quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

NEOLIBERALISMO - resumo


NEOLIBERALISMO - resumo

Neoliberalismo é uma doutrina econômica/política que retoma os antigos ideais do liberalismo clássico do séc. XIX ao preconizar a mínima intervenção do Estado na economia, o laissez-faire, acreditando que o mercado resolveria tudo através da livre concorrência espontânea. Principais pensadores : Leopold Von Wiese, Friedrich Hayek, da Escola Austríaca, Ludwig Von Mises e Milton Friedman, anos 1950/60, da Escola de Chicago e também Monetarista.
Os neoliberais combatem, principalmente, a política do Estado de Bem-Estar Social, um dos preceitos básicos da social democracia, que aconteceu pela política keynesiana, hegemônica a partir da crise de 1929 até fins dos anos 1970….Foi neste período que a economia mais cresceu - o dobro da média neoliberal (1980-2019)…. Para os keynesianos a intervenção do Estado na economia, estimula o crescimento do mercado (via aumento da massa salarial) da renda e da produção e corrige as imperfeições naturais do mercado “livre”, amenizando bastante as crises econômicas. Neste período houve um fortalecimento das leis trabalhistas, com consequente aumento dos salários, melhoria da distribuição de renda e do bem estar social. Aliás a política keynesiana surgiu para resolver o problema das crises constantes provocadas pelas políticas liberais até 1930.
A partir da crise do Petróleo (anos 1970) os neoliberais conseguiram uma boa desculpa para pregar a volta do “mercado livre”. A crítica direcionada pelo neoliberalismo a esse sistema é a de que o “Estado forte” é oneroso e limita as ações comerciais, prejudicando aquilo que chamam de “liberdade econômica”. Além disso, a elevação dos salários e o consequente fortalecimento das organizações sindicais são vistos como ameaças à economia, aumentando os custos com mão de obra. Os neoliberais defendem a máxima desregulamentação da força de trabalho, com a diminuição da renda e a flexibilização do processo produtivo.

Em 1989, o Consenso de Washington definiu algumas particularidades do neoliberalismo, tais como:
  • diminuição da cobrança de impostos das grandes empresas, de modo que aumentem seus lucros (reforma fiscal);
  • abertura comercial para aumentar as importações e exportações, a partir da diminuição das tarifas alfandegárias;
  • privatização das empresas estatais, com o objetivo de diminuir a presença do Estado no mercado;
  • redução dos gastos do Estado, com corte de funcionários, terceirização de serviços;
  • diminuição de leis trabalhistas para diminuir custos dos empresários;
  • oposição à doutrina marxista;
  • crítica ao keynesianismo;
  • incentivo à competitividade de mercado;
  • repressão às organizações sindicais e movimentos populares;
  • controle dos ideais neoliberais por meio de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial (BM).
Porém, muitas dessas mudanças passaram por cima das políticas sociais, causando o desemprego, a fome e a miséria de vários povos em países subdesenvolvidos e maior presença das multinacionais controlando ex-estatais e os recursos naturais destes países. O neoliberalismo fez o capital financeiro internacional crescer bastante. As indústrias se transferiram para os países com salários mais baixos e o mercado trabalhista desregulamentado. A média do crescimento econômico caiu muito no mundo ocidental, aumentando a concentração do capital e da renda. A ideologia deste modelo difundiu-se em universidades e instituições civis, servindo-se como pensamento único, sem contestações, camuflados com mentiras fajutas, tipo “o mercado livre resolve tudo”. Em vez de livre concorrência o que houve foi concentração do capital financeiro/produtivo nas mãos de grandes conglomerados.

