terça-feira, 30 de agosto de 2011

O STF e as migrações partidárias da direita

Uma decisão do STF que trocou seis por meia dúzia

O Supremo Tribunal Federal conseguiu provar, com sua decisão sobre a fidelidade partidária, que a história política não se constrói por decretos. O STF segurou as migrações partidárias nos últimos quatro anos, mas foi incapaz de resolver um problema estrutural da direita brasileira: com poucos vínculos ideológicos com o eleitor e sustentada em políticas de clientela, esse segmento ideológico não tem fôlego para sobreviver na oposição por muito tempo. A ilustrada decisão não mudou em nada o quadro: os partidos de esquerda mantêm uma lealdade relativa de seus eleitos; os de direita acumulam defecções.

Impregnado da ideia conservadora de que o mercado deve ser regulado o mínimo, porque é movido pela racionalidade do lucro, e de que a política, destituída de racionalidade e de bons propósitos, precisa de intervenções constantes que inibam a ação de interesses individuais e malfeitos coletivos, o senso comum brasileiro tende a apoiar as interferências constantes da Justiça nas regras eleitorais e a clamar por mais restrições legais à vida partidária.

A história da democracia recente do país, todavia, é a prova cabal de que são no mínimo discutíveis os efeitos de uma legislação draconiana, no que se refere a partidos politicos; e que o direito divino autoassumido pelo Supremo Tribunal Federal de regular coisas "mundanas e sujas", como o voto e os políticos, independentemente do que dizem as leis, é incapaz de resolver, por decreto, as limitações de um sistema partidário jovem, porém fundado em práticas tradicionais. Em suma, não existe lei partidária que mude, por si, uma realidade histórica.

Um exemplo de como são estéreis regras rígidas em um quadro partidário pouco maduro é o debate sobre a fidelidade partidária. No julgamento da consulta do antigo PFL (hoje DEM), sobre se o mandato parlamentar pertence ao eleito ou ao partido, o relator, ministro Gilmar Mendes, teceu considerações sobre um sistema que é, no seu entender, intrinsicamente corrupto, e em socorro do qual uma decisão favorável à fidelidade partidária - independente de o instituto estar claramente definido por lei - viria a atuar de forma favorável. A decisão do Supremo segurou as migrações partidárias nos últimos quatro anos, mas foi incapaz de resolver um problema estrutural da direita brasileira: com poucos vínculos ideológicos com o eleitor e sustentada em políticas de clientela, esse segmento ideológico não tem fôlego para sobreviver na oposição por muito tempo. Os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi mais do que quadros do DEM poderiam suportar na oposição.

Em vez de uma migração partidária média de 30% que tradicionalmente ocorria entre a eleição e a posse dos deputados federais desde 1982, segundo cálculo do cientista politico Carlos Ranulfo de Melo (Retirando as cadeiras do lugar: migração partidária, 1985-1998), e que era fracionada entre diversos partidos, a porteira fechada pelo STF em 2007 resultou na formação de um novo partido, o PSD, e no total destroçamento do ex-PFL, aquele que pediu a Gilmar Mendes para colocar grades nas agremiações partidárias. O PSD não vai se beneficiar da média histórica de defecções anterior à decisão do Supremo, mas o prefeito Gilberto Kassab, que inventou a história do novo partido, atirou no que viu e pegou no que não viu.

A legislação partidária prevê como exceções à regra da fidelidade a fusão ou incorporação de um partido a outro (os incomodados com o processo podem tomar o rumo que desejar) ou a formação de um novo partido. A criação de uma legenda é o máximo da liberalidade permitida na lei endurecida pela ação do STF: sai de qualquer partido quem quer participar da fundação do novo. Isso Kassab viu. O que não viu é que o chamado "partido-bonde", teoricamente constituído para permitir as defecções partidárias, poderia tornar-se, de fato, partido político - não apenas governista, mas com poder de barganha maior do que os pequenos partidos de direita, aliados de primeira hora mas com pouca bancada, e com parlamentares excessivamente despreocupados da repercussão de seus atos como participantes do governo.

O PSD se configura, hoje, como a única porta de saída para políticos marcados para morrer nas próximas eleições, ou por falta de espaço em seus partidos, ou por impossibilidade de manter a fidelidade de eleitores fora do governo. O prefeito Gilberto Kassab, sem querer, conseguiu ser o catalisador das dificuldades políticas impostas aos parlamentares abrigados no DEM e no PPS, que amargam oito anos na oposição, e dos pequenos partidos de direita, que estão no governo mas terão maior poder de barganha se se juntarem ao novo partido. A necessidade vai transformar um "partido-ônibus" numa legenda de fato. O PSD tem potencial para ser a terceira bancada na Câmara e ganha poder de fogo não apenas por apoiar o governo, mas por enfraquecer drasticamente a oposição.

Segundo um integrante do novo partido, o DEM deve perder de 11 a 13 parlamentares de uma bancada de 43 deputados federais (vai ser maior do que um PDT e menor do que um PSB). Ainda na oposição, o PPS, antigo Partidão, perde proporcionalmente mais bancada do que qualquer um para Kassab: 4 deputados em 12, ou seja, um terço dos eleitos em 2010 - uma defecção que não desmente a regra de que os partidos de direita são menos coesos, já que o ex-PC rumou fortemente para o conservadorismo, acompanhando a guinada do grupo tucano de José Serra.

Na bancada governista, perdem massa parlamentar os pequenos partidos com os quais o governo Dilma Rousseff vem acumulando problemas, como o PR e o PP. Por razões estratégicas - até para não inviabilizar coligações nas eleições municipais -, o PSDB foi poupado. O partido kassabista pode ganhar uma bancada federal com dois deputados a mais do que o PSDB e 12 a mais do que a bancada do DEM. Na sua frente, permanecem o PT e o PMDB.

A ilustrada decisão do STF não mudou em nada o quadro: os partidos de esquerda mantêm uma lealdade relativa de seus eleitos; os de direita acumulam defecções. Quando Luiz Inácio Lula da Silva conquistou o seu primeiro mandato de presidente, em 2002, com o apoio apenas de partidos de esquerda e pequenos partidos de direita, as legendas que apoiaram seu adversário tucano, José Serra, perderam deputados como se perde agulhas: entre a eleição e a posse, o PMDB passou de 75 para 69; o PSDB, de 70 para 63 federais; o PFL, de 84 para 75. O PPS, que era da base de apoio de Lula naquela eleição, engordou 6 deputados: sua bancada passou de 15 para 21 parlamentares. O PTB, governista sempre, aumentou sua bancada de 26 para 41 às custas das bancadas dos partidos derrotados no segundo turno das eleições presidenciais.

O Supremo Tribunal Federal (STF) conseguiu provar, com sua decisão sobre a fidelidade partidária, que a história política não se constrói por decretos. Um avanço mais significativo na distribuição de renda pode ser muito mais efetivo para a modernização política do país do que uma canetada da Suprema Corte.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Carta às esquerdas

Carta às esquerdas

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.

Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?

As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas
clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.

Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.

Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade
humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).

Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.

Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.

Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias
formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns
da humanidade (como a água e o ar).

Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.

Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer,
do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.

Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.

Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Verdades sobre a guerra na Líbia

"Rebeldes" das forças especiais da Otan agem em Trípoli


A embaixada do Catar em Tripoli foi reaberta na última segunda-feira (22) por homens armados que, uma vez no edifício danificado, hastearam imediatamente a bandeira catariana.

Por Manlio Dinucci, no Il Manifesto


Revela-se, desse modo, a presença na Líbia de forças militares do Catar. Forças especiais do Reino Unido, França e Catar, escreve o New York Times na terça-feira (23), estão prontas para fornecer apoio tático às forças "rebeldes" e conselheiros da CIA ajudam o governo de Bengazi a organizar-se.

Comandos britânicos e franceses, confirma um oficial superior da Otan, estão no campo de batalha junto com os "rebeldes" em Tripoli. Perguntado se agentes da CIA também estão ali, o oficial responde que certamente estão.

E também é assim que é desmentida a Otan que até o momento dizia não ter "boots on the ground", ou seja, militares no campo de combate na Líbia.

As forças especiais britânicas – indicam as investigações do Guardian e do Telegraph – desempenharam um papel chave no ataque a Tripoli. Este ataque foi preparado em Bengazi pelos serviços secretos britânicos MI6, que predispuseram depósitos de armas e de aparelhos de comunicação em torno da capital, na qual infiltraram seus agentes para guiar os ataques aéreos.

A ofensiva começou quando, na noite de sábado, Tornados da RAF (Royal Air Force), que haviam partido da Itália, atacaram, com bombas de precisão Paveway IV, um centro de telecomunicações e outros objetivos chaves na capital.

Segundo uma investigação relatada pelo France Soir, pelo menos 500 comandos britânicos operam na Líbia, aos quais acrescentam-se centenas de franceses. Estes últimos são transportados na Líbia por helicópteros do Alat (Aviation Légère de L'Armée de Terre), embarcados no navio de ataque anfíbio Tonnerre.

Também é importante o papel que o Catar, um dos aliados mais próximos dos EUA, desempenha na Líbia: gastou mais de US$ 1 bilhão para potencializar a base aérea de Al-Udeid em função das exigências do Pentágono, que a utiliza para a guerra no Afeganistão e como posição avançada do Comando central.

Nada de espantoso portanto que Washington tenha confiado a esta monarquia do Golfo a missão de confiança de infiltrar comandos na Líbia que, treinados e armados pelo Pentágono, podem melhor se camuflar como rebeldes líbios graças à sua língua e ao seu aspecto.

O Catar tem também a tarefa de aprovisionar os rebeldes: um dos seus aviões foi visto recentemente em Misrata, para onde transportou um grande carregamento de armas.

Há indicações de fontes fiáveis de que, juntamente com as do Catar, também operam na Líbia forças especiais da Jordânia e, provavelmente, também de outros países árabes.

Deve-se lembrar também que um exército secreto, que pode ser empregado também em outros países árabes do Oriente Médio e da África do Norte, está em vias de ser criado nos Emirados Árabes Unidos, de acordo com o Il Manifesto (18/5). [1]

Enquanto a Otan prossegue seus ataques aéreos para limpar o caminho para os "rebeldes", efetua no terreno uma guerra secreta para assegurar que, na Líbia pós Kadafi, o poder real ficaria nas mãos das potências ocidentais, ladeadas pelas monarquias do Golfo.

Neste caso as forças especiais içarão a bandeira da peacekeeping ("manutenção da paz") e utilizarão capacetes azuis.
www.voltairenet.org/Formation-aux-Emirats-d-une-armee ou www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=24848

Fonte: http://resistir.info/ .

tarefa da mídia: evitar que os cidadãos pensem

O MUNDO À BEIRA DO CAOS
por Miguel Urbano Rodrigues

A crise do capitalismo é tão profunda que até os líderes dos EUA e da União Europeia e os ideólogos do neoliberalismo assumem essa realidade. Estão alarmados por não enxergarem uma solução que possa deter a corrida para o abismo. Esforçam-se sem êxito para que apareça luz no fim do túnel.
Apesar das contradições existentes, os EUA e as grandes potências da União Europeia puseram fim às guerras interimperialistas – como a de 1914-18 e a de 1939-45 – substituindo-as por um imperialismo colectivo, sob a hegemonia norte-americana, que as desloca para países do chamado Terceiro Mundo submetidos ao saque dos seus recursos naturais.

Mas a evolução da conjuntura mundial demonstra também com clareza que a crise do capital não pode ser resolvida no quadro de uma «transnacionalização global», tese defendida por Toni Negri e Hardt no seu polémico livro em que negam o imperialismo tal como o definiu Lenine. Entre os EUA e a União Europeia (e os países emergentes da Ásia e da América Latina) existe um abismo histórico que não foi nem pode ser eliminado em tempo previsível.
A crescente internacionalização da gestão não desemboca automaticamente na globalização da propriedade. O Estado transnacional, a que aspiram uma ONU instrumentalizada, o FMI, o Banco Mundial e a OMC é ainda uma aspiração distante do sistema de poder (*).

O caos em que o mundo está cair ilumina o desespero do capital perante a crise pela qual é responsável.
A ascensão galopante da direita neoliberal ao governo em países da União Europeia ressuscita o fantasma da ascensão do fascismo na Republica de Weimar. A Historia não se repete porem da mesma maneira e é improvável que a extrema-direita se instale no Poder no Velho Mundo. Mas a irracionalidade do assalto à razão é uma realidade.
O jogo do dinheiro nas bolsas é hoje muito mais importante na acumulação de gigantescas fortunas do que a produção. O papel dos «mercados» – eufemismo que designa o funcionamento da engrenagem da especulação nas manobras do capital – tornou-se decisivo no desencadeamento de crises que levam à falência países da União Europeia. Uma simples decisão do gestor de «uma agência de notação» pode desencadear o pânico em vastas áreas do mundo.
O surto de violência em bairros degradados de Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool alarma a Inglaterra de Cameron e motiva nas televisões e jornais ditos de referência torrentes de interpretações disparatadas de sociólogos e psicanalistas que falam como porta-vozes da classe dominante.
Em Washington, congressistas influentes manifestam o temor de que, o «fenómeno britânico» alastre aos EUA e, nos guetos das suas grandes cidades, jovens latinos e negros imitem os das minorias da Grã Bretanha, estimulados por mensagens e apelos no Twitter e no Facebook.
Mas enquanto a pobreza e a miséria aumentam, incluindo nos países mais ricos, a crise não afecta os banqueiros e os gestores das grandes empresas. Segundo a revista «Fortune», as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos.

