 - 18h59. Portal Vermelho (http://www.vermelho.org.br/)


A arenização do PSDB


”O PSDB mudou: mais do que destruir a sua concepção original, o partido adota caminhos que abominava e considerava nocivos ao país.






Uma das primeiras frases do programa de fundação do PSDB assinala: "Se muitos de nós decidimos deixar as agremiações a que pertencíamos, e com as quais nos identificamos ao longo de toda uma trajetória de lutas, é porque fatos graves nos convenceram da impossibilidade de continuar defendendo de maneira consequente aquilo em que acreditamos, dentro do atual quadro partidário".






A frase é a definição básica de um partido que não pretendia – ou não deveria – ser um simplório agrupamento voltado à conquista e à manutenção do poder, mas uma forja de ideias, preocupada em melhorar efetivamente a vida dos cidadãos do país.






Assim como os fundadores do PSDB perceberam, há 23 anos, a arenização da grande frente democrática que foi o MDB/PMDB, o cenário atual nos remete à síntese do compromisso firmado na fundação do partido, em 1988, um tempo em que se acreditava que "as palavras de um programa nada valem se não forem acompanhadas de ação".






A arenização do PSDB paulista tem grande similaridade com a arenização do PMDB. Diagnosticavam à época os tucanos fundadores: "Receoso de enfrentar suas divergências internas, (o PMDB) deixou de tomar posição ou mesmo de debater as políticas de governo a que deveria dar sustentação". Tudo muito parecido com o que ocorre hoje com o PSDB paulistano.






A crise que culminou com o afastamento de metade da bancada de vereadores de São Paulo começa em uma mistificação formulada em 2008 por uma facção do PSDB.






À época, a maioria dos vereadores defendeu um programa construído e executado majoritariamente pelo PSDB. Mas aquela facção acreditava que o mais importante era uma candidatura própria, (mal) sustentada por um programa elaborado pelo marqueteiro de plantão. O eleitorado rechaçou essa visão pobre da política.






De lá para cá, se o PSDB tivesse sido capaz de aprofundar o debate interno, a unidade partidária fundada em princípios teria sido restaurada. Mas aquela mesma facção preferiu invocar agora, sem disfarces, uma postura de vingança, que, em recente reunião do diretório municipal, chegou a pregar ameaças de violência física contra seus oponentes, cuja tese fora vitoriosa no ano de 2008.






O PSDB mudou. Mais do que destruir sua concepção original, o partido agora adota caminhos que antes abominava e considerava nocivos ao país. Perde a credibilidade como defensor da democracia – já que nem sequer consegue praticá-la dentro de casa – e do debate político, visto que sugere resolver divergências de seus parlamentares "a peixeiradas".






Essa realidade distorcida queima as caravelas, derruba todas as pontes que poderiam levar a uma elevada discussão política e de ideais. Para os que ainda acreditam no ideário expresso no programa de 1988, tornou-se impossível conviver com a arenização tucana.






A substituição do debate político pelo facciosismo pessoal leva à pura intransigência, como diz o ex-presidente do diretório municipal e condutor do processo sucessório municipal, José Reis Lobo: "O que houve foi mesmo intolerância e incompreensão de um pessoal que sempre faz política com raiva, movido por espírito belicoso, de revanche, de vingança, e que nunca cede aos apelos da razão".






Este é um caminho inexorável de perdas. Que efeito esse conjunto de coisas terá sobre o cidadão-eleitor, a quem cabe legitimar os princípios que regem nossas ações?






Engana-se quem acredita que a frágil cantilena de belas palavras será capaz de seduzir a todos e impor uma embriaguez coletiva. O cidadão que cala é o mesmo que se afasta em busca de um novo ideal político, mais coerente e menos recheado de vaidades.”

Poder Judiciário proibe manifestações pela liberdade de expressão

Como se pode ver pelas notícias abaixo, o Poder Judiciário (mais especificamente o setor estadual da justiça de São Paulo, controlada pelos tucanos paulistas) proibe manifestações pela liberdade de expressão. É o quarto poder expedindo ordens contra manifestações populares - é a visão que eles tem de democracia. Democracia só para as elites, povão não tem direito à este "luxo".

Marcha da Liberdade reúne milhares em São Paulo


Manifestação foi resposta de dezenas de organizações à repressão policial ocorrida na semana passada contra a Marcha da Maconha

Ricardo Galhardo, iG São Paulo
28/05/2011 20:22

Milhares de manifestantes contrariaram uma determinação da Justiça e, sob a proteção de centenas de policiais militares, atravessaram o centro de São Paulo em uma marcha pela liberdade de expressão. Segundo a Polícia Militar, 1 mil pessoas participaram do protesto. Pela contagem dos manifestantes, o número chegou a 5 mil. Embora o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) tenha proibido a marcha, manifestantes e PM fecharam um acordo liberando a manifestação desde que não houvesse referências a drogas.

A manifestação foi a resposta de dezenas de organizações da sociedade civil à repressão policial contra a Marcha da Maconha, no sábado passado, quando a PM atacou os manifestantes com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha causando pânico na região da avenida Paulista. A Marcha da Maconha havia sido proibida pelo desembargador Teodomiro Mendez, do TJ-SP. No final da tarde desta sexta-feira, o tribunal também proibiu a Marcha da Liberdade, sob o argumento de que a nova manifestação seria apenas a Marcha da Maconha disfarçada.

A proibição e repressão fizeram com que diversas organizações com as mais diversas causas se juntassem aos organizadores da Marcha da Maconha para promover a Marcha da Liberdade.

Maconheiros (com muito orgulho e muito amor, segundo eles próprios), ambientalistas, sem-teto, bicicleteiros, skatistas, tabagistas, músicos, atores, cineastas, palhaços, escritores, sem-terra, vítimas da ditadura militar, políticos, defensores da legalização do aborto, usuários de ônibus, gays, integrantes da Fração Trotskista da Quarta Internacional, lésbicas e simpatizantes se reuniram no vão livre do Masp para protestar com flores nos cabelos ao som do samba e do maracatu pelo direito de liberdade de expressão e manifestação.

Duzentos e cinquenta policiais militares além de um contingente da Tropa de Choque foram mobilizados para garantir a segurança. Segundo organizadores do protesto, a ordem partiu do Palácio dos Bandeirantes, onde a avaliação foi de que as ações da Justiça e do Ministério Público (que solicitou a proibição) deixaram o governo em má situação.

