segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

confronto tik tok red note entre usuarios expõe mentiras do governo EUA

 

TikTok: Jovens da China e dos EUA se conectam no 'Livro Vermelho' e desafiam tensões entre países  

Fonte: https://revistaforum.com.br/global/2025/1/17/tiktok-jovens-da-china-dos-eua-se-conectam-no-livro-vermelho-desafiam-tenses-entre-paises-172617.html

Ao invés de “salvar a democracia”, proibição na “terra da liberdade” deflagra intensa troca entre juventude das duas superpotências; as consequências são imprevisíveis

Uma enxurrada de usuários do TikTok nos EUA invadiu a versão chinesa da plataforma, o Xiaohongshu, conhecido como "Little Red Book" ou apenas “Red Note” (Pequeno Livro Vermelho, em tradução livre).   Os dados mostram que houve um aumento de 200% de downloads do Red Note nos EUA em apenas três dias em relação ao ano anterior e 194% na comparação semanal..... Segundo a Reuters, ao longo de uma semana foi registrada a chegada de quase 3 Segundo a Reuters, ao longo de uma semana foi registrada a chegada de quase 3 milhões de usuários dos EUA na rede da China.  milhões de usuários dos EUA na rede da China. ....   Além de lançar novas celebridades e tendências musicais, o TikTok se tornou uma fonte de notícias para muitos jovens, moldando discussões sobre temas como a guerra entre Israel e Hamas e as eleições presidenciais nos EUA. 

Trocas entre jovens dos EUA e da China

Outra usuária estadunidense, Amy, de Massachusetts abriu sua conta no RedNote e também compartilhou suas razões ao Global Times

"Nosso governo demoniza a China, alegando que o país usará o TikTok para virar os americanos contra os EUA. Achamos isso ridículo. Então, como forma de protesto e com muito humor, decidimos coletivamente ingressar no RedNote e fornecer voluntariamente nossas informações à China para mostrar que não nos importamos e para desafiá-los", disse. 

 

O Livro Vermelho chinês também está sendo usado pelos chineses para entender melhor a vida nos EUA. Como, por exemplo, o sistema de saúde estadunidense. 

Um usuário estadunidense conta sobre o questionamento sobre se é real ou “propaganda da China” que pacientes nos EUA país precisam pagar pelo uso de ambulâncias.

Um outro usuário reposta o vídeo e relata que gerente do escritório no qual ele trabalha recebeu uma conta de US$ 4 mil um ano após a morte do marido porque a ambulância não estava na rede de cobertura do seguro dela. 

Não é "propaganda da China"

De fato, nos Estados Unidos, o berço da democracia liberal e maior defensor do capitalismo do mundo, o uso de ambulâncias geralmente não é gratuito, e pacientes podem receber contas altas, mesmo em emergências. Não se trata de propaganda da China. Os custos para uso de ambulâncias variam de US$ 500 a US$ 2 mil ou mais, dependendo do tipo de serviço, distância percorrida e estado. 

Na prática, a proibição destaca a diferença nas abordagens de governança digital. Enquanto os EUA citam a privacidade como argumento contra o TikTok, a China posiciona suas regulamentações de dados como proteção tanto para indivíduos quanto para o Estado.

O embate em torno do TikTok não é apenas uma questão de segurança ou privacidade; ele ilustra como diferentes modelos de governança de dados refletem valores culturais e políticos distintos. 

Enquanto a China busca consolidar o controle centralizado como parte de sua estratégia de segurança nacional, os EUA ainda enfrentam o desafio de unificar sua abordagem fragmentada, especialmente em um contexto de crescente interconexão digital global.

 

TikTok: como aplicativo que pode ser banido dos EUA trasformou cultura digital no mundo

Fonte:  https://revistaforum.com.br/ciencia-e-tecnologia/2025/1/18/tiktok-como-aplicativo-que-pode-ser-banido-dos-eua-trasformou-cultura-digital-no-mundo-172643.html

Desde que chegou ao mercado ocidental, plataforma chinesa mudou a forma de se utilizar as redes e produzir conteúdos,.  Lançado em 2013, o Xiaohongshu é uma plataforma chinesa que combina mídia social e comércio eletrônico e permite que os usuários compartilhem experiências, recomendem produtos e interajam em uma comunidade focada em estilo de vida. Com mais de 300 milhões de usuários registrados, a maioria mulheres, o aplicativo se consolidou na China e agora conquista os Estados Unidos, onde acaba de se transformar no aplicativo mais baixado na App Store, reflexo da busca por alternativas ao TikTok.

