terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Elias Cândido: PHA tem todo o nosso apoio

Elias Cândido: “Não podemos permitir que destruam o Paulo Henrique”


Elias Cândido: “A tendência do racismo em si é aumentar. Não porque há mais racistas, mas por conta da resistência”

por Conceição Lemes
Nos últimos dias, assistimos na internet a uma verdadeira cruzada contra o jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim, visando carimbá-lo como racista. Espalharam a informação de que  teria sido condenado por racismo no processo movido pelo também jornalista Heraldo Pereira, pelo uso da expressão “negro de alma branca”.
Só que: 1) não houve condenação, mas um acordo, ainda em primeira instância; 2) o autor do processo reconheceu, ao assinar o tal acordo, que não teria havido ofensa de cunho racista.

Leia a íntegra da conciliação:

RETRATAÇÃO DE PAULO HENRIQUE AMORIM CONCERNENTE À AÇÃO 2010.01.1.043464-9 , que reconhece Heraldo Pereira como jornalista de mérito e ético; que Heraldo Pereira nunca foi empregado de Gilmar Mendes; que apesar de convidado pelo Supremo Tribunal Federal, Heraldo Pereira não aceitou participar do Conselho Estratégico da TV Justiça; que, como repórter, Heraldo Pereira não é e nunca foi submisso a quaisquer autoridades; que o jornalista Heraldo Pereira não faz bico na Globo, mas é empregado de destaque da Rede Globo; que a expressão ‘negro de alma branca’ foi dita num momento de infelicidade, do qual se retrata, e não quis ofender a moral do jornalista Heraldo Pereira ou atingir a conotação de ‘racismo’. 


Paulo Henrique ganhou apoio e solidariedade de leitores, jornalistas e blogueiros.  Militantes do movimento negro saíram em defesa de PHA. Elias Cândido é um deles. Estudioso da história do negro no Brasil, militante de combate ao racismo, professor e presidente do PT da Vila Matilde, Zona Leste da capital paulista, ele foi taxativo num texto que postou no Facebook:
Eu, modestamente estudioso da história do negro no Brasil, conheço bem os negros de alma branca. Posso reconhecê-los à distância pela linguagem, pelo olhar medroso, pelo jeito janota de se vestir e pela sintaxe entreguista.
Reconheço o trabalho de PHA pelos negros, apoiando programas voltados a essa população e denunciando o racismo da grande mídia. Ele tem todo o meu apoio.
Que os negros e pessoas bem-intencionadas não se confundam: uma ação contra o racismo jamais viria de alguém da Rede Globo, a maior propagadora de racismo deste país.
Decidimos, então, ouvir um pouco mais Elias Cândido.
Depois disso, o Viomundo procurou Elias Cândido, que concedeu a seguinte entrevista:

Viomundo: O que significa “negro de alma branca”?
Elias Cândido: “Negro de alma branca”, na verdade, é como alguns brancos racistas, se reportam a alguns negros. São os negros que não se rebelam, que toleram passar por humilhações e que, segundo alguns brancos, “sabem o seu lugar na sociedade”.

O negro que reivindica o seu lugar é o negro “ negro”, isso do ponto de vista do racista.

Viomundo: Chamar alguém de “negro de alma branca” seria xingamento?
Elias Cândido: Seria um xingo. Seria exatamente aquela pessoa que, por querer ser aceito por aqueles que não a aceitam, se submete a humilhações em vez de buscar o seu espaço. Assim, do ponto de vista racista, equivaleria a um xingo.

Viomundo: Paulo Henrique se referiu ao Heraldo Pereira como um “negro de alma branca”. Essa menção seria racismo?
Elias Cândido: Não seria racismo, não. Quando o Paulo Henrique usa a expressão “negro de alma branca” não é para ofender a população etnicamente negra. A intenção dele é chamar atenção para o comportamento do Heraldo Pereira, que é o comportamento daquele negro aculturado, que se submete a determinadas coisas, que se submete, por exemplo, às determinações da Rede Globo. E a instituição Globo, eu diria, tem um comportamento racista.

Viomundo: Por quê?
Elias Cândido: A Rede Globo é racista. Se olhar com atenção o quadro de seus artistas, vai notar que a maioria é branca. Se observar também o tratamento que é dado aos negros nas suas novelas, vai verificar que a Globo os coloca em posições que seriam de “negro”, que é escravo, segurança ou bandido. Isso é um comportamento completamente racista, porque induz a sociedade a enxergar o negro daquela maneira.

Já nos negros isso tem um efeito psicológico extremamente cruel. A pessoa passa a não almejar coisas maiores na sociedade a não ser aquelas coisas que lhes são impostas, dado o poder cultural das novelas da Globo sobre o nosso povo de um modo geral.

Lembra-se da época em que Xuxa tinha as Paquitas e o sonho de todas as meninas era ser Paquita, uma menina loura, de cabelos lisos? Aquilo tinha efeito devastador na cabeça das meninas negras.

Isso sem falar dos noticiários que, de forma bastante sutil, dão mais atenção aos crimes cometidos pelos negros. Aliás, o seu diretor de Jornalismo, Ali Kamel, é bastante criticado por negar o racismo no Brasil, que mesmo os racistas admitem existir.

Viomundo: Na sua opinião, por que o Heraldo entrou com a ação contra o Paulo Henrique?
Elias Cândido: Por dois motivos. Primeiro, vestiu a carapuça. Ele tem cultura e inteligência suficientes para entender o que o Paulo Henrique estava falando. Ele não fez confusão.

Agora o que possivelmente o estimulou foi a própria Central de Jornalismo da Rede Globo, que promove um combate ao Paulo Henrique Amorim, assim como promove combate aos blogueiros progressistas em geral e mesmo àqueles que não estão no seu rol de controle.

É bastante notório que alguns blogueiros, como Reinaldo Azevedo, se apressaram em acusar o Paulo Henrique, tentando impingir-lhe a pecha de racista, que, se pegasse, enfraqueceria bastante a influência do Paulo Henrique.

Daí a nossa pressa em sair em defesa dele, não só por ele não ser racista, mas principalmente pelo significado. A intenção deles era dizer que os blogueiros progressistas estavam atacando aquele negro que está fora do seu rol ideológico, como querendo dizer “esse negrinho é nosso”.

A intenção era levar a discussão para esse viés. Era levar Paulo Henrique Amorim para o sacrifício em nome de uma ideia, que é para fazer com que o negro “se coloque no seu lugar”.

Viomundo: Como avalia o racismo hoje em dia no Brasil?
Elias Cândido: É importante entender que o modelo de racismo no Brasil é extremamente jovem, que é o racismo por cor. Algo em torno de 500 anos. Antigamente os escravos tornavam-se escravos porque eram derrotados em guerras, inclusive os povos negros da África.

Aqui no Brasil, como justificativa para a escravidão, foi introduzido o racismo por tonalidade da pele. Quanto mais claro tom de pele menos preconceito você sofre, mesmo sendo afrodescendente. Quanto “melhor” o seu cabelo, menos você sofre também.

Esse processo está sendo refreado por conta de maior organização movimento negro e da ida dos negros às universidades. À medida que passamos a ir para as universidades, devido aos programas de cotas e à melhora de vida dos últimos nove anos, o racismo melhorou um pouco do ponto de vista social.

Mas ele aumenta do ponto de vista racial. Essas pessoas, que foram acostumadas a ter privilégios em relação à maioria excluída, começam a ficar mais desesperadas e mais reacionárias com o aumento de negros para as mesmas vagas, tanto na escola quanto no trabalho.

A tendência do racismo em si é aumentar. Não porque há mais racistas, mas por conta da resistência. Isso fica claro na resistência ao modelo de cotas com argumentos de que “querem regalias só para negros”. É o tipo de argumento que não dá nem para a gente discutir.

Viomundo: Outras lideranças do movimento negro pensam como você?
Elias Cândido: Estive numa reunião na sexta-feira com várias lideranças para discutir outras questões e a gente acabou conversando sobre o caso. Elas não têm nenhuma dúvida: o Paulo Henrique não é racista. Ele caiu numa armadilha armada pela própria boca. Como é vítima de perseguições, ele deve tomar um pouco mais de cuidado nos seus pronunciamentos, porque a ideia é pegá-lo numa armadilha. Foi o que restou para essas pessoas. Aliás, a pecha de racista é usada inclusive por racistas para atacar as demais pessoas.

Por tudo isso, o momento é de a gente se unificar em torno do Paulo Henrique, produzindo mais textos, fazendo moções de apoio. Não podemos permitir que destruam o Paulo Henrique.

