quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Crise em Ipatinga desacelera e inicia recuperação

12 de Dezembro de 2014, por Daniel Miranda Soares


artigo originalmente publicado no Diário do Aço em 10.12.2014 (edição digital e dia 11.12.2014 edição impressa)no  seguinte endereço:  http://www.diariodoaco.com.br/noticia/88100-7/opiniao/crise-do-setor-siderurgico-desacelera-em-ipatinga

A previsão de investimentos do BNDES para o setor siderúrgico cai 46% no triênio 2015/2018 em relação ao triênio 2013/2016. A decisão do BNDES se baseia no elevado índice de ociosidade do parque instalado do setor. “O mercado mundial de aço tem hoje uma ociosidade altíssima, com um Nuci (nível de utilização da capacidade instalada) entre 72% e 74%. No Brasil, o Nuci é de 70%”, comenta Pedro Sergio Landim, do BNDES. O Nuci já foi pior no período pós-crise de 2009 quando chegou a 63%, havendo também um alívio na balança comercial do setor, com as importações de aço caindo de US$ 5,4 bilhões em 2010 para US$ 3,7 bilhões em 2013.  “O mercado de aço é caracterizado, atualmente, por uma situação de sobre oferta e de margens reduzidas, tanto no Brasil quanto no mundo”, afirma Landim.
A capacidade instalada atual no país é de 48,5 milhões de toneladas por ano. Segundo projeção do Instituto Aço Brasil (IABr), o consumo aparente deve somar 24,7 milhões de toneladas este ano, queda de 6,4% com relação ao ano anterior. Para 2015, o IABr espera uma retomada “modesta”, com alta de 4% nas vendas ao mercado interno. O setor vem reivindicando do governo medidas para conter as importações de aço que devem subir 9,7% este ano. Embora o governo já tenha atendido várias reivindicações que resultaram numa queda das importações, mas concorrer com a China é muito difícil - o custo do aço chinês entra aqui mais barato que o aço nacional, embora o aço brasileiro seja competitivo em termos globais.
Ainda há gargalos a enfrentar para diminuir mais os custos brasileiros, tais como: logística, custo energético, dependência de importação de tecnologias, etc. O estudo do BNDES, porém, aponta vantagens que podem contribuir para que a siderurgia nacional possa sair da crise, como o desenvolvimento tecnológico (uso do Tecnored - produção de gusa com maior variedade de insumos; uso do biocoque, carvão vegetal, etc.) e a necessidade de aços especiais para o pré-sal.

     Tudo isso começou com a crise mundial de 2008, atingindo a China - maior produtora mundial de aço - que com a desaceleração da demanda mundial e décadas de expansão desenfreada agora atinge a indústria. A China está com excesso de oferta e tenta desovar sua produção no mercado internacional. Os lucros do setor siderúrgico chinês caíram 98 por cento no ano passado e muitas empresas registraram prejuízo. O governo chinês vai encorajar fusões e fechamentos de usinas obsoletas com o objetivo de aumentar a concentração nas 10 maiores empresas até 2015. Assim o governo chinês não mais vai ajudar as empresas em crise, simplesmente vai deixar que morram.

      A crise do setor siderúrgico brasileiro atingiu em cheio a cidade de Ipatinga, sede principal da Usiminas, a maior siderúrgica nacional. A empresa acumulou um prejuízo de R$598 milhões em 2012, mas recuperou bem em 2013 quando obteve um pequeno lucro de R$17 milhões. A empresa realizou cortes de pessoal e de custos, diversificando suas atividades com a mineração de ferro, mas mesmo assim houve queda de produção (4% em relação a 2012) e sua dívida líquida permaneceu estável. Ipatinga sofre as consequências da crise desde 2011. Dados do CAGED do Ministério do Trabalho (emprego formal registrado em carteira de trabalho) revelam que até 2010, os saldos de emprego (admitidos menos demitidos) foram positivos em Ipatinga, mas de 2011 a 2013 foram negativos em 7858 postos de trabalho na indústria de transformação.
Em Minas a indústria metalúrgica obteve saldos negativos em postos de trabalho no mesmo período: 4362 menos empregos de 2011 a 2013. Mas enquanto a metalurgia mineira registra menos 2179 empregos em 2014 (até outubro), Ipatinga registra mais 717 empregos em 2014, indicando alguma recuperação da indústria de transformação da cidade, indústria esta que nunca sofreu saldos negativos no CAGED desde 2011 em termos de Minas e Brasil.  É claro que a cidade perdeu preciosos postos de trabalho e isso teve consequências no comércio e no setor serviços, afetando os empregos destes setores. Mas a partir deste fundo do poço, com menos massa salarial, a cidade inicia um processo de recuperação incrementando novas atividades em outras áreas, tais como construção civil (+1315 novos empregos) e setor serviços (+1153).

    Durante todo o período de crise a Administração Pública da cidade não sofreu reveses, mantendo o mesmo nível de emprego e o mesmo nível de receitas. Pode-se ver pela contabilidade pública que as receitas correntes do município não caíram em termos nominais, embora tenham aumentado menos que a inflação no período 2011/2012 (2,26%), mas conseguiram aumento acima da inflação em 2013/2012 (8,8%). Em 2014 (até outubro) as receitas totais são maiores do que todo o ano de 2013.
Embora a imprensa tenha dado destaque para a queda de arrecadação do ISS (-25,2% em 2012/2011 e -4,4% em 2013/2012), no entanto a receita deste imposto até agora está sendo maior do que foi arrecadado em 2012 e 16,8% mais que 2013. A recuperação do ISS em 2014 é um sintoma de que a economia do município está em processo de recuperação. Além do mais as receitas próprias do município (ISS, IPTU, taxas, etc.) representam apenas 1/6 do total das receitas (nos municípios pequenos estas receitas são menos de 1/10), pois os municípios brasileiros dependem muito de transferências do governo estadual (ICMS via Lei Robin Hood) e do governo federal (FPM, Fundeb, etc.). As transferências não sofreram quedas nominais embora os aumentos tenham sido abaixo da inflação mas foram compensadas com crescimentos maiores dos tributos municipais em 2013/2012 (7,4%) e 2014/2013(10,6%). Enfim a Administração Pública sentiu o impacto da crise, mas manteve-se em equilíbrio, não sofrendo quedas no vermelho.

    Embora a indústria metalúrgica esteja em crise em Ipatinga e em Minas, devido à situação internacional, não se pode dizer o mesmo da indústria de transformação em Minas e no Brasil. Ipatinga é o único dos cinco municípios selecionados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Petrobras para receber um programa de capacitação de fornecedores da indústria de petróleo e gás, longe do mar. “Justamente porque temos uma forte experiência em metal-mecânica”, acrescenta Jeferson Bachour Coelho, dono da Líder Indústria Mecânica, uma das empresas que constroem peças para a indústria naval.
Uma dezena de empresas do município passou a fornecer peças para a cadeia produtiva do pré-sal e recebem apoio de entidades industriais e de agencias de fomento como BNDES e FINEP. Com o aumento da produção do pré-sal que pode ser dobrada até 2020 e a entrada em operação de mais quatro refinarias da Petrobrás (o Brasil não constrói refinarias desde 1980), nossa esperança é que o APL (arranjo produtivo local) desta cadeia produtiva em Ipatinga e Vale do Aço, possa trazer grandes progressos à indústria regional e mineira.

*Daniel Miranda Soares. Economista, Msc.

