quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana: resumo


ANATOMIA DE UM ESCÂNDALO ZUMBI


Por Eduardo Guimarães

“Devido à resistência da imprensa a se aprofundar em um dos escândalos mais clamorosos de que se tem notícia, ainda falta muito para que amaine a tempestade de reportagens e análises de jornalistas independentes, de blogueiros, de tuiteiros, de facebookers e de assemelhados sobre um escândalo que, do ponto de vista dos valores envolvidos e da gravidade dos crimes cometidos, pode ser considerado o maior escândalo de corrupção da história brasileira e um dos maiores do mundo.

À diferença do que pode parecer, porém, não se irá tratar, aqui, do escândalo preferido da imprensa brasileira, o dito “escândalo do mensalão”, cujos valores envolvidos, independentemente da veracidade – ou não – da tese de que se tratou de suborno de parlamentares pelo governo federal, não pode sequer ser comparado ao escândalo que brotou do “Programa Nacional de Desestatização” (PND), instituído no governo Fernando Collor a partir de 1991 e incrementado pelo primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.

Para que se entenda a razão de tal afirmativa, basta lembrar que, de 1991 até 2000, o conjunto de privatizações nas telecomunicações, nos setores elétrico, petroquímico, de mineração, portuário, financeiro, de informática, de malhas ferroviárias e de empresas estatais dos Estados gerou receita total de 91,1 bilhões de dólares.

Se o critério para um grande escândalo de corrupção, portanto, for a quantidade de dinheiro envolvido, as denúncias que envolvem o programa brasileiro de privatizações constituem, sem dúvida, o maior da história do país. E o que é mais grave: pode ter sido empreendido por quadrilha formada por grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, por políticos e até por grandes meios de comunicação nacionais, o que lhes explica a reticência em tocar no assunto.

Esses são os fatos narrados pelo livro-denúncia A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro, um dos maiores fenômenos editoriais de que se tem notícia devido a ter se tornado ‘best-seller’ em menos de uma semana e à revelia desse impressionante boicote dos grandes meios de comunicação de massa, que, após desistirem de ocultar o livro, passaram a acusá-lo de “farsa” e “ficção”, bem como ao seu autor de “bandido” por ter sido indiciado pela Polícia Federal durante a campanha eleitoral de 2010 por supostamente estar envolvido na quebra de sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo José Serra, o político que comandou boa parte do período mais intenso de privatizações (1994 – 1998).

No período de 1991 a 2000, ocorreram no Brasil privatizações de 65 empresas estatais federais consideradas “jóias da coroa” do patrimônio público brasileiro. Abaixo, a relação dessas empresas.(necessita "zoom" para a leitura):

Durante a década dessas privatizações, além das estatais federais, os Estados e municípios foram compelidos, mediante condicionamentos financeiros, a privatizarem empresas públicas que, juntas, geraram uma dinheirama que até hoje não se sabe onde foi parar, pois, ao fim do governo que mais privatizou, o de Fernando Henrique Cardoso, o país estava quebrado e sem reservas próprias em dólares, tendo em caixa apenas o que lhe fora emprestado pelo governo dos Estados Unidos, pelo FMI e pelos bancos europeus do Clube de Paris a fim de evitar a literal quebra do Brasil.

Apesar da dimensão paquidérmica das denúncias e dos fatos que sugerem que os políticos que conduziram o PND durante a última década do século XX foram subornados para entregarem a preço vil à iniciativa privada o que fora privatizado, a imprensa nacional jamais dedicou ao caso uma mera fração da atenção que vem dedicando ao “escândalo do mensalão”, que não envolveu nem 0,1% dos valores envolvidos no que o livro supramencionado chama de “privataria”.

O processo foi tão danoso à imagem do governo FHC que o Partido dos Trabalhadores elegeu e reelegeu facilmente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, a atual presidente, Dilma Rousseff, ainda que o que tenha pesado mais tenha sido a situação social e econômica desastrosa em que terminou o governo tucano. Todavia, há até prova científica da percepção da sociedade de que as privatizações pioraram a vida dos brasileiros.