Fonte: Vi o Mundo/Conversa Afiada



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

“Os mercados estão acima de todos os homens”

“Os mercados estão acima de todos os homens”

“O capital financeiro usa a arma da dívida para abolir o Estado e escravizar a população europeia”
16/02/2012

Carta aberta de Mikis Theodorakis e Manolis Glezos, reproduzida parcialmente no site da CUT


Leia abaixo os principais trechos da carta aberta divulgada pelo renomado maestro e compositor grego Mikis Theodorakis, e por  Manolis Glezos, herói grego que arrancou a bandeira nazista da Acrópole. Ambos têm mais de 80 anos e continuam nas ruas, sofrendo ao lado de seu povo a brutalidade e a covardia da repressão. Um exemplo para as novas gerações:

“Em tempos antigos, o perdão de Solón das dívidas que obrigavam os pobres a ser escravos dos ricos – a chamada reforma Seisachtheia, assentou as bases para a aparição, na antiga Grécia, das ideias da democracia, cidadania, política e Europa: os fundamentos da cultura europeia e mundial.
Lutando contra a classe dos ricaços, os cidadãos de Atenas assinalaram o caminho para a constituição de Péricles e a filosofa política de Protágoras, que disse: “O homem está muito acima de todo o dinheiro”.
Hoje em dia, vemos a vingança dos endinheirados: “Os mercados estão muito acima de todos os homens” é o lema que nossos líderes políticos abraçam com tanto gosto, aliados ao demônio dinheiro como novos Faustos.
Um punhado de bancos internacionais, agências de informação, fundos de investimento, numa concentração mundial de capital financeiro sem precedentes históricos, reivindica o poder na Europa e em todo o mundo e prepara a abolição de nossos estados e nossa democracia, com a arma da dívida, para escravizar a população europeia, colocando no lugar das imperfeitas democracias que temos a ditadura do dinheiro e a banca, o poder do império totalitário da globalização, cujo centro político está fora da Europa continental apesar da presença de poderosos bancos europeus no coração do império.
Começaram com a Grécia, utilizada como cobaia para deslocar-se a outros países da periferia europeia e, pouco a pouco, até o centro. A esperança de alguns países europeus para escapar eventualmente demonstra que os líderes europeus se enfrentam a um novo “fascismo financeiro”, não fazendo melhor do que quando se enfrentaram à ameaça de Hitler no período entreguerras.
Não é uma casualidade que grande parte dos meios de comunicação controlados pelos bancos tratem os países da periferia da Europa como “porcos – pigs” e sua campanha midiática, sádica e racista, vá tingida de desprezo. Seus meios de comunicação não se dirigem somente contra os gregos, mas também contra a herança grega e a antiga civilização grega. Esta opção mostra os objetivos profundos e ocultos daa ideologias e dos valores do capital financeiro, promotor de um capitalismo de destruição.
A tentativa dos meios de comunicação alemães de humilhar símbolos, como a Acrópole ou a Vênus de Milo, monumentos que foram respeitados até mesmo pelos oficiais de Hitler, nada mais é senão expressão do profundo desprezo dos banqueiros que controlam os meios de comunicação, já não tanto contra os gregos, mas sobretudo contra as ideais de liberdade e democracia que nasceram neste país.
O monstro financeiro produziu quatro décadas de isenção de impostos para o capital, todo tipo de “liberalização de mercado”, uma ampla desregulação, a abolição de todas as barreiras aos fluxos financeiros e às especulações, os constantes ataques contra o Estado, a compra de partidos e meios de comunicação, a apropriação do excedente por um punhado de vampiros: os bancos mundiais de Wall Street. Agora, este monstro, um verdadeiro “Estado por trás dos Estados” parece preparado para acertar um “golpe de Estado permanente” financeiro e político, e para mais de quatro décadas.
Necessitamos criar uma frente de resistência potente contra “o império totalitário da mundialização” que está em marcha, antes que seja tarde demais.
A Europa somente pode sobreviver se apresenta uma resposta unida contra os mercados, um desafio maior que o deles, um novo “New Deal” europeu.
Devemos deter de imediato o ataque contra a Grécia e aos outros países da União Europeia na periferia, precisamos por fim a esta política irresponsável e criminosa de arrocho e privatização, que conduz diretamente a uma crise pior que a de 1929.
As dívidas públicas devem ser reestruturadas de forma radical na Eurozona, especialmente às expensas dos gigantes da banca privada. Os bancos devem voltar a ser avaliados e o financiamento da economia europeia deve estar sob controle social, nacional e europeu. Não é possível deixar a chave financeira da Europa nas mãos dos bancos, como Goldman Sachs, JP Morgan, UBS, Deutsche Bank, etc …
Temos que proibir os excessos financeiros incontrolados que são a coluna vertebral do capitalismo financeiro destrutivo e criar um verdadeiro desenvolvimento econômico em lugar de ganâncias especulativas.
A arquitetura atual, baseada no Tratado de Maastricht e nas regras da OMC, instalou uma máquina na Europa para fabricar dívida. Necessitamos uma mudança radical de todos os tratados, a submissão do BCE ao controle político da população europeia, uma “regra de ouro” para um mínimo de nível social, fiscal e meio-ambiental da Europa.
Necessitamos urgentemente uma mudança de paradigma, um retorno ao estímulo de crescimento através da demanda de novos programas de investimento europeus, as novas regulações, os impostos e o controle do capital internacional, uma nova forma de protecionismo suave e razoável numa Europa independente seria protagonista na luta por um mundo multipolar, democrático, ecológico e social.
Chamamos às forças e pessoas que compartilham estas ideias a convergirem, o mais rapidamente possível, numa ampla frente de ação europeia para produzir um programa de transição, para coordenar nossa ação internacional, com o objetivo de mobilizar as forças do movimento popular, para reverter o atual equilíbrio de forças e derrotar aos atuais líderes dos nossos países, historicamente irresponsáveis, com o fim de salvar a nosso povo e a nossa sociedade antes que seja demasiado tarde para a Europa”.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

PSDB pretendia privatizar BB, CEF, Bndes, BNB e Petrobrás

Documento de 1999 mostra que PSDB pretendia privatizar bancos públicos, afirma CUT

Ofício revelado pela central mostra que BNDES, que hoje fomenta crescimento brasileiro, entraria no programa de vendas, descrito pelos tucanos como “um dos mais ambiciosos do mundo”

Um documento revelado nesta quarta-feira (14) pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) mostra que o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, pretendia privatizar os principais bancos públicos brasileiros.
Se hoje o Brasil é credor do Fundo Monetário Internacional (FMI), naquela época a instituição financeira definia, ao lado do Banco Mundial, as políticas econômicas brasileiras, como confirmado pelo ofício de 8 de março de 1999 do Ministério da Fazenda.
O memorando de política externa do governo tucano lembra as privatizações de Meridional e Banespa, outrora estatais. “Com determinação o governo dará continuidade à sua política de modernização do papel dos bancos públicos na economia”, assinala o texto, que na sequência aponta que será entregue, ainda naquele ano, um estudo mostrando qual deve ser o papel de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES.


link do Ministério da Fazenda com o documento:

http://www.fazenda.gov.br/portugues/fmi/fmimpe02.asp

Agora, sim, podemos saber que o recorte da página é legítimo. (Ajuste Fiscal 08/03/1999 Memorando de Política Econômica). Enumerando os itens de política econômica, pode-se ver o item 18, a seguir:

18. Com determinação o governo dará continuidade à sua política de modernização e redução do papel dos bancos públicos na economia. O Banco Meridional uma instituição federal foi privatizado em 1998 e em 1999 o sexto maior banco brasileiro o BANESPA agora sob administração federal será privatizado. Ademais o Governo solicitou à comissão de alto nível encarregada do exame dos demais bancos federais (Banco do Brasil Caixa Econômica Federal BNDES BNB e BASA) a apresentação até o final de outubro de 1999 de recomendações sobre o papel futuro dessas instituições tratando de questões como possíveis alienações de participações nessas instituições fusões vendas de componentes estratégicos ou transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha. Essas recomendações serão analisadas e decisões serão tomadas pelo Governo antes do final do ano sendo que as determinações serão implementadas no decorrer do ano 2000. O Governo já se decidiu sobre a privatização da administradora de ativos afiliada ao Banco do Brasil (BB/DTVM) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB BRASIL-RE). Ao mesmo tempo continuará o processo de privatização fechamento ou transformação dos bancos estaduais restantes em agências de desenvolvimento. A privatização dos bancos dos grandes estados especialmente os da Bahia e do Paraná deverá ocorrer em 1999 dando seguimento às privatizações bem sucedidas dos bancos estaduais do Rio de Janeiro Minas Gerais e Pernambuco entre outros nos últimos dois anos.

e no item 27 :

27. O Governo pretende acelerar e ampliar o escopo do programa de privatização – que já se configura como um dos mais ambiciosos do mundo. Em 1999 o Governo pretende completar a privatização das companhias federais geradoras de energia e no ano 2000 iniciará o processo de privatização das redes de transmissão de energia. No âmbito dos Estados espera-se que a maioria das companhias estaduais de distribuição de energia seja privatizada ainda em 1999. O Governo também anunciou que planeja vender ainda em 1999 o restante de sua participação em empresas já privatizadas (tais como a Light e a CVRD) bem como o restantes de suas ações não-votantes na PETROBRAS. O arcabouço legal para a privatização ou arrendamento dos sistemas de água e esgoto está sendo preparado. O Governo também pretende acelerar a privatização de estradas com pedágios e a venda de suas propriedades imobiliárias redundantes. Estima-se que a receita total do programa de privatização para o ano de 1999 seja de R$ 27 8 bilhões (quase 2 8 por cento do PIB) (do total cerca R$ 24 2 bilhões serão gerados no nível federal) com mais R$ 22 5 bilhões no período 2000 – 2001.