Dois projetos econômicos em disputa nestas eleições

publicado originalmente no jornal Diário do Aço  http://www.diariodoaco.com.br/noticia/85343-7/opiniao/dois-projetos-economicos-em-disputa-nestas-eleicoes
24/09/2014      

      "O capitalismo é um sistema que, ou cresce, ou morre. As possibilidades de crescimento estão cada vez mais e mais limitadas” disse o prof. inglês David Harvey. E é verdade, o capitalismo não pode parar de crescer, quando pára entra em crise. No século XIX entrava em crise de 6 em 6 anos no período chamado de “liberalismo” quando o Estado (mínimo) não existia para controlar a economia. A partir da grande crise de 1929 (a maior de todas) o Estado aumenta sua participação na sociedade de 7% para 35-45% do PIB no período 1945-75, chamado keynesiano. O Estado aumenta sua intervenção na economia, promovendo reformas sociais, investindo mais em saúde e educação, redistribuindo a renda e melhorando a vida dos trabalhadores. Os salários sobem e aumentam sua participação no PIB, diminuindo a participação dos lucros das empresas. Os capitalistas reagem, aproveitando a crise da década de 1970 e passam a controlar os governos, diminuindo o poder de barganha dos trabalhadores (nos partidos e sindicatos) e aumentando seu poder na sociedade (mídia, intelectuais, partidos, novas instituições). Um novo ciclo se inicia a partir da década de 1980 - o neoliberalismo (a volta do Deus mercado - o mercado livre resolve todos os problemas da sociedade). A partir de Thatcher e Reagan, os governos (EUA e Europa) desregulamentam o sistema financeiro. Os impostos diminuem, criam-se novos títulos, ações e derivativos no mercado, aumentando os lucros e aumentando a circulação financeira de papéis especulativos sem lastros no mundo produtivo - o capital fictício.
        Para aumentar seus lucros o capital financeiro domina as decisões do capital produtivo, transferindo suas fábricas para países onde os salários são muito baixos. Pagando baixos salários os lucros aumentam e o volume de papéis financeiros multiplicam chegando a US$600 trilhões em circulação mundial, nove vezes o PIB mundial. A partir dos anos 1990 e 2000 as condições sociais se deterioram nas matrizes do capitalismo mundial, com aumento do desemprego, fechamento de fábricas, queda dos salários; culminando na bolha imobiliária nos EUA em 2007/8. A criação fictícia de novos papéis se multiplicam tanto que estes papéis não se realizam na ponta do sistema - os devedores (detentores dos “subprimes”) não conseguem pagar suas dívidas e a quebradeira acontece como bola de neve até atingir os bancos. Mas mesmo depois da crise o capital financeiro ainda sobrevive com ajuda dos governos que jogam bilhões no mercado para cobrir o rombo do capital especulativo - socializando o prejuízo. O capitalismo financeiro cresce concentrando a riqueza e aumentando a pobreza - essa dominância do capital fictício deprime o investimento e impõe um ritmo de crescimento muito baixo e elevadas taxas de desemprego - ao contrário do período keynesiano quando os investimentos e o crescimento econômico eram elevados e o desemprego muito baixo. Procuram novos mercados no Terceiro Mundo, forçando os  governos a abrir o capital de  suas estatais, como por exemplo CEMIG e COPASA, onde boa parte de seus acionistas são estrangeiros.
     Os paraísos fiscais são suas novas formas de expansão. No universo corporativo mundial uma rede de 737 grupos controla 80% do mundo corporativo, dos quais um núcleo mais restrito de 137 grupos controla 40%, sendo que 75% deles são grupos financeiros. Um estudo conduzido por James Henry, antigo economista chefe da consultoria McKinsey, estima que entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões estão guardados em paraísos tributários. Isso equivale à cerca de um terço à metade do PIB do planeta.Os paraísos fiscais se multiplicam como coelhos. Hoje, são mais de sessenta (Bahamas, Ilhas Cayman, Bermudas, Suíça, Mônaco, Luxemburgo, etc...) Atualmente eles servem para sediar novas empresas e fundações ou para virar “matrizes” em que todo o lucro é contabilizado ali, independentemente se o dinheiro é gerado fisicamente em outro lugar. Eles fogem do fisco elevado dos países de origem e vão para os “paraísos fiscais” onde a taxação do fisco é baixíssima (em Luxemburgo é de 0,5%).
      A transferência de lucros dos países de origem para os paraísos fiscais normalmente envolvem sofisticadas operações financeiras. Tomemos, por hipótese, o caso de uma máquina fabricada na França e vendida ao Equador, por meio das Bermudas. O preço de venda no Equador é de 2 mil dólares; os custos de produção, mil dólares. A filial das Bermudas paga à filial francesa 1.001 dólares pela máquina, que é faturada em seguida à filial equatoriana por 1.998 dólares. A companhia francesa obtém, portanto, um dólar de lucro (1001-1000 = 1); a subsidiária equatoriana, 2 dólares (2000 – 1998 = 2), o que gera muito pouca receita tanto para o Estado francês como para o Estado equatoriano. Já a filial das Bermudas realiza um lucro de 997 dólares (1998 – 1001 = 997), que não é tributado. E pronto! Aí está como desaparece uma nota fiscal! (Nicholas Shaxson - autor de um livro sobre paraísos fiscais). 
        Os paraísos fiscais possibilitam sonegar impostos, certamente, mas também fugir às responsabilidades civis e sociais. Eles isentam os ricos e as grandes empresas das restrições, dos riscos e das obrigações que a democracia exige de cada um de nós. Com este sistema ganham os muito ricos e as grandes corporações (80% do comércio internacional ocorre entre multinacionais), e perdem os contribuintes e os governos dos países. Ameaçam a soberania dos países e impedem a justiça tributária, condição necessária à justiça social. Mas, apesar de tudo isso, não rendem manchetes na imprensa brasileira.
      “Hoje o Brasil tem sua economia travada pela ação predatória e anti-social do sistema financeiro, que prefere colocar seus capitais na Bolsa de Valores e nos paraísos fiscais, ao invés dos investimentos produtivos que o pais necessita.” (Emir Sader). No Brasil estima-se que cerca de um quarto do PIB estão em paraísos fiscais, segundo o Tax Justice Network. Os capitais não se dirigem para um projeto desenvolvimentista (democratização social, combate à desigualdade, à miséria e à pobreza). Eles preferem sabotar esse projeto e permanecer na esfera especulativa. Uma eventual vitória de um candidato neoliberal (Aécio ou Marina) significaria o fortalecimento do capital financeiro sobre a economia, atentando fortemente contra o processo de distribuição de renda do governo atual. A opção brasileira foi a de resguardar as conquistas sociais e manter a economia a fogo brando até que a crise se extinga. Governos neoliberais (vide EUA, Europa) significam desemprego alto, salários reduzidos, dívidas impagáveis, perdas de moradia, aumento da pobreza e da miséria; exatamente porque o mercado livre (do controle do Estado) não resolve as questões sociais. No Brasil estas duas correntes estão em luta permanente: desenvolvimentismo (keynesiano) X neoliberalismo (capital financeiro). David Harvey, um dos maiores nomes do pensamento geográfico da atualidade, formado em Cambridge, professor britânico, disse recentemente: "A América Latina, em geral, está dando um exemplo ao tratar de reverter alguns dos piores aspectos do neoliberalismo.”

Daniel Miranda Soares é economista, Msc.
A Mídia matou Getúlio Vargas



Artigo publicado no Jornal Diário do Aço (impresso dia 28).
27/08/2014 - 15h32  Diário do Aço

http://www.diariodoaco.com.br/noticia/84421-7/opiniao/a-midia-matou-getulio-vargas

Na madrugada de 5 de agosto, o major-aviador Rubens Vaz foi assassinado na rua Toneleros, no Rio, em frente ao prédio onde morava Carlos Lacerda. Vaz era guarda-costas de um dos maiores adversários do então Presidente Getúlio Vargas, o jornalista Carlos Lacerda. Dezenove dias após o crime da Toneleros, Lacerda e a direita nativa conseguiram seu intento: Vargas deixou o Catete, porém, morto. O próprio Lacerda narrou o episódio de diferentes maneiras, ajudando a tornar a história ainda mais nebulosa.
Houve relatos de que ele deu um tiro no próprio pé para criar uma encenação. Com o estouro desse escândalo, criou-se um cenário favorável à deflagração de um golpe arquitetado por conservadores e militares. “...o suicídio traz uma certeza incontestável. Ele representou, se não a única, pelo menos a mais poderosa arma de Vargas contra aqueles que o haviam cercado e queriam sua cabeça. Com o suicídio, a oposição teve que esconder-se para não apanhar do povo nas ruas. Vargas se colocava como vítima de um crime contra o País.” (Antonio Lassance).

O que aconteceu de fato: Vargas foi eleito democraticamente em 1950 com ampla vantagem popular. O seu governo foi perseguido desde o início. Lacerda já dizia : “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Porque Vargas era tão odiado pela mídia e pela direita conservadora (UDN, etc.)? Por que queriam apeá-lo do poder de qualquer jeito? A verdade é que Getúlio venceu nas urnas em 1950 por causa do que ele fez para o trabalhador (CLT) e até hoje é lembrado por esse legado.
As leis trabalhistas já incluíam: carteira assinada, previdência e aposentadoria, férias, 13º salário, Salário Mínimo, Justiça do Trabalho; além do voto feminino, o sufrágio universal, ensino primário obrigatório; o papel do Estado como principal investidor na economia e o início da industrialização brasileira (criando grandes estatais).  Ele era tão querido pela população que o seu suicídio provocou uma enorme manifestação popular, nunca se viu tanta gente nas ruas do Rio de Janeiro, milhões de pessoas carregaram seu corpo do Palácio do Catete até o aeroporto Santos Dumont.