O que comprova a rejeição da sociedade ao processo de privatização é a única pesquisa de opinião sobre o assunto que se conhece. Entre os dias 24 e 31 de outubro de 2007, o instituto IPSOS, sob encomenda do jornal “O Estado de S. Paulo”, realizou uma pesquisa sobre a opinião do brasileiro sobre as privatizações com mil entrevistas em setenta cidades e nove regiões metropolitanas. Essa pesquisa apontou que 62% dos entrevistados eram contra a privatização de serviços públicos. Apenas 25% se mostraram favoráveis.

De acordo com o jornal, “a percepção dos brasileiros é a de que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica, água e esgoto”. As mais altas taxas de rejeição (73%) surgiram no estrato social de nível superior e nas classes A e B.

Segundo mostrou a pesquisa, a rejeição à privatização não tinha, naquele 2007, razão partidária ou ideológica, atingindo por igual as privatizações feitas em diversos governos, tanto o federal quanto os estaduais e municipais. Enquanto 55% acharam que o governo FHC fez mal em privatizar a telefonia, apenas 33% disseram que fez bem. Em nenhuma região a maioria da população aprovou a privatização. O Nordeste registrou a maior taxa de rejeição (73%), enquanto o Norte e o Centro-Oeste registram a menor (51%).

Por razões óbvias, nunca mais surgiu outra pesquisa de opinião sobre o assunto – e, se houve, foi pouco ou nada divulgada -, pois quem costuma empreender tais pesquisas são os meios de comunicação de massa, os quais se tornaram sócios do que foi chamado pelo jornalista Elio Gaspari de “privataria”, termo que comparou a condução do PND pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um saque de piratas.

Abaixo, tabela que mostra que grupos de comunicação como as “Organizações Globo”, o “Grupo Estado” e o “Grupo Folha” adquiriram parte das empresas privatizadas sem informar aos seus leitores que participavam do processo enquanto o defendiam em longos e incontáveis editoriais, artigos e reportagens..(necessita "zoom" para a leitura):


É nesse ponto que surge a figura central do processo de privatização que ora se encontra sob escrutínio da sociedade. José Serra, então ministro do Planejamento, elaborou e tocou o processo de privatização no Brasil em seu período mais intenso.

O livro “A Privataria Tucana” trata de suposto esquema de corrupção montado no governo de Fernando Henrique Cardoso por ocasião das privatizações. O livro é, na verdade, profunda reportagem investigativa com 200 páginas de texto apoiada em mais de uma centena de páginas de cópias autenticadas de documentos oficiais recolhidos em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça.

O obra descreve a trajetória de bilhões de dólares – que seriam pagamento de propina a parentes e assessores de Serra, que teria se valido de “laranjas” e de empresas ‘offshores’ de fachada – apresentando documentos com fé pública sobre negócios financeiros vultosos envolvendo grandes corporações financeiras.

O autor do livro acusa o envolvimento e a conivência de parte dos meios de comunicação, crimes de corrupção ativa e passiva, favorecimento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, invasão de privacidade, vazamento de dados tributários, tudo associado ao desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos. A trajetória do dinheiro ilícito ao voltar ao Brasil, segundo os documentos, explicaria as fortunas pessoais do grupo ligado a Serra.

Os documentos apresentados no livro pretendem demonstrar como teria funcionado o suposto esquema de propinas e de lavagem de dinheiro. Quem pagou a propina a teria enviado a empresas ‘offshores’ em paraísos fiscais como as Ilhas Virgens e o dinheiro retornava ao Brasil como “investimento estrangeiro”.

A investigação do jornalista Amaury Ribeiro Jr. apurou que os beneficiários desses bilhões de dólares que entraram no país eram os mesmos que assinavam os dois lados da operação, como procuradores das empresas de fachada sediadas no Caribe e como donos das empresas brasileiras receptoras do suposto investimento estrangeiro.