 

O governo do PSDB, que teve José Serra como ministro do Planejamento e da Saúde, teria dado sequência à venda não apenas dos bancos, mas da Petrobras, na avaliação de Samuel Pinheiro Guimarães, demitido à época do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty por ter criticado a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). “A adoção de um acordo como a Alca - com tarifas a zero, impossibilidade de controle de fluxo de capitais, total abertura - teria levado, por exemplo, à privatização de todo sistema financeiro. Privatizariam o BNDES, Banco do Brasil, Petrobrás; instrumentos que foram de grande importância na crise financeira", pontuou recentemente o hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Na gestão do PSDB em São Paulo, de quase duas décadas, além da passagem do Banespa à esfera federal e à posterior privatização, Serra, na qualidade de governador, vendeu a Nossa Caixa. A instituição acabou comprada pelo Banco do Brasil.

Merval Pereira da Globo "mata" Hugo Chávez

Chávez ainda enterrará Merval e o resto da mídia moribunda

Posted by eduguim on 17/02/12 

Não faz muito tempo, li no portal do jornal O Estado de São Paulo na internet um artigo de uma das marionetes dos barões da imprensa atacando o que chamou de “jornalismo cidadão”. O sujeito dizia que blogs como este não teriam qualidade jornalística, não checariam informações como a grande imprensa, e que, portanto, não seriam confiáveis.
Naquele momento, a primeira coisa que me veio à mente foi a ficha policial falsa que o jornal Folha de São Paulo recebeu por e-mail de fonte anônima há alguns anos e publicou no alto de sua primeira página, com o maior destaque possível. Fiquei me perguntando como alguém pode ser tão cara-de-pau a ponto de dizer que uma imprensa que faz isso seria mais confiável.
Para fortalecer sua teoria, o teleguiado da família Mesquita usou como “exemplo” de sua tese notícias veiculadas por blogs sobre desaparecidos durante o massacre do Pinheirinho. O tal “blogueiro” do Estadão mentiu dizendo que blogs anunciaram mortes, quando anunciaram desaparecimentos.
O fato é que a blogosfera tem sido um exemplo de bom jornalismo, pois quando erra faz suas reparações e permite espaço ao contraditório de suas diversas linhas editoriais, contraditório esse que a grande imprensa nega a quem dela diverge.
Se checagem rigorosa de informações for evidência de bom jornalismo – e é, apesar de não ser a única –, a mídia da ficha falsa da Dilma ou do grampo sem áudio no STF agora tem mais um passivo, a morte iminente de Hugo Chávez que começou a ser anunciada em janeiro e que na última quinta-feira (16) foi endossada, sem checagem, pelo “imortal” Merval Pereira.
Leia, abaixo, post de Merval em seu blog no qual “mata” Hugo Chávez.
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Blog de Merval Pereira
16.02.12
Quadro grave
A saúde do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, pode afetar a eleição presidencial. Os últimos exames, analisados por médicos brasileiros, indicam que o câncer está em processo de metástase, se alastrando em direção ao fígado, deixando pouca margem a uma recuperação.
Como a eleição presidencial se realiza dentro de 8 meses, a 7 de outubro, dificilmente o presidente venezuelano estaria em condições de fazer uma campanha eleitoral que exigirá muito esforço físico, pois a oposição já tem em Henrique Capriles um candidato de união.
O ex-embaixador dos Estados Unidos na OEA, Roger Noriega, invocando informações de dentro do governo venezuelano, escreveu artigo recentemente no portal de internet da InterAmerican Security Watch intitulado “A Grande mentira de Hugo Chávez e a Grande Apatia de Washington”.
Nesse artigo ele dizia que o câncer está se propagando mais rapidamente do que o esperado e poderia causar-lhe a morte antes mesmo das eleições presidenciais.
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Em primeiro lugar, que “Exames analisados por médicos brasileiros” são esses? Quem são os tais “médicos brasileiros”? Como os tais “exames” foram obtidos? A mídia que acusa blogs de não checarem informações, ignora cuidados mínimos ao divulgar uma notícia dessa gravidade, que, sendo verdadeira, teria implicações estrondosas na geopolítica das Américas.
Merval não checou nada e ainda trocou as bolas. Confundiu matérias que saíram em órgãos de imprensa espanhóis e norte-americanos que fazem oposição cerrada a Chávez com uma notícia divulgada pela “Folha.com” em julho do ano passado. Veja a matéria, abaixo:
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Folha.com
19/07/2011
Exames mostram que Chávez tem câncer de próstata, dizem médicos
Profissionais brasileiros que tiveram acesso aos exames de Hugo Chávez dizem que o presidente venezuelano tem câncer de próstata.
A informação é da coluna de Mônica Bérgamo publicada nesta terça-feira na Folha e cuja íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
A informação, contudo, não foi confirmada pelo urologista Miguel Srougi, especialista em câncer de próstata que foi chamado para a reunião com os diplomatas venezuelanos.
Ele prefere manter o silêncio para evitar falhas e diz que Chávez “fez muito bem” de ir para Cuba, onde terá a intimidade preservada.
Chávez revelou ter câncer em 30 de junho, após semanas de especulação, em uma mensagem lida em rede nacional em Havana, onde deveria encerrar uma turnê de visitas iniciada no Brasil no começo do mês.
Menos de quatro dias depois do anúncio da doença, Chávez retornaria de surpresa a Caracas, às vésperas do aniversário de 200 anos do país.
Naquele momento, ele anunciou ter feito duas cirurgias em Cuba –uma delas para a retirada de um tumor. Chávez não informa que órgãos ou tecidos foram atingidos pelo câncer nem qual seu estágio. Negou, porém, que a doença tenha atingido o cólon ou o estômago.
A coluna de Bergamo de sábado (16) já apontava indícios de lesão na próstata do presidente venezuelano, mas ressaltava que mais exames eram necessários.
Até semana passada, tudo indicava que Chávez viria ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para fazer sessões de quimioterapia contra seu câncer, como fez seu colega paraguaio, Fernando Lugo, que sofreu de câncer linfático no ano passado.
No sábado (16), contudo, Chávez chegou à Cuba, onde informou que deseja seguir o tratamento quimioterápico para câncer. Ele não descartou uma visita futura ao Brasil, no entanto.
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Além de preguiçoso – ou mal-intencionado – ao checar informações, Merval nem soube identificar a origem de boatos que pretendem apenas desestabilizar, tanto na Venezuela quanto no exterior, a candidatura de Chávez à reeleição.
Quem saiu primeiro com essa história de metástase do câncer de próstata do líder venezuelano foi o diário norte-americano Wall Street Journal, em novembro do ano passado. Diz o “journal”:
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Os relatórios, com base em entrevistas com pessoas que tiveram acesso à equipe médica de Chávez, alimentam rumores recentes de que o homem que governa a Venezuela desde 1999 não será saudável o suficiente para disputar a reeleição em outubro, potencialmente jogando o futuro político do país em dúvida.
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No final do mês passado, o diário espanhol “ABC”, que faz oposição a Chávez – bastando, para comprovar, fazer busca de seu nome no sítio do veículo, onde se constatará uma impressionante artilharia contra ele –, publicou matéria anunciando que o venezuelano teria Um ano de vida a menos que aceite um tratamento intensivo.
O artigo do ex-embaixador dos Estados Unidos na OEA Roger Noriega, invocado por Merval, baseia-se nas mesmas invenções sobre “médicos” que teriam “analisado exames” de Chávez e concluído que seu câncer estaria se espalhando rapidamente.
Chega a ser ridículo achar que médicos brasileiros, espanhóis e americanos teriam tido acesso livre a exames de um Chávez que nega peremptoriamente que sua doença tenha se agravado e que certamente toma todos os cuidados com informações sobre a própria saúde.
Aliás, não se entende de que adiantaria um homem que tem menos de um ano de vida disputar uma eleição. Sendo eleito em outubro, se seu estado de saúde moribundo fosse real ele não viveria para assumir o cargo. Teria que estar louco para se meter em tal empreitada sabendo que mesmo vencendo a eleição seria derrotado.
A estratégia da direita midiática internacional é óbvia: acha que pode fazer o povo venezuelano deixar de votar em Chávez com medo de que ele morra e deixe o país acéfalo.
Chávez praticamente não deu bola a uma notícia que já corre o mundo há semanas e que chega atrasada ao Brasil. Aliás, fez troça. Mas os mervais e os PIGs espalhados pelo mundo mergulharam de cabeça no que julgam um filão, cheios de esperança que estão no candidato com que a direita venezuelana deve tentar retomar o poder, o tal de Henrique Capriles.
Se essa direita midiática não fosse tão preguiçosa e tivesse se dado ao trabalho de fazer o que este blogueiro fez muitas vezes ao incursionar nos “cerros” (morros) de Caracas, desjejuando arepa (espécie de pão sírio), suero (coalhada) e té (chá) enquanto ouvia o verdadeiro povo venezuelano, entenderia o que jamais entendeu.
Chávez não é causa, é consequência. Assim como Evo Morales, Rafael Correa, Lula e outros presidentes progressistas que decorreram da onda de governos de esquerda que na década passada varreu a América Latina, ele é o braço político do povo. Se morresse, o povo acharia um substituto.
Essa gente não entende que a morte de Chávez o transformaria em um mártir e permitiria ao seu partido eleger qualquer poste, sem falar na fúria que seria desencadeada entre a imensa maioria de venezuelanos que o apóia com a alma não por ele mesmo, mas porque é o campeão que aquele povo encontrou para reverter a concentração de renda que esmagou a Venezuela por décadas. O povo venezuelano já está escolado. Em cada uma das sucessivas eleições que Chávez venceu sem que houvesse um único questionamento sério e reconhecido, até a antevéspera de cada um daqueles pleitos a direita midiática sempre disse que daquela vez ele estaria derrotado por antecipação.
Chávez não está moribundo, quem está é essa direita demente que jamais entendeu que ao menos nesta parte do mundo os povos já sabem que não podem permitir que ela volte a governar até que o mal que perpetrou ao longo de séculos seja desfeito. Chávez, portanto, viverá para assistir ao enterro político dessa gente.