Esta manifestação (e as fotos dela), uma das maiores da história brasileira sempre foi abafada pela mídia, preocupada em desconstruir a imagem da popularidade de Vargas. A multidão também avançou contra os inimigos de Vargas : “A Tribuna da Imprensa de Lacerda foi empastelada. A redação de O Globo foi atacada, carros do jornal foram destruídos, o Jornal do Commercio teve sua oficina invadida, vários dos 17 jornais foram alvos da massa" (Jânio de Freitas, do jornal “Diário Carioca”).  
“A conspiração contra Vargas sempre foi permanente, seja pelos agentes dos trustes estrangeiros, seja pelas oligarquias nacionais. Mas, quando Vargas assinou o decreto para controlar a remessa de lucros ao exterior, a situação se tornou intolerável” (Samuel Pinheiro Guimarães).  O nacionalismo de Vargas criou fortes inimigos, tanto externos (o governo dos EUA) quanto internamente (a elite oligarca brasileira). 

Vargas foi tratado como criminoso, chefe de quadrilha, e responsável por um mar de lama. A mídia sempre usou a pecha da corrupção para derrubar seus adversários: “para derrubar um presidente, basta uma forte suspeita, uma firme disposição da oposição em fabricar acusações e um enredo incriminatório vendido como notícia” (Antonio Lassance). Podem-se ver muitas semelhanças com o governo Lula, mas hoje existe mais alternativas à mídia corporativa (como a internet).

Segundo Augusto Nunes, a mídia, apesar de seu poder manipulador, não conseguiu evitar as eleições de líderes populares em pelo menos três situações: Vargas (1950), Brizola (1982) e Lula (2002).  Lula deixou o governo depois de dois mandatos com aceitação recorde (87% de aprovação popular) por causa de seus programas sociais e a valorização do Salário Mínimo e Brizola não fez tanto sucesso por conta da campanha difamatória movida contra ele pela rede Globo. “A verdade é que a imprensa pode muito e não pode nada ao mesmo tempo porque é movida pelo dinheiro” (Augusto Nunes).

Quando colocamos em confronto o capital e o trabalho, a grande imprensa fica com a primeira opção e o povo com a segunda.  Quando o trabalhador é favorecido por decisões políticas em governos trabalhistas, a imprensa fica com o capital.  A popularidade de Lula aumentou apesar da extrema hostilidade que ele sofreu por parte da mídia. Em 2010, Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais disse :“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”
A perseguição continuou no governo Dilma. Segundo o Manchetômetro (pesquisa do laboratório de Mídia da UERJ), as manchetes dos grandes jornais nacionais revela que entre janeiro e julho de 2014, Dilma Rousseff (PT) foi bombardeada com 182 manchetes negativas nos respectivos jornais, contra 18 manchetes para Aécio Neves (PSDB) e 15 para Eduardo Campos (PSB). Enquanto o Jornal Nacional (Rede Globo) dedicou 1 hora e 22 minutos em 2014 para notícias consideradas desfavoráveis para a petista, contra apenas três minutos para reportagens consideradas favoráveis.

Para Venício Lima (A Ilusão do Quarto Poder, em Teoria&Debate) a mídia se transformou em megagrupos corporativos à altura das grandes corporações, monopolizando em meia dúzia de famílias grande poder econômico e político, controlando o que vemos, ouvimos e lemos, praticamente todo o fluxo da informação. Portanto o Quarto Poder independente (a mídia) não existe mais, pois ela mesma defende os mesmos interesses das grandes corporações. Noam Chomsky já disse:“o propósito da mídia não é de informar o que acontece, mas sim de moldar a opinião pública de acordo com a vontade do poder corporativo dominante.” E o poder corporativo dominante hoje é o capital financeiro que propaga o neoliberalismo - daí a perseguição da mídia aos governos trabalhistas que não aceitam os dogmas neoliberais.

*Daniel Miranda Soares, economista Msc.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

GETÚLIO VARGAS E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

O autor Adriano Benayon faz interessantes elogios mas também críticas à atuação política de Getúlio Vargas, enquadrando-o dentro do contexto geopolítico da época. Diz que apesar do esforço de Getúlio ele não conseguiu nos livrar da submissão ao império americano.

 

GETÚLIO VARGAS E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL



Por Adriano Benayon, doutor em economia e autor do livro "Globalização versus Desenvolvimento" 

Getúlio Vargas e a independência

"[Transcorreu domingoo 60º aniversário do golpe de Estado com o qual a oligarquia anglo-americana derrubou o presidente Vargas, em 24 de agosto de 1954.

2. Esse acontecimento teve efeitos tão desastrosos como importantes. Trata-se, nada menos, que da cassação da independência do Brasil.

3. A soberania do País nunca foi plenamente exercida, mas, se houve governante que tomou iniciativas para alcançá-la, esse foi Getúlio Vargas.

4. Exatamente por isso, a oligarquia imperial anglo-americana sempre conspirou contra ele, com a ajuda de pseudoelites e de agentes locais da política e da mídia, amiúde recrutados por meio de corrupção.

5. Em 1932, a oligarquia paulista promovera o fracassado movimento de 9 de julho, movida pelos interesses britânicos. Intitularam-no "constitucionalista", conquanto Getúlio organizara as eleições para a Constituinte que votou a Constituição de 1934, a qual instituiu significativos avanços econômicos e sociais.

6. Tão profunda como a estima dos verdadeiros industriais e a veneração dos trabalhadores brasileiros a Getúlio, foi a ojeriza da minoria desorientada pelos preconceitos da “democracia” liberal e dos contrários à industrialização, alimentada pela hostilidade da mídia, caluniosa e falsificadora dos fatos.

7. Vargas fora forçado, durante a Segunda Guerra Mundial, a ceder bases militares no Nordeste aos EUA, e cometeu o erro de insistir em enviar a Força Expedicionária Brasileira à Itália. A FEB foi equipada e armada pelos EUA e combateu sob comando norte-americano.

8. Daí se criaram laços entre os comandantes e oficiais de ligação estadunidenses e os oficiais brasileiros que conspiraram nos quatro golpes pró-EUA (1945, 1954, 1961 e 1964).

9. Em outubro de 1945, o pretexto foi derrubar um ditador, o que não tinha sentido, pois o presidente viabilizara eleições, já marcadas para o início de dezembro, e não era candidato. Após o golpe, recomendou votar no marechal Dutra, pois o brigadeiro Eduardo Gomes representava os que sempre se haviam oposto a Vargas.

10. Quando Vargas, eleito em 1950, voltou à presidência, nos braços do povo, já estava em marcha a desestabilização de seu governo, a qual culminou com o crime da rua Toneleros, já em agosto de 1954.

11. O crime foi dirigido pelo chefe da delegacia de ordem política e social (DOPS), famosa por seus métodos desumanos de repressão aos comunistas desde a época do Estado Novo, instituído por golpe militar, em 1937.

12. Esse golpe proveio de oficiais do exército, que colocaram Felinto Muller na chefia da polícia. Vargas, presidente constitucional desde 1934, permaneceu à frente do governo, mas não teve poder e/ou vontade suficiente para limitar significativamente as violências.

13. Ele sempre foi contemporizador, negociava com pessoas de diferentes tendências e, por vezes, as colocava ou mantinha no governo. Ao voltar Vargas, em 1951, continuou na DOPS o filonazista Cecil Borer, que vinha da administração do marechal Dutra. Como tantos pró-nazistas, mundo afora, movido pelo anticomunismo, Dutra subordinou-se aos interesses dos EUA.

14. Apesar de seus erros, Vargas merece lugar de honra na história do Brasil, por ter dado o indispensável apoio do Estado ao desenvolvimento industrial, que despontava desde o início do século XX e ganhou força, de 1914 a 1945, graças também à redução dos vínculos comerciais e financeiros com os centros mundiais, propiciada pelas duas guerras e a longa depressão dos anos 30.

15. Antes do fim da Segunda Guerra Mundial, o império já planejava fazer abortar esse processo. Mais tarde, diria o notório Henry Kissinger: “para os EUA seria intolerável o surgimento de uma nova potência industrial no hemisfério sul.”


16. Os serviços secretos dos EUA e do Reino Unido vinham, de há muito, operando na desestabilização do presidente. Em 1954, Borer envolveu informantes da polícia e pistoleiros no crime da Toneleros, que matou o major Vaz, da aeronáutica, simulando que o alvo seria o virulento adversário de Vargas, Carlos Lacerda.

