terça-feira, 27 de agosto de 2013

Guia para entender a vinda de médicos estrangeiros

Hipocrisia não faz bem à Saúde Guia para entender a vinda de médicos estrangeiros

2 de julho de 2013 | 11:48
É absolutamente compreensível que haja resistência da corporação médica à contratação de médicos estrangeiros pelo Governo brasileiro. Não há uma categoria, de qualquer espécie, no mundo, que não defenda o seu “mercado” de trabalho.
É compreensível, também, que a classe média e os mais ricos, que podem escolher seus médicos nos grossos caderninhos ou nos CDs dos planos de saúde achem que há médico sobrando. Nos grandes centros, para quem pode pagar, há, sim.
O que não é compreensível é que, para manter o status quo, a gente permita que milhões de brasileiros tenham menos médicos que os países mais atrasados do mundo, e isso não é retórica.
Ninguém pode perder de vista é que saúde é, constitucionalmente, direito de todos. Ricos ou pobres, morando ou não em metrópoles.
O site do  médico Drauzio Varela publica uma reportagem que é extremamente esclarecedora sobre o assunto. E dá informações que estão ausentes da mídia, que prefere destacar até supostas dificuldades de comunicação de médicos que falem espanhol ou português de Portugal com eventuais pacientes aqui. Seria de rir, se não se tratasse do cuidado com a saúde, muitas vezes emergencial, de pessoas como eu ou você.

Vamos aos argumentos sérios, porque o assunto é sério.
Consigo naquele site o número de médicos de acordo com o porte de cada município. Nos 5282 municípios (ou quase 95% dos municípios brasileiros)  com menos de 50 mil habitantes, onde vivem, segundo o censo do IBGE, 63 milhões de pessoas, exatamente 29.519 médicos.
Ou seja, apenas 7,8% dos médicos são responsáveis pelo atendimento de um terço dos brasileiros.
O que dá um médico para 2.136 pessoas, em média, ou, para usar o índice da Organização Mundial da Saúde, 4,7 médicos para 10 mil habitantes.

Vamos ver como é o “padrão Fifa”?
São 48 médicos na Áustria a cada 10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça, 37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.
Nas grandes cidades estamos bem acima disso, com taxas da ordem de 45 ou 50 médicos por dez mil habitantes.
Mas o  nosso padrão, nos municípios menores – e nem tão menores, têm até 50 mil habitantes! –  é o de Botswana, Suriname, Vietnam…
Argumentar que a média nacional está acima dos padrões mínimos da OMS é uma hipocrisia, porque ninguém é atendido por um “doutor média”, mas por um profissional de carne e osso.

Gente como o Dr. Sérgio Perini, único médico de Santa Maria das Barreiras, no interior do Pará, com seus 18 mil habitantes, um rico exemplo trazido por Dráuzio Varela.
Perini é graduado pelo ISCM-VC (Instituto Superior de Ciências Médicas de Villa Clara), em Cuba, com o qual a Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu-SP mantém convênio desde 2002. Trocou sua cidade de São Simão, em Goiás, que tinha cerca de 15 médicos para seus 17 mil habitantes, para viver com a família no interior do Pará, mesmo por um salário menor. “Quando escuto o CFM falando que os médicos estrangeiros podem não ter formação suficiente, fico indignado. Me dá a impressão de que eles não fazem ideia do que aprendemos por lá”.
Ah, mas os e os médicos iriam para estas comunidades se houvesse incentivo e se houvesse lá um mínimo de condições de atendimento.
Santa Maria das Barreiras tem uma Unidade Mista de Atendimento (local para atendimento básico com pequeno centro cirúrgico). Mas como não tem médicos, além do Dr. Perini, ele tem de atender entre 40 e 50 pessoas por dia.

Mas porque não contratam médicos brasileiros?
Diz lá o site do Dráuzio Varela:
“O governo federal criou em 2011 o Provab (Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica), uma iniciativa para levar médicos recém-formados a regiões carentes oferecendo uma bolsa de R$8 mil. O incentivo, porém, não foi suficiente. O último levantamento, feito com base nos dados de 2012, mostrou que 2.856 prefeituras solicitaram 13 mil médicos. Menos da metade, 1.291, foi atendida por pelo menos um profissional, já que apenas 4.392 médicos se inscreveram e 3.800 assinaram contrato. O número equivale a 29% das vagas abertas.”

A verdade é que o custo de um curso de medicina no Brasil é algo tão proibitivo que representa, na prática, um “investimento” pelo qual se espera ser muito bem remunerado.
Passar para o curso de medicina, numa universidade pública, é para poucos, a maioria – dos fora das cotas – vindos do melhor ensino privado.
Nas faculdades particulares, as mensalidades variam entre R$ 2,3 mil e R$ 6,8 mil. Em Manaus e São Luiz, cidades grandes pobres, pode custar R$ 6 mil estudar medicina, confira.
Quem pode pagar isso por seis anos, sem trabalhar?
E mais os dois anos de residência, se desejar ser um especialista?
Quem investiu, entre mensalidades, transporte, livros e tempo, quase meio milhão de reais quer ir tratar de pobre? Há exceções, claro, vocações generosas.
Dos 13 mil médicos que o Brasil forma anualmente, quantos estão dispostos a ir para esses lugares tão mal atendidos?
Será que supera o número dos filhos e filhas de médicos que vão seguir a tradição – e a clientela – dos pais? Não é ilegítimo, repito, mas é uma realidade visível a quem – como eu, infelizmente – é assíduo frequentador de consultórios médicos.

Se há médicos disposto a vir ocupar vagas que os médicos brasileiros não querem, qual é o erro?
Ah, mas são médicos sem qualidade, porque dos formados no exterior só 12% passaram no “Revalida”, prova de suficiência a que são obrigatoriamente submetidos.
Alguém pode dizer qual o grau de dificuldade destas provas? Alguém pode jurar que ele é adequado e não apenas restritivo?

Ou terá padrão “Dr. Zerbini”?
Precisamos de um “Dr. Zerbini” lá em Catitolé da Grota Funda ou de um médico que esteja lá,  que cure precocemente o que é corriqueiro (mas que pode virar grave) e encaminhe os casos mais complexos a unidades de referência?
Tomo o depoimento do médico brasileiro Pedro Saraiva, que é nefrologista e trabalha em Portugal. Lá, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados (73,3%). Aqui, 11%.

E os brasileiros? Em São Paulo, o Conselho Regional de Medicina faz um exame de suficiência profissional para os formandos em Medicina. Opcional, onde só 15% dos jovens médicos se inscrevem, e claro que os que sabem que estão mal de conhecimentos nem participam. Mesmo assim, quase a metade (46,7%) ficou reprovada.

Agora, o exame será obrigatório. Mas apenas fazer o exame. Mesmo que tire zero, o médico formado aqui terá seu registro e todo o direito de exercer a profissão.
Mas aí pode, não é?