 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

o declínio dos EUA em perspectiva

“Perdendo o mundo”: o declínio dos EUA em perspectiva

O declínio dos Estados Unidos entrou, há algum tempo, em uma nova fase: a do declínio autoinfligido. Desde os anos 70 tem havido mudanças significativas na economia dos EUA, à medida que estrategistas, estatais e do setor privado, passaram a conduzi-la para a financeirização e à exportação de plantas industriais. Essas decisões deram início ao círculo vicioso no qual a riqueza e o poder político se tornaram altamente concentrados, os salários dos trabalhadores ficaram estagnados, a carga de trabalho aumentou e o endividamento das famílias também. O artigo é de Noam Chomsky.

Aniversários significativos são comemorados solenemente – o do ataque japonês à base da Marinha norteamericana de Pearl Harbor, por exemplo. Outros são ignorados, e podemos sempre aprender importantes lições que eles nos dão de como é possível seguir mentindo adiante. Na verdade, agora.

No momento, estamos errando em não comemorar o 50° aniversário da decisão do presidente John F Kennedy de promover a mais assassina e destrutiva agressão do período pós-Segunda Guerra: a invasão do Vietnã do Sul, e depois de toda a Indochina, deixando milhões de mortos e quatro países devastados, com perdas ainda crescentes causadas pela exposição do país aos carcinogênicos mais letais de que se tem conhecimento, que comprometerem a cobertura vegetal e a produção de alimentos.

O primeiro alvo foi o Vietnã do Sul. A agressão depois se espalhou para o Norte, e então para a sociedade remota do nordeste do Laos, até finalmente chegar ao rural Camboja, que foi bombardeado de tal maneira que chegou ao nível impressionante de ser alvo de todas as operações aéreas aliadas da região do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo as duas bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. Aí, as ordens de Henri Kissinger estavam sendo obedecidas – “qualquer coisa que voe ou se mova”; uma rara convocação para o genocídio na história.

Pouco disso tudo é lembrado. A maior parte desses massacres é escassamente conhecida para além dos estreitos círculos de ativistas.
Quando a invasão teve início, há cinquenta anos, a preocupação era tão pouca que havia poucos esforços de justificação; dificilmente iam além do impassível apelo do presidente de que “estamos nos opondo, ao redor do mundo, a uma conspiração monolítica e brutal que opera principalmente em meios disfarçados de expansão de sua esfera de influência” e se a conspiração consegue realizar seus objetivos no Laos e no Vietnã, “os portões estarão amplamente abertos".

Em outro lugar, ele alertou em seguida que “as sociedades leves, complacentes e autoindulgentes estavam para ser varridas para os escombros da história [e] só a força... pode sobreviver”, neste caso refletindo a respeito do fracasso da agressão e do terror estadunidenses para esmagar a independência cubana.

Quando os protestos começaram a crescer, meia dúzia de anos depois, o respeitado historiador militar e especialista em Vietnã Bernard Fall, nenhum pacifista, previu que “o Vietnã como uma entidade histórica e cultural...está ameaçada de extinção...[enquanto]...a sua área rural literalmente morre sob as explosões da maior máquina militar jamais em operação numa área deste tamanho”. Ele estava, mais uma vez, referindo-se ao Vietnã do Sul.

Quando a guerra acabou oito horrendos anos depois, a opinião dominante estava dividida entre aqueles que a descreviam como uma “causa nobre” que poderia ter sido vencida com mais dedicação e o extremo oposto, os críticos, para quem se tratou de “um erro” que se provou altamente custoso. Por volta de 1977, o Presidente Carter chamou pouca atenção quando explicou que “não havia dívida” nossa com o Vietnã porque “a destruição foi mútua”.

Há lições importantes em tudo isso para hoje, mesmo deixando de lado os fracos e derrotados que são chamados para responder por seus crimes. Uma lição é que para entender o que está acontecendo devemos buscar não apenas criticar os acontecimentos no mundo real, frequentemente dispensados pela história, mas também aquilo em que os líderes e a opinião da elite acreditam, mesmo que com tintas de fantasia. Uma outra lição é que, ao lado dos frutos da imaginação fabricados para aterrorizar e mobilizar o público (e talvez acreditados por aqueles enganados pela própria retórica), há também planejamento geoestratégico baseado em princípios que são racionais e estáveis em longos períodos, porque estão enraizados em instituições estáveis e na agenda destas. Isso também é verdade no caso do Vietnã. Eu voltarei a isso, só destacando aqui que os elementos persistentes na ação estatal são geralmente bastante opacos.

A guerra do Iraque é um caso instrutivo. Ela foi vendida para um público aterrorizado com as ameaças usuais da autodefesa contra uma formidável ameaça à sobrevivência: a “única questão” que George W. Bush e Tony Blair declararam foi se Saddam Hussein iria encerrar o seu programa de desenvolvimento de armas de destruição em massa. Quando a única questão recebeu a resposta errada, a retórica do governo mudou rapidamente para o nosso “anseio por democracia”, e a opinião pública educada seguiu devidamente o curso; o de sempre.

Mais tarde, à medida que a escalada da derrota no Iraque se tornou difícil de esconder, o governo quietamente concedeu o que estava claro para todo mundo. Em 2007-2008, a administração anunciou oficialmente que um acordo final deve assegurar a permanência de bases militares dos EUA e o direito de operações de combate, no país, e deve privilegiar os investidores estadunidenses na exploração de seu rico sistema energético – demandas que mais tarde foram relutantemente abandonadas diante da resistência iraquiana. E tudo ficou bastante escondido da maioria das pessoas.

Padronizando o declínio americano
Com essas lições em mente é útil dar uma olhada ao que é destacado na manchete dos maiores jornais de política e opinião, hoje. Peguemos a mais prestigiada das publicações do establishment, Foreign Affairs. A manchete estrondosa da capa de dezembro de 2011 estampava em negrito: “A América acabou?”.

O artigo da capa pedia “corte de gastos” nas “missões humanitárias” no exterior, que estavam consumindo a riqueza do país, para impedir o declínio americano, que é o maior tema nos discursos do ambiente de negócios, que frequentemente vem acompanhado do corolário de que o poder está mudando para o Leste, para a China e (talvez) a Índia.

Agora os principais artigos são a respeito de Israel e Palestina. O primeiro, de autoria de dois altos oficiais israelenses, é intitulado “O Problema é a Rejeição Palestina”: o conflito não pode ser resolvido porque os palestinos se recusam a reconhecer Israel como Estado Judeu – então em conformidade com a prática diplomática padrão: estados são reconhecidos, mas não seus setores privilegiados. A demanda é dificilmente outra coisa que um novo dispositivo para deter a ameaça de solução política para os assentamentos ilegais que minaria os objetivos expansionistas israelenses.

A posição oposta é defendida por um professor estadunidense tem o título “O Problema é a Ocupação”. No subtítulo se lê: “Como a Ocupação está Destruindo a Nação”. Qual nação? A de Israel é claro. Ambos os artigos aparecem com o título, em cache: “Israel sitiado”.

A edição de janeiro de 2012 lança ainda um outro chamamento para o bombardeio do Irã, agora, antes que seja tarde demais. Alertando contra “os perigos da dissuasão”, o autor sugere que “céticos com relação à ação militar falham em avaliar o verdadeiro perigo que um Irã com armas nucleares imporia aos interesses dos EUA no Oriente Médio e além. E em suas previsões sombrias imaginam que a cura pode ser pior do que a doença – quer dizer, que as consequências de um ataque estadunidense ao Irã seriam tão ruins ou piores do que se o país conseguisse levar a cabo suas ambições nucleares. Mas essa é uma suposição falsa. A verdade é que um ataque militar visando a destruir o programa nuclear iraniano, se for feito com cuidado, poderia significar para a região e para o mundo uma ameaça muito real e melhorar dramaticamente a segurança nacional dos Estados Unidos no longo prazo”.

Outros argumentam que os custos seriam altos demais e no limite alguns chegam a dizer que um ataque [ao Irã] violaria o direito internacional – como o fazem os moderados, que regularmente fazem ameaças de violência, em violação à Carta das Nações Unidas.

Vamos rever cada uma dessas preocupações dominantes

O declínio americano é real, embora a visão apocalíptica reflita a percepção bastante familiar da classe dominante de que algum controle menor ou total implica o desastre total. A despeito desses lamentos piedosos, os EUA persevera como poder dominante mundial por larga margem, e não há competidores à vista, não apenas em dimensões militares, a respeito das quais os EUA reina supremo.