Nos EUA, na Alemanha, na França, na Itália os detentores do poder proclamam que a democracia política atingiu um patamar superior nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Mentem. A censura à moda antiga não existe. Mas foi substituída por um tipo de manipulação das consciências eficaz e perverso. Os factos e as notícias são seleccionados, apresentados, valorizados ou desvalorizados, mutilados e distorcidos, de acordo com as conveniências do grande capital. O objectivo é impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos de que são testemunhas e o seu significado.
Os jornais e as cadeias de televisão nos EUA, na Europa, no Japão, na América Latina dedicam cada vez mais espaço ao «entretenimento» e menos a grandes problemas e lutas sociais e ao entendimento do movimento da Historia profunda.
Os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência em múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o quotidiano do jet set, a vida amorosa de príncipes e estrelas, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc.
Evitar que os cidadãos, formatados pela engrenagem do poder, pensem, é uma tarefa permanente dos media.
As crónicas de cinema, de televisao, a musica, a critica literária reflectem bem a atmosfera apodrecida do tipo de sociedade definida como civilizada e democrática por aqueles que, colocados na cúpula do sistema de poder, se propõem como aspiração suprema a multiplicar o capital.

Em Portugal surgiu como inovação grotesca um clube de pensadores; os debates, mesas redondas e entrevistas com dóceis comentadores, mascarados de «analistas», são insuportáveis pela ignorância, hipocrisia e mediocridade da quase totalidade desses serventuários do capital. Contra-revolucionários como Mario Soares, António Barreto, Medina Carreira, Júdice; formadores de opinião como Marcelo Rebelo de Sousa, um intoxicador de mentes influenciáveis que explica o presente e prevê o futuro como se fora o oráculo de Delfos; jornalistas his master voice, como Nuno Rogeiro e Teresa de Sousa; colunistas arrogantes que odeiam o povo português e a humanidade, como Vasco Pulido Valente, pontificam nos media imitando bruxos medievais, servindo o sistema em exercícios de verborreia que ofendem a inteligencia.
O Primeiro-ministro e o seu lugar-tenente Portas, exibindo posturas napoleónicas, pedem «sacrifícios» e compreensão aos trabalhadores enquanto, submissos, aplicam o projecto do grande capital e cumprem exigências do imperialismo.
Desde o inicio do primeiro governo Sócrates, o que restava da herança revolucionaria de Abril foi mais golpeado e destruído do que no quarto de século anterior.
Ao Portugal em crise exige- se o pagamento de uma factura enorme da crise maior em que se afunda o capitalismo.
Nos EUA, pólo hegemónico do sistema, o discurso do Presidente Obama, despojado das lantejoulas dos primeiros meses de governo, aparece agora como o de um político disposto a todas as concessões para permanecer na Casa Branca. A sua ultima capitulação perante o Congresso estilhaçou o que sobrava da máscara de humanista reformador. Para que o Partido Republicano permitisse aumentar de dois biliões de dólares o tecto de uma divida publica astronomica- já superior ao Produto Interno Bruto do país – aceitou manter intocáveis os privilégios indecorosos usufruídos por uma classe dominante que paga impostos ridículos e golpear duramente um serviço de saúde que já era um dos piores do mundo capitalista. A contrapartida da debilidade interior é uma agressividade crescente no exterior.
Centenas de instalações militares estadounidenses foram semeadas pela Ásia, Europa, América Latina e África.
Mas «a cruzada contra o terrorismo»  não produziu os resultados esperados. As agressões americanas aos povos do Iraque e do Afeganistão promoveram o terrorismo em escala mundial em vez de o erradicar. Crimes monstruosos foram cometidos pela soldadesca americana no Iraque e no Afeganistão. O Congresso legalizou a tortura de prisioneiros. A «pacificação do Iraque», onde a resistência do povo à ocupação é uma realidade não passa de um slogan de propaganda. No Afeganistão, apesar da presença de 140 000 soldados dos EUA e da NATO, a guerra está perdida.
Os bombardeamentos de aldeias do noroeste do Paquistão por aviões sem piloto, comandados dos EUA por computadores, semeiam a morte e a destruição, provocando a indignação do povo daquele país.
O bombardeamento da Somália (onde a fome mata diariamente milhares de pessoas) por aviões da USAF, e de tribos do Iémen que lutam contra o despotismo medieval do presidente Saleh tornou-se rotineiro. Como sempre, Washington acusa as vítimas de ligações à Al Qaeda.
Na África, a instalação do AFRICOM, um exército americano permanente, e a agressão da NATO ao povo da Líbia confirmam a mundialização de uma a estratégia imperial.
O terrorismo de Estado emerge como componente fundamental da estratégia de poder dos EUA.
Obviamente, Washington e os seus aliados da União Europeia, tentam transformar o crime em virtude. Os patriotas que no Iraque, no Afeganistão, na Líbia resistem às agressões imperiais são qualificados de terroristas; os governos fantoches de Bagdad e Kabul estariam a encaminhar os povos iraquiano e afegão para a democracia e o progresso; o Irão, vítima de sanções, é ameaçado de destruição; o aliado neofascista israelense apresentado como uma democracia moderna.
A perversa falsificação da Historia é hoje um instrumento imprescindível ao funcionamento de uma estratégia de poder monstruosa que, essa sim, ameaça a Humanidade e a própria continuidade da vida na Terra.
O imperialismo acumula porem derrotas e os sintomas do agravamento da crise estrutural do capitalismo são inocultáveis.
O capitalismo, pela sua própria essência, não é humanizável. Terá de ser destruído. A única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo. O desfecho pode tardar. Mas a resistência dos povos à engrenagem do capital que os oprime cresce na Ásia, na Europa, na América Latina, na África. Eles são o sujeito da História e a vitoria final será sua.

Vila Nova de Gaia, 15 de Agosto de 2011
(*) Estes temas são tratados em profundidade pelo economista argentino Claudio Katz num livro a ser editado brevemente

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

24 de agosto em nossa história

 24 de agosto: o suicídio de Vargas na verdade é um grande golpe contra a direita da época, que adia sua retomada ao poder para mais 10 anos à frente. 

 

"O povo de quem fui escravo não será mais escravo de ninguém"  Getúlio  Vargas.

Getulio foi o estadista que colocou as bases da construção de um Brasil nacional, popular, democrático, quebrando a espinha dorsal das oligarquias agrário-exportadoras, que mandavam no pais ha séculos. E isto nao lhe perdoaram nem essa direita radicada aqui, nem os EUA.
A crise de 1954 se deu em torno de denúncias de corrupção atribuídas ao governo, mas nao era preciso olhar muito a fundo a situação para saber que o elemento estratégico fundamental do segundo governo do Getulio foi a insistência na existência de petróleo no Brasil – contra a posição de Rockfeller e dos EUA – e a fundação da Petrobras, em 1953, o bojo da campanha “O petróleo e’ nosso”, levada a cabo pelas forcas populares, especialmente sindicatos e movimento estudantil.