17. Na armação policial-jornalistica-militar, Vaz, casado e pai de filhos pequenos, substituiu, na ocasião, o solteiro major Gustavo Borges. Lacerda engessou o pé dizendo ter tomado um tiro de revólver, mas, se isso fosse verdade, o pé teria sido destroçado. Nunca se encontrou um prontuário de atendimento em hospital.

18. A conspiração enredou a guarda pessoal do presidente e o fiel guarda-costas Gregório Fortunato, que foi torturado e ameaçado para confessar o que não fez. Condenado a 15 anos de detenção, foi assassinado na prisão, em operação de queima de arquivo.

19. O golpe de 1954 é o maior marco negativo da história do Brasil, pois o governo udenista-militar, dele egresso, criou vantagens incríveis para as empresas transnacionais dominarem por completo a produção industrial do País. Fez os brasileiros pagar caríssimo para serem explorados.

20. Foi, assim, inviabilizado o desenvolvimento de tecnologias nacionais, a não ser por grandes empresas estatais ou apenas em nichos menores, no caso de indústrias privadas nacionais, ainda assim, fadadas a ser desnacionalizadas.

21. Tanto o golpe de 1964, que instituiu os governos militares, como a falsa democratização, a partir de 1985, intensificaram as políticas pró-capital estrangeiro em detrimento do País.

22. Os governos de 1954-1955 e 1956-1960 (JK) foram motores da desnacionalização da economia. Os de Collor e FHC/PSDB os mais monoliticamente entreguistas. Nenhum operou reversões nessa marcha infeliz.

23. A herança hoje é a desindustrialização e a colossal dívida pública, tendo a União já gastado nela, desde 1988, quase 20 trilhões de reais. Além disso, recorrentes crises devidas aos déficits de comércio exterior.

24. As realizações do presidente Vargas fazem dele o principal herói nacional e exemplo para futuros líderes. Mas não sem reservas, porque lhe faltou combatividade e espírito revolucionário.

25. Não me parece verdade que o nobre sacrifício de sua vida tenha frustrado os objetivos dos imperialistas. Preservaram-se as estatais, mas a própria Petrobrás - que já nascera sem o monopólio na distribuição, o segmento mais lucrativo – acabou, em parte, arrancada da propriedade estatal. Além disso, nos anos 90 [FHC/PSDB], ocorreram as doações-privatizações de dezenas de fabulosas estatais, algumas criadas durante governos militares.

26. A grande derrota estratégica deu-se com a entrega dos mercados e da produção industrial privada às transnacionais. Sem isso, a dívida externa não teria explodido em 1982, nem sido torradas as estatais, a pretexto de liquidar dívidas públicas, as quais, depois disso, ao contrário, se avolumaram como nunca.

27. O momento para evitar esse lastimável destino, era com Vargas, amado pelo povo, que foi às ruas, em massa nunca vista, pronto a tudo, quando de sua morte. Aí não havia liderança, nem plano.

28. Getúlio precisava ter cortado, no nascedouro, os lances que minaram suas bases de poder. Entre esses, o acordo militar Brasil-Estados Unidos, de 1952, negociado por Neves da Fontoura, ministro das Relações Exteriores, e por Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior das FFAA, sem o conhecimento do ministro do Exército, Estillac Leal.

28. Este se demitiu, pois Vargas assinou o acordo, e, com isso, cedeu aos que, mais uma vez, o traíam, e perdeu seu ministro nacionalista.

29. Fraquejou novamente em 1953, quando, embora mantendo o correto reajuste do salário mínimo, demitiu João Goulart do ministério do Trabalho, medida exigida em memorial assinado por 82 coronéis do Exército. Nesse episódio, caiu o ministro do Exército, Cyro do Espírito Santo Cardoso.

30. Não era tarefa simples sustentar-se sob constante e intensa pressão contrária da alta finança anglo-americana, a qual não economiza recursos nem hesita em recorrer à corrupção e a práticas celeradas. Entretanto, a pior maneira de reagir a essa pressão é fazer concessões, em vez de cortar a crista dos golpistas.

31. Deixando de coibir aquelas práticas, Vargas facilitou o caminho dos inimigos. Sobraram-lhe escrúpulos, ao exagerar em sua tolerância, para não ser acoimado de "ditador". Faltaram bons serviços de inteligência e a compreensão de que seria derrotado, se não mobilizasse o povo e a oficialidade nacionalista."


FONTE: escrito por Adriano Benayon, doutor em economia e autor do livro "Globalização versus Desenvolvimento". Artigo publicado no "Pátria Latina" (http://www.patrialatina.com.br/colunaconteudo.php?idprog=97108695bd93b6be52fa0334874c8722&codcolunista=33&cod=3358).

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

As eleições e a mídia - Marcos Coimbra

As eleições e a mídia - Por Marcos Coimbra*


Na próxima terça 19, com o inicio da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, entraremos na etapa final da mais longa eleição de nossa história. Começou em 2011 e nossa vida política gira em torno dela desde então.

A batalha da sucessão de Dilma Roussef foi iniciada quando cessou o curto período de lua de mel com as oposições, no primeiro ano de governo. Talvez em razão do vexame protagonizado por José Serra na campanha, o antipetismo andava em baixa.

Durou pouco. Na entrada de 2012, o clima político deteriorou-se. As oposições perceberam que, se não fizessem nada, marchariam para nova derrota na eleição deste ano. Ao analisar as pesquisas de avaliação do governo e notar que Dilma batia recordes de popularidade a cada mês, notaram ser elevadas as possibilidades do PT chegar aos 16 anos no poder. E particularmente odiosa. Serem derrotados outra vez por dilma doía mais do que perder para Lula.

Ela era "apenas" uma gestora petista, sem a aura mitológica do ex-presidente. Sua primeira eleição podia ser creditada, quase integralmente, à força do mito. Mas a segunda, se viesse, seria a vitória de uma candidatura "normal". Quantas outras poderiam se seguir?

A perspectiva era inaceitável para os adversários do PT. Na sociedade, no sistema político e no empresariado, seus expoentes arregaçaram as mangas para evitá-la. A ponta de lança da reação foi a mídia hegemônica, em especial a Rede Globo.

Recordar é viver. Muitos se esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a "grande imprensa" formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional.

Não é teoria conspiratória. Quem disse que os "meios de comunicação estão fazendo de fato a  posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada", foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais executivas do Grupo Folha. Enunciada em 2010, a frase nunca foi tão verdadeira quanto de 2012 para cá.
Como resultado da operação da vanguarda midiática oposicionista, estamos há três anos imersos na eleição de 2014. A derrota de Dilma é buscada de todas as formas. O "mensalão"? Joaquim Barbosa? A "festa cívica" do "povo nas ruas"? O "vexame" da Copa do Mundo? A "compra da refinaria"? O "fim do Plano Real"? A "volta da inflação"? O "apagão" na energia? A "crise na economia"? A "desindustrialização"? O "desemprego"?
Nada disso nunca teve verdadeira importância. Tudo foi e continua a ser parte do esforço para diminuir a chance de reeleição da presidenta.

Ou alguém acha que os analistas e comentaristas dessa mídia acreditam, de fato, na cantilena que apregoam quando se vestem de verde-amarelo e se dizem preocupados com a moral pública, os empregos dos trabalhadores ou a renda dos pobres? Ou queiram fazer "bom jornalismo"?

Temos agora uma ferramenta para elucidar o papel da mídia na eleição. Por iniciativa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, está no ar o manchetômetro (http:www.manchetometro.com.br
), um site que acompanha a cobertura diária da eleição na "grande imprensa": os jornais Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, além do Jornal Nacional da Globo (como se percebe, os organizadores do projeto julgaram desnecessário analisar o "jornalismo" do Grupo Abril).

Lá, vê-se que os três principais candidatos a presidente foram objeto, nesses veículos. de 275 reportagens de capa desde o inicio de 2014. Aécio Neves, de 38, com 19 favoráveis e 19 desfavoráveis. Tamanha neutralidade equidistante cessa com Dilma: ela foi tratada em 210 textos de capa. Do total, quinze são favoráveis e 195 desfavoráveis. Em outras palavras: 93% de  abordagens negativas.

É assim que a população  brasileira tem sido servida de informações desde quando começou o ano eleitoral. É isso que a mídia faz para exercer o papel autoassumido de ser a "oposição de fato".

O pior é que a influência dessas empresas ultrapassa o noticiário. Elas contratam as pesquisas eleitorais que desejam e as divulgam quando e como querem. E organizam os  debates entre os candidatos.