Justiça de SP proíbe Marcha da Liberdade



JULIANNA GRANJEIA da Folha de São Paulo

DE SÃO PAULO



O Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu nesta sexta-feira a Marcha da Liberdade marcada para o próximo sábado (28), na região central de São Paulo, em protesto contra a violência policial durante a Marcha da Maconha no sábado (21).

sábado, 28 de maio de 2011

A privatização da saúde pelos tucanos de São Paulo

A privatização da saúde pelos tucanos de São Paulo


Um breve retrato de uma história de horror que se repete nos quatro cantos da cidade

Por: Redação Brasil Atual


Publicado em 28/05/2011, 09:45

Para a diretora do Sindicato dos Trabalhadores de Saúde do Estado (SindSaúde), Maria Araci dos Santos, o problema é que, desde 2004, os trabalhadores do estado são cedidos às prefeituras, por causa da municipalização e da administração indireta das OSS. “De quem a gente deve acatar ordem, do pessoal da OSS? O estado nos cedeu à Prefeitura, mas o estado não pode nos ceder para a OSS! Há um conflito generalizado”, diz Araci. “Quando há um curso de capacitação, formação e qualificação, o favorecido é quem trabalha na OSS", conta ela, acrescentando: “por termos tempo de casa, somos chamados de ‘velhos’”.

Hoje, o médico de uma OSS ganha salário inicial de R$ 7.000,00, que pode chegar a R$ 13.000,00 na periferia da Zona Sul ou Zona Leste, pagos pela OSS com dinheiro público. No entanto, o salário base inicial de um médico da Prefeitura é de R$ 1.272,00 e, para ganhar R$ 5.000,00 ele tem de fazer plantões extras.

Hoje faltam 500 médicos na rede municipal. “E é fácil entender por quê”, diz o presidente do Sindicato dos Médicos, Cid Carvalhaes. “O médico é obrigado a trabalhar vulnerável a toda sorte de eventos. A Prefeitura argumenta que o médico ganha, em média, R$ 2.500,00. Mas isso só ocorre graças à folha corrida da miséria, um monte de gratificação que desaparece com o afastamento dele, especialmente com a aposentadoria. No Estado, é pior ainda: o salário base é de R$ 600,00 e só chega a valores maiores com a mesma manobra.”

Por uma CPI da privatização

De acordo com o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT), a privatização da saúde por meio das Organizações Sociais de Saúde (OSS), um modelo tucano de gestão, deve ser impedida. “Temos de tentar barrar essa privatização promovendo o debate público com entidades, organizações e Promotorias Públicas. Para Marcolino, o atendimento médico, que já era ruim, piorou, e o controle do Estado ficou menor. “Antes, os deputados acompanhavam e gerenciavam os equipamentos públicos de saúde. “Com a intervenção privada, via OSS, a fiscalização já não é mais a mesma” , diz.

A saúde em São Paulo vai de mal a pior

Postos lotados, diagnósticos errados, prontos-socorros fechados. Faltam médicos e enfermeiros

O Pronto-Socorro fecha as portas em casos de emergência. O paciente que precisa de UTI pode ter a vaga negada. Postos de saúde e atendimentos ambulatoriais vivem superlotados. Faltam médicos e enfermeiros. A cirurgia pode levar mais de dois anos para ser realizada. A consulta pode não ser marcada por falta de especialista. Multiplicam-se os casos de diagnósticos equivocados. Essas são as dificuldades que os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) enfrentam quando buscam atendimento de emergência e serviço ambulatorial em São Paulo.

SERRA: NEM OS TUCANOS QUEREM MAIS

SERRA: NEM OS TUCANOS QUEREM MAIS




Faltam pouco mais de 24 horas (hoje sábado, dia 28/05/2011) para a Convenção do PSDB que decidirá o futuro político de José Serra. A disposição de setores majoritários do tucanato é de sepultar a figura do grande desagregador, hoje identificado amplamente como responsável pela implosão do partido já durante a campanha de 2010, o que explica em parte a letargia tucana na longa convalescência pós-eleitoral. Serra frequentemente impôs a sua vontade dentro da sigla transformando adversários em escombros políticos, com a ajuda do rolo compressor de seu dispositivo midiático, sobretudo em São Paulo. Pela primeira vez na história do PSDB o jogo virou. O ex-governador está sem condições de fuzilar concorrentes, mas corre o risco de ser fulminado por eles. Seguidores de Aécio Neves relutam em conceder ao candidato da derrota conservadora em 2002 e 2010 até mesmo o abrigo do Instituto Teotônio Vilela cuja presidência é reivindicada como prêmio-consolação pelo serrismo --um prêmio-consolação que administra quase R$ 7 milhões de orçamento. O temor é de que com esse calibre financeiro, o ITV seja utilizado como quartel-general para a urdidura de um novo ciclo de golpes e punhaladas dentro do partido, uma especialidade de Serra que alguns só enxergam um jeito de erradicar: expurgando o mal pela raiz. E pensar que a mídia fez de tudo para convencer o Brasil que esse personagem seria a melhor opção para suceder a Lula.

(Carta Maior; 6º feira 27/05/ 2011)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Governo Aécio Neves cerceava a liberdade de imprensa

A IMPRENSA MINEIRA NA GESTÃO AÉCIO NEVES


Por Redação, 16.05.2011 no http://www.fazendomedia.com/a-imprensa-mineira-na-gestao-aecio-neves/


Documentário do Laboratório de Mídia da UFMG aponta casos de veto a temas espinhosos, pressão sobre chefias e demissões entre quem insistia em ser independente. Material datado de 2005/2006. No Fazendo Mídia.

Com base em denúncias que circularam pela internet em meados de 2003, o Laboratório de Mídias Eletrônicas (LabMídia), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), produziu um vídeo demonstrando que o governo estadual de Minas Gerais, na gestão de Aécio Neves (PSDB), cerceava a liberdade de imprensa no Estado. Com depoimentos de um ex-diretor da filial da Rede Globo em Minas Gerais e outro do jornal impresso o Estado de Minas, além de outros veículos e jornalistas, são apresentadas as dificuldades e até restrições em disseminar informações contrárias aos interesses do governo à época. A produção e roteiro são de Marcelo Chaves, e o material é datado de 2005/2006.

