domingo, 14 de julho de 2013

Lula e Dilma - junho de 2005 e junho de 2013

PT revive hoje 2005, quando sua primeira “morte” foi decretada




Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, o PT e alguns poucos partidos aliados mergulharam em uma verdadeira hibernação. Eu mesmo brincava, àquela época, dizendo que os petistas e simpatizantes estavam todos escondidos debaixo da cama, pois o Partido dos Trabalhadores havia se tornado maldito, um símbolo de “corrupção”.
A avalanche midiática criminalizando o governo Lula e um partido inteiro – que, então, já tinha mais de um milhão de filiados – estabelecera um fenômeno: ninguém – nem os próprios petistas – tinha coragem de se contrapor à corrente opinativa forjada pelos grandes meios de comunicação.
Pensar diferente, então, tornara-se praticamente um crime – o cidadão acabava sendo acusado de “cumplicidade” com os “corruptos” petistas.
Este blogueiro, por exemplo, àquela época era colaborador frequente de colunas de leitores dos maiores jornais do país. Foi a forma que, desde uma década antes – em meados dos anos 1990 –, encontrara para participar do debate público.
Porém, quando explodiu o escândalo, nadar contra a corrente e escrever àqueles veículos criticando o linchamento de todo um partido me rendeu ser banido dos espaços em que podia dar a minha opinião. Eu, que vivia sendo convidado pela Folha e por outros jornais para seus eventos, de repente, do dia para a noite, “desapareci”.
Eu padecia de uma “doença” opinativa que costuma ser chamada nos meios jornalísticos de “opinião impublicável”. Ou seja: aquela opinião que discorda do que parece ser “consenso” de uma esmagadora maioria e que ninguém quer reproduzir com medo de ser acusado de “conivente”.

A força da “maioria” opinativa era tão avassaladora, à época em que estourou o escândalo do mensalão – no terceiro ano do primeiro governo Lula, assim como estamos no terceiro ano do primeiro governo Dilma –, que havia uma certeza praticamente inabalável: o então presidente da República “sangraria” até a eleição de 2006 e, ali, seria fragorosamente derrotado.
Qualquer semelhança com a situação política de hoje em relação a Dilma Rousseff, não é mera coincidência.

A semelhança entre o passado e o presente se dá até na época de 2005 em que eclodiu o escândalo do mensalão. A entrevista demolidora de Roberto Jefferson à jornalista da Folha de São Paulo Renata Lo Prete denunciando o escândalo foi publicada em 6 de junho e foi nesse mesmo dia e mês que eclodiu a primeira grande manifestação do Movimento Passe Livre, que marcaria a derrocada de Dilma nas pesquisas, assim como a denúncia de Jefferson marcou a perda de popularidade temporária de Lula no segundo semestre daquele ano.
Até o fim de 2005, Lula era dado como um zumbi político. A cada pesquisa de opinião sua popularidade caía mais um pouco, chegando a dezembro daquele ano – a menos de um ano da eleição presidencial de 2006 -, segundo o Datafolha, com apenas 31% de bom é ótimo, coincidentemente o mesmo índice que Dilma tem hoje.
A precipitação dos que, nesta mesma época do ano, há oito anos, comemoraram antecipadamente a destruição política de Lula e do PT, pouco mais de um ano depois resultou na capa da Folha que você vê no topo deste texto, publicada naquela segunda-feira, 30 de outubro de 2006, quando ele obteve 60% dos votos válidos.