O esquema envolve nomes como Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro das campanhas de FHC e José Serra, descrito na página 38 do livro como “o chefe da lavanderia do tucanato”), Carlos Jereissati, José Serra, sua filha Verônica Serra e o marido, Alexandre Bourgeois, além de empresas como a ‘Oi’ (na época Telemar), ‘IConexa’, ‘Citco Building’, ‘Andover’, ‘Westscheste’r e, sobretudo, a ‘Decidir.com’, da filha de Serra em sociedade com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas.

Para demonstrar o montante de dinheiro envolvido, o livro revela que, entre 1998 e 2002, Gregório Preciado, marido de uma prima de José Serra, teria depositado 2,5 bilhões de dólares na conta de Ricardo Sérgio de Oliveira, que, como diretor do Banco do Brasil, interferiu na liberação de recursos para empresas sem capacidade financeira adquirirem parte do que estava sendo privatizado.

O método de lavagem de dinheiro também teria sido utilizado por Paulo Maluf, por Ricardo Teixeira e pela quadrilha da advogada Jorgina de Freitas, que fraudou a previdência em R$ 1 bilhão, e por Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ricardo Sergio, segundo o livro-reportagem, por ser banqueiro experiente foi o arquiteto do esquema que inseria dinheiro de origem duvidosa no Brasil. Os documentos, obtidos legalmente, demonstram que Alexandre Bourgeois, genro de José Serra, abriu empresas ‘offshores’ imediatamente após as privatizações. Essas empresas tinham o mesmo endereço da ‘Decidir’, empresa de Verônica Dantas e de Verônica Serra.

Na página 25 do livro, ainda há detalhes de como Serra, então no governo federal, teria utilizado arapongas, pagos com dinheiro público, para criar dossiês contra adversários políticos, e de como sua filha e a irmã de Daniel Dantas teriam quebrado o sigilo de milhões de brasileiros para obterem informações privilegiadas dentro do governo, o que gerou inquérito na Polícia Federal que originou denúncia do Ministério Público e que agora tramita na Justiça contra as duas Verônicas.

Detalhe: os meios de comunicação e os seus colunistas que procuram desacreditar o livro e o autor se valem de denúncia feita no calor da eleição do ano passado contra o autor de “Privataria”, de que ele é que teria quebrado o sigilo fiscal da mesma Verônica Serra que hoje está sendo processada por quebrar sigilo não de uma pessoa, mas de dezenas de milhões de pessoas, o que jamais veio à tona por iniciativa da imprensa, com exceção da revista “Carta Capital”.

As fortunas que foram amealhadas pelos familiares do homem que comandou as privatizações da era Fernando Henrique Cardoso no exato momento em que as vendas de patrimônio público ocorriam, segundo as denúncias do livro-bomba, decorreram do pagamento de propina pelos grupos econômicos que compraram aquele patrimônio por preços subavaliados.

Um dos casos mais clamorosos diz respeito à primeira grande empresa estatal a ser privatizada no governo FHC, a Companhia Vale do Rio Doce, então a maior exportadora de minério de ferro do mundo e que ostenta esse título até hoje, permanecendo líder mundial na exportação de minério de ferro.

A privatização da Vale S.A. foi polêmica por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de ferro sob controle da companhia na época. Para avaliar o preço pelo qual seria vendida, foi computado apenas o valor de sua infraestrutura. As reservas minerais que controlava foram simplesmente ignoradas. Ou seja, computaram-se bens imóveis, máquinas, equipamentos, mas não o potencial de exploração que havia sob a terra. Minas de ferro com potencial para 400 anos não foram computadas na avaliação.

O processo em que ocorreu a subavaliação da Vale mereceu do Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz o apelido de “briberization” (“propinização”). Segundo o economista, essa “propinização” das privatizações teria ocorrido em todos os países que adotaram o programa de estabilização então engendrado pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, que previa privatizações como uma das principais vertentes, e que, no Brasil, foi chamado de “Plano Real”.