A direitao tucanato da época – se concentrava no tema da corrupção agregando setores de classe media do centro e sul do país, tentando se contrapor ao enorme apoio popular que as políticas econômicas nacionalistas e sociais populares do governo. Por isso a direita perdia todas as eleições. Apelava então para os quarteis, buscando, desde 1945, quando fundaram a Escola Superior de Guerra – Golbery e Castello Branco entre eles – e foram os representantes aqui da Doutrina de Seguranca Nacional, promovendo tentativas de golpe ao longo de toda a década de 1950 até conseguirem em 1964. Em 1954, Getulio impediu, num dia como hoje, 24 de agosto, que triunfassem, entregando sua vida e revertendo uma situação armada para derrubá-lo e instalar governos repressivos e entreguistas, como os da ditadura militar.

A releitura de 1954 ajuda a pensar a historia brasileira desde então. As bandeiras da direita e da esquerda seguem similares. O denuncismo moralista e golpista de um lado, a defesa dos interesses nacionais e sociais, de outro. Setores conservadores de um lado, setores populares de outro.

Vale a pena a releitura da Carta Testamento do Getulio. Ela dá sentido à continuidade da história do movimento popular brasileiro desde 1930 até hoje, 80 anos depois, e projetado no futuro do Brasil no novo século. A grandeza que Lula conseguiu ter como presidente veio, em boa medida, dessa compreensão.

Postado por Emir Sader  em  24/08/2011


Oposição é derrotada em votação sobre Correios

O plenário da Câmara rejeitou na noite desta terça-feira (23) os dois destaques da oposição, que pretendiam alterar o texto da Medida Provisória 532, que foi aprovada na semana passada. A MP 532 amplia as áreas de atuação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios).


Na primeira votação, os deputados rejeitaram destaque do DEM, que pretendia excluir da MP a permissão dada aos Correios para criar subsidiárias e adquirir o controle acionário ou participar de outras empresas. Foram 265 votos pela manutenção do texto aprovado na semana passada e 128 favoráveis ao destaque e 7 abstenções.

Na outra votação, os deputados rejeitaram o destaque do PPS, que pretendia retirar do texto a permissão para os Correios adquirir o controle ou participação acionária de empresas já existentes. Foram 136 votos favoráveis ao destaque e 266 contrários e 6 abstenções.

A MP que vai para o Senado amplia as áreas de atuação dos Correios, que poderá explorar serviços postais eletrônicos, financeiros e de logística integrada. Pelo texto aprovado, os Correios passaram a ter a mesma estrutura das empresas de sociedade anônima e suas decisões serão tomadas por assembleia geral
.

Com agências (www.vermelho.org.br) em 24/08/2011.

OBS:  como se pode ver a Oposição (PSDB, DEM e PPS)  continua a mesma que combateu Getúlio Vargas : conservadora, entreguista e lutando contra os interesses nacionais. Votaram contra a ampliação das atividades de uma empresa brasileira estatal, a EBCT (Correios). 

A notícia, publicada hoje, 24 de agosto, nos dá esperança de ver um Brasil cada vez maior para os próprios brasileiros, reforçando o desejo de Getúlio Vargas....  E FHC queria extinguir "a era Vargas".

sábado, 20 de agosto de 2011

FHC apóia a faxina que ele nunca fez

Altamiro Borges: FHC apóia a faxina que ele nunca fez

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Estranho: até FHC apóia “faxina” de Dilma

Por Altamiro Borges, em seu blog

Segundo o jornalista Kennedy Alencar, FHC parece que está empolgado com a alardeada operação “faxina” da presidenta Dilma Rousseff. “Nas conversas reservadas com dirigentes do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem defendido que o partido dê apoio à presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção”, informa o repórter na Folha online de hoje.
Ainda segundo seu relato, “o ex-presidente conversou sobre o assunto com os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG). A recomendação foi transmitida ao senador mineiro Aécio Neves, hoje o primeiro da fila tucana para disputar o Palácio do Planalto em 2014. A presença de FHC no encontro de Dilma com governadores do Sudeste, na quinta (18/08), em São Paulo, foi calculada para se transformar num gesto de apoio à presidente”.

FHC nunca enfrentou a corrupção

A excitação do grão-tucano deveria gerar alguma desconfiança no Palácio do Planalto – ao menos, entre os seus ocupantes mais tarimbados, que não confundem assessoria com puxa-saquismo. Afinal, FHC nunca foi um opositor civilizado de Lula ou de Dilma. Pelo contrário. Desde que se converteu ao neoliberalismo, ele sempre articulou as forças de direita contra qualquer projeto de esquerda no país. Egocêntrico e elitista, ele nunca tolerou o êxito de um governo presidido por um peão, um operário.
Sua cruzada contra a corrupção e seu apoio entusiástico à “faxina” no governo Dilma só iludem os ingênuos e os pragmáticos que infestam a política nativa – que desprezam a luta de classes e não têm visão sobre as batalhas futuras. Quem é FHC para falar em combate à corrupção? Uma breve lembrança do que foi o seu longo reinado talvez sirva de alertar os ingênuos que não percebem a manobra do tucano para desgastar o atual governo, paralisá-lo, implodir sua base de apoio e criar fissuras entre Dilma e Lula.

Os indícios das roubalheiras tucanas
Para aliciar sua base de apoio no Congresso Nacional e manter a governabilidade, FHC sempre foi complacente com a corrupção. A aliança principal do grão-tucano foi com o ex-PFL, atual DEM – e sabe-se lá qual será o novo nome da organização fisiológica que sucumbe na crise. Um dos líderes de FHC no parlamento foi o demo José Roberto Arruda, o mesmo que foi pego com a mão da botija no esquema do mensalão do governo do Distrito Federal. A lista de indícios de roubalheira no governo FHC foi grande:

Denúncias abafadas: Já no início do seu primeiro mandato, em 19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas este órgão se notabilizou exatamente por abafar denúncias.

Caso Sivam. Também no início do seu primeiro mandato, surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.

Pasta Rosa. Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar definitivamente os processos da pasta rosa. Era uma alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de “engavetador-geral da República”.

Compra de votos. A reeleição de FHC custou caro ao país. Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de voto, conforme inúmeras denúncias feitas à época. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI.

Vale do Rio Doce. Apesar da mobilização da sociedade em defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em ao menos R$ 30 bilhões. Foi um crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, uma gigantesca infra-estrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram um lucro de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da CVRD.

Privatização da Telebras. O jogo de cartas marcadas da privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC, citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos” comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que nos dois anos e meio anteriores à “venda”, o governo investiu na infra-estrutura do setor mais de R$ 21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que o governo FHC impediu que fosse investigada.

Ex-caixa de FHC. A privatização do sistema Telebrás foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de FHC e do senador José Serra e ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do Opportunity, que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão. Além de “vender” o patrimônio público, o BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações, ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.

Juiz Lalau. A escandalosa construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998, mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável: “assinei sem ver”.

Farra do Proer. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) demonstrou, já em sua gênese, no final de 1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC.

Desvalorização do real. De forma eleitoreira, FHC segurou a paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998, mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país. Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas. Há indícios da existência de um esquema dentro do BC para a venda de informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com 1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.

Sudam e Sudene. De 1994 a 1999, houve uma orgia de fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ultrapassando R$ 2 bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4 bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste foram aplicados. Como fez com a Sudam, FHC extinguiu a Sudene, em vez de colocar os culpados na cadeia.