Nunca me arrependi de me manter fiel aos meus princípios. No ano seguinte ao da eleição presidencial, o blog que criei lá em 2005 para dizer o que ninguém dizia, já que os petistas estava escondidos debaixo da cama, fez com que jamais me arrependesse ao contrariar as “maiorias”.
Em setembro de 2007, a partir de post em que considerei inaceitável a aceitação pelo STF do indiciamento de José Dirceu no escândalo do mensalão sob pressão da mídia – conforme conversa do ministro Ricardo Lewandowski captada por uma repórter da Folha –, através deste Blog convoquei o primeiro ato público contra um grande meio de comunicação após o retorno da democracia, conforme mostra matéria publicada no Terra Magazine que você pode ler aqui.
A partir daquele ato público, junto a leitores desta página fundei o Movimento dos Sem Mídia, que, nos anos seguintes, produziria as primeiras ações de cidadãos comuns e sem partido ou interesses particulares em prol da democratização da comunicação e contra os abusos midiáticos.
No primeiro semestre de 2008, o Movimento dos Sem Mídia ajuizaria representação no Ministério Público Federal contra alarmismo midiático em torno de uma suposta epidemia de febre amarela que haveria no Brasil, amplificada pela mídia. Entrevista que dei à época ao portal Vermelho explicando o caso pode ser lida aqui.
Em 2009, o mesmo Movimento dos Sem Mídia, a partir de convocação feita neste Blog, reuniu, segundo a polícia militar, cerca de 300 pessoas diante da Folha de São Paulo para protestar contra afirmação do jornal de que a ditadura militar brasileira fora uma “ditabranda” por ter “matado pouca gente”. A informação consta no verbete da Folha na Wikipedia, aqui.
Em 2010, durante a eleição presidencial, o Movimento dos Sem Mídia conseguiria fazer sumir polêmica entre os quatro maiores institutos de pesquisa do país, que se dividiam – dois para cada lado – sobre as posições de Dilma Rousseff e José Serra nas pesquisas. Representação junto à Procuradoria Geral Eleitoral fez a titular do órgão determinar abertura de inquérito na Polícia Federal e, a partir dali, uma semana depois as pesquisas todas convergiram para os mesmos números. Matéria do portal IG sobre o caso pode ser lida aqui.
Estes são só alguns exemplos de ações do MSM entre 2007 e hoje.
Atualmente, manifestações contra meios de comunicação se tornaram comuns. Há, inclusive, ações sendo ajuizadas contra eles no Ministério Público. As pessoas comuns estão se mexendo, agindo sem esperar que alguém faça alguma coisa em seu lugar.

Um dos objetivos desta página, ao ser criada lá em 2005, era justamente esse: estimular os cidadãos comuns a se mexerem, a não ficarem só reclamando. Daí a razão de este Blog ter sido intitulado como Blog da Cidadania, pois nos últimos cerca de oito anos a tônica do que se fez aqui foi estimular as pessoas a fazerem o que hoje estão fazendo.
Em 2005/2006, a internet não era nem sombra do que é hoje e quem discordava da Onda de consenso compulsório estava escondido debaixo da cama. Assim mesmo, a destruição política artificial de um partido inteiro não foi possível. Esteja certo, leitor, de que hoje será bem mais fácil impedir que mistificações do mesmo jaez obtenham sucesso.

sábado, 13 de julho de 2013

Manifestação contra a Globo foi a maior da história

Mídia tenta abafar protestos na Globo 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

http://pigimprensagolpista.blogspot.com.br/
Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:


Era previsível que a grande mídia procurasse, de todas as formas, diminuir as manifestações organizadas pelas centrais sindicais. Mas fizeram pior: houve um esforço deliberado para denegri-las.

Não é de hoje que a mídia brasileira se assume como um partido político fundamentalmente antisindical e antitrabalhista.

O rancor da mídia contra sindicatos e centrais sindicais é fácil de entender. Com todos os seus problemas, eles são a expressão da classe trabalhadora organizada e constituem o único meio pelo qual os mais pobres podem ascender a posições políticas importantes.

Nenhum pobre jamais ganhará uma eleição sem apoio sindical. O núcleo duro de todos os partidos de esquerda é formado por sindicatos, centrais e movimentos sociais organizados.

Nota-se ainda um esforço, maquiavelicamente calculado, para criar uma polarização entre as manifestações de junho e as de ontem, 11 de julho. As comparações numéricas foram sempre no sentido de aumentar as primeiras e diminuir as últimas.

As manifestações de junho, de fato, foram monstruosas. Mas as de ontem ocuparam toda a Avenida Rio Branco. Não fosse o ataque covarde dos fascistas de preto aos manifestantes, cresceria ainda mais.

A mídia gosta de mencionar uma suposta realidade fantástica que o governo vende à população. Acontece que o governo não tem mídia. Quem vende uma realidade paralela à população é a nossa TV. Quem vende um mundinho encantado aos jovens é a TV. Não é o governo. Ao governo interessa, obviamente, fomentar o otimismo, visto que este é a mola do empreendedorismo, e incentiva o consumo, para acelerar as vendas e o crescimento econômico. Mas é a mídia que produz uma imagem esquizofrênica: por um lado, vende aos cidadãos uma fascinante fantasia de felicidade e consumismo; de outro, faz uma campanha sistemática contra o país, pintando-o sempre negativamente.