A venda do controle acionário da "Vale" ocorreu em 1997 por 3,3 bilhões de dólares, ao dólar da época. Hoje, o valor da mineradora, após investimentos dos que a adquiriram, chega próximo a 160 bilhões de dólares. Os defensores da venda da empresa dizem que essa valorização só foi possível devido aos investimentos dos seus compradores, mas essa mesma valorização indica o potencial que a empresa tinha e que não foi computado em seu preço de venda.

Essas vendas de empresas públicas a preço vil seriam a origem dos bilhões de dólares que pingaram em contas bancárias de familiares e assessores de Serra. Milhões de dólares que a filha dele recebeu do exterior – e que, até hoje, não têm origem comprovada –, receberam obsequioso silêncio da Justiça e até do governo petista que sucedeu o governo federal tucano, que jamais fizeram mísera menção a investigar denúncias que, em 2003, já apareciam na CPI do Banestado.

O grupo de Serra, sob sua batuta, além de tudo ainda faria uso de métodos de filmes de espionagem, visando antecipar e esvaziar denúncias contra ele, vitimizando-o perante a opinião pública com a ajuda da Globo, da Folha, do Estadão e da Veja, sempre dispostos a acusar os adversários dele de estarem por trás de armações contra si.

O livro “A Privataria Tucana”, por fim, gera questionamento ao Partido dos Trabalhadores, ao governo Lula, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à própria Justiça por terem permanecido impassíveis diante de fartura de evidências que a obra oferece e que em parte já eram conhecidas. Por que até os adversários políticos do grupo que conduziu processo tão nebuloso permaneceram silentes por tanto tempo?

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/anatomia-de-um-escandalo-zumbi/).

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O ano em que um livro desmascarou a imprensa

O ano em que um livro desmascarou a imprensa

Ricardo  Kotscho  em   Balaio do Kotscho  do   r7.com

privatariatucana blogs21 O ano em que um livro desmascarou a imprensa

"Se a Gazeta Esportiva não deu, ninguém sabe o que aconteceu".
(Slogan de um antigo jornal de São Paulo, nos tempos pré-internet, que ainda inspira muitos jornalistas brasileiros).
***
Daqui a cem anos, quando os historiadores do futuro contarem a história da velha mídia brasileira, certamente vão reservar um capítulo especial para o que aconteceu em 2011.
Foi o ano em que um livro desmascarou o que ainda restava de importância e influência da chamada grande imprensa na formação da opinião pública brasileira.
O suicídio coletivo foi provocado pelo lançamento de um livro polêmico, A Privataria Tucana, do premiado repórter Amaury Ribeiro Júnior, com denúncias sobre o destino dado a bilhões de reais na época do processo de privatização promovido nos anos FHC.
Como envolve personagens do alto tucanato em nebulosas viagens de dinheiro pelo mundo, o livro foi primeiro ignorado pelos principais veículos do país, com exceção da revista "Carta Capital" e dos telejornais da Rede Record; nos dias seguintes, os poucos que se atreveram a tocar no assunto se limitaram a detonar o livro e o seu autor.
Sem entrar no mérito da obra, o fato é que, em poucos dias, A Privataria Tucana alcançou o topo dos livros mais vendidos do país e invadiu as redes sociais, tornando-se tema dominante nas rodas de conversa do Brasil que tem acesso à internet.
No final de semana, o fenômeno editorial apareceu nas listas de jornais e revistas, mas não mereceu qualquer resenha ou reportagem sobre o seu conteúdo.
Em 47 anos de trabalho nas principais redações da imprensa brasileira, com exceção da revista "Veja", nunca tinha visto nada igual, nem mesmo na época da ditadura militar, quando a gente não era proibido de escrever _ apenas, os censores não deixavam publicar.
Foi como se todos houvessem combinado que o livro simplesmente não existiria. Esqueceram-se que há alguns anos o mundo foi revolucionado por um negócio chamado internet, em que todos nos tornamos emissores e receptores de informações, tornando-se impossível esconder qualquer notícia.
O que mais me espantou foi o silêncio dos principais colunistas e blogueiros do país _ falo dos profissionais considerados sérios _, muitos deles meus amigos e mestres no ofício, que sempre preservaram sua independência, mesmo quando discordavam da posição editorial da empresa onde estão trabalhando.
Nenhum deles ousou escrever, nem bem nem mal, sobre A Privataria Tucana, com a honrosa exceção de José Simão, o mais sério de todos eles.
Alguns ainda tentaram dar alguma desculpa esfarrapada, como falta de tempo para ler e investigar os documentos publicados no livro, mas a grande maioria simplesmente saiu por aí assobiando e mudando de assunto.