Marco Nascimento, ex-diretor executivo da Globo Minas, que passou 6 anos por São Paulo, onde foi chefe de redação por 2 anos, lembrou de quando o governador Aécio Neves, recém eleito, adiou uma entrevista para o programa “E agora governador?”. A conversa só foi realizada meses depois no telejornal local, e com algumas dificuldades:

“A assessora veio depois dizer que as perguntas não estavam combinadas”, disse o ex-diretor. Andréa Neves, por sua vez, responde no vídeo que “é incomum haver quebra de formato proposto e aceito por ambas as partes, sobretudo numa entrevista ao vivo”. Algum tempo depois, a assessora chamou o diretor para um almoço, no qual reclamou da cobertura de jornalismo da emissora e criticou uma matéria que denunciava o consumo de crack perto da delegacia de investigação em Minas. A reportagem também denunciava o desvio de função policial para presídios e a superlotação carcerária, além da corrupção na corporação. Segundo Nascimento, a assessora disse que “essa matéria veio num momento ruim para o governo do estado”.

As denúncias não param por aí. Paulo Sérgio, ex-apresentador do Itatiaia Patrulha, afirma que “era veladamente proibido de cobrar do governo através do chefe, Marcio Poti”, que dizia “tudo o que você fizer eu quero na minha sala”. Como ele relatava problemas no comando da polícia, resolveram tirá-lo do programa. Além dele, o famoso jornalista esportivo, Jorge Kajuru, quando trabalhava na Band, em 2004, denunciou na porta de um jogo de futebol que enquanto 42 mil ingressos foram colocados à venda para o povo cerca de 10 mil foram direcionados para convidados especiais da CBF e do governo de Minas. E a entrada para estes era a mesma das pessoas portadoras de necessidades especiais. No meio da matéria Kajuru informa que vai entrar nos intervalos comerciais e não retorna. Além da reportagem ficar pela metade, ele foi demitido. São vários os exemplos, outros jornalistas deram depoimentos no vídeo relatando as dificuldades de se publicar matérias mais críticas ao governo.

Chegou a tal ponto essa situação que todas as notícias que pudessem contrariar o governo eram contestadas pelos assessores, diz o ex-diretor da Globo Minas. Acabou que Marco Nascimento foi demitido, apesar de ter sido chamado pela própria empresa para sair de São Paulo e assumir o cargo de direção em Minas. E com a demissão desses profissionais, um dos jornalistas diz que eles ficam marcados e outras empresas se negam a contratá-los, chegando a ficar 6 meses sem emprego por sustentar opiniões contrárias ao governo. Sindicatos entraram com uma ação no Ministério Público Federal, para investigação de acordos empresariais com o estado de Minas, mas o Ministério Público Estadual engavetou os processos.

É importante estar atento a esse lado da figura de Aécio Neves, atual referência da oposição capitaneada pelo PSDB. Não se trata de criticá-lo em defesa do atual governo, mas pela liberdade de expressão. Seu partido, junto à mídia, bombardeou Brasil afora críticas à liberdade de imprensa quando o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) foi proposto pela governo junto à sociedade. E atual presidenta Dilma Roussef também já recebeu críticas por suas manifestações em cobrar maior responsabilidade dos meios de comunicação de massa. Aécio, por sua vez, foi cogitado a vice presidente de José Serra nas últimas eleições, e vem crescendo como liderança aos olhos da mídia hegemônica. O senador tem grandes chances de se candidatar às próximas eleições, e essa sua relação com a mídia não pode passar despercebida.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Bresser-Pereira deixa política

Bresser-Pereira deixa política com ataques à direitização do PSDB


O deslocamento do PSDB para a centro-direita a partir de 2003 é o principal motivo apontado pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, atual professor da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), para deixar a legenda. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (18), em artigo publicada no jornal Folha de São Paulo. A saída representa mais um desfalque para os tucanos, que vivem uma crise interna

Segundo Bresser-Pereira, à medida que mudanças ideológicas ocorriam dentro do PSDB, ele se distanciava mais, até o ponto em que se decidiu pelo desligamento. O ex-ministro, que afirma não pretender ingressar em outra sigla e encerra suas atividades partidárias, dedica-se a atividades acadêmicas desde 1999. Procurado pela Rede Brasil Atual, Bresser-Pereira não quis conceder entrevista.



Bresser-Pereira foi ministro da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia do governo Fernando Henrique Cardoso, além de ocupar a pasta da Fazenda do governo José Sarney. No artigo, o professor atribui o deslocamento do PSDB ao fato de o PT ter assumido o poder e ocupado o espaço de partido social-democrata no país. O PSDB foi, então, empurrado para representar os interesses da elite nacional, segundo a análise.



A saída do ex-ministro e um dos principais intelectuais do PSDB soma-se a outras desfiliações. No mês passado, o ex-deputado federal e ex-secretário de Esportes da capital paulista Walter Feldman e seis vereadores paulistanos abandonaram o partido. Internamente, lideranças como o senador Aécio Neves (MG), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra (SP) disputam o comando da legenda.



Bresser-Pereira sustenta ter retomado a ideologia nacionalista para a economia, defendendo que o governo brasileiro deve defender os "interesses do trabalho, do capital e do conhecimento nacionais". Segundo ele, essa postura deve ser adotada pelos brasileiros seguindo "suas próprias cabeças" — e não cartilhas dos países ricos, que são "competidores" do Brasil.



Informações da Rede Brasil Atual

domingo, 15 de maio de 2011

Antero: é o Brasil ou a mídia (PiG) (*)

O império da mídia ou o Brasil

(reproduzido de Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim)


Luiz Carlos Antero



Ao longo das últimas décadas, obedecendo ao lado conservador da trajetória republicana, manteve-se naturalmente intocada a “liberdade” das concessões dos meios de comunicação e cresceu a ascendência do império da mídia e de seu PIG (Partido da Imprensa Golpista, na lúcida definição difundida por Paulo Henrique Amorim) sobre a informação — manipulada, moldada e deformada como mercadoria, em favor dos seus interesses.

É o ambiente que, ofendendo a sociedade, oferece o caldo de cultura para a impunidade de banqueiros como Daniel Dantas et caterva e de toda sorte de especuladores e exploradores da economia popular”.



Este poder consolidou-se — na fase neoliberal dos anos 1990 — como política de Estado, vedando-se à sociedade o controle de uma imprensa calhorda e solidamente instalada na chantagem dos afagos publicitários e fundada nos acordos das glamurosas oligarquias. No pano de fundo, secundou a hegemonia do capital financeiro-especulativo e dos contratos firmados na crista das privatizações, submetendo o país a uma nova colonização pelos interesses hegemônicos internacionais.