E o pior desta história é que o Estado nunca deixou de intervir na economia, privilegiando as grandes corporações, aumentando o poder de grandes grupos monopolistas e oligopolistas, gastando muito dinheiro para socorrer bancos, financiar conglomerados do complexo industrial-militar e pesquisas tecnológicas; onde foram parar cerca de 20% do orçamento do governo americano. TUDO COM DINHEIRO DOS CONTRIBUINTES. As inovações tecnológicas nos ramos mais avançados da indústria (eletrônica, informática, naval, aeroespacial, química, nuclear, etc.) foram financiadas pelos governos dos EUA e Europa, assim como os altíssimos subsídios da política agrícola desses países, pagos pelos contribuintes…

ONDE ESTÁ O NEOLIBERALISMO NESTAS POLÍTICAS ?. Enquanto eles protegem seus investimentos e suas grandes empresas, o Terceiro Mundo continua sendo enganado com esta política fajuta neoliberal que nem eles acreditam, abrindo suas portas às grandes corporações estrangeiras, privatizando suas estatais, voltando a exportar matérias-primas com salários mais baixos e desemprego, aumentando a fome, a miséria com cortes substanciais nos programas sociais e reprimindo os movimentos sociais e sindicais, além das intervenções políticas promovendo direta e indiretamente golpes militares e golpes jurídicos e até derrubando governos democráticos. O NEOLIBERALISMO PREFERE DITADURAS E GOVERNOS AUTORITÁRIOS DO QUE A DEMOCRACIA. Por que a democracia controla seus excessos.

Resumindo: O neoliberalismo usa o discurso do livre mercado, do mercado espontâneo, do mercado acima do Estado, de que o mercado é mais eficiente, etc.etc.etc.….MAS NUNCA LEVOU ISSO A SÉRIO…. Na verdade o objetivo do NEOLIBERALISMO é reprimir os salários e apagar todos os direitos trabalhistas e sindicais para deixar a classe trabalhadora bem enfraquecida e vulnerável às suas políticas de maximização dos lucros dos grandes monopólios e oligopólios. MÁXIMA DELES: o lucro acima de tudo e de todos; quanto menos direitos sociais e sindicais melhor. Daí o controle da mídia para divulgar seus pseudos ideais de que o Estado é ineficiente e as empresas privadas são muito mais eficientes.

Daniel Miranda Soares – economista, mestre pela UFV e ex-professor universitário aposentado.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

O FRACASSO DAS TEORIAS E PRÁTICAS DO NEOLIBERALISMO


NEOLIBERALISMO - TEORIA E PRÁTICA DE MITOS FRACASSADOS

Vamos analisar a seguir três autores professores universitários, a partir de seus livros mais conhecidos que desmistificam e destroem os principais argumentos usados pelo Neoliberalismo para justificar o Estado Mínimo e a preponderância do “mercado livre e espontâneo” sobre o Estado e a sociedade. Este Neoliberalismo foi revivido recentemente, a partir dos anos 1980 (governos Thatcher e Reagan) em cima da crise fiscal do keynesianismo pós-guerra para criar a hegemonia do capital financeiro internacional especulativo sobre os outros setores da economia. Para isso reviveram autores antigos como Adam Smith (liberalismo clássico do séc. XIX) e outros do pós-guerra como Hayek. Também usaram autores que questionavam o social a favor do individual (Ayn Rand – que defende o egoísmo contra o altruísmo) criando ideologias neoliberais nas instituições civis para justificar a “liberdade” total do capital financeiro em detrimento dos movimentos populares e democráticos.

PROFESSOR OTHONIEL PINHEIRO DESMISTIFICA O “ALMOÇO GRÁTIS” DOS NEOLIBERAIS..No site da bíblia dos seguidores de Von Mises - “mises.org.br” , há um desprezo total por fatores sociais relevantes que possuem influência direta nos processos econômicos.. No artigo “dez leis fundamentais da economia” onde o “mercado livre” é o supra sumo que deveria guiar todas as decisões econômicas, há especificamente o item 3. (Não há nada que seja realmente gratuito.), onde se ataca os serviços públicos oriundos do Estado do Bem Estar Social, como saúde e educação gratuitas, que eles chamam de “almoço grátis” - o site diz que alguém paga por isso.