TikTok mudou cultura digital em menos de uma década.  Além das transformações técnicas, estilo de vida, moda musical, popularização das ‘dancinhas’, mais tempo para produção de vídeos, Influenciadores de nicho, sem controle ideológico doo conteúdo pelos algoritmos..... além da Tiktokização na política: como IA e deepfakes no TikTok redefiniram estratégias eleitorais no Brasil . Uma reportagem da Fórum, publicada em dezembro, ainda trouxe a Tiktokização na política: como IA e deepfakes no TikTok redefiniram estratégias eleitorais no Brasil

Uma reportagem da Fórum, publicada em dezembro, ainda trouxe um relatório do Instituto Democracia em Xeque que mostrou como o uso de deepfakes e de inteligência artificial (IA) no TikTok teve grande influência nos eleitores brasileiros ao longo do processo eleitoral.

Conhecendo a China  (Brasil de Fato: https://www.brasildefato.com.br/2025/01/16/com-tiktok-prestes-a-ser-banido-nos-eua-jovens-migram-para-rede-social-chinesa-pequeno-livro-vermelho).  

As primeiras interações com os recém-chegados vão de troca de "memes" à derrubada de mitos sobre a China. Uma das tendências foi a de comentar sobre estereótipos de uns sobre os outros.

A usuária @NatashaReader respondeu: “É tão engraçado como eles tentaram tanto que estivéssemos brigando uns com os outros, mas aqui estamos apenas vibrando e aprendendo sobre a cultura um do outro"..... “Com paciência e um pouco mais de tempo tentemos acabar com as mentiras feitas pelas redes sociais, aquelas redes sociais de propriedade de pessoas ricas que não querem que você saiba a verdade, mas querem seu dinheiro”, respondeu o usuário chinês Yanyu Xingjun.

Brasil 247 (https://www.brasil247.com/china/refugiados-do-tiktok-dos-eua-descobrem-china-em-xiaohongshu0... Inúmeros influenciadores estadunidenses visitaram o país, compartilhando suas experiências: “Vi uma China moderna, bonita e viva”, “É muito diferente de como é descrita pelos meios de comunicação ocidentais”. Através dos seus testemunhos, do compartilhamento de experiências interessantes, da descoberta da gastronomia e das pitorescas paisagens, mostraram ao mundo toda autenticidade da China.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Politizar a arte: a iluminação profana de Fernanda Torres

Politizar a arte: a iluminação profana de Fernanda Torres

Filme de Walter Salles e interpretação de Fernanda Torres aproximam-se do conceito benjaminiano de politização da arte.

·  Redação TVT . ·  10 janeiro, 2025.   Artigo de Renata Phoenix e Paulo Niccoli Ramirez mostra qual a relação entre o filme Ainda Estou Aqui e a politização da arte. Leia o artigo completo em TVT News.

 



Fernanda Torres vence Globo de Ouro na categoria melhor atriz em filme de drama. Imagem: Reprodução/TNT.

 

Fernanda Torres é uma iluminação profana contra o fascismo

por Renata Phoenix e Paulo Niccoli Ramirez

No dia 14 de novembro de 2024, Francisco Escorsim, que parece ter mais seguidores no Instagram do que senso-crítico, publicou no jornal “A Gazeta do Povo” texto com o seguinte título: Apesar de badalado pela mídia, “Ainda Estou Aqui” não vale a ida ao cinema. Uma das contestações de sua análise rasa do filme é a de que Eunice (personagem interpretada por Fernanda Torres) é utilizada como um símbolo, encaminhando o enredo para um ufanismo ideológico.