Golpe de Estado nos Estados Unidos

Golpe de Estado nos Estados Unidos

“O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico”, escreve Norman Birnbaum em artigo publicado no jornal espanhol El País.

Publicado em português na página do IHU Online/Unisinos. A tradução é do Cepat.

Já se escreveu muito sobre a crise dos Estados Unidos. Aludiu-se à complacência e ao fracasso de nossas elites, à ignorante fúria de um segmento de cidadãos espiritualmente plebeus, à importância intelectual e política de boa parte do resto, à ausência de uma conexão entre uma intelligentsia crítica e os movimentos sociais que no passado deram suas ideias à esfera pública, à fragilização da própria esfera pública e à consequente atomização do país. Esses diagnósticos são corretos. O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico.

Seus dispostos seguidores se encontram em toda parte, especialmente entre aqueles que sentem que são ignorados, inclusive desprezados, e experimentam uma desesperada necessidade de compensação íntima. Incapazes de atuar de forma autônoma, negam em voz alta que sejam dominados e explorados. Identificam como inimigos os grupos sociais a serviço do bem público, cuja existência rechaçam como princípio. Sua hostilidade ao Governo é tão grande quanto sua falta de conhecimento de como este realmente funciona, ou a história de seu próprio país.

Evidentemente, há uma substancial coincidência entre aqueles que deram sua aquiescência ao golpe de Estado e os muitos que pretendem a recristianização do país, que acreditam que o aborto e a homossexualidade são ao mesmo tempo crimes civis e pecados religiosos, que respondem à imigração com xenofobia. Esses são os brancos, principalmente no sul e no oeste, e nas cidades menores, que ficaram escandalizados pela eleição de um presidente afro-americano e que se criaram (e ainda se criam) muitas das falsidades sobre sua pessoa, desde o seu nascimento no Quênia até sua adesão ao islamismo.

Os iniciadores do golpe de Estado são, geralmente, muito sofisticados para essas vulgaridades, embora indubitavelmente não sejam muito escrupulosos na hora de utilizá-las para conseguir o apoio para os seus objetivos primários. Que não são outros senão reduzir as funções e poderes redistributivos e reguladores do Estado norte-americano, revogando, privatizando ou, ao menos, limitando importantes componentes do nosso Estado de bem-estar: Seguridade Social (pensões universais), Medicare (seguro público de saúde para os maiores de 65) e todo um espectro de benefícios e serviços nos campos da educação, emprego, saúde e na manutenção de ingressos. A possibilidade de uma regulação ambiental em grande escala, ou de um projeto para reconstruir toda a infra-estrutura de modo que seja mais compatível com um futuro benévolo com o meio ambiente, provoca igualmente sua sistemática oposição. Os obstáculos administrativos e legais à atividade sindical são outra parte do programa.

Os esforços do capital politicamente organizado para manter o controle do sistema político são tão velhos quanto a república norte-americana. De modo algum excluíram a utilização do Governo em muitas ocasiões em todas as épocas da nossa história. O que distingue a recente situação é a propagação explícita e resoluta de uma ideologia que declara o mercado como superior ao Estado, que busca transferir para o setor privado funções governamentais até agora reservadas ao Estado, e que não permite que a consideração de um maior interesse nacional (como no comércio com outros países) interfira nos interesses imediatos do capital.

A obra de inumeráveis economistas, as simplificações de um grande número de comentaristas e jornalistas, a intromissão nos sistemas escolares e sua manipulação, e, sobretudo, o fato de que os meios de comunicação e o que temos de discurso público fiquem excluídos da discussão séria de alternativas, culminaram na fervorosa obsessão com que os congressistas republicanos fizeram sua a crença de que os déficits orçamentários são uma ameaça para o país.

Em 1952, John Kenneth Galbraith publicou sua primeira obra-prima Capitalismo americano: o conceito do poder compensatório (Novo Século Editora). Nela sustentava que a busca do benefício sem limite, a cegueira de curto prazo do capitalismo, havia sido corrigida pelo Governo, apoiado por uma cidadania consciente de seus diferentes interesses, por grupos de interesse público, por sindicatos e por um Congresso (e Governos estatais) com um grau notável de independência política.

Em 1961, Galbraith pediu ao presidente Kennedy que não o nomeasse chefe do Conselho de Assessores Econômicos: era um alvo muito visível. Durante alguns anos o ponto de vista de Galbraith seguiu sendo convincente. No entanto, também foi se produzindo um gradual enfraquecimento das forças compensatórias com as quais Galbraith contava para tornar permanente o new deal; e um enfraquecimento, assim mesmo, das elites capitalistas com maior formação e visão de longo prazo, dispostas a aceitar um contrato social.

As razões deste duplo declive seguem sendo objeto de discussão para os historiadores. A absorção dos recursos materiais e morais do país pela guerra fria, que se converteu em um fim em si mesma, desempenhou certamente um papel. Tornou-se muito mais difícil desenvolver programas de reconstrução social em grande escala pela composição racial dos pobres nos Estados Unidos, embora os brancos – de modo geral, brancos do sul – fossem uma maioria entre eles. A própria prosperidade proporcionada pelo contrato social do pós-guerra socavou a combatividade e a militância da força de trabalho sindicalizada, que ficou relativamente indefesa diante da competição da indústria estrangeira e da fuga do capital norte-americano para outros países.

Os efeitos que essas mudanças estruturais tiveram foram magnificados à medida que o capital financeiro (o reino da pilhagem e a liquidação de empresas produtivas, dos derivados, dos hedge funds e da especulação arcana) se fez quantitativa e qualitativamente dominante.

Este tipo de capitalismo, especialmente, requeria a abstinência política do Estado, que somente se poderia obter se pouco a pouco se comprasse o Estado. O novo capitalismo fez sérios avanços no Partido Democrata, reduzindo a uma insistente atitude defensiva os herdeiros do new deal que havia em seu interior. Quando, em 2008, o presidente Obama mobilizou milhões de afro-americanos, latinos, jovens e velhos, mulheres e os restos do movimento sindical, não foi menos solícito com o novo capitalismo, que tinha muito menos votos, mas muito mais dinheiro. A singular insignificância das iniciativas da Casa Branca em 2009, 2010 e este ano em matéria de estímulo econômico, emprego e reconstrução nacional poderiam ser explicadas como um reflexo do real equilíbrio de forças políticas do país.

Deixando de lado o furor provocado pelo Tea Party e pelo limite da dívida, a explicação também poderia estar nessa quinta coluna constituída pelos agentes ideológicos e políticos do novo capitalismo, que está ocupando a própria Casa Branca. Deste ponto de vista, a extraordinária boa disposição do presidente ao acordo mútuo não é o resultado de um novo alinhamento da política norte-americana, mas uma parte previsível do mesmo

(*) Norman Birnbaum é professor emérito na Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Os limites da ordem

Boaventura de Sousa Santos: Os limites da ordem

As sociedades contemporâneas estão gerando um combustível altamente inflamável que flui nos subsolos da vida coletiva. Trata-se de um combustível constituído pela mistura de quatro componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a prática do racismo em nome da tolerância e o sequestro da democracia por elites privilegiadas, com a consequente transformação da política na administração do roubo “legal” dos cidadãos e do mal estar que provoca.