Está mais que na hora de discutir a interferência dessa mídia no processo eleitoral e, por extensão, na democracia brasileira.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Complexo de Vira-latas: por que o Brasil nunca ganhou um Prêmio Nobel ?

Prêmio Nobel e o Complexo de Vira-latas
      Ronaldo, o fenômeno, ex-craque da seleção, que  estava com vergonha do Brasil na Copa do Mundo, criticou mais o Brasil em sua conta na rede social postando uma foto em que aparece um placar : “Alemanha 102 x 0 Brasil” em alusão aos prêmios Nobel recebidos pelo país. Na imagem ainda exibe a pergunta: “E você acha que 7 x 1 foi goleada?”.  Muitos brasileiros, como Ronaldo,  exibem seu complexo de vira-latas, sentindo-se envergonhados por que o Brasil nunca ganhou um Prêmio Nobel. E a postagem de Ronaldo não foi bem vista por seus seguidores. Diversos deles criticaram o ex-jogador e também ironizaram suas declarações.

A questão no entanto é mais profunda - na verdade é uma questão de desenvolvimento econômico e social. Países mais desenvolvidos, basearam seu próprio desenvolvimento econômico em pesquisas científicas. Estes avanços científicos os colocaram na frente da corrida industrial. Os países subdesenvolvidos sempre estiveram à margem desta corrida devido ao comércio internacional que os impediam de avançar, colocando-os sempre como fornecedores de matérias primas. Devido a este processo os países do Primeiro Mundo receberam quase todos os prêmios Nobel, restando muito pouco aos países do Terceiro Mundo. Enquanto os EUA receberam 347 prêmios, o Reino Unido ganhou 120, a Alemanha 104, França 65, Suécia 30, Rússia 27, Suíça 26, Canadá 23, Áustria 22, Itália 20, Japão 20, Austrália 13, Polônia 15, Dinamarca 14, China 9.  A América Latina recebeu 19 (Argentina 5, México 3, Chile 2, Colômbia/Costa Rica/Peru/Venezuela 1), a África 16 e a Oceania 16.

 Criado pelo milionário sueco Alfred Nobel (1833-1896) para evitar que seu nome fosse lembrado somente pela invenção da dinamite, desde 1901, a Academia de Ciências Sueca escolhe seus preferidos, causando um rebuliço digno de final de Copa do Mundo. A academia só não divulga como. O processo de escolha é secreto e recebe indicações.  Poucos sabem que o Brasil já esteve muito perto de ganhar o Prêmio Nobel, por diversas vezes. Vamos enumerar os casos mais famosos:
1) Santos Dumont foi uma possibilidade, mas os irmãos Wright tinham a preferência dos países do Norte;
2) o brasileiro Cândido Rondon foi indicado por Albert Einstein;
3) Carlos Chagas (1878-1934) chegou pertíssimo, foi indicado 4 vezes. A Real Academia Sueca de Ciências procurou organismos científicos no Brasil, em busca de mais dados sobre a personalidade e a obra do cientista. Aparentemente, o prêmio estava reservado para Chagas, mas o instituto sueco recebeu a informação que a doença era falsa. Curiosamente, a principal oposição à indicação de Chagas não vinha da comissão do Nobel, mas de alguns de seus compatriotas do Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos (hoje, Fundação Oswaldo Cruz) e da Academia Nacional de Medicina, ao ponto de se negar a existência da doença e de se levantar dúvidas sobre a seriedade do trabalho de Chagas. Essas desavenças chegaram aos ouvidos da comissão do Nobel, que, por via das dúvidas, deixou o ano de 1921 sem a premiação da área para a qual Chagas estava indicado;  
4) O alagoano Jorge de Lima (1893-1953) chegou perto,foi um talento reconhecido em 1947 por um olheiro do Nobel. Impressionado com a obra do poeta, Artur Lunkvist convenceu a academia a dar o Nobel de Literatura a ele no ano de 1958, já que havia uma lista de autores para ganhar antes. Infelizmente, Jorge morreu em 1953. E o Nobel só premia vivos;
5) O bioquímico carioca Maurício Rocha e Silva (1910-1983) descobriu a bradicinina, substância importante para a controle da pressão arterial, em pesquisa com o veneno da cobra jararaca;
6) O bioquímico paulista Sérgio Henrique Ferreira (1934-) continuou o trabalho de Rocha e Silva ajudando na criação de drogas a partir da bradicinina. Fez parceria com o britânico John Vane, que levou o Nobel de Medicina em 1982, sozinho;
7) Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) não queria saber do jogo. Quando, em 1967, seu tradutor para o sueco pediu todas as suas traduções disponíveis, ele não quis colaborar, disse que o merecedor era Jorge Amado;
8) O baiano Jorge Amado (1912-2001) ofereceu perigo de gol até os últimos minutos do segundo tempo. Mas acabou partindo antes que o prêmio chegasse. O momento em que esteve mais próximo do Nobel de Literatura foi em 1967, logo após o sucesso de Dona Flor e seus Dois Maridos. Nesse ano, perdeu para o guatemalteco Miguel Angel Astúrias;
9) Celso Furtado (1920-2004) paraibense, também chegou a ser cogitado, mas parece que a cartolagem preferia economistas matemáticos. Grande economista de fama mundial, representante do “estruturalismo”, o seu estudo mais importante trata-se do desenvolvimento econômico e seus problemas. Este prêmio foi atribuído em 1998 ao economista bengali Omortia Sem; 
10) O mais espantoso é que um brasileiro nato já ganhou um prêmio Nobel. Peter Brian Medawar, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1960, era brasileiro, nascido no hospital Santa Tereza, em Petrópolis, onde viveu até os 14 anos de idade antes de mudar para a Inglaterra e se naturalizar. Com justiça, os britânicos o arrolam como um Nobel inglês. Entusiasta da pesquisa científica, nos anos trinta queria continuar a investigar sem renunciar à sua nacionalidade brasileira. Para isto solicitou do governo brasileiro que o isentasse de fazer o serviço militar obrigatório. O governo recusou-lhe tal isenção, assinando o escrito de recusa o ministro Salgado Filho. E este grande investigador, que  trabalhara com Fleming, de pai libanês, brasileiro de nascimento e com estudos primários e secundários no Brasil, a quem se deve a importantíssima teoria da “Tolerância Imunológica Adquirida”, vital para que hoje possamos, por exemplo, fazer transplantes de órgãos, não teve outro remédio, para poder continuar a pesquisar, senão solicitar a nacionalidade britânica;

11) Cesar Lattes (1924-2005) foi injustiçado em 1950 por não ter ganho o prêmio de Física. O brasileiro comprovou experimentalmente a existência da partícula subatômica méson pi e quem levou o prêmio foi o britânico Cecil Powell, que ajudou na redação do estudo.César Lattes tinha apenas 22 anos quando publicou, em 1947, na revista Nature, a descoberta do méson pi. O artigo era assinado por Lattes, Occhialini (Giuseppe Occhialini, físico italiano) e Powell (Ceci Powell, chefe da equipe de pesquisadores da Universidade de Bristol, Inglaterra). Powell recebeu o prêmio e sua equipe nem foi citada. Powell trabalhava para Lattes que liderava e desenvolvia a pesquisa. Lattes disse:  "Eu fiz a experimentação e as medidas. Ele apenas ajudou a redigir, porque possuía maior domínio da língua inglesa.”. Contudo, em 1949, o japonês que propôs a partícula ganhou o Nobel, e em 1950 Cecil Powell que trabalhava para Lattes ganhou o Nobel pela pesquisa liderada e desenvolvida por Lattes. Até hoje isso contínua sendo um grande mistério para a comunidade científica.  Um dos prêmios mais injustos até hoje; 

12) Dom Hélder Câmara - foi autor de um dos maiores programas sociais do Nordeste nas décadas de 1960 e 1970, o Operação Esperança.  Em 1970, reuniu mais de 20 mil pessoas em Paris para denunciar torturas no Brasil. Por suas obras, foi indicado ao Nobel da Paz de 1970 a 1973. Era favorito absoluto nas quatro vezes, mas nunca ganhou por causa de pressões do governo brasileiro na época. Dizem que o próprio Médici instruiu os embaixadores brasileiros na Suécia e na Noruega que impedissem o prêmio para o "bispo comunista".   O que muitos desconfiavam foi confirmado no livro Dom Hélder Câmara - Entre o Poder e a Profecia, de Nélson Pilitti e Wálter Praxedes. Os autores revelam que uma campanha afastou, entre os anos 70 a 73, o arcebispo do Nobel da Paz. Estão no livro documentos provando que o Governo Garrastazu Médici (1969-74) moveu, por meio da embaixada brasileira em Oslo (Noruega), uma campanha secreta contra a eleição do arcebispo. "Nunca soube do fato", garantiu dom Hélder, quando o livro foi lançado. Os autores mostram trechos de telegramas enviados ao Ministério das Relações Exteriores pelo embaixador do Brasil na Noruega, Jaime de Souza Gomes, em que ele presta contas de sua ação pelo discreto esvaziamento da candidatura de dom Hélder ao prêmio;