Sem hipocrisia, por favor, doutores.
Porque se trata da saúde de milhões de Brasileiros.
Que precisam de saúde, que não se faz sem médico.
E sem médicos como o Dr. Perini, lá de Santa Maria das Barreiras, no interior do Pará.
Ele diz muito bem:
“Como médico, posso afirmar que a vinda de profissionais estrangeiros pode ‘ameaçar’ meu cargo, mas presenciando o dia a dia das pessoas que vivem em Santa Maria das Barreiras e não têm ninguém além de mim para socorrê-las, é um deslize se posicionar contra a vinda desses médicos. Erro é não ter ninguém para atender essa população”.
Diagnóstico preciso, Dr. Perini.

Por: Fernando Brito

domingo, 25 de agosto de 2013

Porque os médicos cubanos incomodam

Porque os médicos cubanos incomodam

Foto: Valter Campanato/ABr
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

O debate sobre a chegada de médicos cubanos é vergonhoso.

Do ponto de vista da saúde pública, temos um quadro conhecido. Faltam médicos em milhares de cidades brasileiras, nenhum doutor formado no país tem interesse em trabalhar nesses lugares pobres, distantes, sem charme algum – nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.
Respeitando o direito individual de cada pessoa resolver seu destino, o governo Dilma decidiu procurar médicos estrangeiros. Não poderia haver atitude mais democrática, com respeito às decisões de cada cidadão.

O Ministério da Saúde conseguiu atrair médicos de Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai. Mas continua pouco. Então, o governo resolveu fazer o que já havia anunciado: trazer médicos de Cuba.

Como era de prever, a reação já começou.

E como eu sempre disse neste espaço, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. É uma turma que se formou nesta escola, transmitiu a herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora tenham grande intimidade com Londres e Nova York.

Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro.

Foi em nome desse anticomunismo que o país enfrentou 21 anos de treva da ditadura. E é em nome dele, mais uma vez, que se procura boicotar a chegada dos médicos cubanos com o argumento de que o Brasil estará ajudando a sobrevivência do regime de Fidel Castro. Os jornais, no pré-64, eram boicotados pelas grandes agencias de publicidade norte-americanas caso recusassem a pressão americana favorável à expulsão de Cuba da OEA. Juarez Bahia, que dirigiu o Correio da Manhã, já contou isso.

Vamos combinar uma coisa. Se for para reduzir economia à política, cabe perguntar a quem adora mercadorias baratas da China Comunista: qual o efeito de ampliar o comércio entre os dois países? Por algum critério – político, geopolítico, estético, patético – qual país e qual regime podem criar problemas para o Brasil, no médio, curto ou longo prazo?

Sejamos sérios. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel. Já escrevi sobre suas falhas e imperfeições. Mas sei reconhecer que sua vitória marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina.

Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos.

Como alguém já lembrou: se for para falar em causas humanitárias para proibir a entrada de médicos cubanos, por que aceitar milhares de bolivianos que hoje tocam pedaços inteiros da mais chique indústria de confecção do país?

Denunciar o governo cubano de terceirizar seus médicos é apenas ridículo, num momento em que uma parcela do empresariado brasileiro quer uma carona na CLT e liberar a terceirização em todos os ramos da economia. Neste aspecto, temos a farsa dentro da farsa. Quem é radicalmente a favor da terceirização dos assalariados brasileiros quer impedir a chegada, em massa, de terceirizados cubanos. Dizem que são escravos e, é claro, vamos ver como são os trabalhadores nas fazendas de seus amigos.

Falar em democracia é um truque velho demais. Não custa lembrar que se fez isso em 64, com apoio dos mesmos jornais que 49 anos depois condenam a chegada dos cubanos, erguendo o argumento absurdo de que eles virão fazer doutrinação revolucionária por aqui. Será que esse povo não lê jornais?

Fidel Castro ainda tinha barbas escuras quando parou de falar em revolução. E seu irmão está fazendo reformas que seriam pura heresia há cinco anos.

O problema, nós sabemos, não é este. É material e mental.

Nossos conservadores não acharam um novo marqueteiro para arrumar seu discurso para os dias de hoje. São contra os médicos cubanos, mas oferecem o que? Médicos do Sírio Libanês, do Einstein, do Santa Catarina?

Não. Oferecem a morte sem necessidade, as pragas bíblicas. Por isso não têm propostas alternativas nem sugestões que possam ser discutidas. Nem se preocupam. Ficam irresponsavelmente mudos. É criminoso. Querem deixar tudo como está. Seus médicos seguem ganhando o que podem e cada vez mais. Está bem. Mas por que impedir quem não querem receber nem atender?

Sem alternativa, os pobres e muito pobres serão empurrados para grandes arapucas de saúde. Jamais serão atendidos, nem examinados. Mas deixarão seu pouco e suado dinheiro nos cofres de tratantes sem escrúpulos.

Em seu mundo ideal, tudo permanece igual ao que era antes. Mas não. Vivemos tempos em que os mais pobres e menos protegidos não aceitam sua condição como uma condenação eterna, com a qual devem se conformar em silêncio. Lutam, brigam, participam. E conseguem vitórias, como todas as estatísticas de todos os pesquisadores reconhecem. Os médicos, apenas, não são a maravilha curativa. Mas representam um passo, uma chance para quem não tem nenhuma. Por isso são tão importantes para quem não tem o número daquele doutor com formação internacional no celular.

O problema real é que a turma de cima não suporta qualquer melhoria que os debaixo possam conquistar. Receberam o Bolsa Família como se fosse um programa de corrupção dos mais humildes. Anunciaram que as leis trabalhistas eram um entrave ao crescimento econômico e tiveram de engolir a maior recuperação da carteira de trabalho de nossa história. Não precisamos de outros exemplos.

Em 2013, estão recebendo um primeiro projeto de melhoria na saúde pública em anos com a mesma raiva, o mesmo egoísmo.

Temem que o Brasil esteja mudando, para se tornar um país capaz de deixar o atraso maior, insuportável, para trás. O risco é mesmo este: a poeira da história, aquele avanço que, lento, incompleto, com progressos e recuos, deixa o pior cada vez mais distante.

É por essa razão, só por essa, que se tenta impedir a chegada dos médicos cubanos e se tentará impedir qualquer melhoria numa área em que a vida e a morte se encontram o tempo inteiro.

Essa presença será boa para o povo. Como já foi útil em outros momentos do Brasil, quando médicos cubanos foram trazidos com autorização de José Serra, ministro da Saúde do governo de FHC, e ninguém falou que eles iriam preparar uma guerrilha comunista. Graças aos médicos cubanos, a saúde pública da Venezuela tornou-se uma das melhores do continente, informa a Organização Mundial de Saúde. Também foram úteis em Cuba.