Completou-se exitosamente, desse modo, a obra da ditadura militar que sustentou, à base da intervenção imperial dos EUA e apoio dos generais da direita, a secular continuidade conservadora das elites brasileiras.



Lula, política e estruturalmente imobilizado, não mexeu com nada disso que significa algo mais que uma teimosa permanência dos princípios “do poder de Estado” a clamar pelo simbolismo de rebeliões populares que coloquem o poder político, limitados ainda à esfera de governo, em consonância com seus interesses.



Tais princípios mantém ancorados aspectos típicos das transições de ruptura, postergados continuamente — ao longo da nossa formação histórica — pelo gradualismo determinado em parte pela ação secular de violenta “regulação” das revoltas populares e em parte pelas claudicações, neutralismos e impasses dos movimentos de oposição ao conservadorismo — em prejuízo do conforto reservado ao afago popular tão precioso na resolução de tais graves questões.



Grilhões de caserna



E, nesse aspecto, a persistência dos bolsões vinculados ao regime militar, que incorpora a impunidade aos torturadores e ao prolongamento do feroz autoritarismo anticomunista, se manteve como aspecto subjacente à “Carta aos Brasileiros”, inoculando os governos progressistas quanto ao tratamento das feridas remanescentes. E que não se acanhou ao prestar incondicional apoio à principal candidatura de oposição a Dilma nas eleições de 2010.



Nos desdobramentos, e nas chantagens negociadas no tenso segundo turno eleitoral do ano passado, impôs-se um corrosivo cartucho do mercado, gasto com a simbólica promoção de Antonio Palocci à condição de membro privilegiado do novo governo, reciclado e novinho em folha para cumprir o papel sujo de conspurcar os avanços nos quais votou a população.



Uma persistente reserva estratégica do poder, portanto, se fundamenta no capital financeiro e também no persistente controle da propriedade territorial — e seu moderno agronegócio, evoluído na linha sucessória desde as originais sesmarias e capitanias, onde a força terrestre, o Exército brasileiro, zeloso artífice dos golpes militares na História republicana, teve seu berço como guarda privada e pretoriana dos senhores rurais desde a primeira fase da colonização brasileira.



(Explica-se, desse modo — entre outros, cruciais — os fundamentos do atualíssimo ódio de uma fração de oficiais do velho pensamento ao MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).



Primeiro 31 de março sem ordem dia



É este um terreno no qual também se trava uma cavernosa luta para impedir que a natureza das forças armadas seja afirmada em seu padrão constitucional. Exemplarmente, a solenidade na qual a Presidenta foi condecorada diante de 70 oficiais generais, no início de abril de 2011, o império da mídia atuou novamente em uníssono no acirramento de contradições entre “a ex-guerrilheira” e a caserna que afagou sua tortura.



A ênfase priorizou aos cortes orçamentários, entre outros folguedos que dançam em meio a fatos e versões, explorando a cilada que enreda o governo Dilma no contingenciamento de R$ 50 bilhões do Orçamento Geral da União — mantendo como intocada obra do imaginário e do acaso os mais de R$ 200 bilhões comemorados pelo sistema financeiro no ano de 2010, os escandalosos lucros privatizados das concessões públicas e de uma empresa (doada) do porte da Companhia Vale do Rio Doce.



O PIG não tratou da condecoração da Presidenta, mas da apresentação de novos oficiais generais. Exatamente quando, pela primeira vez, os quartéis foram orientados à determinação de excluir da ordem do dia as comemorações de 31 de março, uma sagrada referência anual ao golpe militar de primeiro de abril de 1964.



Nessas e em praticamente todas as circunstâncias, enfim, nunca coube à sociedade brasileira, alienada da ascendência sobre o aparato de mídia, determinar o tratamento da informação.



Desfecho secular



Narra a nossa História que o Estado, precipuamente e em diversos períodos, exerceu o controle sobre os meios de comunicação — e sistematicamente a favor das tradicionais oligarquias. As primeiras tipografias permanentes foram instaladas no Brasil somente no século XIX, com a vinda da Família Real, em 1808. “A Gazeta do Rio de Janeiro” foi o primeiro jornal brasileiro, editado oficialmente pela Imprensa Régia. No mesmo ano surgiu o “Correio Braziliense”, quando, aos censores reais, cabia a decisão acerca do que podia ser publicado.



Tal trajetória conheceu escassos momentos de liberdade e extensos e extenuantes períodos de autoritarismo e repressão, com ênfase no Estado Novo (1937-45) e na ditadura militar (1964-1985). Em 1931, Getúlio Vargas criou o Departamento Oficial de Propaganda (DOP) — que, em 1939, tornou-se o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com a missão do controle sobre os meios de comunicação e difusão da ideologia do Estado Novo. Por Decreto, todos os meios de comunicação submeteriam seus conteúdos ao DIP.



A Constituição de 1946 restabeleceu a liberdade de imprensa, mas o Golpe de 1964 a submeteu — em obediência à plena subordinação ao imperialismo norte-americano. A censura foi novamente estabelecida, agora mediante dispositivos vinculados à edição de Atos Institucionais, a apreensão e destruição de jornais, a perseguição de jornalistas, escritores e intelectuais.



Decisiva batalha



No período neoliberal — que se estendeu pela década perdida de 1990 até o ano de 2002 — o controle da informação transferiu-se para as próprias empresas de comunicação, firmando-se a censura aos fatos (e suas interpretações) de acordo com os interesses de classe e parâmetros de referência no grande capital e seus centros financeiros hegemônicos mundiais, reconhecidos no império da mídia.



A imprensa foi submetida à glacial lógica de mercado, sustentada numa legislação que legitimou esta concentração das empresas de comunicação em quadrilhas que atuam com o vigor de onipotentes empresas multinacionais. Dessa forma, transferiu-se do Estado para os bunkers conservadores a emblemática censura, arremetida agora em feroz oposição às propostas democratizantes, invariavelmente qualificadas como “atentados à liberdade de imprensa”.



É o que se passa no mundo, em todo lugar onde a mídia, sob o domínio e a serviço do velho capital, ridiculariza, confunde e banaliza a vida, submetendo os povos, em seu próprio nome, à indigência cultural — com o sórdido objetivo de perpetuar a ignorância, a miséria, a violência, as guerras e a fome sob todos os seus aspectos. No cotidiano, essas evidências são arremetidas contra a humanidade, como ocorreu no bizarro episódio da execução de Osama bin Laden, um protótipo das suas criações funcionalmente articuladas ao conjunto da obra, na urdida lógica imperialista.