O que aconteceu? Faz algum tempo, as entidades representativas da velha mídia criaram o Instituto Millenium, uma instituição voltada à defesa dos seus interesses e negócios, o que é muito justo. (Kotscho esqueceu de dizer que o Instituto Millenium representa a direita brasileira, incluindo a velha mídia ou PIG, partido da imprensa golpista - rede Globo, editora Abril, revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão,etc. - e os partidos PSDB, DEM e PPS).

Sob a bandeira da "defesa da liberdade de expressão", segundo eles sempre ameaçada por malfeitores do PT e de setores do governo federal, os barões da mídia promoveram vários saraus para denunciar os perigos que enfrentavam. O principal deles, claro, era "a volta da censura".
Pois a censura voltou a imperar escandalosamente na semana passada. Só que, desta vez, não promovida por orgãos do Estado, mas pelas próprias empresas jornalísticas abrigadas no Instituto Millenium. Os antigos donos do poder midiático decidiram apagar do mapa, não uma reportagem ou uma foto, mas um livro.
O episódio certamente será um divisor de águas no relacionamento entre a grande imprensa e seus clientes. Por mais que cada vez menos gente acreditasse nessa conversa, seus porta-vozes sempre insistiam em nos garantir que a mídia grande era independente, apartidária, isenta, preocupada apenas em contar o que está acontecendo e denunciar os malfeitos do governo, em defesa do interesse nacional e da felicidade de todos. (OBS deste blog: a ordem do Instituto Millenium é atacar o PT e o governo federal, com bombardeios e estardalhaços frequentes, promovendo um denuncismo até mesmo sem provas, pois o objetivo do PIG é queimar o governo petista e desgastá-lo politicamente e blindar os governos estaduais tucanos).
 
Agora, caiu definitivamente a máscara. Neste final de semana, ouvi de várias pessoas, em diferentes ambientes, que vão cancelar assinaturas de publicações em que não confiam mais.
Como jornalista ainda apaixonado pela profissão, fico triste com tudo isso, mas não posso brigar com os fatos. Foi vergonhoso ver o que aconteceu e não deu para esconder. Graças à internet, todo mundo ficou sabendo.
E agora? O que vão dizer aos seus ouvintes, leitores e telespectadores? Que tudo não passou de um engano, uma ilusão de ótica? Vão publicar um "erramos" coletivo ou vai ficar tudo por isso mesmo?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O PIOR INIMIGO DO GOVERNO DILMA

O PIOR INIMIGO DO GOVERNO DILMA


Por Eduardo Guimarães

“A queda do sexto ministro de Dilma sob acusação de corrupção ocorre no âmbito de um processo kafkiano iniciado em março deste ano. Sabia-se que a imprensa [por ser de direita, pró-demotucanos] continuaria se opondo ao governo federal caso a candidata de Lula se elegesse, mas os consideráveis esforços dela para distender o clima político tornam o ataque midiático inexplicável, sem razão, daí a alusão à obra de Franz Kafka.

Dilma começou a governar claramente convencida de que, se não fizesse provocações à mídia e à oposição, não sofreria processo similar ao que acompanhou cada dia da gestão de seu antecessor.