Os inimigos dessas iniciativas temem qualquer progresso. Sabem que os médicos cubanos irão para o lugar onde a morte não encontra obstáculo, onde a doença leva quem poderia ser salvo com uma aspirina, um cobertor, um copo de água com açúcar. Por isso incomodam tanto. Só oferecem ameaça a quem nada tem a oferecer aos brasileiros além de seu egoísmo.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O radicalismo idealista da extrema esquerda

O voluntarismo como substituto da luta de classes

Enviado por luisnassif, sex, 23/08/2013 -
Por Diogo Costa
 
O 'PREDOMÍNIO DA VONTADE', OU, O IDEALISMO COMO SUBSTITUTO DA LUTA DE CLASSES - Há uma linha de raciocínio presente em alguns setores da esquerda que é simplesmente idealista, até mesmo liberal. 
Qual seja, esse raciocínio de que falta "vontade política" ao governo federal ou a Dilma para implementar determinadas reformas. Defendem alegremente o 'predomínio da vontade' como mola propulsora das transformações sociais! 
Esse pensamento liberal idealista despreza e descarta a análise concreta, real e objetiva sobre correlação de forças, hegemonia e conjuntura, por exemplo, e troca essa análise pelo 'predomínio da vontade'... 
Certamente o mundo não é comunista hoje porque faltou 'vontade política' para os mais variados e destacados dirigentes comunistas que existiram na face da Terra nos últimos cento e cinquenta anos! 
Ou talvez tenha faltado 'vontade política' para Jango, quando o mesmo quis implementar as Reformas de Base, interrompidas pelo golpe de 64... Quem sabe o PSTU ou o PCB ainda não tenham feito a revolução social no Brasil por falta de 'vontade política'!  

Enfim, esse raciocínio pueril dos liberais idealistas, travestidos de socialistas, é dose para mastodonte! 
É uma tese muito bonita, tão bonita quanto inútil, pois parte da premissa de que a esquerda joga sozinha, contra nenhuns adversários. 
Parte da premissa de que a direita não existe, de que os conservadores são apenas obra da imaginação coletiva de paranoicos ou uma peça de ficção científica. 
No reino encantado do 'predomínio da vontade', bastaria utilizar a 'vontade política' para empreender reformas estruturais ou até mesmo para empreender um processo revolucionário. 
Ou seja, é um mundo onde ninguém se opõe a nada. É um raciocínio que despreza o materialismo histórico e a dialética e os substitui pela boa vontade dos revolucionários homens e mulheres de esquerda! 

O pior é que esse tipo de análise, incrivelmente rasa, pode ser aplicada por qualquer pessoa ou grupo político, sem distinção de cores ideológicas. 
Militantes de direita, de esquerda, anarquistas, trabalhistas, comunistas, socialistas, social-democratas, monarquistas, republicanos, positivistas, conservadores, liberais, liberal-democratas, enfim, todos podem desfiar seus rosários de reclames e queixumes sobre a falta de 'vontade política' de seus dirigentes! 
Afinal de contas, no reino encantado onde o 'predomínio da vontade' é o elixir miraculoso que move a humanidade, é lícito afirmar que não são as relações concretas e materiais de uma determinada época que moldam as lutas entre as distintas classes sociais, mas sim os homens dotados de férrea vontade... 
Munidos, obviamente, de uma varinha mágica de condão e sem encontrar oposições nenhumas, advindas de outros homens, também dotados de férreas vontades. 
No reino encantado dos liberais idealistas, a direita inexiste, e o mundo ainda é capitalista por 'falta de vontade', não porque a disputa política real se dá no choque das ideias, mas, principalmente, no choque (muitas vezes violento) entre classes sociais distintas e com interesses antagônicos e irreconciliáveis!

A propósito dessa fictícia tese do 'predomínio da vontade', cumpre trazer à baila um trecho dos escritos de Karl Marx, presente no livro Contribuição À Crítica Da Economia Política, de 1859:
"...O resultado geral que se me ofereceu e, uma vez ganho, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado assim, sucintamente: na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. 
A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. 
Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. 
De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superstrutura. 
Na consideração de tais revolucionamentos tem de se distinguir sempre entre o revolucionamento material nas condições econômicas da produção, o qual é constatável rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens ganham consciência deste conflito e o resolvem. 
Do mesmo modo que não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tampouco se pode julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência, mas se tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, do conflito existente entre forças produtivas e relações de produção sociais."

Após a citação a Karl Marx, finalizo. É justamente por causa de um tipo de análise idealista e romântica que alguns setores de esquerda se isolam em seus próprios guetos, fazendo do sectarismo e do principismo os seus dogmas infalíveis. Haja esforço para espremer a realidade concreta e objetiva dos fatos e fazê-la caber em íntimos sonhos, desejos ou devaneios!
É a vanguarda do espelho, que só convence a si mesma em frente ao próprio espelho mágico, trazido d'algum aprazível, ideal e liberal reino encantado.

domingo, 18 de agosto de 2013

A CIA e a propaganda anti-comunista

A CIA e a guerra fria cultural




Capa da edição de 2013. Esta semana chegou-me às mãos um livro muito importante: A CIA e a guerra fria cultural. [1] 