Os violentos distúrbios ocorridos na Inglaterra não devem ser vistos como um fenômeno isolado. Eles representam um perturbador sinal dos tempos. Sem se dar conta, as sociedades contemporâneas estão gerando um combustível altamente inflamável que flui nos subsolos da vida coletiva. Quando chegam à superfície, podem provocar um incêndio social de proporções inimagináveis.

Trata-se de um combustível constituído pela mistura de quatro componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a prática do racismo em nome da tolerância e o sequestro da democracia por elites privilegiadas, com a consequente transformação da política na administração do roubo “legal” dos cidadãos e do mal estar que provoca.

Cada um destes componentes têm uma contradição interna: quando se superpõem, qualquer incidente pode provocar uma explosão.

- Desigualdade e individualismo. Com o neoliberalismo, o aumento brutal da desigualdade social deixou de ser um problema para passar a ser uma solução. A ostentação dos ricos e dos multimilionários transformou-se na prova do êxito de um modelo social que só deixa miséria para a imensa maioria dos cidadãos, supostamente porque estes não esforçam o suficiente para ter sucesso na vida. Isso só foi possível com a conversão do individualismo em um valor absoluto, o qual, paradoxalmente, só pode ser experimentado como uma utopia da igualdade, a possibilidade de que todos prescindam igualmente da solidariedade social, seja como seus agentes, seja como seus beneficiários. Para o indivíduo assim concebido, a desigualdade unicamente é um problema quando ela é adversa a ele e, quando isso ocorre, nunca é reconhecida como merecida.

- Mercantilização da vida. A sociedade de consumo consiste na substituição das relações entre pessoas pelas relações entre pessoas e coisas. Os objetos de consumo deixam de satisfazer necessidades para criá-las incessantemente e o investimento pessoal neles é tão intenso quando se tem como quando não se tem. Os centros comerciais são a visão espectral de uma rede de relações sociais que começa e termina nos objetos. O capital, com sua sede infinita de lucros, submeteu à lógica mercantil bens que sempre pensamos que eram demasiado comuns (como a água e o ar) ou demasiado pessoais (a intimidade e as convicções políticas) para serem comercializados no mercado. Entre acreditar que o dinheiro media tudo e acreditar que se pode fazer tudo para obtê-lo há um passo muito menor do que se pensa. Os poderosos dão esse passo todos os dias sem que nada ocorra a eles. Os despossuídos, que pensam que podem fazer o mesmo, terminam nas prisões.

- O racismo da tolerância. Os distúrbios na Inglaterra começaram com uma dimensão racial. O mesmo ocorreu em 1981 e nos distúrbios que sacudiram a França em 2005. Não é uma coincidência: são irrupções da sociabilidade colonial que continua dominando nossas sociedades, décadas depois do fim do colonialismo político. O racismo é apenas um componente, já que em todos os distúrbios mencionados participaram jovens de diversos grupos étnicos. Mas é importante, porque reúne a exclusão social com um elemento de insondável corrosão da autoestima, a inferioridade do ser agravada pela inferioridade do ter. Em nossas cidades, um jovem negro vive cotidianamente sob uma suspeita social que existe independentemente do que ele ou ela seja ou faça. E esta suspeita é muito mais virulenta quando se produz em uma sociedade distraída pelas políticas oficiais de luta contra a discriminação e pela fachada do multiculturalismo e da benevolência da tolerância.

- O sequestro da democracia. O que há em comum entre os distúrbios na Inglaterra e a destruição do bem estar dos cidadãos provocada pelas políticas de austeridade dirigidas pelas agências classificadoras e os mercados financeiros? Ambos são sinais das extremas limitações da ordem democrática. Os jovens rebeldes cometeram delitos, mas não estamos frente a uma “pura e simples” delinquência, como afirmou o primeiro ministro David Cameron. Estamos frente a uma denúncia política violenta de um modelo social e político que tem recursos para resgatar os bancos, mas não para resgatar os jovens de uma vida de espera sem esperança, do pesadelo de uma educação cada vez mais cara e irrelevante dado o aumento do desemprego, do completo abandono em comunidades que as políticas públicas antissociais transformaram em campos de treinamento da raiva, da anomia e da rebelião.

Entre o poder neoliberal instalado e os rebeldes urbanos há uma simetria perturbadora. A indiferença social, a arrogância, a distribuição injusta dos sacrifícios estão semeando o caos, a violência e o medo, e aqueles que estão realizando essa semeadura vão dizer amanhã, genuinamente ofendidos, que o que eles semearam nada tinha a ver com o caos, a violência e o medo instalados nas ruas de nossas cidades. Os que promovem a desordem estão no poder e poderiam ser imitados por aqueles que não têm poder para colocá-los em ordem.

(*) Doutor em Sociologia do Direito; professor nas universidades de Coimbra (Portugal) e Wisconsin (EUA).

(**) Traduzido por Katarina Peixoto da versão em espanhol publicada no jornal Página/12

“Karl Marx estava certo”

Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”

Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.

O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.

Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.

Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.

Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.

Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.

Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.

Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.

Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas

Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).

No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.

Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.

Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.

Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.

Fonte: http://www.ibtimes.com/articles/197468/20110813/roubini-nouriel-roubini-dr-doom-financial-crisis-debt-crisis-europe.htm

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 14 de agosto de 2011

FORA RICARDO TEIXEIRA

CBF é investigada por supostas irregularidades em amistoso

Empresa apontada como responsável pelo jogo foi criada um mês antes da partida, o que gerou suspeitas. Entidade nega a acusação