Segundo Othoniel Pinheiro Neto (Livro: Fanatismo & Manipulação: o esquema da nova colonização do Brasil, Pontes Editores, Campinas, 2019), sim, alguém quem ? O argumento despreza que a camada mais pobre da população, a quem são destinados os serviços públicos de saúde e educação, é a maior produtora da riqueza de uma nação, ou seja, aquilo que ele chama de “almoço grátis” é, em verdade, redistribuição da riqueza indevidamente apropriada pelas elites no sistema de produção. O “almoço grátis” nada mais é do que justiça social, que somente poderá ser conduzida pelo Estado, instituição tão criticada por eles…..Na verdade, esquecem que os pobres no Brasil pagam muito mais impostos que os ricos; portanto não estão recebendo almoço grátis, pois a carga tributária é pesadamente regressiva – quem ganha pouco paga mais e quem ganha muito paga pouco imposto.
Para Othoniel, argumentos de autores como Mises, Rothbard, Hayek e Smith não cabem para a saúde econômica de um país periférico e excludente como o Brasil, que ainda precisa da presença do Estado para conceder autonomia aos indivíduos, redistribuir a renda injustamente apropriada pelas elites e fazer justiça social para o bem da própria economia nacional… A redistribuição de renda faz a economia girar, aumenta o mercado interno e portanto aumenta a demanda por produtos em geral, beneficiando assim os empresários que podem aumentar a produção para atender o mercado interno.

Governos liberais aumentaram nas últimas décadas a transferência de receita fiscal (taxando os mais pobres em detrimento dos mais ricos) dos mais pobres para os mais ricos, via aumentando suas despesas governamentais como a DÍVIDA PÚBLICA como pagamento de juros e amortização transferida a banqueiros, rentistas e capital financeiro internacional. No Brasil os gastos com estas despesas só tem aumentado e no ano passado atingiu cerca de metade das despesas governamentais previstas no orçamento federal.
É o caso do Brasil, EUA e alguns países da Europa nos últimos anos.


ALMOÇO GRÁTIS ? Pode-se ver pela tabela abaixo que 79% da população brasileira ganha até 3 salários mínimos e pagam 53,8% dos impostos arrecadados pelo governo em todos os níveis….Se somarmos a faixa até 5 salários mínimos são 89% da população que pagam 66,44% dos impostos totais….E o que eles recebem em troca ? Já os muito ricos, acima de 20 salários mínimos que são apenas 0,84% da população pagam apenas 7,3% dos impostos. Nos países ricos e desenvolvidos a carga tributária é mais distribuída, ricos pagam mais impostos, pagam alíquotas maiores no IR, p.ex. No Brasil a alíquota mais alta é 27,5%, nos EUA é 39,6%, Austrália e Inglaterra e França são 45%; Japão 40% e Itália 43%…..No Brasil, Renda e Patrimônio pagam 25% dos impostos, enquanto que na Alemanha é 34%, Bélgica é 43%, nos EUA é 59,4%, Itália é 38%, Japão é 39%, Reino Unido é 48%…. No Brasil os impostos que incidem sobre o consumo representam 50% dos impostos arrecadados pelo governo (ou seja o dobro arrecadado por Renda e Patrimônio) enquanto que em todos os países desenvolvidos estes impostos representam bem menos do que os impostos arrecadados com o consumo.





O ATAQUE DE FRIEDRICH HAYEK AO ESTADO DO BEM ESTAR SOCIAL – POR WENDY BROWN…..