por Miguel Urbano Rodrigues
Desconhecido em Portugal, gostaria que fosse editado no nosso país para ser lido por milhares de pessoas desinformadas por um sistema mediático perverso que apresenta uma imagem deformada do sistema de poder dos Estados Unidos.
O título é enganador. Ao iniciar a leitura estava persuadido de que se tratava de mais uma obra de divulgação de ações criminosas da CIA. Daí a surpresa.
O livro de Frances Stonor Saunders é muito mais ambicioso. A autora, jornalista e historiadora britânica, dedicou cinco anos à investigação de um tema muito mal conhecido: as atividades encobertas desenvolvidas pela CIA no mundo da cultura para promover o descrédito do comunismo e mobilizar contra a União Soviética grande parte da intelligentsia progressista ocidental.
Em 1945, o prestígio da URSS nos EUA era enorme. A maioria do seu povo sentia uma grande simpatia, sobretudo apos a batalha de Stalinegrado, pelo país que desempenhara um papel decisivo na derrota do Reich nazi.
Essa realidade era muito incómoda para a elite do poder estado-unidense. A Doutrina Truman e o Plano Marshall demonstraram ser manifestamente insuficientes para alterar a atitude da classe média estadunidense perante a União Soviética.
Os cérebros ligados ao poder em Washington concluíram pela necessidade urgente de convencer o homem comum norte-americano de que o aliado na guerra durante quatro anos, de 1941 a 1945, era, afinal, um perigoso inimigo.
A elite que se propunha a reorganizar o mundo sob a égide dos EUA em torno dos seus "valores" estava consciente de que esse objetivo somente poderia ser atingido se o Ocidente capitalista fosse empurrado para a conclusão de que o comunismo, "obscurantista, desumano, agressivo", era a grande ameaça para a humanidade, pelo que se tornava imprescindível combatê-lo.
A Oficina de Serviços Estratégicos-OSS, que funcionou durante a guerra como uma Gestapo americana, foi de certa maneira uma predecessora da CIA. O seu chefe, o general William Donovan, reuniu à sua volta destacadas figuras da aristocracia do capital como os filhos do banqueiro JP Morgan, os Vanderbilt, os Dupont, e intelectuais como George Kenan e Charles Bohlen.
Uma das primeiras iniciativas da OSS foi o recrutamento de militares e civis nazis. Dezenas de altas personalidades alemãs passaram de criminosos de guerra a aliados de confiança. Um caso expressivo:o general das SS Reinhardt Behlen, chefe dos serviços secretos nazis que, em vez de ser preso e julgado, recebeu o tratamento de colaborador privilegiado da OSS.
No seu livro, Frances Saunders dedica os primeiros capítulos às campanhas desenvolvidas por Donovan, com o apoio de Truman, para demonstrar aos europeus que os EUA eram uma sociedade onde a cultura ocidental lançara raízes profundas, contrapondo essa imagem à "barbárie soviética". O Bem contra o Mal.
A literatura, a música, a pintura, a arquitectura, o ballet dos EUA foram amplamente divulgados na Alemanha, na França, na Itália e noutros países. Simultaneamente, antecipando-se a eventuais acusações de patrioteirismo, obras de Aristófanes, Goethe, Schiller, Thomas Mann, Ibsen, Strindberg, Shaw, Gorki, Gogol eram difundidas numa prova inequívoca do amor dos EUA pela cultura universal.
Essa ofensiva cultural não produziu, porem, os resultados previstos.
Coube à CIA a tarefa de levar adiante no contexto da Guerra Fria um projeto muito mais complexo e ambicioso, também na frente da cultura.
Criada em 1947 pela Lei de Segurança Nacional, a Agencia Central de Inteligência-CIA assumiu as proporções de um polvo gigantesco. Inicialmente não estava autorizada a intervir em assuntos de outros países. Truman e os seus sucessores permitiram que ela desenvolvesse atividades de espionagem, e promovesse operações militares. Hoje possui linhas aéreas, emissoras de TV e rádio, jornais, companhias de seguros, imobiliárias, bancos.
Em l948 foi criado na Agencia um Escritório de Coordenação de Politicas – OPC com a missão específica de realizar "operações secretas" em múltiplas áreas.
Esse estranho departamento especial cresceu vertiginosamente. Em três anos o seu pessoal passou de 302 pessoas a 2812,alem de 3142 assalariados no estrangeiro. O orçamento elevou-se de 4,7 milhões de dólares para 82 milhões.
O ideólogo do sistema era então George Kennan, o ex embaixador em Moscovo, fanático anticomunista, arquitecto do Plano Marshall que desempenhou um grande papel na concepção e funcionamento da Guerra-Fria.
Foi um dos pais da CIA e consultor da OPC. Coube-lhe formular o conceito da "mentira necessária" como componente fundamental da diplomacia estado-unidense.
Uma das operações secretas mais difíceis foi a concebida para utilizar a esquerda não comunista em campanhas anticomunistas. Secreta porque os intelectuais envolvidos em campanhas contra a União Soviética deveriam ser manipulados habilidosamente. A OPC atuava nos bastidores, invisível. O governo americano, as embaixadas dos EUA, os grandes media norte- americanos abstinham-se inclusive de comentar elogiosamente as tomadas de posição antissoviéticas de escritores e artistas europeus, muitos dos quais eram ex-comunistas. Tudo se passava como se as conferencias, seminários, festivais manifestações e outros eventos em que participavam esses intelectuais fossem espontâneos, nascidos de iniciativas suas.
Mas a realidade era muito diferente. Oculta, era a CIA quem planeava a orquestração anticomunista, quem financiava generosamente (com o Departamento de Estado) essas campanhas.
Frances Saunders desce a minúcias ao descrever o esforço desenvolvido pela OPC através de intermediários respeitáveis para conseguir que grandes nomes da esquerda aderissem a iniciativas de cariz anti-soviético.
Nos EUA prestaram-se a esse papel escritores prestigiados como John Steinbeck, John dos Passos, Gertrude Stein, Schlesinger, W.H.Auden, Arthur Miller, e orquestras sinfónicas, museus, etc. Os intelectuais trotsquistas aderiram massivamente. Na Europa, foram envolvidos na teia anti-soviética: André Gide, Albert Camus, Elsa Triolet, Andre Malraux, Simone de Beauvoir, Raymond Aron, Georges Orwell, Aldous Huxley, Laurence Olivier, Jean Cocteau, Salvador de Madariaga, Claude Debussy, Denis de Rougemont, Milan Kundera, e muitos outros. E – chocante, mas real - Aragon, Sartre, Bertrand Russell.
A intervenção na Hungria das tropas do Tratado de Varsóvia, em 1956 criou na Europa uma atmosfera favorável à intensificação da Guerra Fria.
Entre os muitos livros cuja publicação foi promovida pela CIA, um deles, The God That Failed (O Deus Que Falhou) foi best-seller mundial. Traduzido em dezenas de línguas vendeu milhões de exemplares. Partiu da CIA a ideia de reunir seis ensaios (a maioria já publicados na revista alemã Der Monat controlada pela Agencia) de Arthur Koestler, Ignazio Silone, Andre Gide, Richard Wright, Stephen Spender, todos eles escritores famosos que haviam sido militantes ou simpatizantes comunistas.
"Além de ser uma espécie de confissão coletiva – escreve Frances Saunders – o livro era um ato de recusa, uma rejeição do estalinismo no momento em que para muitos essa atitude era ainda uma heresia. Foi um livro de importância transcendental no pós-guerra e aparecer nele foi um passaporte válido para o mundo oficial da cultura nos vinte anos seguintes".
Koestler, que adquirira enorme notoriedade com o seu romance O Zero e o Infinito, Milovan Djilas e George Orwell, autor do 1984, destacaram-se nessas iniciativas pela sua febre anticomunista.
O primeiro, que havia sido nos anos 30 um dedicado militante do Partido Comunista Alemão-DKP, colaborou intimamente com a CIA e foi conselheiro do Foreign Office em campanhas anti-soviéticas.
Comités e Associações constituídos para defender a Cultura, a Liberdade e a Democracia, mas cujo objetivo era a promoção de iniciativas anticomunistas, permitiram então à CIA (sempre atuando nos bastidores) exercer uma grande influência sobre uma parcela importante da "esquerda não comunista".
Para isso contou com a colaboração e a ajuda financeira de organizações como a Fundação Ford.
Das muitas revistas criadas para "promover a cultura", uma delas, a britânica Encounter, alcançou prestígio mundial. Dirigida por Stephen Spender, um poeta inglês, foi concebida para funcionar como um instrumento político anticomunista no mundo da cultura. E atingiu o objectivo. Durante anos colaboram nela eminentes figuras da intelligentsia mundial.
Nem o diretor, Spender, conhecia a origem do financiamento. Quando uma inconfidência revelou, nas vésperas da Assembleia do Congresso pela Liberdade da Cultura, a ponte entre Encounter a CIA e as elites financeiras dos EUA, o escândalo foi maiúsculo.
Em reuniões desse Congresso fantasmático, ideado pela CIA, participaram, aliás, durante anos grandes nomes da esquerda não comunista. Na prática foi uma tribuna anticomunista.
No seu belo livro, Frances Saunders dedica alguns capítulos a ações encobertas da CIA não comentadas neste artigo. Cita nomeadamente várias Fundações, Universidades, congressistas e governantes que apoiaram iniciativas criminosas da famosa Agencia. Um mar de lama tóxica.
E dedica especial atenção aos quadros – ideólogos e executantes – que idearam as campanhas anti-soviéticas, fazendo delas uma poderosa arma da Guerra Fria.
Cito alguns nomes dessa máfia política praticamente desconhecida em Portugal: Lasky, Josselson, Nabokov, Kristol, Hook, Wisner. 