Há um estudo recente – este é um assunto do qual falaremos em breve – mostrando que a corrupção na sociedade, na esfera privada, é bem superior à da esfera pública. A corrupção individual, de médicos que faltam ao trabalho, empresários que sonegam, jornalistas que traficam informação, executivos que maquiam relatórios financeiros, é igual ou maior do que a de políticos. Temos ainda a corrupção na burocracia, no Judiciário e no Ministério Público.

Os cidadãos que protestam contra a corrupção deveriam sair às ruas com chicotes, flagelando-se a si mesmos, e gritando: Abaixo eu! Abaixo eu!

De qualquer forma, é apavorante constatar o poder da mídia de fazer prevalecer sua hegemonia na interpretação dos fatos sociais. Os jornais e a televisão esconderam acintosamente que a defesa pela democratização da mídia é uma demanda que constava nas grandes manifestações de junho, e que foram centrais nas desta quinta-feira.

A deficiência da representação política está ligada diretamente à questão da mídia. Congresso, Presidência da República, Ministério Público, STF, apenas são atingidos pelas demandas destacadas pela mídia. Isso é um erro. Talvez o principal erro da democracia brasileira. As instituições estão subestimando o que é a principal lacuna da nossa democracia. A mídia deve ser democratizada para que as demandas dos diferentes setores possam fluir de baixo para cima no corpo social.

Ontem, aconteceu uma grande manifestação diante da Globo. Saiu apenas uma notícia de segundos no SP-TV, e mais nada. Não há editoriais.

Merval Pereira, em sua coluna de hoje, menciona o tema de forma absolutamente cínica e mentirosa:

Pedir uma vaga democratização da mídia , por exemplo, é simplesmente tentar levar para as ruas a reivindicação de pequenos grupos de pressão, apoiados por blogs e revistas chapas-brancas, como se fosse uma aspiração da nacionalidade.
Como não é uma manifestação da nacionalidade? Como assim: “pequenos grupos de pressão”?
A democratização da mídia era uma das principais bandeiras dos movimentos sociais e centrais que ontem saíram às ruas. Não só ontem. Nas manifestações de junho, foi uma das demandas mais importantes, embora expressa de maneira genérica, em cantorias, cartazes e faixas contra a Globo.

Mas os ministros do STF, o procurador-geral, e os clipeiros do Congresso e da Presidência, preferem ler Merval Pereira do que ouvir a voz das ruas.

Que imprensa é essa, que vem abafando um dos maiores escândalos fiscais do século? Porque nenhum jornal aborda o “mensalão” da Globo, e seus desdobramentos holliwoodianos? Porque nem a Agência Brasil parece ter coragem de mencionar o tema? Eu fui entrevistado pela Rádio Nacional argentina, principal rádio pública daquele país, para falar da sonegação da Globo. Todos os sites, blogs e jornais alternativos no Brasil têm abordado o caso. Porque a Agência Brasil e a TV Brasil não entram no assunto? Por que o sistema público de comunicação sempre fica a reboque da grande mídia?

Tudo bem, a gente está na luta para isso mesmo. Confira o vídeo abaixo, com cenas da manifestação realizada em frente à Globo. Veja se isso é coisa de “pequenos grupos de pressão”…

Nada disso. O que vimos ontem, em frente à Globo, foi uma das maiores manifestações da história brasileira contra uma emissora de TV que apoiou a ditadura e se consolidou financeiramente durante o regime militar, com dinheiro dos Estados Unidos. E que até hoje se caracteriza pelo mais abjeto golpismo. Uma manifestação criativa, jovem, e de massa. E apoiada por milhões de brasileiros em todo país.

Quem sabe o gigante não esteja, de fato, acordando? Num primeiro momento, ele se espreguiçou, e espalhou os braços, confusamente, quebrando tudo ao redor. Aos poucos, porém, começa a lembrar onde está, o que fez no dia anterior, e seus pensamentos clareiam-se.

Agora sim, a coisa está ficando boa.









PS: A Folha fez uma menção na capa, tão escondido que demorei muito tempo para descobrir. Mas foi pior que abafar. Distorceu negativamente. A menção vem numa nota em que se fala dos vândalos de preto no Rio. E diz que a manifestação foi de “400 black bocs”, quando na verdade foram duas mil pessoas e com participação de vários movimentos sociais.