O neoliberalismo tinha o franco objetivo de desmantelar o Estado Social, seja privatizando-o (a Revolução Reagan-Thatcher) seja eliminando completamente tudo o que resta de bem estar social ou “desconstruindo o Estado Administrativo” (objetivo de Steve Bannon para o governo Trump). Posteriormente contratado por Bolsonaro para orientar o seu governo.
Esta crítica contundente ao neoliberalismo e às teorias de Hayek está condensada no livro de Wendy Brown, professora de ciência política na Universidade da Califórnia em Berkeley, em seu livro : Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. Editora Filosófica Politeia. São Paulo, 2019.
Como diz Brown em seu livro “não é apenas a regulação e a redistribuição sociais que são rejeitadas como interferência inapropriada nos mercados ou como assaltos à liberdade. A dependência da democracia em relação à igualdade política também é alijada. “ Segundo ela Wolfgang Streeck chama isso de deseconomicizar a democracia. Neoliberais querem gerar uma cultura antidemocrática desde baixo, ao mesmo tempo que constrói e legitima formas antidemocráticas de poder estatal desde cima. O governo Trump está neste caminho.
A democracia é o local onde os cidadãos exercem seus direitos políticos e o local onde se faz a provisão dos bens públicos atendendo demandas democráticas da maioria dos cidadãos e também o local em que as desigualdades historicamente produzidas se manifestam com acesso, voz e tratamento político diferenciado e podem ser pelo menos corrigidas parcialmente.

Brown diz: “É sintomático que são precisamente a existência da sociedade e a idéia do social – sua inteligibilidade, seu refúgio de poderes estratificantes e, acima de tudo, sua adequação como um local de justiça e do bem comum – o que o neoliberalismo se propôs a destruir conceitual, normativa e praticamente. Denunciada como um termo sem sentido por Hayek e notoriamente declarada inexistente por Thatcher (“não existe tal coisa”), “sociedade” é um termo pejorativo para a direita hoje, que denuncia os “guerreiros da justiça social” por minar a liberdade com uma agenda tirânica de igualdade social, de direitos civis, de ação afirmativa e até mesmo de educação pública.”

A hostilidade de Hayek em relação ao social é sobredeterminada, poder-se-ia dizer até mesmo exacerbada, na medida em que busca fundamentos epistemológicos, ontológicos, políticos, econômicos e até mesmo morais. Ele considera a própria noção do social falsa e perigosa, sem sentido e oca, destrutiva e desonesta, uma “fraude semântica”. Para ele, o social é um disfarce para o poder coercitivo do governo. Hayek considera que a justiça social é uma “miragem” e a atração por ela é “a mais grave ameaça à maioria dos outros valores de uma civilização livre”. Para ele, a justiça social como ação política conduz a sociedade a um sistema totalitário.. Hayek declara que “a desigualdade é essencial para o desenvolvimento” e que “a evolução não pode ser justa” no sentido popular da palavra. Para ele, a justiça social ataca a justiça, a liberdade e o desenvolvimento civilizacional garantidos pelo mercado e pela moral. A sociedade guiada pela justiça social deve ser desmantelada.


ISTVÁN MÉSZÁROS DESTRÓI O MITO DO NEOLIBERALISMO.
István Mészáros, filósofo húngaro, que foi assistente de Lukács, é considerado um dos principais intelectuais marxistas contemporâneo, recebeu vários prêmios, lecionou em diversas universidades européias (a última na Universidade de Sussex, Inglaterra) e escreveu dezenas de livros editados em diversas línguas, inclusive traduzidos em português.

Em seu livro “Para Além do Capital – rumo a uma teoria de transição” - São Paulo, Boitempo, 2011 - Mészáros afirma que o Neoliberalismo é um completo mito. ..… ”a história revela que o aparecimento de mercados nacionais, não foi, de forma alguma, o resultado da emancipação gradual e espontânea da esfera econômica do controle governamental. Pelo contrário, o mercado foi o resultado de uma intervenção consciente e frequentemente violenta por parte do governo, que impôs a organização do mercado à sociedade com finalidades não econômicas” (citando Polányi).
Quanto ao “funcionamento espontâneo” do mercado, até mesmo no auge do capitalismo do laissez-faire, sua operação estava, na realidade, sujeita às pesadas restrições relativas à ação corretiva do Estado tornada necessária pelos defeitos estruturais de controle tanto da esfera produtiva como das relações distributivas no sistema do capital. Isto explica não só por que o aparecimento e a consolidação dos mercados nacionais são inconcebíveis sem grandes envolvimentos do Estado como o fato de que a dominação estrutural das relações de mercado internacionais é limitada a um mero punhado de potências econômicas….. estas economias necessitam de um poder estatal suficiente para sustentar a dinâmica de reprodução do capital e defender os interesses destes sistemas econômicos.