Termino transcrevendo o último parágrafo do livro de Frances:
"Sob a (ainda não) estudada nostalgia dos "Dias dourados" da inteligência americana havia uma verdade muito mais demolidora:   as mesmas pessoas que liam Dante, estudaram em Yale e se educaram na virtude cívica, recrutaram nazis, manipularam o resultado de eleições democráticas, proporcionaram LSD a pessoas inocentes, abriram o correio de milhares de cidadãos americanos, derrubaram governos, apoiaram ditaduras, conceberam assassínios e organizaram o desastre da Baia dos Porcos.
Em nome de quê? perguntava um crítico: "Não da virtude cívica, mas do império". 

Vila Nova de Gaia, 9/Agosto/2013
[1] Frances Stonor Saunders, Who Paid the Piper? The CIA and the Cultural Cold War , Granta Books, United Kingdom, 1999. Em 2013, a Random House Mondadori lançou em Bogotá a edição colombiana, com 597 páginas:
www.megustaleer.com/ficha/C922362/la-cia-y-la-guerra-fria-cultural
O original encontra-se em www.odiario.info/?p=2980
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

PESQUISA: mídia representa seus próprios donos

População reconhece que mídia representa os donos e os que tem mais dinheiro

publicado em 17 de agosto de 2013 às 18:54





Pesquisa revela que 43% não se reconhece em programação de TV
sab, 17/08/2013 – 12:00
Por Cecília Figueiredo, da Fundação Perseu Abramo
A Internet vem ganhando a preferência da população como veículo para se informar sobre a cidade, o Brasil e o mundo. Apesar de empatar em 43% com os jornais impressos, em meio habitual de informação, na soma de portais, blogs e indicação de amigos nas redes sociais virtuais, a Internet ultrapassa o impresso. Estes são alguns dos indicadores da pesquisa “Democratização da mídia”, realizada pelo Núcleo de Estudos e Opinião Pública (Neop) da Fundação Perseu Abramo (FPA) e apresentada na última sexta-feira, 16, em São Paulo.
De acordo com o estudo, realizado entre 20 de abril e 6 de maio deste ano, que ouviu 2.400 pessoas acima dos 16 anos, que vivem em áreas urbanas e rurais de 120 municípios distribuídos nas cinco regiões do Brasil, 82% assistem diariamente a TV aberta, mas quase a metade (43%) disse não se reconhecer na programação difundida pelo veículo e 25% se veem retratados negativamente, contra 32% positivamente. “A TV tem maior uso da população, mas o rádio tem maior alcance em cidades mais distantes”, informou o coordenador da pesquisa, Gustavo Venturi, coordenador do Neop.

71% é a favor de regras para concessão pública
Venturi informou que sete em cada dez brasileiros/as não sabem que as emissoras de TV aberta são concessões públicas. “Para 60% são empresas de propriedade privada, como qualquer outro negócio”, acrescentou o sociólogo na apresentação. “Mesmo assim”, ele salientou que, “71% da população é favorável a que haja mais regras para se definir a programação veiculada”.
Ao ser aventada a hipótese de existir mais regras para a programação e publicidade na TV, a maioria dos entrevistados/as (46%) disse preferir o controle social de um “órgão ou conselho que represente a sociedade”, do que a auto-regulamentação (31%), como ocorre hoje, e quase 1/5 declarou ser favorável a um controle governamental (19%).
A maioria dos entrevistados afirmou também que a TV costuma dar mais espaço para os empresários (61%) que para os trabalhadores (18%), considera que o noticiário veiculado é quase só de São Paulo e Rio de Janeiro (44%), e acredita que oferece uma programação para crianças e adolescentes que é antes negativa (39%) que positiva (27%) para sua formação. “11% dos entrevistados discordam que a mídia é imparcial”, destacou o pesquisador. Enquanto 65% relativizaram a confiança na “parcialidade e neutralidade” das informações, somente 21,9% acreditam que a mídia exponha os fatos sem privilegiar um lado.
Quanto ao tratamento da televisão aos problemas do Brasil, a percepção da maioria (56,7%) é que é menor do deveria. Sobre a diversidade, 54% acham que a TV não mostra muito a variedade do povo e 22% observam uma invisibilidade. Não muito diferente está a percepção dos entrevistados sobre a realidade nos conteúdos veiculados pela TV: 51% acham que é mostrada apenas parte e 23% opinaram que não é mostrada.
A maioria dos entrevistados/as também considera que a TV retrata as mulheres às vezes (47%) ou quase sempre (17%) com desrespeito, assim como desrespeita os nordestinos às vezes (44%) ou quase sempre (19%), e ainda a população negra ( 49% e 17%, respectivamente) – sendo esta retratada menos do que deveria (52%).
Especificamente para a publicidade de bebidas alcoólicas, quase a totalidade (88%) apoia mudanças na legislação, seja seu banimento da TV (44%), seja sua restrição a “horários noturnos e de madrugada” (44%).
Base para o debate público
Joaquim Soriano, diretor da FPA, que coordenou o evento, ao lado de Gustavo Venturi, do departamento de Sociologia da USP, e Vilma Bokany, do Neop, foi parabenizado pelos participantes em nome da Fundação, pela iniciativa. “Esse estudo fortalece o trabalho do movimento em favor da regulação da mídia, abre caminho para novos estudos e sela um compromisso com todos e todas que lutam pelo direito à comunicação”, reiterou Rita Freire, da Ciranda da Comunicação e representante do Conselho Curador da EBC.
Na avaliação do jornalista da FPA, Daniel Castro, pesquisa aponta a necessidade de discutir o papel da mídia pública na sociedade.
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e professor de Jornalismo da ECA-USP, também atentou para a necessidade de ampliar a difusão do estudo. “Pela importância que tem, e obviamente essa pesquisa não será divulgada pela grande mídia, faremos um Ver TV na próxima semana”, anunciou Lalo, referindo-se ao programa transmitido pela TV Brasil. A ele também se somou Beá Tibiriçá, do Coletivo Digital, “me proponho a passar por um treinamento da Fundação e apresentar a pesquisa em outros estados”.
“Mesmo não tendo compreensão de que se trata de uma concessão pública, a população defende regras”, comentou o jornalista Altamiro Borges, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Impressionado com os dados da pesquisa, ele sugeriu que se defenda legislação informando à população que “TV é concessão pública”.
Na avaliação de Renata Mielle, coordenadora do Barão de Itararé e do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a pesquisa é “contribuição inestimável”. Possibilitará, avalia Miro Borges, sair do “achismo”. “Agora a gente começa a ter bases mais sólidas para o debate público”, complementa Pedro Ekman, do Intervozes.
No encerramento do evento, transmitido pelo portal “Conversa Afiada”, comandado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, e acompanhado por aproximadamente 500 internautas pela tevê FPA, em plena sexta-feira, à noite, o diretor da FPA, anunciou que a pesquisa “Democratização da Mídia” será lançada nas próximas semanas no Rio de Janeiro e Distrito Federal, além de outras regiões e locais onde seja requisitada.
Participaram também do debate, Iole Ilíada, vice-presidente da FPA, Joaquim Palhares, advogado, fundador da Agência Carta Maior e membro do Altercom, Pedro Ekman, da Coordenação Executiva do Intervozes (Coletivo Brasil de Comunicação Social), Rachel Moreno, da Rede Mulher e Mídia, Frentex e FNDC, Terezinha Vicente, da Articulação Mulher e Mídia, estudantes e pesquisadores.
PS: A Globo requisitou à assessoria da FPA o código para transmissão do evento, porém até 19h33, horário de encerramento, nenhuma menção ou imagem sobre a apresentação da pesquisa. Apenas um telefonema solicitando ajuste do áudio.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

PT é igual ao PSDB?