A China e a Índia registraram crescimento rápido (embora altamente desigual), mas permanecem países muito pobres, com problemas internos enormes não enfrentados pelo Ocidente. A China é o maior centro industrial do mundo, mas majoritariamente como uma linha de montagem para as potências industriais avançadas em sua periferia e para as multinacionais ocidentais. É provável que isso mude com o tempo. A indústria em regra provê as bases para a inovação e a invenção, como vem ocorrendo às vezes, na China. Um exemplo que impressionou os especialistas ocidentais foi a tomada chinesa da liderança no mercado crescente de painéis solares, não apenas com base na mão de obra barata, mas no planejamento coordenado e, crescentemente, na inovação.

Mas os problemas que a China enfrenta são sérios. Alguns são demográficos, reportados na Science, o líder dos semanários estadunidenses de divulgação científica. O estudo mostra que a mortalidade caiu bruscamente na China durante os anos maoístas, “principalmente um resultado do desenvolvimento econômico e das melhorias nos serviços educacionais e de saúde, especialmente ao movimento de higiene pública que resultou num golpe drástico à mortalidade por doenças infecciosas”. Esse progresso acabou com o início das reformas capitalistas no país, há 30 anos, e a taxa de mortalidade desde então tem aumentado.

Além disso, o crescimento econômico chinês recente contou substancialmente com um “bônus demográfico”, uma grande população em idade economicamente ativa. “Mas a janela para o uso desse bônus pode fechar logo”, com um “impacto profundo no desenvolvimento”: “o excesso de mão de obra barata, que é um dos maiores fatores de condução do milagre econômico chinês não estará mais disponível”. A demografia é apenas um dos muitos problemas sérios pela frente. No que concerne a Índia, os problemas são ainda mais graves.

Nem todas as vozes proeminentes anteveem o declínio americano. Na mídia internacional, não há nada mais sério e respeitável que o Financial Times. O jornal recentemente dedicou uma página inteira às expectativas otimistas de que nova tecnologia para extrair combustível fóssil norteamericano pode fazer com que os EUA se torne energeticamente independente, mantendo portanto sua hegemonia por um século. Não há menção ao tipo de mundo que os EUA comandará nesse acontecimento feliz, mas não por falta de evidência.

Quase ao mesmo tempo, a Agência Internacional de Energia reportou que, com o aumento rápido das emissões de carbono dos combustíveis fósseis, o limite de uso seguro será atingido por volta de 2017, se o mundo continuar no atual curso. “A porta está fechando”, disse o economista-chefe da AIE, e em muito breve “fechará de vez”.

Pouco antes, o Departamento de Energia dos EUA informou que as imagens mais recentes das emissões de dióxido de carbono, com “a elevação para o maior índice já registrado”, chegaram num nível mais elevado do que os piores cenários antecipados pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC). Isso não é surpresa para muitos cientistas, inclusive os do programa do MIT para mudança climática, que por anos alertou que os prognósticos do IPCC eram conservadores demais.

Esses críticos das previsões do IPCC receberam virtualmente atenção pública nenhuma, ao contrário dos grupos denegadores do aquecimento global, que são apoiados pelo setor corporativo, juntamente a imensas campanhas de propaganda que tem levado os americanos para fora do espectro internacional dessas ameaças. O apoio das corporações também se traduz diretamente no poder político. A denegação é parte do catecismo que deve ser entoado pelos candidatos republicanos na ridícula campanha eleitoral em curso, e no Congresso eles são poderosos o suficiente para abortar até investigações sobre o efeito do aquecimento global, deixando de lado qualquer ação séria a respeito. Numa palavra, o declínio americano pode talvez ser interditado se abandonarmos a esperança pela sobrevivência decente, prognóstico também bastante real, dado o equilíbrio de forças no mundo.

“Perdendo” a China e o Vietnã
Deixando de lado essas coisas desagradáveis, um olhar de perto para o declínio americano mostra que a China na verdade joga um grande papel nele, tanto como o jogava há 60 anos. O declínio que agora gera tanta preocupação não é um fenômeno recente. Ele remonta ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando os EUA tinha metade da riqueza do mundo e dispunha de níveis globais de segurança incomparáveis. Os estrategistas políticos estavam naturalmente bastante conscientes dessa enorme disparidade de poder e pretendiam mante-la assim.

O ponto de vista básico foi apresentado com admirável franqueza num grande documento de 1948. O autor era um dos arquitetos da Nova Ordem Mundial da época, o representante da equipe de Planejamento Político do Departamento de Estado dos EUA, o respeitado estadista e acadêmico George Kennan, um pacifista moderado, dentre os estrategistas. Ele observou que o objetivo político central era manter a “posição de disparidade” que separava a nossa enorme riqueza da pobreza dos outros. Para alcançar esse objetivo, advertiu, “nós deveríamos para de falar de objetivos vagos e... irreais, como direitos humanos, a elevação do padrão de vida e a democratização”, e devemos “lidar com conceitos estritos de poder”, não “limitados por slogans idealistas” a respeito de “altruísmo e o benefício do mundo”.

Kennan estava se referindo especificamente à Ásia, mas as observações dele se generalizam, com exceções, aos participantes do atual sistema de dominação global dos EUA. Ficou bastante claro que os “slogans idealistas” deveriam ser apresentados sobretudo quando dirigidos aos outros, inclusive às classes intelectualizadas, das quais se esperava que os disseminassem.

O plano de Kennan ajudou a formular e a implementar a tomada de controle dos EUA do Hemisfério Oeste, do Extremo Leste e das regiões do ex-império britânico (incluindo os incomparáveis recursos energéticos do Oriente Médio), e o quanto foi possível da Eurásia, sobretudo seus centros comerciais e industriais. Esses não eram objetivos irreais, dada a distribuição do poder. Mas o declínio foi então definido de vez.

Em 1949, a China declarou independência, um evento conhecido no discurso do Ocidente como “a perda da China” – nos EUA, com algumas recriminações amarguradas e o conflito interpretativo a respeito de quem tinha sido o responsável por essa perda. A terminologia é reveladora. Só é possível perder o que em algum momento se teve. A assunção tácita era que os EUA tinham a China, por direito, juntamente à maior parte do resto do mundo, tanto como os estrategistas do pós-guerra pensavam.

A “perda da China” foi o primeiro grande passo do “declínio americano”. Foi o que teve grandes consequências políticas. Uma delas foi a decisão imediata de apoiar o esforço francês de reconquista da sua ex-colônia da Indochina, para que esta também não fosse “perdida”.

A Indochina mesma não era motivo de preocupação maior, a despeito das afirmações de suas riquezas naturais por parte do presidente Eisenhower e outros. A preocupação maior era antes com a “teoria do efeito dominó”, a qual é frequentemente ridicularizada quando os dominós não caem, mas permanece um princípio regulador da política, porque é bastante racional. Para adotar a versão Henri Kissinger dele, uma localidade que cai fora do controle pode se tornar um “vírus” que irá “contagiar”, induzindo outros a seguirem o mesmo caminho.

No caso do Vietnã, a preocupação era que esse vírus do desenvolvimento independente pudesse infectar a Indonésia, que de fato é rica em recursos. E isso pode levar o Japão – o “superdominó”, como o proeminente historiador da Ásia John Dower chamava – a “acomodar” uma Ásia independente como seu centro tecnológico e industrial num sistema que escaparia do alcance do poder dos EUA. Isso significaria, com efeito, que o EUA tinha perdido a fase Pacífico da Segunda Guerra, na qual lutou para tentar impedir que o Japão estabelecesse uma Nova Ordem na Ásia.

O modo de lidar com um problema desse é claro: destruir o vírus e “inocular” aqueles que podem ser infectados. No caso do Vietnã, a escolha racional era destruir qualquer esperança de desenvolvimento independente bem sucedido e impor ditaduras brutais nos arredores. Essas tarefas foram levadas a cabo com sucesso – embora a história tenha sua própria astúcia, e algo similar ao que foi temido desde então tenha se desenvolvido no Leste da Ásia, a maior parte para consternação de Washington.

A vitória mais importante das guerras da Indochina deu-se em 1965, quando um golpe de estado militar, com o apoio dos EUA, liderado pelo general Suharto significou crimes massivos comparados pela CIA aos de Hitler, Stalin e Mao. A “assombrosa matança massiva”, como descreveu o New York Times, foi acuradamente reportada nos meios dominantes, e com euforia desenfreada.

Foi um “brilho de luz na Ásia”, como observou o comentarista liberal James Reston, no Times. O golpe encerrou as ameaças à demoracia ao demolir o partido político de massas, dos pobres, estabelecendo uma ditadura que registrou as piores violações aos direitos humanos no mundo, e deixou as riquezas do país abertas aos investidores ocidentais. Poucos questionaram que depois de tantos horrores, inclusive a quase genocida invasão do Timor Leste, Suharto ter sido bem recebido pela administração Clinton, em 1995, como “nosso tipo de cara”.