Só um lunático ou um apologista como Hayek pode sugerir que o mercado global pode sem perigo, ser deixados ao “sistema coordenador espontâneo” do “mecanismo de mercado”. Desconhece implacáveis relações de poder dentro do sistema globalmente imposto pelos poderes dominantes, e por eles distorcido em seu próprio favor com todos os meios à sua disposição.

Para entender a realidade do mercado atual, é necessário que se tenha constantemente em mente sua grande dependência do Estado, já que pesadas esferas da atividade econômica são absolutamente inviáveis no sistema do capital contemporâneo sem o apoio direto do Estado em uma escala fenomenal.
Isto fica claro no caso do complexo militar-industrial, que constitui um setor de máxima importância nas economias dos países capitalistas dominantes. ….O termo "complexo industrial-militar" tem origem a partir das correlações entre militarismo, indústria e pesquisa tecnológica (principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, tendo Eisenhower cunhado o termo naquele momento), constituindo a base da economia estadunidense até os dias atuais e, destarte, sendo o caso mais emblemático…..investigadores mostraram a enorme influência dos imperativos bélicos para a pesquisa científica de universidades e de institutos ligados a empresas, para a inovação tecnológica nos ramos mais avançados da indústria (eletrônica, informática, naval, aeroespacial, química, nuclear, etc.) e até para próprio volume de produção das principais firmas multinacionais. O orçamento de defesa em dólares do governo dos EUA corresponde a 20% de seu orçamento total e cerca de 35% do orçamento militar mundial.

E não para por aí… em vários setores o Estado interfere e regula para privilegiar suas empresas nacionais no mercado global….por exemplo a política agrícola comum em toda União Européia é altamente subsidiada, tal como a política agrícola dos EUA….. ONDE ESTÁ O “SISTEMA COORDENADOR ESPONTÂNEO” DO MERCADO ?
Na Inglaterra, p.ex. a participação da agricultura no PIB é de mero 1,5%, mas os subsídios estatais transferidos aos fazendeiros são proporcionalmente astronômicos – só os criadores de ovelhas (uma parte menor do sistema) recebem um subsídio anual de mais de 370 milhões de libras esterlinas.
De modo igualmente generoso, são tratados às expensas dos contribuintes, projetos como o do Airbus europeu; e os protestos dos EUA contra estes subsídios são hipócritas, já que as gigantescas corporações produtoras de aviões Boeing e Lockheed, recebem também nos Estados Unidos imensos subsídios na forma de contratos militares e pesquisa financiada pelo Estado.

Mas a intervenção estatal no “mercado espontâneo” não se esgota por aí. O Estado é importante também para facilitar e proteger a concentração e centralização monopolistas do capital, bem como para impor leis gerais, promulgadas para evitar a articulação de uma alternativa hegemônica do trabalho ao sistema do capital. O Estado dá proteção legal à subordinação do mercado ao sistema do capital. O Estado facilita o estabelecimento de monopólios e quase monopólios. P.ex. A Tate & Lyle e a Silver Spoon controlam juntas mais de 95% da produção e distribuição de açúcar na Inglaterra, mas nada é feito para reparar a situação….mesmo assim estas empresas praticam corrupção política, mas nem assim nada é feito, não faz diferença….. foram um dos maiores financiadores do Partido Conservador britânico...o partido ganha e nomeia homens chaves nas Políticas Públicas…..outra pura coincidência.

As “privatizações” e a ideologia hipócrita da “livre competição” de Hayek, geraram na Inglaterra gigantescos monopólios e quase monopólios privados capazes de acumular lucros astronômicos. Talvez a única área em que os subsídios e monopólios controlados e induzidos pelo Estado ainda não conseguiu atingir seja a “economia de consumo” de butiques, carros usados e quiosques de esquina.