Nessas condições, prenuncia-se a batalha que requer da sociedade brasileira um profundo engajamento na luta pela conquista do direito à informação comprometida com o projeto da construção de um País soberano, justo e igualitário, tomando em suas mãos o horizonte da liberdade. É o império da mídia e de suas elites ou o Brasil — na inexistência de um terceiro caminho ou opção.





(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A dura vida dos trabalhadores nos EUA

Terror econômico: a dura vida dos trabalhadores nos EUA


*Mike Whitney

Na semana passada, o Gallup informava que “mais da metade dos estadunidenses diz que a economia está em recessão apesar dos dados oficiais, empenhados em mostrar uma recuperação moderada. A pesquisa Gallup de 20-23 de abril descobriu que só 27% diz que a economia cresce. Outros 29% dizem que a economia encontra-se em depressão, 26% que se trata de uma recessão, enquanto 16% acreditam que ela está em desaceleração”.



Assim, 55% dos estadunidenses acreditam que o país está em uma depressão ou em uma recessão, cinco anos depois do estouro da bolha imobiliária (2006) e três anos depois do colapso de Lehman Brothers (2008). Os resultados obtidos pelo Gallup batem com os de outras pesquisas que revelam um crescente desespero na opinião pública. Uma pesquisa Globescan, por exemplo, descobriu que uma boa quantidade de estadunidenses deixou totalmente de acreditar no capitalismo de livre mercado, enquanto que outras sondagens mostram uma confiança decrescente nas instituições governamentais, na Reserva Federal (FED), no Congresso, no sistema judiciário e nos meios de comunicação.

.....

Nem toda a propaganda produzida conseguiu alterar a opinião pública, que está convencida de que as coisas estão piorando. E as coisas estão, de fato, piorando, a não ser que você seja executivo de um fundo de investimentos ou pertença à nata de Goldman Sachs. Para estes, as coisas nunca foram melhores. A Reserva Federal inundou o mercado com o combustível supersônico das baixas taxas de juros e tudo vai bem no mundo da bolha de Wall Street. ...Em alta, em alta e mais em alta. Tudo em alta. O índice S&P’s 28%; o índice Russell, 41%; e até se registra uma febril demanda de títulos hipotecariamente respaldados. Graças às alegres políticas monetárias de Bernanke, os mercados estão disparados, enquanto que os trabalhadores debilitam-se em um afundamento sem fim, capazes apenas de chegar ao fim do mês. A disparidade entre ricos e pobres é maior agora do que em nenhum outro momento desde a Era da Cobiça (a última terça parte do século XIX), e não há indícios de que essa situação será revertida. Os ricos se tornam mais ricos, e o resto segue despencando rumo à pauperização.



Mas o problema real são os postos de trabalho. Eles simplesmente não existem e ninguém em Washington quer fazer nada a respeito

Você tem alguma ideia do mal que é realmente o desemprego? Passe os olhos nisso que aparece em Calculated Risk:



“Há hoje (março de 2011) nos Estados Unidos, 130,738 milhões de postos de trabalho assalariado. Em janeiro de 2000 havia 130,781 milhões. Assim, passados onze anos, não houve nenhum aumento do volume de postos de trabalho assalariado. E a renda familiar média em dólares era de 49.777 em 2009. Apenas um pouco acima dos 43.309 dólares de 1997 e abaixo dos 51.100 dólares de 1998 (...)”.



Uma década inteira sem criar postos de trabalho. Ninguém é contratado, os salários estão congelados e o transbordante déficit em conta corrente atual fornece a cada ano 500 bilhões de dólares para a criação de novos postos de trabalho no estrangeiro. E tudo o que Obama pretende fazer é discursar sobre a necessidade de reduzir os déficits....



Agora mesmo, cerca de 65 milhões dos 130 milhões de postos de trabalho existentes em nosso país pagam entre 55 mil e 60 mil dólares por ano. Em outras, proporcionam um “salário para viver”, que permite às famílias não cair em uma situação de pobreza abjeta. Os outros 65 milhões de trabalhadores se arrastam com trabalhos de tempo parcial ou com pequenos trabalhos mal pagos, que rendem uma receita entre 20 e 25 mil dólares ao ano.

Esta é, pois, a situação (de acordo com David Stockman): desde 2007, perdemos 6,5 milhões de postos de trabalho bem remunerados, sem que tenhamos sido capazes de criar nenhum. Todo o crescimento se deu entre os postos de trabalho com baixos salários. Stockmnan diz:



“Na última década, perdemos cerca de 10% da economia de receitas médias e, mesmo considerando a suposta recuperação de agora, não conseguimos recuperar um só dos 6,5 milhões de postos de trabalho de classe média perdidos (...) Nesta economia, a distribuição de renda se converteu em um grande problema, e a situação está piorando, não melhorando”. (David Stockman: Lack of Middle Class Jobs plus Low Growth equals “Alleged Reovery”, Yahoo Finance)

Pano de fundo: os postos de trabalho bem remunerados são exportados para ultramar, empurrando ao abismo as classes médias trabalhadoras estadunidenses. E a situação piora porque agora mesmo inclusive os postos de trabalho com baixo salário estão cada vez mais difíceis de encontrar. Olhem só isso, procedente de Bloomberg:



“O McDonald’s e suas franquias contrataram 62 mil pessoas nos EUA logo depois de receber mais de um milhão de solicitações de emprego, disse hoje a companhia com sede em Oak Brooks, Illinois, em uma declaração divulgada por correio eletrônico...” (Bloomberg News)



Um milhão de solicitações para servir hamburguers! Isso diz tudo.



Assim, em resumo, até os postos de trabalho mais servis e degradantes estão escasseando, o que dá uma prova adicional de que nos encontramos em uma depressão. As cifras de desemprego começaram a crescer de novo, lançando mais sombras sobre a suposta recuperação. Os novos casos registrados de desemprego chegaram a 25 mil na terceira semana de abril.



As empresas estão cortando custos para enfrentar a alta dos preços das matérias primas, que estão minguando os lucros. Uma vez mais, as cifras do desemprego bateram o recorde com 400 mil em três semanas, indicando uma maior debilidade da economia. No Wall Street Journal pode-se ler:



No ano passado, cerca de um milhão de estadunidenses foram incapazes de encontrar trabalho após esgotar a cobertura do seguro desemprego, segundo dados divulgados pelo Departamento de Trabalho (...)”.