13) O químico Otto Gottlieb (1920-2011) foi proposto nos anos 1998,1999 e 2000 para receber este prêmio. Tinha elaborado um interessante índice para medir a biodiversidade dos ecossistemas da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica. Escreveu mais de 700 artigos científicos e foi um investigador de verdadeira categoria ; 

14) Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro, o único brasileiro hoje em dia em condições de ganhar o Nobel,  tem 52 anos, é médico com doutorado pela Universidade de São Paulo, pós-doutorado no Hospital Universitário Hahnemann (EUA) e há duas décadas é professor na Universidade Duke (EUA), onde lidera um grupo de pesquisadores da área de neurociência....primeiro cientista brasileiro a ser capa da Science. Já realizou duas palestras na Fundação Nobel de Estocolmo, em 2007 e 2011. Já ganhou 38 prêmios internacionais por suas pesquisas, três deles, em 2010, do NIH - Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Seu experimento, o exoesqueleto foi boicotado pela FIFA, na abertura da Copa do Mundo de 2014 (lhe deram apenas 3 segundos) e pela mídia brasileira (Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi da revista VEJA). A Rede Globo cortou a transmissão para mostrar o ônibus da Copa, e acabou não dando destaque ao exoesqueleto. Diogo Mainardi, ex-colunista da Veja, resolveu se aventurar no universo da ciência e criticou o Projeto Andar de Novo liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. “Exatamente como Santos Dumont, Nicolelis inventou o que já havia sido inventado”, provocou Mainardi no Twitter. Nicolelis respondeu. “Pena que não. Nenhum paciente havia usado pensamento para controlar um exoesqueleto que devolve feedback tátil para o usuário. Talvez em Veneza não tenha chegado a notícia, mas Santos Dumont inventou o voo controlado, sem o qual o avião não seria possível. Portanto, procure se informar, estudar um pouco mais, durante seus passeios de gôndola. Ciência não é o seu forte”, concluiu o cientista.
Enquanto Miguel Nicolelis é achincalhado por Veja e seus leitores, as principais publicações científicas do mundo exaltam o seu trabalho. É que nas cabeças brilhantes dos nossos cientistas de ocasião, o sucesso do exoesqueleto seria contabilizado como uma vitória de Lula e Dilma, e não do Brasil, dos brasileiros e da comunidade científica mundial. Assim como o governo americano, o Brasil fez alto investimento no projeto: R$33 milhões. Não fez mais do que a obrigação. Mesmo assim, oposicionistas desejam minar qualquer possível ganho político que o governo venha a ter com o sucesso do projeto. Mesmo que para isso seja necessário vandalizar essa importante contribuição do país para a humanidade. É o famoso viralatismo brasileiro, misturado com campanha política em ano de eleição.
Mas nada disso mostrou-se suficiente para evitar que Nicolelis fosse alvo dos ataques dos calunistas de plantão, que o acusaram de midiático, perdulário com o dinheiro público, farsante e de criar algo que pode ter futuro uso militar - claro, como a pólvora, o avião, os alimentos enlatados, o satélite, o computador, o telefone celular.
Paulo H. Amorim disse que a mídia resolveu desqualificar um dos "maiores cientistas brasileiros vivos" por ter visto nele um "amigo de Lula".

Pois é, Nicolelis não é o primeiro a ser ignorado no Brasil. Ah, mas quando os americanos fizeram um homem voar na abertura das Olímpiadas aí sim todo mundo achou o máximo.
Parece que o complexo de vira-latas, que atingiu muita gente no Brasil, nos impede de dar valor à ciência nacional.

Outros brasileiros também mereceriam o prêmio. O mais extraordinário escritor do Brasil em toda a história foi Joaquim Mª Machado de Assis (1839-1908), poderia ter sido agraciado com o prêmio já que morreu em 1908 e o prêmio começou a ser distribuído em 1901; Cecília Meireles (1901-1964): esta grande poeta e educadora nunca foi proposta para o Nobel. Mesmo no Brasil, de forma injusta e incompreensível, foi só reconhecida postumamente, recebendo os prêmios mais importantes uma vez falecida; João Guimarães Rosa (1908-1967) ;Graciliano Ramos (1892-1953);  Ariano Suassuna ; Érico Veríssimo (1905-1975), José Lins do Rego (1901-1957), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), etc...
Dom Paulo Evaristo Arns (1921-) foi um dos defensores da camisa canarinho na disputa pelo Nobel da Paz. Ele concorreu em1990, mas teve que encarar o megacraque Dalai Lama, que ficou com o título. Zilda Arns, o sociólogo Betinho e até o presidente Lula também deram a sua contribuição para emplacar na categoria. Imagina o Lula candidato ? Choveria dezenas de cartas e protestos da direita brasileira endereçada ao comitê sueco do Prêmio Nobel.

O prêmio Nobel é tão excêntrico e político como o próprio Nobel. O prêmio Nobel, como todos sabem, sempre teve um caráter político e geo-político muito forte. O filósofo francês Jean Paul Sartre, ganhador do Nobel de Literatura de 1964, simplesmente recusou o prêmio – não queria que o reconhecimento institucional influenciasse sua obra. A meritocracia nunca foi o tema mais importante para o prêmio. Einsten não ganhou pela teoria da relatividade e sim por uma pesquisa muito menos significativa. Isso pelo medo da teoria da relatividade ser falha.Por pressão do regime nazista, Einstein teve o prêmio negado mesmo sendo indicado por anos seguidos. Apenas em 1921 ele recebeu o Nobel de Física pelos estudos sobre o efeito fotoelétrico.
Ghandi nunca ganhou o prêmio Nobel da paz, contudo Kissinger (envolvido na guerra do Vietnã e na queda do regime democrático do Chile em 1973) já levou o prêmio para os EUA. Entre 1937 e 1948, Gandhi recebeu 12 indicações à láurea apesar de ter se formado em Direito em Oxford, na Inglaterra, ele não era europeu, nem americano, nem um político de carreira, nem pertencia a alguma organização oficial. O escritor soviético Boris Pasternak (autor de Doutor Jivago) escolhido para o Nobel de Literatura em 1958 (aquele que estava prometido para o brasileiro Jorge de Lima), foi um dos que tiveram que declinar, por pressão do governo de Moscou, que acusava a fundação Nobel de sempre favorecer os países capitalistas.

      Ozires Silva (Reitor da Unimonte, de Santos; foi ministro da Infraestrutura e presidiu empresas como Embraer, Varig e Petrobras) responde a pergunta: porque o Brasil nunca ganhou um Prêmio Nobel? Em 1994 quando participava de uma reunião na Real Academia Sueca de Engenharia fez a pergunta a um colega sueco e ele respondeu: "Vocês, brasileiros, são destruidores de heróis". E acrescentou que brasileiros indicados devem ter sido retirados das listas de candidatos, muito possivelmente, por cartas e manifestações, duras e ácidas, produzidas por outros brasileiros. Ao contrário dos Estados Unidos, onde, disse ele, há um aplauso generalizado aos candidatos ao Nobel,  no Brasil, as pessoas usualmente se sentem constrangidas quanto a produzir elogios, mas são extremamente desenvoltas quanto a fazer críticas. Como vimos pela lista dos possíveis ganhadores do prêmio vários candidatos brasileiros foram caluniados e desconstruídos pelos próprios brasileiros na indicação do Nobel - como é o caso de Carlos Chagas e D. Hélder Câmara; fora os outros que não sabemos (Miguel Nicolelis e Lula ?). Mas também houve casos que poderíamos ter ganho o prêmio mas a política de premiação e/ou preconceito ou discriminação impediram (César Lattes, Sérgio Henrique). E outros casos que não tivemos sorte (Jorge de Lima, morreu antes de receber o prêmio) ou descaso do governo (Peter Brian Medawar).