Daniel Miranda Soares é economista, mestre pela UFV e ex-professor universitário aposentado.

sábado, 26 de outubro de 2019

O PARAÍSO NEOLIBERAL CHILENO ERA UMA FARSA


Paraíso neoliberal chileno era fake news

Um milhão de pessoas nas ruas de Santiago
Durante anos, o Chile foi exibido como cartão de visitas do neoliberalismo.
Não importava a origem podre, a acumulação primitiva e bárbara do modelo, a ditadura de Pinochet, com seu cortejo de mortos, torturados e desparecidos.
O folheto de propaganda do Chile falava de um oásis sul-americano.
Um país próspero, liberal e cheio de oportunidades.
As manifestações, com mortes e feridos, que espantam os neoliberais brasileiros mostram que se tratava de uma miragem. Paradoxos, paradoxos, contradições.
Um milhão de pessoas nas ruas de uma cidade de seis milhões de habitantes.
Um milhão de manifestantes nas ruas de um país de 18 milhões de pessoas.
Uma enormidade.
Será que elas não entenderam que vivem no paraíso?
Não sabem que segundo uma agência têm a décima melhor previdência do mundo?
O jornal francês La Croix citou alguns dos dados que figuram nos discursos entusiasmados sobre o “sucesso” chileno: renda per capita anual de 15 mil dólares, contra 14 mil na Argentina e 3 mil na Bolívia. Apenas 8,6% da população, dos 18 milhões de habitantes, vivendo abaixo da linha pobreza. Um crescimento de 4% em 2018. Previsão de 3,5% para 2019, contra 1,7% dos Estados Unidos.
Dados que variam segundo as fontes e os seus interesses.

Mas…..
Mas 1% da população detém 26,5% da riqueza nacional. Já 50% das famílias vulneráveis contentam-se com 2,6% do todo. Em 56 países listados o Chile tem o transporte público mais caro. Para a BBC News, Claudio Fuentes, professor de Ciência Política da Universidade Diego Portales, deu a real: "Houve um grande crescimento da classe média, mas é uma classe média precária, com baixas pensões, altos níveis de dívida e que vive muito de crédito e salários muito baixos. É uma situação em que o dia a dia é precário, cheio de incertezas".
Saúde e educação são mercadorias que custam caro.
As aposentadorias pelo sistema de capitalização produziram idosos ganhando metade do salário mínimo. Os militares, que impuseram o modelo, trataram de ficar fora dele. Agora, na hora de parar de trabalhar, é que se viu o tamanho da encrenca. Resultado: desespero, depressão e suicídios (uma taxa de 17,7% por cem mil habitantes, a mais alta da América Latina).
Paulo Feldmann, professor da USP, instruiu a atônita Folha de S. Paulo: “São poucos os lugares do mundo em que o 1% mais rico da população ganha mais de 25% da renda total do país. Na América Latina, em apenas dois países isso acontece: no Chile e no Brasil”.
O preço do cobre, produto do qual o Chile é dependente, caiu 40% de 2011 para cá. O peso chileno perdeu 25% do seu valor nos últimos seis meses. O jovem desespera-se com a dificuldade de acesso à universidade. Junto com o diploma, de instituições de má qualidade para os mais pobres, vem a dívida. O adulto sofre com a precariedade. O idoso toma o tranco de uma pensão mais do que insuficiente.

O setor financeiro empanturra-se.
O coeficiente Gini, que mede a desigualdade (quanto mais perto de um, pior), mostra o Chile em último lugar nos países da OCDE.
O jornal O Globo flagrou esta comparação constrangedora para o entusiasmo neoliberal: o Chile passou de “0,52 para 0,47 — muito acima do de países europeus (Portugal marca 0,32) e próximo do da Zâmbia (0,49)”.
Mais esta: “Segundo o estudo da ONU, em 2015 o 0,1% mais rico dos chilenos concentrava 19,5% da renda do país, 1% detinha 33% e os 5% mais ricos ficavam com 51,5%”.
Acabou? Não.
Em Santiago, “o preço da habitação aumentou 150% na última década, enquanto os salários só cresceram em média 25%”.
Uma anedota reproduzida pelo UOL diz tudo: “Se uma pessoa enfiar a cabeça em um forno e colocar pernas e tronco numa geladeira vai sofrer bastante apesar de ter, na média, uma boa temperatura do corpo”.
Só restou ao presidente Sebastián Piñera pedir perdão. Mas só perdão não basta.
O paraíso neoliberal chileno era uma fraude.
O despertar é amargo.
Muitos ainda continuam repetindo a propangada.
Entre a realidade e o cartão postal, ficam com as fake news.