Gazeta | 14/08/2011 09:39

Foto: AE Ampliar
Novo protesto contra Ricardo Teixeira foi realizado neste sábado, em São Paulo
A Polícia Civil do Distrito Federal investiga supostas irregularidades no amistoso entre Brasil e Portugal, realizado na cidade de Gama, na região metropolitana de Brasília, em 2008, vencido pelo time de Dunga por 6 a 2. O problema é que a empresa colocada como responsável pela organização do jogo foi criada só um mês antes da partida.
O confronto foi realizado pela Ailanto Marketing, que tinha capital social de R$ 800 e nem possuía telefone fixo na época do confronto. Neste sábado, doze policiais civis do Distrito Federal foram ao Rio de Janeiro para cumprir mandados de busca e apreensão na sede da empresa, no Leblon. A polícia brasiliense afirma que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), presidida por Ricardo Teixeira, foi quem cedeu os direitos do amistoso.
A partida custou R$ 9 milhões ao governo do Distrito Federal e, de acordo com a polícia, esta despesa deveria ser de responsabilidade de Ailanto, que pertence a Vanessa Almeida Precht e de Alexandre Russel Feliu. Quem desembolsou o valor, segundo a investigação, foi a Federação Brasiliense de Futebol, à época presidida por Fábio Simão, ex-chefe de gabinete do então governador José Roberto Arruda. Simão nega.
As irregularidades ganharam destaque no "Jornal Nacional", da TV Globo, que Ricardo Teixeira afirmou em recente entrevista à revista 'Piauí' ser o único programa que despertaria sua preocupação. Foram três minutos de reportagem exibidos no carro-chefe da programação jornalística da emissora.
O programa reproduziu também a argumentação do assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, de que os jogos da seleção brasileira são vendidos por uma empresa da Arábia Saudita, o que a isentaria da acusação de ceder os direitos do amistoso à Ailanto Marketing. Portanto, diz o assessor, a CBF não tem relação com as irregularidades.
A pressão sobre Ricardo Teixeira partindo da 'Rede Globo', antes considerada sua aliada, ocorre uma semana depois de a emissora divulgar carta de princípios jornalísticos prometendo não considerar "assuntos tabus". Além disso, a CBF acabou recentemente com horários dos jogos do Brasileiro, que eram escolhidos pela emissora, detentora dos direitos de transmissão da entidade - (A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou nesta terça-feira uma ampla mudança nos horários dos jogos do Campeonato Brasileiro, tanto da primeira quanto da segunda divisão.)
Neste sábado, cerca de 400 pessoas se reuniram em São Paulo no movimento "Fora Ricardo Teixeira", que fez mais barulho do que as reações em outras capitais. À 'Piauí', o dirigente, que está à frente da CBF há 22 anos, afirmou que todas as denúncias contra ele serão esquecida em 2015, quando deixará o cargo.

Ato na Av. Paulista reúne manifestantes contra Ricardo Teixeira

Organizada pela internet, passeata foi do Masp à Praça Charles Miller pedindo a saída do presidente da CBF

iG São Paulo | 13/08/2011 16:41 - Atualizada às 19:37



Um protesto contra Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, reuniu cerca de 400 pessoas em São Paulo, neste sábado. O número, estimado pela Polícia Militar, ficou abaixo do esperado pela FNT (Frente Nacional dos Torcedores - que previa uma mobilização superior a 1000 pessoas). Antes de chegar à capital paulista, o protesto contra o cartola passou pelo Rio de Janeiro e por Porto Alegre.
Os manifestantes marcharam entre o vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista, e a Praça Charles Miller, onde fica localizado o estádio do Pacaembu. No local, torcedores queimaram um boneco representando o dirigente da CBF. Além das diversas faixas contra o mandatário, a marcha teve apitos, batucada e um carro se som, que instigava os manifestantes no protesto.
O ato pelo fim do domínio de Ricardo Teixeira sobre o futebol brasileiro (o mandatário está no comando de CBF desde 1989 e teve seu quinto mandato consecutivo prorrogado para depois da Copa 2014) foi organizado pela internet, através da mobilização pelo Twitter e Facebook. Apesar do sucesso na rede (mais de 10.000 pessoas confirmaram presença na manifestação), o número de participantes ficou abaixo do esperado pela organização do evento.
"É uma pena. Sempre tem uma desculpa. Se a gente faz durante a semana, reclamam que é dia de trabalho; se faz no sábado, falam que é dia de descanso. Vão falar do sol também hoje", lamentou o presidente da FNT, João Marques.
Segundo a Polícia Militar, não houve registros de ocorrências mais graves. De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), os manifestantes ocuparam duas faixas da Avenida Paulista, no sentido Consolação, durante a marcha e o trânsito flui bem na região.
*com agências de notícias

4
ago
01:57    Blog do Cosme Rímoli

A aliança entre Ricardo Teixeira e TV Globo começou a se romper neste sábado. E Brasília autorizou a Polícia Federal ir até as últimas consequências no escândalo dos R$ 9 milhões do amistoso entre Brasil e Portugal…



divulgacao451 1024x698 A aliança entre Ricardo Teixeira e TV Globo começou a se romper neste sábado. E Brasília autorizou a Polícia Federal ir até as últimas consequências no escândalo dos R$ 9 milhões do amistoso entre Brasil e Portugal...
O que significaram aqueles três minutos no Jornal Nacional neste sábado?
A TV Globo finalmente colocou no ar a denúncia contra Ricardo Teixeira...
Uma história estranha, surreal...
Envolvendo o amistoso entre Brasil e Portugal em 2008...
Coube à empresa Ailanto Marketing, criada um mês antes da partida, promover o jogo...
Ela não tinha sequer telefone...
E seu patrimônio era de R$ 800,00...
Mesmo assim, o governo de Brasília repassou R$ 9 milhões à Ailanto...
O acordo foi firmado entre a Ailanto, Governo de Brasília e a CBF...
Vários veículos de comunicação noticiaram a estranha transação...
A Globo, aliada da CBF na organização da Copa de 2014, se manteve calada...
Até ontem...
Mesmo dia em que houve uma manifestação em São Paulo contra Teixeira...
Já havia acontecido no Rio...
A Polícia Federal está investigando a fundo a transação do jogo entre Brasil e Portugal...
A imprensa internacional já está dando a devida repercussão ao caso...
A rejeição a Ricardo Teixeira cresce de maneira inacreditável...
Um jornalista espanhol me perguntou na última quinta-feira...
"Ele vai suportar três anos de pressão, de rejeição?"
Respondi que dependeria não dele...
Mas dos seus aliados...
Ontem à noite, para surpresa geral, Teixeira parece ter perdido o seu principal aliado...
Sem a Globo ao seu lado, tudo pode mudar...
Sem o apoio incondicional da tevê que controlará a Copa, o dirigente se enfraquecerá...
A Fifa e o Governo Federal sabem disso...
E têm plena convicção que a rejeição ao Mundial de 2014 está muito ligada ao presidente da CBF...
A Polícia Federal tem ordem de Brasília de ir fundo na investigação...
E apontar quem está por trás da absurda transação...
O cenário do futebol brasileiro pode mudar profundamente...

3
ago
10:02

Para preservar Mano Menezes, CBF de Ricardo Teixeira se ‘esquece’ da Itália e Espanha…E menospreza a inteligência dos torcedores brasileiros…


O Brasil não vai mais enfrentar essas duas seleções...
Ricardo Teixeira percebeu que o Brasil de Mano não tem condições de se expor a novas derrotas...
Novos vexames...
Então o melhor é deixar o 'dito pelo não dito'...
E tratar os torcedores como idiotas...
Já que ninguém tem memória mesmo...
Porque depois do Gabão, ficou difícil mesmo para o criativo Ricardo Teixeira encontra adversário mais fraco...

A CBF decidiu tratar a imprensa e os torcedores da Seleção como imbecis...


4 de Agosto de 2011 - 0h00

Ministro peita Teixeira e garante liberdade de imprensa na Copa


Em entrevista ao programa Roda Viva, nesta segunda-feira (8) na TV Cultura, o ministro do Esposte, Orlando Silva Júnior, afirmou que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, não terá o poder de vetar jornalistas no Mundial. A promessa havia sido feita pelo próprio Teixeira em entrevista à revista Piauí no último mês. Teixeira também disse que poderia fazer o que quisesse na Copa, como não dar credeciais ou proibir o acesso da imprensa.