Na edição nacional, veio sem foto. Na edição de São Paulo, teve uma foto de um grupo de mascarados segurando paus. Muito pior que abafar!




sexta-feira, 12 de julho de 2013

As manifestações de junho e o Dia Nacional de Lutas

As tensões das manifestações de junho e do Dia Nacional de Lutas

O ato de hoje reuniu trabalhadores de baixa renda, já os de junho ficaram conhecidos por serem movimentações de classe média. Enquanto as manifestações de junho tinham sua força na configuração apartidária, que depois se provou extremamente volátil, o Dia Nacional de Lutas exprimiu sua força por meio da ação verticalizada dos sindicatos, que por sua vez enfrentam problemas de representação.

Desde os atos de junho, manifestações acirraram ânimos e fazem das ruas a saída inevitável para a luta social. Hoje, o Dia Nacional de Lutas retomou tal iniciativa em todo o Brasil, com paralisações, manifestações e greves reiterando as pautas tradicionais do movimento sindical, como 40 horas semanais sem redução de salário, anulação do fator previdenciário e contra a PL 4330, que amplia e aprofunda a terceirização. As ruas não são instrumento novo na luta dos trabalhadores, o que não quer dizer que não exista contraste entre as manifestações.

Algumas diferenças são vistas andando nas ruas, como as características desses manifestantes: o ato de hoje reuniu trabalhadores de baixa renda, já os de junho ficaram conhecidos como movimentações de classe média. Outras diferenças são as políticas, como as pautas estritamente propositivas, que contrastam com bandeiras mais abstratas do movimento de junho (claro, a pauta contra o aumento entra como proposição clara, mas outras bandeiras que ladearam-na demonstram o contraste). As contradições, por isso, são muitas.

As manifestações de junho tinham sua força na configuração apartidária, que depois se provou complicada, extremamente volátil e a serviço da grande mídia e partidos conservadores. Exemplo disso: a cobertura dos jornalões(1) que mudaram de lado conforme os atos iam se desenvolvendo. A frente tornou-se ampla o bastante para que seu caráter progressista fosse ofuscado: xingamentos e ataques a partidos políticos e entidades de classe, manifestações conservadoras contra Bolsa Família e a favor da redução da maioridade penal.

O Dia Nacional de Lutas tem pauta e coordenação verticalizados: os caminhões de som, as bandeiras dos sindicatos, as falas de representantes sindicais. Esse modelo demonstra suas dificuldades tanto de avanço quanto de resistência. as propostas trabalhistas confrontam mais explicitamente as imposições do mercado e da política econômica vigente(2). O embate entre trabalhadores, patrões e governo faz realmente a luta sindical particular, mas não tão restrita quanto querem pintar alguns analistas(3). Essa "restrição" é também um diagnóstico contraditório: o real problema da institucionalização de atos e manifestações sindicais coexiste com pautas contra a regulação dos direitos de trabalho pelo mercado. São essas pautas deliberadas na esfera institucional que acabam por fazer uma clivagem ideológica mais clara do que nos atos de junho, depois da entrada em massa da classe média.

Os desafios parecem enormes para o sindicalismo hoje(4). A diminuição do Estado, a judicialização da política, a dificuldade da representação via sindicato frente a ampliação do serviço terceirizado e a informalidade, e o ataque por todas as vias aos direitos consolidados desenham um cenário nada otimista para a luta do trabalhador.

Por outro lado, as manifestações chamadas pelo Movimento Passe Livre vão perdendo seu lastro. O MPL, ainda que participe de outros protestos também anti-sistêmicos, enfrentou suas contradições no dia em que bandeiras vermelhas ou de partidos foram rasgadas e militantes agredidos.

Aquilo que o MPL não quis legar do movimento tradicional (partidário, sindical, etc), isto é, a verticalização, foi justamente o que criou o vácuo que logo o conservadorismo tentou ocupar. Em resumo, as mesmas manifestações de junho agora vão diminuindo por falta daquilo que no movimento sindical despontou e desponta como problema: a organização de pautas que não aceitem rodeios (pautas restritivas? penso que não).

Das ruas emergem as tensões que a esquerda terá de responder.