Juremir Machado da Silva
Jornal Correio do Povo. Porto Alegre, sábado, 26 de outubro de 2019.




segunda-feira, 30 de setembro de 2019


A CHINA ESTÁ SE TORNANDO A MAIOR POTÊNCIA 

ECONÔMICA DO MUNDO.

Este artigo da BBC News Brasil faz uma análise ligeira de como a China será a maior potência do planeta dentro de poucos anos. Os dados são corretos embora no final o autor tendeu a simplificar bastante os aspectos políticos chineses, relacionados à revolução comunista, impregnados de preconceitos ocidentais. Merecia uma análise melhor mas dá uma boa idéia dos aspectos sócio-econômicos.

70 Anos da Revolução Comunista na China: como país pobre e rural se tornou potência mundial em 4 décadas (título original).

Redação BBC News Mundo
Quando Mao Tsé Tung (ou Zedong) chegou ao poder em 1949, a China estava dominada pela pobreza e devastada pela guerra.
Nesta terça-feira (1º), quando se completam 70 anos do triunfo dos comunistas, o país está radicalmente diferente: é uma potência mundial de primeira grandeza e aspira chegar ao topo da economia global.
Mas seu "milagre econômico", único na história, não se deve necessariamente ao "Grande Timoneiro", mas a uma campanha impulsionada por outro líder comunista, Deng Xiaoping.
A chamada "Reforma e Abertura" conseguiu tirar 740 milhões de pessoas da pobreza, segundo dados oficiais.
Sob a ideia de um "socialismo com traços chineses", Xiaoping rompeu com o status quo e implementou uma série de reformas econômicas, centradas na agricultura, num ambiente liberal para o setor privado, na modernização da indústria e na abertura da China para o comércio exterior.
Esse percurso afastou o país do comunismo de Mao Tsé Tung e "rompia as correntes" do passado, nas palavras do atual presidente chinês, Xi Jinping.

Um país pobre

A mudança de curso começou em 1978.
À época, a China era uma nação bastante diferente do que vemos hoje, em que equipara-se ao nível dos Estados Unidos e da União Europeia.
Era um país pobre, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 150 bilhões e uma população de 800 milhões de pessoas. Hoje, são 1,38 bilhão de habitantes e um PIB de US$ 12 trilhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mao, o histórico fundador da República Popular da China, havia morrido anos antes das mudanças de Xiaoping, deixando um controverso legado.
Entre seus grandes projetos estão o Grande Salto Adiante (1958-62), que buscava transformar a economia agrária do país e provocou uma escassez de alimentos que levou à morte de ao menos 10 milhões de pessoas (fontes independentes falam em até 45 milhões de mortos); e a Revolução Cultural (1966-76), uma campanha de Mao contra os partidários do "capitalismo", que também levou a milhões de mortos e paralisou a economia nacional.

Foi nesse cenário de pobreza e fome que Deng Xiaoping, então secretário-geral do Partido Comunista da China), propôs suas reformas.