Anos após os grandes eventos de 1965, o Conselheiro para Assuntos de Segurança Nacional de Kennedy e Johnson, McGeorge Bundy refleteria que teria sido sensato acabar com a guerra do Vietnã a tempo, com o “vírus” virtualmente destruído e, o principal, o dominó solidamente no lugar, no esteio de outras ditaduras apoiadas pelos EUA pela região.

Procedimentos similares são rotineiramente seguidos em outros lugares. Kisssinger estava se referindo especificamente à ameaça da democracia socialista no Chile. Essa ameaça acabou em outra data esquecida, que os latino-americanos chamam de “O Primeiro 11 de Setembro”, que em violência e efeitos nefastos excedeu em muito o 11 de Setembro comemorado no Ocidente. Uma ditadura viciosa foi imposta ao Chile, como uma parte da praga de repressão brutal que se espalhou pela América Latina, chegando até a América Central, nos anos Reagan.

Esse vírus tem gerado preocupações profundas aqui e ali, inclusive no Oriente Médio, onde a ameaça de um nacionalismo secular tem consternado os estrategistas britânicos e estadunidenses, induzindo-os a apoiar o fundamentalismo islâmico a opor-se a isso.

A concentração da riqueza e o declínio americano
Mesmo com essas vitórias, o declínio americano continuou. Por volta de 1970, a parte da riqueza do mundo dos EUA saltou para 25%, basicamente onde está hoje, concentração ainda colossal, mas bastante inferior àquela de fins da Segunda Guerra. Nessa época, o mundo industrial era “tripolar”: a base norte americana, dos EUA, a europeia, da Alemanha, e a do Leste da Ásia, já a região industrial mais dinâmica, naquele tempo com base no Japão, mas hoje incluindo as ex-colônias japonesas de Taiwan e o Sul da Coreia, e mais recentemente a China.

Nesse período o declínio americano entrou numa nova fase: a do declínio autoinfligido. Desde os anos 70 tem havido mudanças significativas na economia dos EUA, à medida que estrategistas, estatais e do setor privado, passaram a conduzi-la para a financeirização e à exportação de plantas industriais, levada a cabo em parte pelo declínio da taxa de lucro na indústria doméstica. Essas decisões deram início ao círculo vicioso no qual a riqueza se tornou altamente concentrada (dramaticamente nos 0,1% da população), levou à concentração de poder político, e então a uma legislação que o levou adiante, no que concerne à tributação e outras políticas fiscais, à desregulação, às mudança nas regras da administração corporativa - o que permitiu imensos ganhos para os executivos - e por aí vai.

Enquanto isso, para a maioria, os salários reais foram majoritariamente estagnados e ao povo só restou aumentar a carga de trabalho (muito além da europeia), a dívida insustentável e as repetidas bolhas, desde os anos Reagan; criando riquezas de papel que desapareceram inevitavelmente quando a bolha estourou (e os perpretadores foram resgatados pelos contribuintes). Em paralelo a isso, o sistema político foi cada vez mais fragmentado, enquanto ambos os partidos mergulharam cada vez mais nos bolsos das corporações, com a escalada do custo das eleições (os republicanos ao nível do absurdo e os democratas – agora majoritariamente os “ex-republicanos moderados” – não ficaram muito atrás).

Um estudo recente do Instituto de Política Econômica, que tem sido a maior fonte de dados respeitáveis sobre o desenvolvimento, intitula-se Failure by Design [no contexto, algo como Fracasso por Ecomenda]. A frase “by design” é acurada. Outras escolhas eram certamente possíveis. E como mostra o estudo, o “fracasso” tem um corte de classe. Não há fracasso para os “designers”. Longe disso. Antes, as políticas fracassaram para a imensa maioria, os 99% na imagem dos movimentos Occupy – e para o país, que tem declinado e irá continuar a fazê-lo, sob essas políticas.

Um fator que o explica é a transferência das plantas industriais. Como ilustra o exemplo do painel solar, mencionado acima, a industrialização tem a capacidade de promover as bases e o estímulo para a inovação, levando a estágios mais avançados de sofisticação na produção, no design e na invenção. Isso, também, está sendo terceirizado, o que não é um problema para os “mandarins do dinheiro”, que cada vez mais mandam na política, mas é um sério problema para o povo trabalhador e as classes médias, e um desastre real para os mais oprimidos, os afroamericanos, que nunca escaparam do legado da escravidão e de sua mais feia consequência, cuja magra riqueza desapareceu virtualmente depois do colapso da bolha imobiliária, em 2008, originando a mais recente crise financeira, a pior até agora.

(*) Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É o maior linguista do mundo e um dos mais, senão o mais rigoroso e consequente anarquista vivo.

Tradução: Katarina Peixoto


Fonte:
http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/02/2012215773268827.html


50 números econômicos de 2011

Apesar de a maioria dos norte-americanos estar bastante furiosa com esta economia, a realidade é que grande parte deles continua a não ter ideia do quão intenso tem sido o declínio económico do país. Este artigo publicado no blogue The Economic Collapse é um bom contributo para alertar as pessoas.
 
Original: The Economic Collapse.
Traduzido por Sofia Gomes.
Os 50 números económicos de 2011 que são quase demasiado loucos para acreditarmos neles...
#1 48% dos Americanos são considerados como tendo “baixos rendimentos” ou vivem na pobreza.
#2 Aproximadamente 57% de todas as crianças dos EUA vivem em lares que se consideram de “baixos rendimentos” ou empobrecidos.
#3 Se hoje o número de norte-americanos que “queriam trabalho” fosse o mesmo que em 2007, a taxa de desemprego “oficial” do governo chegaria aos 11%.
#4 A média de tempo que um trabalhador fica no desemprego nos EUA é agora mais de 40 semanas.
#5 Uma sondagem recente descobriu que 77% das pequenas empresas dos EUA não planeiam contratar mais pessoas.
6# Hoje existem menos empregos pagos do que em 2000 apesar de termos mais 30 milhões de pessoas desde essa altura.
#7 Desde Dezembro de 2007, a média dos rendimentos familiares diminuiu 6,8% depois da inflação.
#8 De acordo com o Gabinete de Estatística para o Trabalho, em Dezembro de 2006, 16,6 milhões de norte-americanos encontravam-se em situação de auto-emprego. Hoje o número diminuiu para 14,5 milhões.
#9 Uma sondagem Gallup do início deste ano revelou que aproximadamente um em cada cinco norte-americanos que têm trabalho consideram-se subempregadas.
#10 De acordo com o autor Paul Osterman, cerca de 20% de todos os adultos têm empregos onde ganham salários ao nível da pobreza.
#11 Em 1980, menos de 30% de todos os empregos dos EUA eram de baixo rendimento. Hoje representam mais de 40%.
#12 Em 1969, 95% de todos os homens entre os 25 e os 54 tinham um trabalho. Em Julho, apenas 81,2% dos homens nessa faixa etária trabalhavam.
#13 Uma sondagem recente revelou que um em cada três norte-americanos não teriam possibilidades de pagar a próxima mensalidade do empréstimo de habitação/renda se de repente perdessem o emprego.
#14 A Reserva Federal anunciou recentemente que o total do rendimento líquido dos laresdesceu 4,1%apenas no terceiro trimestre de 2011.
#15 De acordo com um estudo recente do Instituto de Investimento Black Rock, o rácio da dívida/rendimento pessoal é agora de 154%.
#16 À medida que a economia abrandou, o mesmo aconteceu ao número de casamentos. Segundo a análise do Pew Research Center, apenas 51% dos americanos que têm pelo menos 18 anos estão casados. Em 1960, 72% dos adultos eram casados.
#17 O Serviço Postal dos EUA perdeu mais de 5 mil milhões de dólares durante o ano passado.
#18 Em Stockton, California, os preços das casas caíram 64% desde o auge do mercado imobiliário.
#19 O Estado do Nevada tem a maior taxa de vencimentos de hipotecas (foreclosures) desde há 59 mesesconsecutivos.
#20 Se não acredita, o preço médio de uma casa em Detroit é agora de seis mil dólares.
#21 De acordo com o Gabinete dos Censos, 18% de todas as casas no Estado da Florida estão vazias. Isto representa um aumento de 63% nos últimos dez anos.
#22 O baixo ritmo de construção de novas casas nos EUA está a caminho de bater um novo record em 2011.
#23 Como escrevi anteriormente, 19% de todos os homens americanos entre os 25 e os 34 vivem com os pais.
#24 Nos últimos cinco anos, as contas de electricidade nos EUA subiram mais depressa que a taxa de inflação.
#25 De acordo com o Gabinete de Análise Económica, em 1980, os custos com os cuidados de saúde representavam 9,5% do consumo pessoal. Hoje, representam 16,3%.
#26 Um estudo revelou que cerca de 41% de todos os cidadãos capazes de trabalhar têm problemas com custos de saúde ou estão a pagar uma dívida médica.
#27 Se é possível acreditar, um em cada sete norte-americanos tem no mínimo 10 cartões de crédito.
#28 Os EUA gastam cerca de 4 dólares em bens e serviços provenientes da China por cada dólar que a China gasta em bens e serviços provenientes dos EUA.
#29 Estima-se que o défice comercial dos EUA em 2011 seja de 558 mil milhões de dólares.
#30 A crise das reformas continua a ficar pior. De acordo com o Instituto de Pesquisa dos Benefícios do Empregado, 46% de todos os trabalhadores norte-americanos têm menos de 10 mil dólares poupados para a reforma, e 29% têm menos de mil dólares.
#31 Hoje, um em casa seis idosos vive abaixo da linha federal de pobreza.
#32 Segundo um estudo recentemente publicado, os salários dos administradores executivos nas maiores empresas subiu 36,5% num período de 12 meses.
#33 Hoje, os bancos “demasiado grandes para cair” são maiores do que nunca. Os total de activos detidos pelos seis maiores bancos dos EUA subiu 39% entre 30 de Setembro de 2006 e 30 de Setembro de 2011.
#34 O seis herdeiros do fundador do Wal-Mart, Sam Walton, têm um rendimento líquido quase igual ao dos 30% de americanos mais pobres.
#35 De acordo com a análise do Pew Research Center aos dados reunidos pelo Gabinete dos Censos, a média do rendimento líquido dos lares liderados por cidadãos com 65 anos ou mais é47 vezes mais alto que a média do rendimento líquido dos lares liderados por cidadãos abaixo dos 35.
#36 Se é possível acreditar, 37% de todos os lares nos EUA liderados por alguém abaixo dos 35 anos possuem um rendimento líquido de zero ou abaixo de zero.
#37 A percentagem de norte-americanos que vive na pobreza extrema (6,7%) é a maior registada.
#38 A percentagem de crianças sem abrigo é 33% mais alta do que em 2007.
#39 Desde 2007, o número de crianças pobres no Estado da California subiu 30%.
#40 Tristemente, a pobreza infantil está a explodir pelos EUA fora. De acordo com o Centro Nacional para a Pobreza Infantil, 36,4% de todas as crianças que vivem em Filadélfia estão na pobreza. 40,1% das criançasque vivem em Atlanta estão na pobreza, 52,6% das crianças que vivem em Cleveland estão na pobreza e 53,6% das crianças que vivem em Detroit estão na pobreza.
#41 Hoje, um em cada sete americanos e um em cada quatro das crianças usam cupões de comida.
#42 Em 1980, as transferências feitas pelo goveno representavam 11,7% de todo o rendimento. Hoje, representam mais de 18%.
#43 Uns inacreditáveis 48,5% de todos os norte-americanos vivem num lar que recebe alguma forma de ajuda do governo. Em 1983, o número estava abaixo dos 30%.
#44 Actualmente, os gastos do governo federal representam cerca de 24% do PIB. Em 2001, representavam 18%.
#45 No ano fiscal de 2011, o défice federal era de 1,3 biliões de dólares. É o terceiro ano consecutivo em que o défice ultrapassa o bilião de dólares.
#46 Se o Bill Gates desse toda a sua fortuna ao Governo, apenas cobriria o défice por cerca de 15 dias.
# 47 Incrivelmente, o governo acumulou uma dívida total de 15 biliões de dólares. Quando Barack Obama tomou posse a dívida era de 10,6 biliões.
#48 Se o governo federal começasse a pagar agora a dívida nacional ao ritmo de um dólar por segundo, levaria mais de 440 mil anos para pagar tudo.
#49 Desde o início da administração Obama, a dívida nacional tem aumentado a uma média de 4 mil milhões de dólares por dia.
#50 Durante a presidência de Obama, o governo acumulou mais dívida do que o período entre a presidência de George Washington e a presidência de Bill Clinton.
Obviamente, no centro dos nossos problemas económicos está a Reserva Federal. É uma máquina perpétua, destruiu quase completamente o valor do dólar e tem um registo terrível de incompetência. Se o sistema da Reserva Federal nunca tivesse sido criado, a economia norte-americana estaria em melhor forma. O governo tem de acabar com a Reserva Federal e emitir moeda não baseada em dívida. Seria um passo importante para restaurar a prosperidade dos EUA.
Durante 2011 fizemos muitos progressos ao educar o povo americano sobre os nossos problemas económicos, mais ainda há muito para fazer.
Espero que no próximo ano, mais cidadãos acordarão porque 2012 vai ser um ponto de viragem para este país.