É bem certo que a opinião do referido crítico de cinema (embora o uso do termo “crítico” de cinema seja um exagero no que diz respeito à opinião sobre este filme) reflete parte do pensamento conservador e de direita, mais exatamente do que se pensa sobre o filme de Walter Salles, cuja personagem de Fernanda Torres foi premiada como melhor atriz no gênero drama para o Globo de Ouro de 2025. O filme não é ideológico e nem ufanista.  Ideologia, na perspectiva marxista, representa o mascaramento da realidade, uma forma de obscurecer os fatos e fazer com que as massas passem a incorporar os valores, preconceitos e visões de mundo da classe economicamente dominante. Ainda estou aqui faz exatamente o oposto, desperta reflexão, senso-crítico e oposição à ditadura militar que, por sua vez, ambicionou controlar a opinião pública com censura e eliminação de opositores.

Portanto, defender a ditatura O filme não é ideológico e nem ufanista. Ideologia, na perspectiva marxista, representa o militar é ideologia. Ainda Estou Aqui é oposto à ideologia. Quanto ao termo ufanismo, ele diz respeito ao orgulho exagerado, incondicional e cego sobre o país em se nasce ou vive. “Ainda estou aqui” não é ufanista, senão tece críticas ao Brasil regido pelos militares, demonstrando o caráter vergonhoso e truculento do regime então vigente. Vê-se que a análise de Escorsim sobre o filme e publicada no jornal “A Gazeta do povo” não condiz com a proposta e as sensações causadas pela premiada obra de Walter Salles.

No ensaio produzido na primeira década do século XX e intitulado “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, Walter Benjamin ao ser pioneiro no estudo do cinema propôs dois conceitos antagônicos: “estetização da política” e a “politização da arte”. Quanto ao primeiro conceito, estetizar a política refere-se ao uso das artes e meios de comunicação com fins massificadores, isto é, formas de produzir conformismo, naturalizar discursos de ódio, a incapacidade crítica e, sobretudo, o flerte com o fascismo. 

 Com a estetização da política tem-se preferências por elementos nada reflexivos ao estilo “tiro, porrada e bomba”, a pura distração destituída de reflexão, o deixar-se conduzir como rebanho em pasto verde. Benjamin observou como os nazistas passaram empregar a “estetização da política” como ferramenta de persuasão política, naturalizando a barbárie de suas ideias por meio de recursos cinematográficos inéditos e sedutores na aparência.

Pode-se dizer a partir desse primeiro conceito que, na era das redes sociais atuais, a estetização da política se faz presente com os negacionismos científicos e políticos, com a adesão e justificação dos discursos de ódio, naturalização da violência, dos golpismos ou mesmo de regimes ditatoriais da América Latina do século passado.

Desde o golpe contra Dilma em 2016 e com a ascensão do governo Bolsonaro, as redes sociais alcançaram o auge da ‘estetização da política’, ressoando não só recentemente nas críticas ao filme “Ainda estou aqui” como também no processo de relativização da ditadura militar; das mais recentes tentativas de golpe, seja o “8 de janeiro de 2023” ou a conspiração golpista-bolsonarista, cuja investigação e divulgação foi deflagrada pela Polícia Federal no final do ano de 2024.

Tal postura recorda o conceito de “banalidade do mal” de Hannah Arendt, posto que se promove a normatização da violência e a tentativa de justificar o injustificável, conforme dissemos. ‘Banalidade do mal’ e ‘estetização da política’ parecem ser termos correlatos e andar de mãos dadas.

O emocionante filme de Walter Salles e a sensível e a delicada interpretação que Fernanda Torres trouxe o drama de Eunice, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, aparecem num momento histórico-político muito importante ao Brasil, aproximando-se do conceito benjaminiano de “politização da arte”, ainda não discutido aqui.

Politizar a arte trata do uso dos meios de comunicação como forma de gerar senso-crítico, reflexão, consciência e memória históricas, desconfortos contra a violência, o fascismo ou a barbárie.

Fernanda Torres apresenta de forma sútil em sua personagem estes elementos. No não dito, nos gestos corporais, nas lágrimas contidas, no sofrimento reprimido, mas expresso em sua feição, nestes elementos transparece a luta contra o fascismo.

Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro porque sua personagem politiza a arte, mostra a luta de uma mulher forte diante de suas fraquezas contra a ditadura.

Torres presentifica o passado, o que significa dizer que a Eunice de “Ainda estou aqui” se faz presente em um momento crucial que vive o Brasil, sob o risco de retrocessos democráticos e retorno do regime de estado de exceção. Passado e presente se confundem com as ameaças antidemocráticas.