Nova fórmula

Xiaoping optou pelas chamadas "quatro modernizações" e uma evolução da economia na qual o mercado teria um protagonismo crescente.
Para ele, não importava se o sistema econômico chinês era comunista ou capitalista, mas sim se funcionava. "Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos", afirmou o chinês em um discurso na conferência da Liga da Juventude Comunista da China.
Seu programa foi ratificado em 18 de dezembro de 1978 por parte do comitê central do Partido Comunista da China e tornou a modernização econômica sua principal prioridade.
Nos anos seguintes, foram colocadas em prática mudanças que até então eram consideradas bastante ambiciosas e enfrentaram resistência da ala mais conservadora do partido no poder.
O setor agrícola, por exemplo, abandonou progressivamente o sistema maoísta de economia rural planificada, que permitiu incrementar a produtividade e tirar regiões do país da pobreza, fomentando a migração de mão de obra para zonas urbanas.
Também floresceram as cadeias do setor privado e, pela primeira vez desde a criação da República Popular em 1949, o país se abriu para investimentos estrangeiros.
Se na economia planificada o Estado determina o tipo, a quantidade e o preço das mercadorias que serão produzidas, na economia de mercado são as forças da oferta e da demanda que estabelecem o que é comprado e vendido.
Em sua cruzada para modernizar e fazer crescer a economia, o líder chinês incentivou sua equipe a aprender com as potências ocidentais.
Foram criadas também zonas econômicas especiais, como a da cidade de Shenzhen, que sofreu uma transformação incrível e hoje é conhecida como o Vale do Silício chinês.



Essa abertura ao exterior contribuiu para aumentar a capacidade produtiva da China e fomentar novos métodos de gestão.
Depois de um longo processo, as mudanças permitiram que a China conseguisse entrar na Organização Mundial do Comércio em 2001, ingresso que lhe abriu definitivamente as portas para a globalização e catalisou seu progresso econômico.
Assim, em 2008, quando a crise econômica global estourou e o Ocidente saiu em busca de novos mercados, a China conseguiu se destacar entre todos os outros e se converteu na "fábrica do mundo".




Apesar do boom econômico, a China luta agora para se descolar dessa função: quer deixar a manufatura para trás e se tornar um país conhecido pela inovação.
À medida que o gigante asiático amadureceu, o crescimento do seu PIB desacelerou significativamente.
Se em 2007 era de 14,2%, em 2018 esse percentual de expansão foi reduzido para 6,6%.
Mas se olharmos mais para trás, desde 1980, o tamanho da economia chinesa foi multiplicado por 42.
Até 2030, os economistas estimam que o crescimento do país será reduzido a aproximadamente um terço do percentual atual.
Mas ainda assim seria suficiente para superar os Estados Unidos como a maior economia do mundo.

E as mudanças políticas?

A despeito do progresso econômico, as reformas trouxeram também consequências negativas para o país, como a alta desigualdade social e a grave contaminação do ar em diversas cidades chinesas.
Mas, segue intacto o rígido sistema de governo de partido único no país inaugurado com a revolução.
Críticos e ativistas denunciam uma crescente repressão dos direitos humanos e uma concentração de poder ainda maior em torno do atual presidente Xi Jinping, responsável por restringir ainda mais as liberdades da população.
Desde que ele aboliu o limite temporal de sua Presidência, no ano passado, as notícias sobre descontentamentos com o governo cruzaram as fronteiras chinesas.
Seus críticos o acusam de concentrar ainda mais o poder e de promover uma campanha de culto a sua personalidade em nível inédito desde os tempos de Mao.
O mandatário também tem estado sob a mira da comunidade internacional por conta das denúncias sobre sistemas de vigilância massiva da população, de queixas de trabalhadores por jornadas laborais desmedidas e de detenções de membros da minoria muçulmana em campos de detenção na região de Xinjiang.
No aniversário de 40 anos da "Reforma e Abertura", em dezembro passado, o mandatário chinês enfatizou a importância da "liderança" do Partido Comunista Chinês em seu discurso no Grande Palácio do Povo de Tiananmen, praça de Pequim onde o Exército reprimiu com violência manifestações a favor de reformas políticas, deixando um número desconhecido de mortos.
Esse obscuro capítulo da história recente da China segue sendo um tabu, como qualquer crítica ao sistema político chinês.
Fonte: BBC NEWS BRASIL.