Partidos à esquerda do PT têm que pôr o rancor de lado

Posted by on 15/08/13

Apesar de o fim dos protestos da última quarta-feira (14) em São Paulo ter visto ocorrer um problema que já se tornou marca de todo e qualquer ato público ao longo dos últimos meses, o problema da depredação e da consequente violência sem causa e sem juízo, deu gosto ver como os jovens manifestantes se organizam.  Juventude engajada é linda.
O tema do protesto foi justo, havia foco, uma causa real por que bradar. Qual seja, a causa da situação caótica no transporte por trens suburbanos e por metrô na capital paulista. Afinal, o que se quer é investigação séria, punição de culpados, ressarcimento do Erário e novas – e melhores – políticas públicas para o setor.
Não houve protesto genérico “contra a corrupção”, como se fosse necessário reafirmar que um crime é crime. Há um caso escabroso de corrupção sendo desvendado e que corre o sério risco de não dar em nada, em um cenário em que o Brasil é, ainda, o único país em que os carteis compostos pelas europeias Siemens e Alstom não geraram consequência alguma.
E a manifestação não foi pequena. Do meio para o fim do protesto, milhares de pessoas protestavam, com imensa visibilidade, pelo Centro Velho de São Paulo. O paulistano finalmente viu um questionamento real ao grupo que está encastelado no governo paulista há quase vinte anos e que fez do Estado sua propriedade particular.
Contudo, aquele movimento foi à rua dividido e, se não fosse assim, poderia ter sido muito maior.
O veto à presença formal de partidos e sindicatos em particular feito justamente por partidos e sindicatos que se fizeram representar no protesto constitui um dos fatos que referendam o adágio de que a esquerda só se une na cadeia.
Aliás, vale informar que Erik Bouzan, secretário municipal de juventude do PT, postou comentário neste Blog afirmando que no protesto contra Alckmin na última quarta-feira não teria havido “veto” ao PT ou à CUT pela organização do evento.

Infelizmente, o que constatei durante o protesto foi bem diferente. Quase 20 pessoas afirmaram o contrário, que PT e CUT estavam vetados oficialmente no ato. Ou seja: não puderam levar bandeiras.
Inclusive, presenciei o “pedido” dos manifestantes a pessoa que portava bandeira do PT para que a guardasse. Se não houvesse veto, PT e CUT estariam lá com suas bandeiras e teriam levado um bom número de manifestantes.
Isso não ocorreu.
O Movimento Passe Livre, o PSOL, o PSTU, o PCO e outras entidades fizeram um belo ato, mas é uma pena que não tenham conseguido impedir o vandalismo e a violência e, também, que estejam recaindo no erro absurdo de considerarem que o PT é igual ao PSDB.

Vamos falar sério: o PT é igual ao PSDB?!
Estive no Pinheirinho para ajudar as vítimas do fascismo tucano que jogou milhares de famílias em depósitos imundos, insalubres após destruir suas casas, seus bens de consumo durável, muitas vezes sem deixar que pegassem até as próprias roupas e documentos antes de serem expulsos de seus lares. Que partidos e sindicatos estavam lá para ajudar? PT, PSTU, PSOL, PCO, CUT etc.
O governo federal do PT tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e promoveu a maior redistribuição de renda da história do Brasil. Colocou negros e pobres na universidade como nunca aconteceu em 500 anos de história do país. Reduziu o lucro dos bancos, reduziu o preço da energia elétrica. Enfim, foi um governo de esquerda, sim.
Claro que se fez concessões ao capital, mas o viés de esquerda é inegável.

São Paulo é um dos últimos grandes redutos da pior direita que este país já viu. É reduto dos golpistas de 1964, do racismo de um setor microscópico, porém extremamente abastado da sociedade. É reduto da xenofobia absurda contra nordestinos, oriunda de uma elite igualmente pequena, mas que tem uma voz tonitruante na mídia, como se representasse o grosso da população.
Tirar essa direita do governo de São Paulo seria um salto gigantesco para o país. O conservadorismo, o reacionarismo, o preconceito, a apropriação desbragada do Estado por grupos econômicos nacionais e estrangeiros sofreria um golpe que, se não fosse fatal, seria debilitante a um ponto em que mudanças reais poderiam ocorrer no país.
Ocorre que esses partidos à esquerda do PT fingem não entender que não existe alternativa de poder fora do binômio PT-PSDB. Ano que vem, o Brasil terá que escolher entre dois candidatos a presidente, um de cada partido desse binômio. Recusar-se a enxergar isso é, inclusive, falta de responsabilidade.

Alguém consegue imaginar o que aconteceria se os que lutam furiosamente contra todos os avanços sociais que o Brasil logrou retornassem ao poder? Alguém consegue imaginar o que seria o Brasil ser governado por um Aécio Neves? Possivelmente Serra seria menos nefasto, ainda que um governo dele correspondesse a atraso sem precedentes no país.
Os partidos à esquerda do PT sabem que não há alternativa. Sabem que jamais ganhariam a eleição presidencial do ano que vem e que muito menos conseguiriam uma bancada maior do que meia dúzia no Congresso. E sabem muito mais que jamais ganharão o governo de São Paulo.
Qual o sentido, então, de escreverem faixas e cartazes também contra o PT e, ainda por cima, vetarem a presença oficial do partido nos protestos?

Uma das faixas da manifestação de quarta-feira que atacava Alckmin dizia, também, que “Haddad e PT não são a saída”. Ah, é? Então qual é a saída? O PSTU? O PSOL? Alguém imagina esses partidos ganhando a eleição? Melhor fariam se tivessem se unido à campanha de Haddad e vencido junto com ele.
Hoje, teríamos secretário de Estado do PSOL, do PSTU e esses partidos estariam puxando o governo mais para a esquerda, pois abandonar a luta por dentro só fez reforçar a direita tanto no governo de São Paulo quanto no governo federal, entre outros.
A população percebe o sectarismo desses partidos à esquerda do PT e, assim, nega-lhes votos. E é uma pena, porque é evidente que propostas de partidos como PSOL, PSTU e PCO são mais do que justas e urgentes. Mas falta quem as defenda em um governo como o de Dilma ou como o de Haddad porque essa oposição à esquerda não quer nem papo.
Ao longo dos anos, estive ao lado dessa gente na rua várias vezes. E não só na rua. Sei como pensa. E sei que, apesar de acreditarmos em valores muito próximos, essa costela dissidente do PT só tem um projeto: fazer o PT perder o poder por puro e simples desejo de vingança, que esses partidos sobrepõem ao interesse da maioria.
O resultado dessa divisão da esquerda é que o país vai tombando à direita. O conservadorismo só tem feito aumentar, nos últimos anos. Questões como aborto, Estado laico, direitos dos homossexuais e das mulheres, tudo isso tem sofrido revés.
Recentemente, vimos uma religião se apropriar dos recursos públicos como nenhuma outra consegue. Tudo graças à aliança com meios de comunicação, que jogariam a fé do povo contra os políticos que ousassem lembrar que a Constituição impede que uma religião específica se torne religião oficial e tenha esse acesso descabido ao Erário.
A esquerda, pois, precisa se unir para impedir que este pais tombe à direita. Se é ruim com o PT – como querem PSOL, PSTU, PCO –, eles que esperem o PSDB voltar ao poder para ver como será o diálogo.
Não levar esse fato em conta não é nem mais burrice, é uma irresponsabilidade contra o país.
Espera-se, portanto, que os protestos com causa como esse contra a máfia dos transportes e contra tanto mais em São Paulo ou em qualquer parte do Brasil consigam fugir da armadilha do vandalismo e, ainda mais, do sectarismo rancoroso que não leva a lugar algum e que ameaça o nosso país com a volta de uma direita sem alma ao poder.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Universos Paralelos Comprovados pela Ciência