“Ainda estou aqui” é um filme que vale a pena ser visto e revisto, vale a ida ao cinema posto que expressa a luta contra governos autoritários e visões de mundo tolas.

 Ainda estamos aqui… vivos. Rubens Paiva não está aqui… desde 20 de janeiro de 1971. E ainda estamos aqui na Meta. Ainda estamos aqui e precisamos estar. Ainda precisamos falar sobre ditaduras. Os extremismos de direita, com múltiplos nomes, em vários países mundo afora, agora se espalham exponencialmente pela vida virtual. E o mundo é vivido, hoje, muito mais no cyberespaço do que no outrora conhecido “mundo real”. A nova ditatura digital desponta. 3 ou 4 homens brancos, bilionários, dominam os dois mundos, digital e presencial.

 

Mark Zuckerberg anuncia retrocessos civilizatórios e políticos brutais, 24 horas após Fernanda Torres receber seu Globo de Ouro de melhor atriz, com uma repercussão monumental (nunca antes vista, quase como uma vitória de Copa do Mundo) dentro da Meta do sr. Zucker. Uma curiosa coincidência. Em se tratando da vitória retumbante de um filme que grita por atenção para uma retomada de processo civilizatório que regimes ditatoriais proíbem.

 

Temos agora a inversão bizarra da “censura” de tempos pregressos. A “liberdade de expressão” que os neofascistas de agora pregam é, na verdade, liberdade para mentir, odiar, espalhar negacionismo científico, reescrever fatos históricos. E eles invertem tudo, moldam, modulam a verdade, os argumentos fatuais, para reescrever a História de um modo leviano tal que a grande massa, que não tem acesso à arte, à cultura, à educação, ao raciocínio e ao questionamento (vertentes do conhecimento humano que o fascismo abomina), compra como sendo a “narrativa” nova, esta palavra tão propagada e tão odiosa, dos tempos atuais.

 

A antítese da “iluminação profana”, de Benjamin: vivemos a Nova Idade Média, Nova Idade das Trevas. O anti-Iluminismo, a anti-democracia, o fascismo funcional, tal qual o analfabetismo político. Fundamentalismo religioso misturado com fascismo. Talvez o prenúncio de uma nova guerra mundial, que será física e virtual, com poder de devastação sem precedentes.

 

Mistura de Trump reeleito, potência bélica dos EUA, fanatismo, grupos de extermínio, homens-bomba, pessoas que se explodem para salvar a “pátria” dos “tribunais secretos” que o sr. Zucker, com a maior e mais inacreditável desfaçatez, anunciou agora, pós-Globo de Ouro de Fernanda Torres: os “tribunais secretos comunistas”, que podem “transformar o gênero das crianças”, elas iriam meninos para a “escola vermelha” e voltariam meninas. A massa ignorante, triste e violentíssima que compra a “narrativa” e se aliena cada vez mais dos fatos, da ciência, da arte, da cultura, da História.

 

 

Anistias e revisionismo histórico não são sobre o passado, são o presente e a construção do futuro. Novas ditaduras espreitam.   A cobra do fascismo sempre no cio.

 

Não há descanso. Mas existe a Arte, existem filmes, existem atrizes… faróis na escuridão. Estejamos atentos. E despertos.

 

Sobre os autores

Renata Phoenix é escritora, poeta e produtora e diretora de vídeo. Trabalhou durante 15 anos para o GNT. Produziu todos os programas de Fernanda Young no canal.

Paulo Niccoli Ramirez tem graduação, mestrado (sociologia) e doutorado (antropologia) em Ciências Sociais pela PUC-SP, além de graduação em Filosofia pela USP. Leciona na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) desde 2013 e na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) desde 2016. Promove cursos na Casa do Saber, fornece entrevistas e escreve artigos para diversos meios de comunicação dentro e fora do Brasil, com o Bom para Todos, da TVT.

É autor dos livros Sérgio Buarque de Holanda e a dialética da cordialidade (Educ, 2011), Ética, cidadania e sustentabilidade (SENAC, 2021),

O Golpe de 2019 na Bolívia (Coragem, 2023), entre outros ensaios e artigos acadêmicos em livros e revistas direcionados às Ciências Humanas.

FONTE:     https://tvtnews.com.br/politizar-a-arte-a-iluminacao-profana-de-fernanda-torres/