"Darcy Ribeiro costumava dizer que temos as elites mais reacionárias do mundo e aquelas que mais internalizaram dentro de si o processo de colonização que implica submeter-se ao senhor estrangeiro, considerar-se sempre dependentes dele, e para manter vantagens como sócios subalternos e agregados, nunca se oporem a ele", analisa o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff. Ele identifica que esta estratégia ainda está em vigor na mente das elites políticas brasileiras, que sempre se alinharam ao poder do momento. Primeiro a Inglaterra, agora os EUA.   

No dia 17 de dezembro de 2010, durante uma aula de abertura da Universidade Aberta do Brasil em Moçambique, o Presidente Lula defendeu a necessidade de integração entre os países do Hemisfério Sul, para que deixem de ser submissos aos do Norte ou que se sintam inferiorizados: "Como tivemos nossa cabeça colonizada durante séculos, aprendemos que somos seres inferiores e que qualquer um que enrola a língua é melhor do que nós. O que queremos agora é levantar a cabeça juntos e construir juntos um futuro em que o Sul não seja mais fraco do que o Norte, em que o Sul não seja dependente do Norte. Se nós acreditarmos em nós mesmos, podemos ser tão importantes quanto eles, tão sabidos quanto eles", afirmou.... ( in : http://www.webartigos.com/artigos/porque-o-brasil-nunca-ganhou-um-premio-nobel/55611/).


Daniel Miranda Soares é economista e EPPGG aposentado. Mestre pela UFV e ex-professor.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A crise neoliberal representa um retrocesso social


A crise neoliberal é a crise do capitalismo financeiro

François Chesnais, economista e professor da Universidade de Paris, em seu livro mais recente “A Finança Mundializada” (Boitempo Editorial) distingue dois tipos mais destacados de empresas capitalistas: os grandes grupos industriais transnacionais (ou multinacionais) e ao seu lado menos visíveis e menos analisadas estão as instituições financeiras. Este último capital, também chamado por ele de “capital portador de juros” busca “fazer dinheiro” sem sair da esfera financeira, sob a forma de juros de empréstimos, dividendos e outros pagamentos recebidos a título de posse de ações. Os investidores institucionais atuam com fundos de pensão, fundos coletivos de aplicação, sociedades de seguros, bancos que administram sociedades de investimento, bônus do Tesouro e outras formas de títulos da dívida pública, obrigações das empresas e ações. Buscaram suas bases na centralização dos lucros não reinvestidos das empresas e das rendas não consumidas das famílias (especialmente os planos de previdência privada e a poupança salarial) formando um trampolim de uma acumulação financeira de grandes dimensões. Foi necessário que os Estados mais poderosos decidissem liberar o movimento dos capitais e desregulamentar e desbloquear seus sistemas financeiros a partir de 1979-81, dando início ao sistema de finança mundializada e interconectada internacionalmente. Os investidores institucionais foram os primeiros beneficiários da desregulamentação monetária e financeira e ao longo dos anos 80, eles tiram dos bancos o primeiro lugar como pólo da centralização financeira. O mercado de câmbio com taxas flexíveis e o colapso do sistema de Bretton Woods foi o primeiro a entrar na mundialização financeira, junto com a abertura externa e interna dos sistemas nacionais (o livre comércio internacional) antes fechados e compartimentados, conduziram à emergência de um espaço financeiro mundial.

As consequências mais dramáticas desta liberalização foi a crise da dívida externa do Terceiro Mundo. Estes países pegaram muito dinheiro emprestado a juros baixos nos anos 70 (Brasil pra financiar grandes projetos) e aí veio o golpe de 1979 quando as taxas explodiram, multiplicando por 3 e até por 4 os juros a serem pagos por estes países. A crise foi dramática e o FMI e Banco Mundial (por imposição americana) impôs ajustes estruturais (para garantir o pagamento da dívida) provocando crises econômicas e sociais, privatização de estatais, bancos e até de serviços públicos na AL (água, gás, telefone, eletricidade) e desindustrialização, aumentando a dominação da periferia pelo centro. O Brasil recorreu ao FMI e sua dívida cresceu como uma bola de neve, quanto mais pagava mais devia – houve queda do PIB e até quedas das taxas sociais de desenvolvimento (como aumento do índice de mortalidade infantil devido ao enxugamento de recursos pelo Estado para pagar os juros). A violência da crise financeira na América Latina ocorreu na proporção da desindustrialização, do desemprego e da pobreza provocada pela abertura ultraliberal. Mas em termos de valores absolutos de transferências financeiras, a dívida pública decisiva não foi a do Terceiro Mundo, mas a dos países mais avançados : EUA e Europa. Investidores financeiros estrangeiros financiaram déficits orçamentários dos grandes países industrializados pela aplicação de bônus do Tesouro e outros compromissos da dívida sobre o mercado financeiro.

Mas o mais importante da análise de François Chesnais é que ele aprofunda a análise sobre como o capital financeiro passa a dominar o sistema econômico como um todo e a partir daí o declínio econômico resultante desta supremacia financeira e as consequentes crises neoliberais, até hoje acontecendo. A partir dos anos 80 o capital financeiro transforma o sistema, inclusive juridicamente, despendendo energias consideráveis para subordinar os administradores industriais aos interesses do mercado bursátil, transformando seus agentes, interiorizando valores e códigos de conduta. O administrador financeiro passa a ser sujeito em vez de objeto em relação ao administrador industrial. As prioridades se invertem, juros dominam lucros e os grupos são dirigidos por pessoas para as quais a tendência da Bolsa passa a ser mais importante e os valores da finança triunfam. Os assalariados foram as principais vítimas da chegada dos proprietários acionistas. É contra eles que se exerce o novo poder administrativo. A flexibilização do emprego e o recurso sistemático ao trabalho barato e pouco protegido dominam o ambiente por meio da deslocalização e da subcontratação internacional. Ou seja os empregos se deslocam para o Terceiro Mundo onde o trabalho é precarizado e pouco protegido e os salários muito mais baixos, devido à ausência de regulamentação do trabalho. As filiais no exterior e as redes de subcontratação sustentam os lucros e os valores acionários. E criam nos países de origem dos grupos as condições de forte pressão para impor “reformas” que organizam o retrocesso social. A fuga de cérebros para os EUA também é resultado desse processo na área de P&D.
As promessas neoliberais em matéria de crescimento econômico, de emprego e de bem estar social resultaram em desastre completo, apesar do apoio da imprensa (quase totalidade da grande mídia reza na cartilha neoliberal) dizendo que a economia “está cada vez melhor”. Segundo o autor se se usa o indicador de taxa de crescimento per capita do PIB (indicador de produção e riqueza) constata-se que: a) uma taxa de 4% no período 1960/1973; b) 2,4% entre 1973/1980; e c) e uma queda para 1,2% entre 1980/1993, não aumentando depois disso. Já o PIB mundial não superou 2% ao longo da década de 1990, enquanto que foi de 7% no período keynesiano 1963/1973, caindo para 3% entre 1973/1990. Outro indicador importante é a taxa de crescimento do produto industrial: nos países da OCDE, ela passou de 6% no início dos anos 60 para 2% ao longo dos anos 90. O crescimento econômico cai devido à queda no nível dos investimentos e estes caem porque uma parte cada vez maior dos lucros está sendo direcionada ao capital financeiro e não sendo reinvestida na produção e também uma parte cada vez menor direcionada aos salários. Como resultado deste processo : a taxa de crescimento é lenta e o desemprego aumenta, junto com as desigualdades sociais.

Um relatório recente da OCDE (2014) — sugestivamente intitulado “Divididos estamos: porque aumenta a desigualdade”, indica que “a renda média de 10% das pessoas mais ricas representa nove vezes a renda dos 10% mais pobres” nos países (ricos, em sua maioria) que integram esta organização. A distância aumenta em dez para um na Grã-Bretanha, Itália e Coreia do Sul; chega a quatorze para um em Israel, Estados Unidos e Turquia, diz o informe. O Relatório reconhece que houve aumento da desigualdade entre seus membros - ”O número de famílias sem renda de trabalho dobrou em Grécia, Irlanda e Espanha; e subiu 20% ou mais em Estônia, Itália, Letônia, Portugal, Eslovênia, Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales.”
Nos últimos 30 anos, mostra o estudo, as reformas tributárias em todas as nações da OCDE cortaram de forma substancial os impostos cobrado aos mais ricos. A média de taxação caiu de 66%, em 1981, para 43%, em 2013. E as taxas cobradas de dividendos sobre lucros recuaram de 75% para 42%. É o capital financeiro dominando ideologias e valores, formando o pensamento único (vide Consenso de Washington) e conquistando a superestrutura política , nos meios políticos dos EUA e Europa. O pensamento único decreta o fim da política e dos partidos, não existe mais “esquerda e direita”. Na verdade o pensamento único consegue transformar os partidos de esquerda em partidos neoliberais, não havendo muitas diferenciações hoje entre democratas e republicanos (nos EUA) e nos partidos de esquerda e de direita na Europa.