Ela desafiou a ira da militância fazendo afagos à imprensa tucana, afagos que todos os que se interessam por política sabem quais foram – aniversário da Folha, Ana Maria Braga, Hebe Camargo etc., com direito aos famosos almoços com barões da mídia aos quais Lula jamais acedeu. Por atos e declarações, também tirou do horizonte a temida lei da mídia, que esta e a oposição não aceitam sequer discutir. Desmanchou-se em mesuras ao líder máximo da oposição e da imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegando a lhe dar créditos que não merece pelo sucesso econômico do Brasil hoje.

O que mais a mídia e a oposição querem?

A resposta é simples: o poder. E não é só o poder pelo poder, mas para voltarem a roubar o patrimônio nacional como fizeram juntinhas (mídia e oposição) à época da [multibilionária] privataria, quando barões da mídia, como a família Mesquita, apuraram-se a receptar o saque tucano na telefonia, nesse caso comprando parte da operadora de telefonia celular BCP.

O poder que a mídia tem hoje deriva de sua fortuna incalculável, um tesouro que, centavo por centavo, veio sendo surrupiado da nação ao longo do século passado, sobretudo durante a ditadura militar, quando essas famílias que controlam a comunicação no país receptaram bilhões de dólares desviados pelos ditadores para construírem a máquina de comunicação que usariam para tentar manipular o povo do qual haviam usurpado todos direitos civis.

É o poder de manipular as instituições e, ainda em grande medida, a opinião pública. E é um poder que se fundamenta na posse de muito dinheiro, de volumes de riqueza que só são possíveis auferir em grandes negociatas como as privatizações.

Há nove anos fora do poder, a fonte secou. As operações desses impérios de comunicação muitas vezes são deficitárias. Essas empresas não sobrevivem sem dinheiro público e hoje só quem lhes doa dinheiro dos nossos impostos são os governos estaduais, que gerem orçamentos infinitamente menores do que o governo federal, o que lhes deixa pouco espaço para roubar.

O Santo Graal da mídia é o Pré Sal. Será com facilitação de negociatas com as reservas petrolíferas que seu 'e$toque de poder' será reposto. Todos sabem das negociações entre José Serra e as petroleiras internacionais que vazaram através do Wikileaks. O tucano lhes prometera [em prejuízo da Petrobras] regime de concessão para explorarem as recém-descobertas reservas petrolíferas do país, ou seja, prometeu que ganhariam infinitamente mais com o petróleo que extraíssem.

Não haverá gentileza deste governo, pois, que faça a mídia parar de tentar inviabilizá-lo. Recusar-se a dotar o país de um marco regulatório para as comunicações tampouco adiantará. A única forma de Dilma se compor com a imprensa é através do suborno, como faz o governo Alckmin, por exemplo, ao gastar milhões e milhões de reais em assinaturas dos jornais e revistas que denunciam sem parar seus adversários políticos e que o protegem de escândalos como o das emendas parlamentares.

A sucessiva queda de ministros, portanto, se funcionar, deixará o PSDB e os abutres internacionais em imenso débito com ‘Folhas’, ‘Estadões’, ‘Vejas’ e ‘Globos’, certamente permitindo novas incursões das empresas “jornalísticas” em negócios estranhos à própria atividade, como na época da telefonia celular privatizada.

Dessa feita, incursionarão pelo setor petrolífero.

As tropas de choque da mídia e da oposição na internet ou os militontos da oposição de ultraesquerda logo se apressarão a bradar que essa é uma “teoria conspiratória”, como se o primeiro passo de toda conspiração não fosse desacreditar qualquer suspeita de que esteja ocorrendo. Acredita quem quer…

Quem acha que nada significa o fenômeno de ministros caírem em efeito dominó sob denúncias da imprensa como a de uma carona de avião ou a de acumulação questionável de cargos públicos enquanto escândalos muito piores envolvendo governos tucanos são ignorados, como o caso recente envolvendo o ex-assessor do então ex-governador José Serra João Faustino, que se encontra preso no Rio Grande do Norte, sugiro que interrompa a leitura deste post.

Se você continua lendo é porque sabe que o processo que vem desmontando o ministério de Dilma é hipócrita. Todavia, assim mesmo, você pode estar entre os piores inimigos de seu governo se está entre os que dizem frases como “Quanto mais a mídia bate em Dilma, mais ela se torna popular” ou como “Dilma tem mesmo que se livrar de ministros picaretas”.