 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A greve das PM e o golpe de 1964

AS GREVES DAS PM E O MOVIMENTO DOS MARINHEIROS EM 1964


O TUCANO PRISCO E A DESMORALIZAÇÃO DA GREVE DA PM BAIANA

[OBS deste blog ‘democracia&política’:

Segundo o ‘Blog do Miro’ e o ‘Jornal Nacional’ de quinta-feira (9), o presidente da Associação de Policiais e Bombeiros [militares] da Bahia (ASPRA), Marcos Prisco, foi expulso da corporação em 2002 e é filiado ao PSDB. Foi derrotado nas últimas eleições para deputado. Ele já manifestou intenção de disputar pelo partido as eleições municipais deste ano.

Políticos de outros partidos, por interesses pessoais eleitoreiros, por ignorância ou ingenuidade, também incentivam essas inconstitucionais rebeliões militares. Por exemplo, a deputada estadual do PSOL, Janira Rocha, foi flagrada, em gravações telefônicas, tramando para que não fosse concordado o fim da greve da Polícia Militar (PM) na Bahia e para que houvesse deflagração do movimento no Rio de Janeiro e o seu espraiamento pelas polícias militares dos demais estados.


A conspiradora confessa Janira Rocha
Contudo, esses fatos ainda não permitem assegurar de que tenha havido, por interesses político-partidários, insuflamento do motim na Bahia e em outros Estados.

A Constituição é clara ao proibir greve e sindicalização aos militares. Tergiversações existem, dizendo que as polícias militares não são militares. Que o bombeiro é militar, mas o policial militar não é; por isso tem o direito de fazer greve. Muito filosófico.

O passado brasileiro permite algumas elucubrações preocupantes. Tenho medo de que algumas cobras venenosas já estejam próximas, quietas, torcendo para que a presa caia na sua armadilha e prontas para o bote.

Primeiro, existe a conhecida estratégia golpista da direita de quanto pior agora melhor para facilitar a sua volta ao poder. Tem sido frequentemente tentada nos últimos nove anos.

Segundo, e mais grave, há 47 anos ocorreu fato com algumas semelhanças com esses movimentos das PMs. Foi um também motim de militares, de marinheiros da Marinha do Brasil, ocorrido em 25 de março de 1964. Fizeram uma assembléia, com mais de dois mil marinheiros de baixa patente (marinheiros e taifeiros) no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos no Rio de Janeiro. Os marinheiros exigiam melhores condições para os militares e apoio às reformas políticas de base propostas pelo presidente João Goulart. A assembléia foi chefiada por José Anselmo dos Santos, mais conhecido como Cabo Anselmo. Foi essa assembleia o pretexto que a direita esperava para justificar o bote seis dias depois, em 31 de março de 1964. O golpe permitiu que ela ficasse absoluta no poder por 20 anos. Preocupo-me.

Vejamos a seguir, sobre as atuais greves, o texto de Wálter Fanganiello Maierovitch]:

GREVE BAIANA: TERRORISMO PREGADO POR LÍDER DESMORALIZOU MOVIMENTO

“Marco Prisco, líder da greve dos policiais militares da Bahia, ficou desmoralizado quando apanhado —por gravações telefônicas interceptadas com autorização judicial — transmitindo ordens voltadas à pratica de atos de matriz terrorista e atuação em causa própria ao buscar, em eventual acordo, a anistia e o recolhimento dos mandados de prisão expedidos pela Justiça.

Sua rendição com prisão negociada, por evidente, enfraqueceu o movimento grevista, que afronta a Constituição da República. A Constituição garante a greve, mas o princípio não é absoluto. Os integrantes das Forças Armadas e das polícias militares, pela norma constitucional, não podem fazer greve. Prevaleceu aí o direito do cidadão à tranquilidade social.

Com a prisão de Prisco e a desocupação do quartel-general que armou ilegalmente no prédio da Assembleia Legislativa da Bahia, a tendência é de aceitação da proposta remuneratória feita pelo governo da Bahia, deixando a anistia para um segundo momento. A propósito, a anistia foi conseguida por participantes da recente parede dos bombeiros, no Rio de Janeiro.

Já o risco de a greve “pipocar” para outras unidades federativas é bem menor, pois a solidariedade seria vista pela população como apoio ao terrorismo incitado por Prisco, que deveria ser expulso imediatamente do PSDB, partido do qual é militante.”

FONTE: escrito por Wálter Fanganiello Maierovitch e transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/prisco-e-a-desmoralizacao-da-greve-da-pm-baiana#more). [título, imagens do Google e introdução entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Concessão não é privatização

Concessão não é privatização


Tucanos usaram a tribuna do Senado nesta terça-feira para atacar o PT e afirmar que o partido "enterrou" uma de suas maiores bandeiras: a luta contra a privatização.(Na Folha)

Álvaro Dias (PSDB- PR), disse :"O PT acabou. Com as suas bandeiras foi sepultado."É a confissão de incapacidade administrativa do governo de realizar obras ...".Pelo visto,o senador pensa o mesmo de FHC, que privatizou o país...

E a mídia não faz a mínima questão de diferenciar “privatização” de “concessão”, não é mesmo? O governo Dilma está ganhando  para EMPRESTAR os aeroportos, enquanto a gestão FHC/PSDB não ganhou nada para VENDER estatais de expressão como a Vale.