“O Brasil é uma democracia e uma das suas características é a imprensa livre, seja rádio, TV, jornal, todos os profissinais terão direito de trabalhar, todas as empresas que oferecem informação à sociedade terão direito de se credenciar. Não tenho dúvida de que a Copa do Mundo no Brasil terá uma grande cobertura e todo mundo vai ter acesso ao evento, estou seguro disso”, rebateu Silva Júnior.

“Estou convencido de que não é a vontade de Orlando, Ricardo ou Marília que vá definir a cobertura da Copa. O Brasil tem regras, é do jogo democrático do Brasil. Se no Palácio do Planalto qualquer órgão de imprensa pode se credenciar para acompanhar uma solenidade ou um evento com a presidente da república do Brasil não existe evento que não permita que isso aconteça”, afirmou.

As declarações do ministro aparecem como novo foco de tensão entre governo e CBF. Irritada com os superpoderes de Teixeira, a presidente Dilma Rousseff resolveu interceder e vem minando a soberania do dirigente. A primeira medida foi nomear Pelé, desafeto de Teixeira, como embaixador da Copa. A medida surtiu efeito, e o ex-jogador ofuscou o presidente da CBF na cerimônia do sorteio dos grupos das eliminatórias.

Sobre o Rei do Futebol, Orlando Silva diz que sua participação será mais do que meramente figurativa e que ele será convidado a opinar em diversos aspectos.

“Ele vai servir também como um consultor, tem uma experiência de 12 Copas do Mundo”, ponderou o ministro

domingo, 7 de agosto de 2011

PiG (*) instiga militares ao Golpe

PiG (*) instiga militares ao Golpe.
Qual a novidade ?


A "massa cheirosa" e o "provocador de pijama"
Saiu na primeira pág. da Folha (**):

“Dilma faz reunião para tranqulizar (sic) militares”

Lá dentro, na pág. A8, sabe-se que a autora da “reportagem” é Eliane Catanhêde, arrolada entre as viúvas de Johnbim.

E que a Catanhêde elegeu o general Augusto Heleno  “porta-voz informal do Exército”.

O general Augusto Heleno revela-se um “provocador de pijama”.



Segundo a viúva Catanhêde, o general de pijama “mandou um recado” ao Celso Amorim: as Forças Armadas são apolíticas (como se viu em 1964 …) e não querem saber de “comprometimento ideológico”.

(Como se o Johnbim fosse “apolítico” …)

O que o general de pijama, fonte da Catanhêde, talvez não saiba é que o chanceler e ministro da Defesa Celso Amorim tem mais serviços prestados à Pátria do que ele somado a todos os Comandantes das Forças Armadas.

Toda a suposta “crise militar”, com a escolha de Celso Amorim, é lorota sem fonte identificada.

O Estadão chega ao delírio galático.

Diz que a Dilma disse, no encontro com os comandantes para tratar da nomeação de Amorim  – que Amorim não vai rever a Lei da Anistia.

Como se o Ministro da Defesa substituísse o Legislativo.

Ou pudesse rever a decisão irrecorrível da Corte de Direitos Humanos da OEA, onde a Lei da Anistia brasileira foi fragorosamente derrotada, apesar da brilhante defesa de Sepúlveda Pertence.

O PiG (*) decidiu voltar ao labirinto do Golpe.

À porta dos quartéis.

O que dá uma idéia de como era perigoso manter Nelson Johnbim no Ministério da Defesa.



Johnbim podia ser o Amaury Kruel da Dilma.

(O comandante muy amigo que trai na 25ª. hora.)

O Golpe militar é a ultima ratio do PiG (*) e seus megafones no  Congresso.

Clique aqui para ler (veja abaixo) sobre o Golpe a ser desfechado a partir da televisão, segundo o depoimento de Rodrigo Viana e a decisão da Globo de levar Celso Amorim para o paredão.

São a mesma Globo e o mesmo diretor de jornalismo, Ali Kamel, que deram o Golpe na eleição de 2006 – clique aqui para ler “O primeiro golpe já houve; falta o segundo”.

E o Paulo Bernardo não quer a Ley de Medios …

Em tempo: segundo amiga navegante baiana, o que a presidenta fez na reunião desta sexta-feira com os comandantes miltares foi o que se chama de “chamar na chincha”. Expressão dicionarizada em “Dicionário de Expressões Populares da Lingua Portuguesa”, de João Gomes da Silveira, Editora Martins Fontes, pág. 148.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Paulo Henrique Amorim

A Globo vai partir pra cima de Amorim: isso prova que Dilma escolheu bem!


por Rodrigo Vianna

Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.


O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.

AGORA  VEJA  COMO  A  GLOBO  É  "APOLÍTICA"  E   "NÃO  IDEOLÓGICA".  ABAIXO

6 de agosto de 2011 às 23:09

“Para que melhor se exerça a democracia”: a declaração de princípios da Globo, em 1989

por Luiz Carlos Azenha
A TV Globo também fez uma declaração de princípios, em 1989.
Foi na noite em que o Jornal Nacional transmitiu o resumo do debate eleitoral entre Fernando Collor e Lula, editado de tal forma a destacar as melhores falas de Collor e as piores de Lula.
Collor e Lula disputavam a presidência da República. Collor, com apoio da Globo, venceu a eleição.
Seguiu-se ao resumo do debate uma pesquisa do Vox Populi, então ligado a Collor, mostrando como Collor era “o melhor preparado”.
Então, Alexandre Garcia apareceu no vídeo para dizer:
“Nosso trabalho, como profissionais da televisão, foi e continuará sendo o que fez a televisão nesses dois debates. Manter aberto esse canal de duas mãos entre o eleito e os eleitores, para que melhor se exerça a democracia”.
Foi no mesmo ano em que a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, apareceu primeiro no Jornal Nacional e depois na propaganda de Collor dizendo que o ex-metalúrgico Lula tinha pedido a ela que abortasse e feito declarações racistas. Miriam recebeu dinheiro para fazer tais declarações.
Na véspera da eleição de 1989, o jornal O Globo publicou editorial com o título O Direito de Saber, em que argumentava que os eleitores tinham o direito de saber detalhes da vida pessoal dos candidatos — no caso, Lula — antes de decidir em quem votar.
No entanto, nos anos 90, o então senador Fernando Henrique Cardoso teve um filho com a repórter da TV Globo de Brasília, Miriam Dutra, antes de concorrer à presidência da República. As Organizações Globo não divulgaram a notícia. Em vez disso, enviaram a repórter para um exílio, com salário e sem função, na Espanha.
Passaram-se mais de 20 anos da primeira eleição de Fernando Henrique, em 1994, e as empresas do grupo ainda não noticiaram formalmente o caso extraconjugal. Em 2011, a Folha de S. Paulo noticiou que um exame de DNA revelou que o pai do filho de Miriam Dutra não é o ex-presidente.
Confiram  trecho do documentário britânico Muito Além do Cidadão Kane.