Nem a própria Dilma continua acreditando no que já chegou a acreditar, que ganha alguma coisa com as denúncias da imprensa. Ela bem que tentou, desta vez, segurar o ministro bola da vez. E isso porque a teoria de que se torna mais popular a cada denúncia contra seus ministros é um delírio, não existe. Nenhuma pesquisa sobre sua popularidade mostra isso. Hoje, ela tem menos aprovação do que no início de seu governo.

Administrativamente, este governo está sendo literalmente sabotado. Ou, para os que não partilham dessa teoria, está ao menos sendo paralisado. Por seis vezes neste ano, algum ministério ficou praticamente acéfalo durante semanas a fio, com o titular de cada pasta usando cada minuto para se defender.

O estilo Dilma de administrar explica a razão pela qual ela já se deixou enganar por essa história de que ganharia alguma coisa com esse processo. Seu estilo enérgico estimula bajuladores em seu entorno a dourarem a pílula, a só dizerem o que ela quer ouvir. E o que ela ainda parece querer ouvir é que há como evitar o confronto político, como se a mera rendição tivesse o poder de suspender a sabotagem.

Entre as teorias que empanam a visão da presidente está a de que a mídia quereria defenestrar apenas os ministros “da cota de Lula, ou seja, aqueles que dizem que foram “impostos” pelo ex-presidente à sucessora, o que matéria do ‘Estadão’ divulgada domingo desmente.

A matéria Depois dos aliados, mídia chega à cota pessoal de Dilma acusa Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Ele teria sido escolha dela e não de Lula, mas, assim mesmo, está sendo acusado pela imprensa por atuação como consultor entre 2009 e 2010, uma acusação análoga à que sofreu Antonio Palocci, a primeira peça do dominó político em que se converteu o ministério deste governo.

E tem gente achando que não tem nada demais nesse processo.

Dilma já acordou. Tentou manter Lupi, mas esbarrou em um problema que ela mesma criou para que seus auxiliares resistam ao bombardeio. Ao não declarar apoio aos alvos da mídia, dando apenas declarações genéricas sobre querer analisar com calma as denúncias, termina por legitimá-las, retirando-lhes um caráter político que só ela não vê ou finge que não vê, achando que, assim, evitará briga. Daí o alvo da artilharia, sentindo-se sem apoio, pula fora.

Enquanto isso, lideranças políticas da oposição como José Serra e colunistas de veículos como ‘Veja’ ou ‘Globo’ já pedem o impeachment da presidente por crime de responsabilidade, porque se um ministro cai o problema é dele, mas se seis caem sucessivamente vai ficando claro que quem os escolheu, escolheu mal. Ao menos para o espectador desavisado.

Você não entende por que o ministério de Lula não passou por processo semelhante se alguns dos que estão caindo hoje já eram ministros àquela época? Para entender, tomemos o caso de Lupi. As denúncias são antigas. Por que nunca foram levantadas? É óbvio que a mídia achava que não adiantaria tentar forçar queda em série de ministros porque o titular do governo não se curvaria.

A única forma de enfrentar um processo que cada vez mais vai ficando claro que haverá de chegar à própria Dilma, será reagindo. Haveria que reagir denunciando a seletividade da imprensa, que esconde escândalos dos governos estaduais da oposição enquanto infla acusações contra o governo central. E, sobretudo, enviando ao Congresso o marco regulatório das comunicações.

Quem impede que isso aconteça é o entorno da presidente. Alguém está lhe vendendo que é possível governar assim, com ministros caindo em série, porque, após caírem todos os “da cota de Lula”, o processo será estancado. Assim, esses bajuladores estão empurrando o governo para o precipício. O entorno da presidente Dilma é hoje seu pior inimigo, pior do que a oposição e a imprensa juntas.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães no seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/o-pior-inimigo-do-governo-dilma/).
[trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].