Não adianta tapar o sol com a peneira: A presidente Dilma Roussef deu um baile no processo de concessão de uso de aeroportos. Foi uma vitória e tanto, e justamente num campo em que boa parte do tucanato se considera imbatível, a “qualidade gerencial”.

Privatização x Concessão

Vamos e venhamos, levar a discussão para esse lado é tudo que resta aos detratores sistemáticos do Governo Dilma. Ficam naquela de “Ahá! Privatizou!” e a discussão, que é 100% técnica, se torna ideológica. Ridículo.

Claro que concessão não é privatização.

Conceder não é “vender” uma propriedade estatal, mas sim permitir que uma empresa privada explore determinado patrimônio, com obrigação de efetuar melhorias, sendo que o Estado continua titular do bem. Simples assim.Ok Álvaro Dias?


Vamos destrichar o caso?

Vamos dar um exemplo: O aeroporto de Congonhas é do governo do estado de São Paulo. Adquirido pelo governo do Estado  em 1936. É operado pela INFRAERO, mas NÃO é aeroporto  federal. E NÃO foi vendido!

O que é uma concessão?

Concessão é a delegação sob contrato, à iniciativa privada, da administração de um serviço prestado tradicionalmente pelo Poder Público, por um determinado período e sob condições por ele controladas, incluindo qualidade do serviço e tarifas.

O que é privatização? Privatizar é tornar privado, transferir do estado para o particular
José Serra (PSDB) e Elena Landau  vendendo a Vale. Isso é Privatizar Como se sabe, a Vale do Rio Doce foi vendida por US$3,2 bilhões. Esse valor corresponde ao lucro da empresa em apenas um semestre. Atualmente, seu valor no mercado é de US$196 bilhões, ou seja, entregaram de graça um patrimônio público.Quem fez isso não pode ser a favor do Brasil.

Privatização é o processo de venda de uma empresa ou instituição do setor público - que integra o patrimônio do Estado - para o setor privado, geralmente por meio de leilões públicos.Um exemplo: No Brasil, na década de 1990, durante o governo do ex presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB),  várias empresas estatais foram privatizadas, vendidas, doadas,  como por exemplo: Telesp, Companhia Vale do Rio Doce, Banespa entre outras.
Na foto acima, José Serra comemora a venda da Light. Isso é privatizar
Na foto acima, José Serra aparece batendo o martelo durante a venda da companhia de eletricidade, a Escelsa, em 1995. Isso é Privatizar


Qual a diferença entre privatização e concessão?

Na privatização o Poder Público vende o controle sobre as ações da empresa privada, já na concessão nada é vendido, o planejamento e a regulação continuam por conta do Poder Público.

Definição na Wikipédia

"Concessão pública é o contrato entre a Administração Pública e uma empresa particular, pelo qual o governo transfere ao segundo a execução de um serviço público, para que este o exerça em seu próprio nome e por sua conta e risco, mediante tarifa paga pelo usuário, em regime de monopólio ou não

A Concessão pública difere-se da permissão porque esta consiste em ato unilateral, precário e discricionário do Poder Público. De acordo com o artigo 175, da Constituição Federal, "incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos"

Resultados

Claro que precisamos aguardar alguns anos para saber se, na prática, esse modelo dará certo ou errado. Em termos técnicos, deu certíssimo. O procedimento licitatório foi um sucesso e teoricamente a expectativa é otimista.

Além disso, caso haja algum tipo de contratempo, é preciso ver se a ‘culpa’ é do modelo de leilão/contrato ou se houve algum problema circunstancial - que independe da forma como foi realizada a licitação.

Por ora, cabe dar os parabéns à presidente Dilma Roussef, que demonstrou um “talento gerencial” que vai muito além daquele arrotado pelos tucanos de plantão.

Privatização ou concessão ?

Privatização e concessão

Por esquiber
Da CartaCapital

Aeroportos leiloados 

A volta das privatizações?

Por Clara Roman

(como sempre, temos duas versões: a do PIG, dizendo que venceu o debate, que agora o PT privatizou e o PSDB venceu o debate sobre privatizações.....)
A impressão dos jornais, colunas e especialistas depois dos leilões que concederam três dos maiores aeroportos brasileiros à iniciativa privada é de que, depois de anos de oposição ferrenha ao processo de desestatização nos governo Collor e Fernando Henrique Cardoso, o PT cedeu e iniciou uma nova era das privatizações. No Twitter, Elena Landau, presidente do BNDES no governo FHC comemorou a “vitória”: “Hoje é dia muito importante: o debate sobre privatizações se encerrou… e nós ganhamos”. Pouco depois, satirizou a presidenta: “Hoje me aposento e passo o bastão: Dilma é a nova musa das privatizações”.

“O PT privatizou”, “A privatização está de volta” “O PT mudou”. Esse era o tom geral das manchetes e artigos nos jornais da terça-feira. Os sindicalistas do PSDB fizeram questão de aplaudir Dilma.
“A privatização promovida pelo governo Dilma demonstra, na opinião do Núcleo Sindical do PSDB-SP, que houve amadurecimento na mentalidade estatizante que o partido da presidente pregava nos anos 90″, declararam em nota.

No leilão na bolsa de valores de São Paulo, na segunda-feira 6, o aeroporto de Guarulhos foi adquirido pelo consórcio da Invepar (formada pelas empresas de fundo de pensão Previ, Funcef e Petros), a construtora OAS e a operadora estatal sul-africana ACSA, com lance de 16,21 bilhões e ágio de 373,5%.
O aeroporto Juscelino Kubitschek em Brasília, principal centro de distribuição de voos no Brasil, foi concedido ao consórcio Inframerica, das empresas Infravix e a argentina Corporación America, com lance de 4,5 bilhões e ágio surpreendente de 673%. Viracopos, de Campinas, ficou com a Triunfo e a francesa Égis, que administra 11 aeroportos em países africanos.

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(a outra versão, bem diferente do PIG, feita por um professor da USP)

A comparação foi feita com as privatizações da década de 1990 parte do Plano Nacional de Desestatização. Na época, empresas como Usiminas, Vale do Rio Doce, Eletropaulo, Banespa, Embratel e Telebras foram vendidas ao capital privado. No entanto, como explica Gilson de Lima Garafalo, professor dos cursos de economia da Universidade de São Paulo (USP) e da PUC-SP, os dois processos são muito diferentes.
Agora, a transferência foi feita por meio de concessões – a empresa não é vendida, mas “emprestada” por um período de tempo. O governo repassa aos compradores a administração dos aeroportos para esses consórcios, mas continua “dono” do negócio e, portanto, com maior possibilidade de fiscalização. O mesmo foi feito com rodovias, como a Fernão Dias, e rodoviárias, como Tietê e Jabaquara,em São Paulo. Além de reaver a empresa depois de um período, o modelo de Dilma Rousseff blindou possíveis demissões em massa ao manter a Infraero com 49% desses aeroportos e estipular investimentos obrigatórios.
Na privatização, o novo dono racionaliza todo processo produtivo, o que vai passar pela demissão de pessoas. O PT, dentro de seu corporativismo, não queria quadro de demissões”, diz ele.
Da maneira que foi feita, com uma série de empreendimentos previstos, o mais provável é que o corpo de funcionários tenha de ser ampliado. Até a Copa do Mundo de 2014, são estimados 2,9 billhões de reais em investimentos nos três aeroportos. Além disso, a Infraero fica como um braço da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão do governo responsável por fiscalizar esse segmento.

O governo [FHC] precisava de dinheiro para resolver o déficit de caixa e não tinha condições de acompanhar avanços tecnológicos que aconteciam”, explica Garafalo, sobre a necessidade das privatizações no mandato de Fernando Henrique.
“Mas foi vendida a totalidade das empresas estatais e não resolveu problemas de caixa, por conta da má-administração dos recursos”, diz. Segundo ele, o dinheiro da privatização foi usado em despesas correntes, sem reduzir o déficit público e nem aumentar investimentos públicos.
A ideia dessas concessões é de que, até a Copa de 2014, os aeroportos ganhem investimentos em infraestrutura e operem com capacidade para receber o contingente de turistas que virão ao país nos megaeventos dessa década. A concessão seria interessante para desburocratizar e, portanto, acelerar o processo, uma vez que dispensaria o processo de licitações e concorrência para a contratação, além de outros entraves da administração pública. “O Brasil não podia mais perder tempo: a Copa do Mundo está aí”, afirma o especialista.
Para ele, a concessão da segunda-feira 6 foi feita de forma inteligente, resultado de um aperfeiçoamento desse sistema nos últimos anos.

Ficou dentro da casa
Assim como na época de FHC, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) será o principal financiador dessas empresas. A instituição deve financiar cerca de 60% das obras civis e 80% da aquisição de equipamentos. Na época de FHC, o banco chegou a fazer aportes de 100% da compra, como no caso da Eletropaulo.
Além dos 49% da Infraero, a concessão do aeroporto de Guarulhos ficou “dentro de casa”, segundo Garofalo, ao ser comprada por consórcio com a empresa Invepar, que inclui os fundos de pensão estatais Previ, Funcep e  Petros. “Foi placa branca, no caso de Guarulhos”, diz.