Os dados sobre os Estados Unidos mostram que “a renda por família, após o pagamento de impostos, mais do que dobrou entre 1979 e 2007, entre o 1% mais rico. Na fatia dos 20% mais pobres, caiu de 7% para 5% no mesmo período. Um quarto de todos os lares da Inglaterra e País de Gales, cerca de 20 milhões de pessoas, vivem em estado de pobreza atualmente, um sólido legado de sucessivos governos neoliberais, desde Thatcher, passando por Blair ... Pesquisas indicam que em pleno inverno, um número crescente de famílias inglesas vive o pior quadro de aperto financeiro desde a II Grande Guerra.

Robert Reich, ex-secretário do Trabalho do Governo Clinton, filmou um documentário mostrando o agravamento das desigualdades nos EUA, com o título Inequality for All (Desigualdade para Todos). Em 1978, o salário médio atingia US$ 48 mil, enquanto hoje despencou para US$ 34 mil com condições de poder aquisitivo equivalentes.....Já ao contrário, o rendimento médio para cada família que compõe o 1% da parcela mais rica da população norte-americana, de US$ 393 mil, em 1978, passou para US$ 1,1 milhão.

A ditadura dos “mercados financeiros” sobre todo o processo de acumulação de capital revela o caráter insaciável do apetite dos acionistas administradores e das sociedades especializadas da indústria financeira e que se encontra na base dos escândalos financeiros desde então : da Enron até o Lehmann Brothers na crise atual, a partir de 2008; tendo estas sociedades impelidas a assumir mais riscos e comportamentos de altos riscos.

Americanos de classe média foram ativamente incentivados a se endividar continuamente (devido à perda de poder aquisitivo nas últimas décadas), oferecendo suas casas em garantia, ou a canibalizar seus fundos de aposentadoria, confiando em que os preços dos imóveis e as bolsas de valores desafiariam permanentemente a lei gravidade - um grande número de famílias operárias, endividada e sem renda, entraram na fila dos despejos e amargaram a perda de suas residências.....As coisas pioraram com a recessão iniciada no final de 2007, que destruiu cerca de 9 milhões de empregos, degradou um pouco mais as condições de trabalho e rebaixou salários (menos de um décimo dos trabalhadores do setor privado americano pertence a um sindicato). A indústria agora representa somente 12% dos postos de trabalho nos EUA e boa parte dela se transfere para países do Terceiro Mundo. Os sindicatos perderam seu poder de barganha com a crise neoliberal, contribuindo para a depreciação dos salários.

Em 2007, a taxa de desemprego para a faixa etária de 20 a 29 anos foi de cerca de 6,5%. Hoje (2012), a taxa de desemprego para esse mesmo grupo de idade é de cerca de 13% (Michael, no The Economic Collapse). Desde o ano de 2000, os rendimentos dos lares americanos liderados por pessoas entre as idades de 25 e 34 anos caíram em cerca de 12% depois de descontada a inflação. A renda familiar média para as famílias com filhos caiu bastante, em cerca de US$ 6.300 entre 2001 e 2011. Mais de uma em cada cinco crianças nos Estados Unidos está atualmente vivendo na pobreza. Cerca de 48,7 milhões de norte-americanos vivem hoje na pobreza, constituindo-se na taxa mais elevada dos últimos 17 anos: 15,1%.. De acordo com o Departamento de Agricultura, em 2012, 46 milhões de pessoas usufruíram de algum tipo de subsídio alimentar mensal (os chamados foodstamps), crescimento espantoso se comparado aos 17 milhões contabilizados em 2001 e aos dois milhões em 1969.

As tent-city (cidade-acampamento) é o correspondente às favelas brasileiras, com os mesmos problemas, é resultado da precarização das condições de vida e trabalho nos Estados Unidos e seu surgimento se deu em várias partes do país, especialmente a partir de 2005. Existe cerca de 30 cidades deste tipo nos EUA. Detroit é uma delas – a cidade pediu falência em 18 de julho de 2013 (para se proteger contra credores). Detroit já foi a capital da indústria automobilística americana – sede das Big Three – as “Três Grandes” : General Motors, Ford e Chrysler ; foram atingidas pela crise atual. A crise diminuiu os consumidores de automóveis e transferiu as indústrias para outros países. O desemprego, a miséria e a fome é pior em Detroit que a média americana : 36% da população vivem abaixo da linha de pobreza. É uma cidade abandonada: possuia 2 milhões de habitantes nos anos 50, hoje possui 700 mil. A profunda e progressiva desindustrialização pela qual os Estados Unidos passou a partir dos anos 1980 e seu caráter crônico depois da crise financeira de 2007, atacou a cidade-automóvel em cheio. Virou uma cidade-fantasma: 35% do território do município está desabitado: prédios, hotéis, delegacias de polícias, igrejas, bibliotecas e teatros completamente vazios e destruídos - cerca de 40% da iluminação pública não funciona, mais de metade dos parques da cidade fecharam e apenas um terço das ambulâncias estão operacionais.

O capital portador de juros, especulativo e predador, domina o mercado econômico mundial, gozando de toda liberdade que conseguiu a partir das desregulamentações dos sistemas financeiros nos anos 80 e é exatamente esse ambiente neoliberal que lhe deu as condições necessárias para adquirir sua hegemonia internacional – condições essas que propiciaram e detonaram as crises atuais, provocando as bolhas financeiras, os ganhos espetaculares de altos riscos e a supremacia sobre o capital produtivo. O caso de algumas estatais brasileiras que foram privatizadas são exemplos desses comportamentos – CEMIG, por exemplo, era uma estatal até início dos anos 2000. Depois que entrou o governo neoliberal em 2002, desde então está sendo privatizada. Hoje a maioria das ações da estatal, cerca de 70% pertencem a acionistas internacionais e as prioridades mudaram. A maior parte dos lucros são transformados em dividendos pra remunerar seus acionistas e os níveis de investimentos caíram. Pra pressionar o aumento dos lucros os acionistas pressionam a direção da empresa para reajustar os preços acima da inflação, transformando a energia desta empresa numa das mais caras do país. A prioridade deixa de ser o usuário e passa a ser o acionista.

O jornalista James Shaft observou no NYT que, “ao que tudo indica, as empresas estão muito mais dispostas a acumularem papel-moeda ou utilizá-lo para compra de ações do que promoverem a criação de nova dinâmica produtiva”. Enquanto, na década de 1970, as improdutivas imobilizações de capital constituíam, em média, cerca de 5% do ativo das empresas norte-americanas, em 2010 este patamar passou a 60%. Apesar do fato de disporem de grandes volumes de liquidez em suas caixas, as grandes empresas não investem. Quando a fortuna dos mais ricos não é aumentada graças às atividades produtivas, mas apoderando-se de cada vez maior percentual do valor agregado, então o crescimento econômico desacelera. Existe, portanto, uma economia que recusa-se a recuperar-se, apesar de todos os generosos fluxos de papel-moeda. O problema é conhecidíssimo: trata-se da “armadilha de liquidez”, descrita por Keynes na década de 1930. Para ser enfrentada existe apenas uma única solução: recorrer ao uso da segunda ferramenta da política econômica, o gasto fiscal....

Daniel Miranda Soares é economista e EPPGG aposentado, Mestre pela UFV e ex-professor de Economia.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

POR QUE O BRASIL É O PAÍS DAS OPORTUNIDADES



ARTIGO DE LULA: POR QUE O BRASIL É O PAÍS DAS OPORTUNIDADES

Por Luiz Inácio Lula da Silva
Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.
Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.
Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.
Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.
Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?
A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.
A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.
Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.
O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?
O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.
Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?
Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?
Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.
E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?
O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.
O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.
Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?
Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.
O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?
A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?
Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.
Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT
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Por Luiz Inácio Lula da Silva

Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.

Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.

Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.

Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.

Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?

A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.

A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.

Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.

O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?

O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.

Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?

Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?

Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.

E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?

O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.

O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.

Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?

Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.

O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?

A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?

Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.

Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT




















ARTIGO DE LULA: POR QUE O BRASIL É O PAÍS DAS OPORTUNIDADES

Por Luiz Inácio Lula da Silva
Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.
Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.
Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.
Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.
Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?
A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.
A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.
Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.
O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?
O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.
Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?
Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?
Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.
E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?
O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.
O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.
Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?
Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.
O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?
A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?
Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.
Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT
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