Universos Paralelos Comprovados


:: Acid ::
Está provada a existência de universos paralelos, de acordo com uma descoberta matemática de cientistas de Oxford

A primeira teoria do universo paralelo, proposta em 1950 pelo físico Norte Americano Hugh Everett, ajuda a explicar os mistérios da mecânica quântica que durante décadas permanecerá uma incógnita. No universo de "inúmeros mundos" de Everett, cada vez que uma possibilidade física é explorada, o universo divide-se. Atribuindo-se um número de possíveis resultados, cada qual é descriminado - no seu próprio universo.

Um motorista que não morra por um triz, por exemplo, pode sentir-se aliviado pela sua sorte, mas num universo paralelo ele pode ter morrido. Ainda outro universo irá assistir à recuperação do motorista depois de ser tratado no hospital. O número de possíveis cenários é infinito.

A idéia é bizarra, e por isso mesmo relegada por muitos experts na matéria. Mas uma pesquisa de Oxford empresta uma resposta matemática aos enigmas quânticos que não pode ser facilmente descartada, sugerindo que o Dr. Everett - estudante de Phd na Princeton University quando inventou a teoria - estava no caminho certo. Comentando na revista New Scientist, o Dr. Andy Albrecht, físico da University of California, afirma: "Esta pesquisa é um dos mais importantes avanços na história da ciência".

De acordo com a mecânica quântica, numa escala sub-atômica, não se pode afirmar que algo existe até que seja observado. Até agora se observou que as partículas ocupam estados nebulosos de "superposição", nos quais poderão ter spins simultâneos para "cima" e para "baixo", ou se apresentem em diferentes locais ao mesmo tempo.

A observação parece "aprisionar" um estado particular da realidade, da mesma forma que se pode dizer que uma moeda que gira é "cara" ou "coroa" quando é apanhada. De acordo com a mecânica quântica, as partículas não-observadas são descritas por "funções de onda", representando uma quantidade de múltiplos estados "prováveis". Quando o observador mede, a partícula se acomoda a uma dessas múltiplas opções.

A equipe de Oxford, liderada pelo Dr. David Deutsch, mostrou matemáticamente que a estrutura tipo "arbusto" - criada pelo universo que se divide em paralelas versões de si mesma - pode explicar a natureza de probabilidades dos resultados quânticos.

Fonte: My tourette;
Telegraph.co.uk



Universos Paralelos foram descobertos pela ciência



Is our universe merely one of billions?

A descoberta

 

Londres - Cientistas acreditam ter encontrado a primeira evidência de que outros universos existem, depois de analisar os dados recolhidos pela nave espacial Planck, da Agência Espacial Europeia.Teorias que o nosso universo poderia ser apenas um dos milhares de milhões - talvez um número infinito - foram discutidas há décadas, mas até agora eles não tinham qualquer prova.No entanto, há algumas semanas, os cientistas publicaram um novo mapa da radiação cósmica de fundo - a 'radiação' deixada para trás após o Big Bang que criou o universo a 13,8 bilhões de anos atrás.

O mapa, com base de dados da Planck, mostrou anomalias na radiação de fundo que, segundo alguns especialistas, só pode ter sido causada pela atração gravitacional de outros universos fora do nosso próprio universo, segundo reportagem do The Sunday Times.


"Essas anomalias foram causadas por outros universos que puxam o nosso universo da mesma forma desde a grande explosão "o Big Bang", disse Laura Mersini-Houghton, uma física teórica da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.


"Esse dados são a primeira evidência concreta da existência que temos de outros universos ", disse ela.

A previsão

Mersini-Houghton, e seu colega Professor Richard Holman, da Carnegie Mellon University, publicaram uma série de artigos a partir de 2005 prevendo o que iria ver a partir dos dados enviados pela Planck.

Em particular, eles previram que a radiação antiga que permeia nosso universo iria mostrar anomalias geradas pela força de outros universos.


Reconhecendo a anomalia


Os cientistas que analisaram os dados da Planck já publicaram um documento que reconhece
a existência dessas anomalias e que estas não podem ser explicadas através de meios convencionais.

"Pode ser que estas anomalias
descritas nas estatísticas  deste documento são uma dica de fenômenos físicos mais profundos que estão ainda  esperando para ser revelados", disseram eles.

Planck reuniu dados de radiação a partir de datas aproximadas de quando o Universo tinha apenas 370.000 anos - ainda brilhando com o Big Bang. Esta radiação tem viajado através do espaço por milhares de anos luz por isso esta radiação é extremamente fraca, mas ainda detectável.


Em teoria, a radiação deve variar um pouco na escala das galáxias e aglomerados de galáxias, mas em escalas muito maiores  e não ser distribuídos uniformemente.


Dados da Planck mostraram que a radiação é mais forte em uma metade do céu do que em outros locais. Há também um local grande "frio", onde a temperatura é abaixo da média.


Considerações finais


George Efstathiou, professor de astrofísica na Universidade de Cambridge, co-autor dos documentos que estabelecem os resultados da Planck, disse que a sugestão de que os dados oferecem evidências de outros universos foi especulativo, mas "muito interessante".


"Essas idéias podem parecer malucas agora, assim como a teoria do Big Bang fez a três gerações atrás. Mas então temos evidências e agora elas mudaram toda a nossa maneira de pensar sobre o universo", disse ele.


 ( via kashmirmonitor.in ) e disclose

COMENTÁRIOS DE INTERNAUTAS
Anônimo
23 de maio de 2013 11:37
vixe como será o outro eu em universos paralelos em?

26 de maio de 2013 12:59
Simples quando morremos vamos para um desses universos

Damirso
esta nova teoria explicaria os "fantasmas", "espíritos", e outros aparições do além ? e as visões de muitos religiosos ? vamos esperar para ver o que nos aguarda a ciência!!!!!

 

sábado, 10 de agosto de 2013

Nova agenda para esquerda

Intelectuais de Brasília defendem nova agenda para esquerda

Em debate promovido pela ‘Carta Maior’, eles divergiram sobre a natureza dos protestos que irromperam no país, mas convergiram sobre a necessidade da formulação urgente de uma nova agenda para a esquerda brasileira, que proteja as conquistas acumuladas nos últimos dez anos, mas permita a efetivação dos avanços reivindicados pelas ruas. 