(1)Editorial da Folha de S. Paulo do dia 13/06: "Retomar a Paulista"; Editorial de O Estado de S. Paulo do dia 13/06: "Chegou a hora do basta"
(2) Os anos de FHC foram de ataque direto aos direitos consolidados da CLT, já os anos de Lula conciliaram o combate com alguma contrapartida do governo desde 2003, fazendo a resistência política enfraquecer: sindicatos aderem ideais neoliberais a fim de atingir resultados. Artigo importante sobre essa conformação do sindicato: Andréia Galvão. Sindicalismo e Neoliberalismo: um exame da trajetória da CUT e da Força Sindical. No livro "Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II", da Boitempo Editorial, 2013.
(3)"Mobilização sindical tem característias distintas das passeatas de junho", Folha de S. Paulo, 11/07
(4) O texto do professor Ricardo Antunes, da Unicamp, mostra que a nova morfologia do trabalho deve estar no horizonte crítico do sindicalismo que vai representar novos trabalhadores e novas relações de trabalho. "O caracol e sua concha: Ensaio sobre a Nova Morfologia do Trabalho" e a entrevista para a Carta Maior tratam sobre isso

#changebrazil: “O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo”


#changebrazil: Leitor mostra que marca do grupo apareceu na tela da TV

publicado em 24 de junho de 2013 às 12:50
#changebrazil: “O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo”
do Opera Mundi
Correia da desinformação gira velozmente na Web, aproveitando marcas de protesto em outras partes do mundo
“O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo, exatamente como o vídeo diz.” Assim definiu Thismr Maia, pseudônimo de Silvio Roberto Maia Junior, porta-voz do movimento Change Brazil, o objetivo dos vídeos que postou na Web, segundo o site Direto da Aldeia. Nascido em 14 de junho, no momento em que uma onda de manifestações eclodiu no país, o movimento vocalizou por meio de vídeos de Maia pedindo – em inglês – um pedido de “ajuda” internacional.
No vídeo, que já tem mais de um milhão de acessos no YouTube, Maia fala da repressão sofrida por manifestantes em 13 de junho. Nesse dia, a polícia militar, controlada pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha o protesto, ferindo também jornalistas.
Boa parte da mídia, que anteriormente havia criminalizado os protestos – especialmente por meio de editoriais raivosos pedindo a “retomada da Paulista” –, mudou completamente o tom e passou a defender o movimento Passe Livre.
Ali, naquele momento, nascia também o Change Brazil, ou #changebrazil. Nas redes sociais, pipocou um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help Us” (Por favor, nos ajude). Em um estúdio bem iluminado, em gravação de qualidade profissional, Maia começa falando sobre o aumento da tarifa de ônibus e imediatamente cita os levantes populares na Turquia e na Síria – “espontâneos”.
De fato, o caso turco foi rapidamente comparado ao brasileiro pela mídia brasileira e internacional, que apontou como o denominador comum o caos das grandes metrópoles. Manifestantes aqui e lá trocaram afagos, com brasileiros levando aos protestos bandeiras da Turquia e vice-versa. O premiê turco, Tayyip Erdogan, porém, avalia que não se trata de uma coincidência e que os dois países são alvo, na verdade, de conspiração internacional. Não está claro que haja uma articulação externa, mas a correia da desinformação gira velozmente na Web.
O Anonymous Brasil, um perfil que, como o próprio nome indica, preserva a identidade de quem o dirige, precisou desmentir que tinha publicado um vídeo que também teve mais de um milhão de visitas, que elencaria cinco bandeiras do movimento que segue nas ruas. Entre os perfis que espalharam este vídeo, um deles, talvez o mais acessado, é assinado por “Dilma Bolada” — ao que tudo indica, um perfil no You Tube falso que se aproveita da popularidade da personagem, essencialmente pró-governo, do Facebook.
Falando rápido, Maia critica a mídia, pedindo que o espectador tenha em mente que a “verdade” sobre os protestos não será reportada nem no Brasil nem no exterior. Por isso a “boa ação” do vídeo. Ainda antes de completar um minuto de fala – o vídeo tem mais de cinco minutos –, Maia já condena a classe política brasileira e aponta que a motivação dos manifestantes é justamente um rechaço contra a roubalheira e má fé, generalizadas. Ele não menciona nomes de partidos ou políticos.
Nos protestos seguintes, coincidentemente, muitos gritos eram direcionados exatamente contra os políticos, vários pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 17 de junho, a matriz foi repetida pelos apresentadores de telejornais, enquanto as imagens da multidão espalhada pelas ruas das principais cidades brasileiras eram transmitidas ao vivo. Alguns jornalistas, enquanto narravam “o despertar do Brasil”, se emocionaram. Poucos dias antes, os mesmos reclamavam do trânsito provocado pelos protestos do Passe Livre e chegavam a chamar alguns manifestantes de “vândalos”.
No dia seguinte, os principais jornais, como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, seguiram disseminando o “basta” escutado nas ruas brasileiras. Não demorou para o espírito do Change Brazil se espalhar. Mais tarde, na quinta-feira passada, membros de partidos de esquerda foram agredidos na Avenida Paulista.

