sábado, 20 de julho de 2019


PARMANU : A HISTÓRIA DE POKHRAN   (filme indiano na Netflix)

ou COMO A ÍNDIA SE TORNOU UMA POTÊNCIA MUNDIAL DEPOIS QUE ENGANOU OS EUA E DETONOU CINCO BOMBAS ATÔMICAS.

“A Índia precisa exigir respeito do mundo. Apenas a fôrça respeita a fôrça.” Dr. Abdul Kalam – Presidente da Índia.

O filme indiano de Abhishek Sharma começa em 1995 : É um período de grande incerteza. Após o colapso da União Soviética, a Índia fica sem grandes aliados poderosos. Na região o Paquistão fortaleceu os laços com os EUA e a China para criar uma potente ameaça militar. O mundo ocidental está constantemente pressionando uma Índia isolada para assinar acordos unilaterais que podem enfraquecê-la militar e financeiramente. Em meio a isso não muito longe da fronteira indiana uma contagem nuclear começou. Nesta mesma época a China faz o seu 43º teste nuclear…. Os EUA já tinham testado mais de mil bombas…. Hoje são uma superpotência.

No dia 11 de maio de 1998, a Índia testou uma bomba de fusão e duas de fissão.
No dia 13 de maio testou mais duas bombas de fissão…. Então a Índia se tornou um estado nuclear.
Foram as duas maiores falhas da inteligência americana e ainda é considerada a maior operação secreta realizada por um país.
Devido aos testes, conhecidos como operação Shakti, os EUA impuseram sanções duras à Índia. A Índia fortaleceu sua segurança nacional, a economia cresceu e o país se tornou uma potência mundial.  Hoje, o dia 11 de maio é o dia da Tecnologia Nacional. Em memória aos testes nucleares de Pokhran.


O filme dá destaque à fôrça do nacionalismo indiano….se não fosse por este sentimento eles não teriam conseguido unir esforços em prol deste empreendimento. A Índia se tornou uma potência nuclear a partir de 1998 e desde então se tornou também uma potência econômica. Adquirindo independência política e reduzindo as interferências externas ela pôde enfim investir e crescer economicamente. Não é à toa que a política externa americana tenta há décadas detonar governos nacionalistas, porque sabem que mais do que qualquer movimento político, o nacionalismo une fôrças contra os inimigos da nação…. Na América Latina, não foi diferente, vários governos nacionalistas foram derrubados e em seus lugares colocaram governos autoritários…. daí a perseguição à Getúlio Vargas, o mais nacionalista dos estadistas brasileiros. 

Noam Chomsky em seu livro “O que o Tio Sam realmente quer?” coloca isso bem claro.
No pós-guerra, os estrategistas norte-americanos expunham a visão de que a principal ameaça à nova ordem mundial, liderada pelos EUA, era o nacionalismo do Terceiro Mundo - algumas vezes chamado de ultranacionalismo. As metas básicas dos estrategistas, insistentemente repetidas, eram evitar que os ultranacionalistas tomassem o poder, se por um golpe de sorte eles chegassem ao poder, retirá-los e instalar ali governos que favorecessem os investimentos privados do capital interno e externo, a produção para exportação e o direito de remessa de lucros para fora do país. Essa estratégia funcionou e funciona muito bem na América Latina e outros países pequenos do Terceiro Mundo…. 

A Índia é um país grande e de cultura milenar tão forte que os americanos não conseguiram implementar totalmente suas estratégias. Não totalmente. Não conseguiram destruir o sentimento nacionalista indiano, como conseguiram na América Latina; mas conseguiram participação nos resultados econômicos. De qualquer forma a Índia só se tornou uma potência mundial  depois que se tornou uma potência nuclear.  Ela é  dona de seu próprio nariz. Possui e controla a possibilidade de escolher o seu próprio caminho para o desenvolvimento econômico e social….. possibilidade esta que nós, latino-americanos não temos mais atualmente. Pois aqui, qualquer desvio de conduta em relação aos valores estratégicos americanos, como foram os governos Vargas, João Goulart, Lula e Dilma, viram motivos fortes para intervenção política e econômica; pelos meios mais perversos possíveis, via golpes militares/políticos/parlamentares, com ajuda de políticos corruptos anti-nacionalistas e ajuda americana com dinheiro, espionagem, sabotagem,etc…. Para os americanos vale tudo para mudar a política a favor deles e de suas grandes corporações.

Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor universitário e mestre pela UFV.