Para terminar, esta nota sobre os salários do antigo Secretário do Trabalho, no governo Clinton, Robert Reich:



A notícia economicamente mais relevante deste primeiro semestre de 2011 é a da queda dos salários reais (...) A fim de manter os postos de trabalho, milhões de estadunidenses estão aceitando reduções salariais. E se já foram despedidos a única maneira de encontrar um novo trabalho é aceitar salários ainda mais baixos”.

A recuperação econômica sem criação de postos de trabalho que os EUA estão experimentando está se convertendo em uma recuperação sem salários. O que aponta para uma probabilidade de nova recessão muito maior que o risco de inflação”. (“The Wageless recovery”, blog de Robert Reich)



Quem falou de “duplo mergulho na crise”?



Os salários se contraem, os postos de trabalho escasseiam, o auxílio desemprego acaba e o dólar despenca. Pode-se duvidar que estamos em meio a uma depressão?



(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista CounterPunch. ...(este artigo foi resumido).



(**) Tradução de Katarina Peixoto a partir da versão em língua espanhola publicada em Sin Permiso.

domingo, 8 de maio de 2011

Discurso de um soldado americano

Discurso de um soldado americano - veterano da Guerra do Iraque


(transcrevemos abaixo na íntegra o discurso do soldado Mike Prysner divulgado no Youtube em 29/04/2011)



“Eu me esforcei para ter orgulho do meu serviço, mas tudo o que conseguia sentir era vergonha.

O racismo não podia mais mascarar a realidade da ocupação, eles eram gente, eles eram seres humanos. Desde então, passei a sentir culpa toda vez que via homens idosos como o que não podia andar e carregamos com uma maca, até que a polícia iraquiana pudesse levá-lo . Sentia culpa toda vez que via uma mãe com suas crianças como a que chorava histericamente, dizendo que nós éramos piores que Saddam enquanto a obrigávamos a sair de sua casa.

Eu sentia culpa toda vez que via uma garota jovem, como a que eu agarrei pelo braço e arrastei pela rua. Disseram que lutaríamos contra terroristas. O verdadeiro terrorista era eu e o verdadeiro terrorismo é essa ocupação O racismo nos militares tem sido,durante muito tempo, uma ferramenta importante para justificar a destruição ou ocupação de um outro país. Tem sido usado durante muito tempo para justificar a morte, subjugação ou tortura de outro povo. Racismo é uma arma vital usada por esse governo . É uma arma mais poderosa do que um rifle, um tanque, um bombardeiro, ou um navio de guerra. É mais destrutivo do que um projétil de artilharia, um anti-bunker ou um míssil Tomahawk. Apesar de nosso país fabricar e produzir estas armas, elas são inofensivas sem pessoas dispostas a usá-las.

Aqueles que nos mandam para a guerra não tem que apertar um gatilho ou lançar um morteiro. Eles não precisam lutar na guerra, sua função é vender a guerra. Precisam de um público que esteja de acordo em mandar seus soldados para o perigo. Precisam de soldados dispostos a matar e serem mortos sem questionar.

Eles podem gastar milhões em uma única bomba mas essa bomba só se torna uma arma quando as divisões militares estão dispostas a seguir as ordens de usá-las. Eles podem enviar um soldado a qualquer parte da Terra, mas só haverá guerra se o soldado concordar em lutar. E a classe dominante, de bilionários que lucram com o sofrimento humano se preocupam somente em expandir sua riqueza, em controlar a economia mundial. Compreendam que seu poder consiste somente na habilidade de nos convencer de que a guerra, a opressão e exploração são de nosso interesse. Eles sabem que a riqueza deles depende da habilidade de convencer a classe operária a morrer para controlar o mercado de outro país. E nos convencer a matar e a morrer, é baseado na habilidade deles de nos fazer pensar que somos, de alguma forma, superiores.

Soldados, marinheiros, marines, aviadores, não tem nada a ganhar com esta ocupação.A grande maioria das pessoas vivendo nos EUA, não tem nada a ganhar com esta ocupação. Na verdade, nós não somente não temos o que ganhar, como sofremos mais por causa disso. Nós perdemos membros e damos nossa vida de forma traumática. Nossas famílias tem que ver caixões com bandeira descendo a terra. Milhões nesse país sem assistência médica, trabalho ou acesso à educação e nós vemos o governo gastar 450 milhões de dólares por dia nessa ocupação.

Pessoas pobres e trabalhadoras desse país são mandadas para matar pessoas pobres e trabalhadoras de outro país e fazer os ricos mais ricos. Sem o racismo, os soldados perceberiam que tem muito mais em comum com o povo do Iraque do que com os bilionários que nos mandam para a guerra.

Eu joguei famílias para a rua, no Iraque, somente para chegar em casa e encontrar famílias jogadas às ruas nesse país nessa trágica e desnecessária crise imobiliária.

Devemos acordar e perceber que nosso verdadeiro inimigo não está em uma terra distante e não são pessoas cujo nome não conhecemos ou a cultura não entendemos.

O inimigo é gente que conhecemos muito bem e que podemos identificar. O inimigo é um sistema que declara guerra quando é lucrativo. O inimigo é uma corporação que nos demite de nosso trabalho quando é lucrativo, é uma companhia de seguros que nos nega assistência quando é lucrativo, é o banco que toma nossas casas quando é lucrativo.

Nosso inimigo não está a 5 mil milhas de distância, está bem aqui. Se nos organizarmos e lutarmos juntos com nossos irmãos e irmãs, nós podemos parar essa guerra, nós podemos parar esse governo, e nós podemos criar um mundo melhor. “



“If tyranny and oppression come to this land, it will be in the guise of fighting a foreign enemy… The lost of liberty at home is to be charged to the provisions against danger, real or imagined, from abroad….” James Madison



Edited by Phaedrus

Youtube.com/Phaedrus83





Transcrito do  video:


http://youtu.be/JFOmnAjk1EQ

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Uma vitória de Pirro

A execução de Bin Laden: uma vitória de Pirro


A “guerra contra o terror” não possui um inimigo homogêneo representado na figura de Bin Laden como quer fazer-nos acreditar os EUA. Existem diversos grupos que, por compartilharem alguns interesses comuns, estabeleceram alianças estratégicas. Como muitos já alertaram, não é possível carimbar como terror islâmico tudo aquilo que contesta a ocupação militar dos EUA naquela região. Quem será o próximo monstro a ser executado em nome da humanidade? O artigo é de Reginaldo Nasser e Marina Mattar Nasser.