Por Najla Passos, de Brasília

Brasília – Os 25 intelectuais e acadêmicos convidados por ‘Carta Maior’ para debater, nesta quinta-feira (8), em Brasília, o sentido das recentes manifestações que eclodiram no Brasil, apresentaram impressões tão díspares sobre o fenômeno quanto foi a pauta de reivindicações impressa nos cartazes exibidos pela juventude brasileira. Mas convergiram para a necessidade da formulação urgente de uma nova agenda para a esquerda brasileira, que proteja as conquistas acumuladas nos dez anos de governos populares, ao mesmo tempo em que permita a efetivação dos avanços reivindicados pelas ruas.

“Estamos vivendo o que Milton Santos chama de período popular da história. (...) Estamos, sim, em uma luta de classes, que é a luta da periferia. Apesar do aumento da renda, há uma periferização do espaço urbano como um todo. (...) Há uma mobilidade social que impacta em uma mobilidade urbana: a crise só vai se aprofundar”, alertou o pesquisador da área de mobilidade urbana do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Renato Balbim.

“Vivemos uma crise de representação por ausência da possibilidade de expressão. Temos um sistema concentrado de mídia, que não nos permite voz. E só ter acesso às redes não resolve. O problema não é só se expressar. É ser ouvido e interferir”, afirmou o professor aposentado da cadeira de Políticas Públicas de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Venício Lima.

“As insatisfações estão presentes nas ruas das formas mais diversas, entre grupos de formação ideológica diferentes. Há agendas progressistas, mas também muitas pautas conservadoras”, enfatizou a professora de Ciência Política na UnB, Flávia Biroli, para quem é imperativo se atentar para as novas formas de articulação e ação política que estão surgindo, não só nas redes, mas também, por exemplo, nas relações dos jovens da periferia com as cidades.

“A periferia que entrou no ônibus vai querer entrar no carro. A pressão [por melhores serviços públicos] é real”, observou Ronaldo Garcia, pesquisador do Ipea, para quem os governos Lula/Dilma seguiram com problemas estruturais que vêm de longe. “A mobilidade urbana é problema antigo. Em algum momento, as frustrações e aspirações crescentes explodiram”, diagnosticou.

“As manifestações são causa e consequência do modelo que a gente adotou, das políticas públicas dos últimos dez anos, do crescimento da classe média. Temos que pensar como intervir neste processo que está claramente em disputa”, propôs Mariana Martins, da Faculdade de Comunicação Social do Iesb.

“O Brasil era exceção ao que estava acontecendo em outros países da América Latina. Agora, teremos a oposição de volta às ruas brasileiras, como ocorre na Venezuela, na Argentina”, opinou Mauro Patrão, do departamento de Matemática da UnB, para quem os avanços dos últimos dez anos resultaram no encolhimento da oposição que, agora, retorna à cena para disputar corações e mentes.

“É difícil construir uma interpretação sobre as manifestações de junho porque há vários fenômenos confluentes. Um ponto de partida é a frustração generalizada com a falta de permeabilidade do sistema político brasileiro quanto às manifestações da maioria da população”, apontou o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Luis Felipe Miguel.

“Eu trabalho com uma hipótese mais conservadora. A Revolta do Bonde data do império. As pessoas reclamam do transporte há muito tempo. (...) As pessoas estão insatisfeitas porque não têm renda. O problema é, sim, de ordem econômica”, resumiu Carlos Batista, de Política da UnB.

“Este é um fenômeno de mudança tecnológica. Não vejo nenhuma mudança estrutural. Não se tem novas insatisfações, mas uma tecnologia que permite potencializar as antigas, as de sempre”, opinou o pesquisador do Ipea Felix Lopez.

A professora de Ciência Política na UnB Flávia Biroli ressaltou a necessidade de se atentar para as novas formas de articulação e ação política que estão surgindo. “É preciso pensar aspectos geracionais da política, como as redes sociais. Mas não é só isso. Precisamos entender, por exemplo, como a juventude da periferia percebe a agenda política”, exemplificou.

Responsabilidades políticas
Além de divergirem sobre a natureza dos protestos, os intelectuais apresentaram posições diversas sobre as responsabilidades políticas. As críticas ao PT se sobressaíram nos discursos de acadêmicos independentes e mesmo militantes históricos que, apesar do mea culpa, não deixaram de ressaltar os ganhos reais dos últimos dez anos e as boas perspectivas futuras dentro do campo da esquerda hegemônica.

Um alto representante do governo do DF, presente no encontro, lembrou que, um dia após o atentado ao Itamaraty, participou de uma plenária do PT em que a mesa era analógica enquanto o plenário era digital: alguém da mesa disse que as manifestações eram orientadas pela direita, mas os próprios jovens que estavam no plenário afirmaram que estiveram presentes.

“As manifestações retratam o envelhecimento da estrutura política dos partidos. E o PT não é exceção. Mas eu ainda acredito que não se constrói democracia sem partidos: o que eles precisam é ter sangue novo”, observou. Para esse participante, o partido precisa avançar com a experiência. “Parte da juventude que foi às ruas é filha das políticas de inclusão dos últimos anos”, concluiu.

Outro integrante do governo do DF, também presente, avaliou que o saldo dos últimos dez anos é positivo. “A agenda em 2002 era por emprego, pelo combate à inflação, contra a fome. Em 2013 temos uma agenda muito superior, por melhores serviços públicos, por reforma política, contra os ataques aos direitos indígenas e contra um Marcos Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos”, observou.

Mas frisou a necessidade da atualização da agenda de esquerda. “Se antes, no cenário político, as coisas convergiam para o centro, o rescaldo hoje é de polarização. (...) As pessoas querem saúde pública ou renda para pagar planos de saúde? Querem transporte público de qualidade ou mais viadutos para seus carros circularem? Querem praça ou shopping center? A agenda de acesso à cidade está em aberto”.

Já um outro participante, que é membro fundador do PT e servidor público do Ministério da Saúde, atribui a maior carga de responsabilidade a partidos de esquerda como PSTU, PSOL e PCO. “Essa juventude glamourizada que tudo pode foi levadas às ruas pela disputa hegemônica dentro da própria esquerda. O PT tem responsabilidade brutal, porque tenta hegemonizar o campo, mas os demais partidos de esquerda também têm”, opinou.

Papel da mídia
Para Mauro Patrão, da UnB, é impossível deixar de considerar a participação da mídia convencional no processo. “Houve ação deliberada e coordenada dos meios de comunicação para dirigir os movimentos à direita. A oposição de fato – que é a mídia brasileira – foi quem acabou organizando essas manifestações”, alertou.

Professora de Políticas Públicas de Comunicação da UnB, Elen Geraldes seguiu a mesma linha. Para ela, um dos objetos de investigação em comunicação deve ser o protagonismo das redes sociais versus o agendamento da mídia convencional. “Um agendamento extremamente conservador, no início, e, na segunda semana, um contra agendamento total, com mais espaço para as manifestações, elogios e até sugestões de pautas”.

Venício Lima, apesar de frisar a total falência da grande mídia nos seus critérios de noticiabilidade, alertou para o perigo da supervalorização das redes sociais. Para ele, se a sociedade acreditar que as pessoas se expressam suficientemente bem só pelas redes, a mídia convencional, que ainda pauta a agenda política, será privilegiada com o enfraquecimento da luta pela democratização das comunicações.


Fotos: EBC