Organizada pelo Passe Livre para comemorar a redução da tarifa, a manifestação logo perdeu o intuito inicial. “Sem partido” e “Aqui é Brasil” eram as consignas tanto dos agressores como do resto dos manifestantes, muitos enrolados na bandeira nacional, com pinturas em verde e amarelo no rosto.
Também se ouviu “Quem não pula quer a Dilma”, adaptado do protesto pelo aumento da passagem do transporte público, “Quem não pula quer tarifa”. Com o aumento da violência nos protestos, cada dia mais numerosos, a presidente se dirigiu à nação em cadeia de rádio e TV, onde deixou claro seu respeito aos manifestantes pacíficos. Ela também se disse disposta a analisar todas as demandas apresentadas nas ruas. “Eu estou escutando vocês”, sublinhou Dilma.
Maia comemora o êxito.
“Essa tática sempre funcionou bem historicamente. Como também diz no vídeo, a Dilma não pode deixar o Brasil ficar feio no mundo agora. Eu só queria trazer a atenção mundial para o Brasil, e junto com a companheira que não conheço, do vídeo ”No, I’m not going to the world cup”, tenho orgulho de dizer que conseguimos. Agora, com pressão internacional, a Dilma e companhia são mais obrigados a nos ouvir”, comemora o brasileiro, em entrevista dada ao Aldeia.
Ainda segundo ele, “historicamente, pressão mundial tem se provado extremamente eficaz em relação a mudar governos opressores. Recentemente pedi para pessoas mandarem outro vídeo nosso para organizações humanitárias, e agora fiquei sabendo que a Greenpeace tem se pronunciado sobre o que está acontecendo aqui também”.
Após celebrar a grande adesão ao movimento, Maia lança a chantagem: “se a Dilma quer que sua administração seja vista favoravelmente, ela terá que nos ouvir”.

Uma visita à página no Facebook do porta-voz do Change Brazil nos revela ainda mais sobre esse curioso personagem, que sublinhou na entrevista ser contra governos repressores. A foto acima simula Maia levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores da bandeira dos Estados Unidos. Os “miolos” também estão pintados nas cores azul e vermelha.
No resto da página, mais fotos de armas, com mensagens apoiando o porte civil. “Quando eu falei ‘o Brasil terá que se dobrar’, é óbvio que eu me referia ao governo brasileiro, né. Pelo amor de deus, gente”, justifica o porta-voz do Change Brazil.

PS do Viomundo: Também no Direto da Aldeia, ele esclareceu que “resido na cidade de Joinville, Santa Catarina. Tenho 28 anos, sou professor de ingles. Morei nos Estados Unidos por 13 anos, desde os 10 até os 23. Fiz algumas faculdades lá, e voltei pra cá á uns 5 anos atrás. Tenho também um canal de Youtube chamado Mr. Maia, no qual ensino ingles”.

Leitor José Gomes pergunta, nos comentários, quem pagou pela exibição da placa:
PS de outro leitor: Azenha, sobre a nota do ‘patrocino’ do #changebrazil no jogo do Fluminense x Orlando City, vai uma dica. Por acaso vi uma materia da SporTV na ultima quinta feira (durante um voo da Azul…) sobre o Orlando City. E’ um time novo, que esta’ investindo pesado para entrar para a MLS, a liga profissional americana. Pode ser coincidencia, mas o investidor e’ um bilionario brasileiro: Flavio Augusto da Silva, dono do grupo Ometz, holding com 16 empresas, entre elas a escola Wise Up. Tambem fiquei com a pulga atras da orelha quando vi no sabado a placa da #changebrazil no jogo desse mesmo time, jogando contra o Flu. E o tal do Flavio no centro do campo com o Presidente do Flu. Pode ser coincidencia, mas vai que nao…