Reginaldo Nasser e Marina Mattar Nasser. Carta Maior, 06/05/2011

Uma das grandes perguntas que se colocam agora, após a morte de Bin Laden, diz respeito ao futuro da Al-Qaeda e da “guerra contra o terror” iniciada pelos Estados Unidos logo após os atentados do 11 de Setembro. Com a morte de seu líder, a Al -Qaeda se enfraquecerá? Isso representa a vitória dos EUA contra o terrorismo? Afinal, o que representa a morte de Bin Laden? Em que muda a situação atual no Iraque, Afeganistão e em seus países vizinhos?



A imagem da Al-Qaeda construída pela política externa norte-americana e veiculada pela mídia ocidental mostra-nos uma organização forte e homogênea com atuação global cujo principal objetivo é o de combater a civilização ocidental e reestabelecer o regime de Califados no mundo islâmico. A Al-Qaeda, entretanto, funciona mais como uma empresa de capital de risco, proporcionando dinheiro, contatos e assessoria a numerosos grupos e indivíduos militantes de todo o mundo islâmico. Ou seja, a organização tem como estratégia vincular aos grupos locais que não necessariamente compartilham seus ideais e objetivos, mas que por interesses circunstanciais, estabelecem uma aliança. Em muitos casos, a relação destes grupos com a Al-Qaeda é apenas nominal.



Talvez por esta razão que os EUA e as informações da grande imprensa não tenham percebido – ou revelado - que a Al-Qaeda está se enfraquecendo há anos. Em 2007, o atual número 1 da Al-Qaeda, al-Zawahiri, percebendo a crescente impopularidade da organização, realizou um debate aberto em um fórum de jihadistas, de perguntas e respostas, no qual foi amplamente questionado sobre a morte de civis muçulmanos em atentados realizados pela a Al-Qaeda. Diversas pesquisas mostram a crescente queda em popularidade da Al-Qaeda em diversas sociedades do mundo árabe e islâmico após terem sofrido atentados terroristas da organização. Um bom exemplo disso é a Jordânia, onde o índice de aprovação da Al-Qaeda entre a população teve uma queda brusca de 70%(quando?) para 10% no ano de 2005 quando três explosões em hotéis da capital Amman mataram e feriram centenas de pessoas, muitas delas estavam celebrando um casamento.



Em pesquisa desenvolvida pelo centro PEW sobre a confiança das populações muçulmanas de diversos países do mundo árabe e islâmico em Bin Laden prova que os diversos atentados da Al-Qaeda que mataram civis muçulmanos afetou, em grande medida, sua popularidade entre as sociedades. No Paquistão, sua popularidade caiu de 46%, em 2003, para 18% em 2010; na Palestina, de 72% para 34%; e na Jordânia, caso de maior índice de queda, de 56% para 13%.



De acordo com relatório da RAND Corporation de 2008, houve uma mudança na estratégia do braço da Al-Qaeda no Iraque, a partir de 2005, quando deixaram de atacar os oficiais dos EUA e de seus aliados e passaram a atacar a própria sociedade iraquiana, o que não foi bem recebido pela população. A onda de atentados entre 2005 e 2007 liderada pela Al-Qaeda iraquiana matou, em média, 16 civis por dia. Durante todos os anos de guerra, de 2003 aos dias atuais, os anos de 2006 e 2007 foram os que mais civis morreram, superando, até mesmo, os bombardeios dos EUA em 2003.



Basta perceber que a Al-Qaeda não está presente na chamada primavera árabe. Estes movimentos civis, por meio de protestos pacíficos, conseguiram derrubar governos que a Al-Qaeda se propõe a combater, há mais de duas décadas, apresentando uma alternativa às sociedades árabes e marginalizando, ainda mais, o grupo terrorista.



Assim, além das áreas tribais no norte do Paquistão, a Al-Qaeda está presente apenas em regiões marginais do mundo árabe e islâmico por contatos, muitas vezes, superficiais como no nordeste do Yemen, na Somália e no sul da Argélia. Por conta das diversas alianças realizadas, a Al-Qaeda não conseguiu liderar uma única estratégia e seu principal objetivo de tornar-se um movimento insurgente, caracterizado, sobretudo, pelo grande apoio da comunidade, acabou, portanto, por falhar.



Prova disso foram os desentendimentos entre Bin Laden e Al-Zarqawi, que liderou o braço da Al-Qaeda iraquiano, quanto às formas de agir no país. A CIA interceptou cartas entre eles que mostravam discordância de Bin Laden com a crescente onda de atentados no Iraque uma vez que isto impossibilitaria a aproximação da Al-Qaeda da sociedade iraquiana. a Al-Qaeda já enfrentava, portanto, um momento de crise e de possível mudança estratégica, anterior à morte de seu líder.



A “guerra contra o terror” não possui um inimigo homogêneo representado na figura de Bin Laden como quer fazer-nos acreditar os EUA. Existem diversos grupos que, por compartilharem alguns interesses comuns, estabeleceram alianças estratégicas. Como muitos já alertaram, não é possível carimbar como terror islâmico tudo aquilo que contesta a ocupação militar dos EUA naquela região. Quem será o próximo monstro a ser executado em nome da humanidade?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

As várias versões da morte de Osama Bin Laden

As várias versões da morte de Osama Bin Laden

71% dos internautas duvidam da versão dos EUA sobre bin Laden


Uma enquete promovida pelo portal UOL, o maior em audiência no Brasil, e respondida por mais de 27 mil internautas até a tarde desta quarta-feira (4), mostrou um dado revelador: 71% dos que participaram da enquete disseram que não acreditam na versão que os Estados Unidos estão contando sobre o assassinato do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden.

A enquete perguntou: "Para você, como Bin Laden morreu?". 71,25% escolheram a opção "Não acredito que Osama foi morto. Os Estados Unidos não mostraram o corpo". Outros 16,54% escolheream a alternativa que diz: "Com um tiro no rosto, disparado por um soldado americano de elite". 5,97% disseram que Osama bin Laden "Foi morto por um de seus guarda-costas para evitar que fosse capturado por forças americanas". A opção "Se suicidou quando percebeu que os americanos haviam encontrado seu esconderijo" foi escolhida por 3,57% dos internautas que participaram da enquete e, por fim, 2,67% marcaram a alternativa "Morreu com uma explosão quando a mansão em que ele se escondia foi bombardeada".





A opção da esmagadora maioria dos internautas pela alternativa que coloca em xeque a versão oficial apresentada pelo governo americano mostra que esta é uma história repleta de ambiguidades e questões não respondidas.



Entre os principais questionamentos que estão sendo levantados por internautas e jornalistas independentes está o fato de até agora não ter surgido nenhuma imagem do corpo de Osama bin Laden. O suposto "sepultamento" no mar também tem gerado muita desconfiança, bem como o fato do barulho provocado pela presença de diversos helicópteros não ter alertado os ocupantes da casa onde supostamente bin Laden foi morto. Questiona-se ainda como foi possível revelar o resultado de um teste de DNA, realizado nos Estados Unidos, poucas horas após o assassinato do líder da Al Qaeda.



Para evitar maiores especulações, a Casa Branca teria enviado para a rede norte-americana de TV, NBC, a tal foto do corpo de Osama bin Laden. A emissora teceu comentários sobre a suposta imagem, mas não a revelou para o público. Segundo as redes de televisão "NBC" e "CBS", o presidente dos EUA, Barack Obama, proibiu, por enquanto, a publicação das fotos do corpo de Bin Laden.



O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que a publicação das fotos pode ter um efeito "incendiário", o que pesa para que o governo ainda não tenha se decidido sobre sua divulgação.



Da redação,com agências





Barbárie e estupidez jornalística no noticiário sobre Osama

Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria?



Artigo de Elaine Tavares, publicado no blog Palavras Insurgentes

O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenado o ataque. Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.



Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.



Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.



E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.



O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.



Olha, eu sei lá, mas o que vi ontem na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império. Darth Vader é fichinha!



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(parênteses)...

Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não.

Em 28 de janeiro de 2002, o jornalista da CBS Dan Rather, difundiu por meio dessa emissora de televisão que em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, Osama Bin Laden foi submetido a uma hemodiálise do rim em um hospital militar do Paquistão. Não estava em condições de esconder-se nem de proteger-se em cavernas profundas.



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(parênteses).
As várias versões da morte de Bin Laden



Obama decide não revelar fotos do assassinato de Bin Laden

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reafirmou que forças militares de seu país assassinaram Osama Bin Laden em território estrangeiro e nesta quarta-feira (4) anunciou através do porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, que decidiu não divulgar imagens do corpo do líder da rede Al Qaeda.



O presidente disse ter discutido o assunto com os secretários de Defesa, Robert Gates, de Estado, Hillary Clinton, e com as equipes de inteligência da Casa Branca. “Todos concordaram”, afirmou Obama.



“Nós discutimos isso internamente. Tenham em mente que nós estamos absolutamente certos de que era ele. Nós fizemos testes de DNA. Então, não há dúvida de que nós matamos Osama Bin Laden”, disse Obama.



O líder da Al Qaeda foi morto no domingo (1), com um tiro na cabeça, quando forças especiais americanas invadiram a mansão onde vivia escondido na cidade de Abbottabad, a cerca de 100 quilômetros da capital do Paquistão, Islamabad.



A decisão da Casa Branca apenas acentua o desencontro de informações e versões sobre o ataque que culminou no assassinato de Bin-Laden. Tudo o que se divulgou na segunda, terça e hoje gerou polêmica em todo o mundo e cria a necessidade de uma versão definitiva. Por isso, o presidente Obama reafirma que os EUA mataram Bin Laden e até fizeram exame de DNA,(realizados por agentes da CIA, diga-se de passagem) para dissipar as dúvidas e cessar a polêmica.



Na segunda-feira, a Casa Branca disse que Bin Laden foi alertado para que se rendesse e como não o fez no tempo estipulado pelo grupo de ataque da SEAL (forças especiais da marinha americana), levou um tiro em seu quarto na cidade de Abbottabad, que fica próxima à capital Islamabad.



Um dia depois, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, havia dado outra versão, dizendo que o terrorista estava desarmado quando foi assassinado pela SEAL, levantando dúvidas sobre as afirmações americanas de que eles estavam prontos para levar Bin Laden vivo.



Na segunda-feira, John Brennan, diretor do serviço de antiterrorismo de Obama, disse que a esposa de Bin Laden havia morrido após ter sido usada por ele como um escudo humano durante o ataque, em mais um ato covarde de Bin Laden.



Alguns oficiais logo desmentiram essa versão também e Carney apresentou uma nova história na terça-feira, dizendo que a esposa de Bin Laden teria atacado um dos oficiais da SEAL que tentava render seu marido e por isso recebera um tiro na perna, mas não teria morrido.

"No primeiro andar do reduto de Bin Laden, dois seguranças que vigiavam as duas entradas do refúgio foram mortos, assim como uma mulher que atravessou o fogo cruzado", disse Carney.



Segundo ele, Bin Laden e sua família foram encontrados no segundo e terceiro andares. "Havia a preocupação de que Bin Laden fosse se opor à operação de captura e de fato ele resistiu", completou.



Existem ainda diferentes versões sobre como um dos filhos adultos de Bin Laden, Hamza of Khalid, foi morto e há ainda mais especulações sobre o que teria sido feito do corpo. A versão de Carney divulgada na terça-feira, no entanto, nem mesmo menciona a morte do filho de Bin Laden.



O porta-voz da Casa Branca, que chegou a admitir num determinado momento que até mesmo ele estava ficando confuso, pôs a culpa sobre as divergências de informação no fato de tratar-se de uma ação de guerra e por isso haver muito tumulto envolvido.



Outro oficial concordou em falar sobre a mudança da história, desde que não tivesse o nome divulgado, dizendo que a administração não se arrepende de ter emitido informes rápidos e detalhados, que depois precisaram ser corrigidos.



O oficial disse ainda que esse profundo desencontro de informações não passaria de terça-feira e reforçou a necessidade de corrigir alguns detalhes da missão. "Havia uma forte demanda por informação... nós demos um passo à frente ", disse. "Você quer informação rápida, essas coisas sempre sofrem revisão. Tudo foi movido por uma boa intenção, mas de uma forma antecipada", completou.



Enquanto se encontra enredada nesse cipoal de informações, contra-informações, versões desencontradas, a Casa Branca aciona seu dispositivo propagandístico e tenta capitalizar ao máximo o episódio para alavancar a popularidade de Barack Obama e potencializar sua candidatura à reeleição.



Com agências