NOTAS SOBRE O DOCUMENTÁRIO “O DILEMA DAS
REDES” EXIBIDO NA NETFLIX.
Primeiro
vamos reproduzir uma excelente reportagem de Raquel Carneiro,
atualizado em 14 set 2020, da revista VEJA.
‘O
Dilema das Redes’: documentário da Netflix explica avanço
bolsonarista.
“Existem
apenas duas indústrias que chamam seus clientes de usuários: a de
drogas e a de software”. A fala do professor de estatística Edward
Tufte, da Universidade de Yale, é uma das frases de efeito do
documentário.
O alto potencial
viciante de aplicativos como Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp
é o cerne do filme que destrincha os bastidores de funcionamento
destes programas e como eles, ao contrário de sua razão de ser,
que seria conectar pessoas, aumentaram a divisão, a polarização e
a radicalização. A produção examina desde os
perigos das redes para a saúde mental de adolescentes até a
propagação de fake news, e a ascensão ao poder de populistas de
direita como o brasileiro Jair Bolsonaro.
Dirigido pelo
documentarista americano Jeff Orlowski, o filme começa de forma
provocativa. Antigos funcionários de empresas como as citadas acima,
além da superpoderosa Google e da aparentemente inofensiva
Pinterest, são colocados diante das câmeras para responder o que
faziam nessas companhias e por que saíram delas. As respostas
coincidem: os desligamentos foram motivados por questões éticas
pessoais. O espectador do documentário está, então, pronto e
atento para ouvir a razão de tanto arrependimento da parte de mentes
brilhantes que, para o bem e para o mal, fizeram das redes um
ambiente comum indispensável de se viver no século XXI.
Ao
longo de sua primeira metade, o documentário destrincha informações
que não são uma grande novidade aos que já se interessam
minimamente pelo assunto.
Basicamente,
as empresas de tecnologia lucram transformando o próprio usuário em
produto. Seus hábitos, gostos, desejos, tristezas, crenças – tudo
é coletado por sistemas de inteligência artificial hoje amplamente
conhecidos como algoritmos. Com estes dados, as redes sociais indicam
de forma personalizada a cada pessoa desde opções de entretenimento
e contato com outros indivíduos, até produtos e propagandas que
induzem ao consumo.
O documentário da Netflix se
destaca de outros do tipo ao explicar de forma didática esse
intrincado funcionamento, com a ajuda de especialistas em tecnologia
e saúde mental, além de uma representação fictícia de uma
família afetada pelo sistema.
Em
sua segunda metade, o filme esquenta e revela de fato o campo minado
onde a humanidade se enfiou sem olhar para o chão — e com a cara
na tela do celular. Os
antigos funcionários
passam a falar sobre os efeitos negativos que os incomodaram na
chamada tecnologia persuasiva, que instiga o usuário a agir conforme
os algoritmos sugerem que ele deva agir. A partir da necessidade
humana de se conectar com outras pessoas, o que leva à busca
obsessiva por aprovação e adequação, adolescentes nascidos entre
o fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000 se tornaram parte de um
aumento das estatísticas de casos de depressão e taxas de suicídio.
Daí em diante, o clima de pesadelo do documentário só
aumenta. Segundo estes profissionais, o modelo de negócio das redes
sociais lucra com a desinformação, já que notícias falsas tendem
a se espalhar seis vezes mais rápido que as verdadeiras. Teorias
conspiratórias aliciam cada vez mais pessoas. E em um mundo sem
diálogos, em que a sociedade se mostra incapaz de discernir com o
que é verdade e o que não é, o caos ganha espaço.
O
genocídio de uma minoria étnica em Myanmar, em 2018, encontra
vestígios na força do Facebook no país e na propagação de fake
news. Conflitos em
protestos nas ruas, da Europa aos Estados Unidos, costumam ser
iniciados nas redes. A ascensão no mundo de políticos de
extrema-esquerda e extrema-direita, como Jair Bolsonaro no Brasil, é
ligada diretamente ao fenômeno das redes sociais – isso dito pela
boca dos próprios que ajudaram a colocar essas redes de pé. O que
parecia inofensivo se mostrou devastador. E seus idealizadores,
agora, se movimentam para alertar a população. Se é que ainda dá
tempo de reverter seus duros efeitos.
TRECHOS TIRADOS DO DOCUMENTÁRIO "O DILEMA
DAS REDES" DA NETFLIX.…
Shosana Zuboff (prof. Harvard) : "esses mercados deveriam ser fechados..... já proibimos outros mercados (mercado de órgãos humanos, de escravos, etc.)."
Jaron Lanier (Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais) : "saia do sistema, saia das redes.... ele acha que dentro de 20 anos destruiremos nossa civilização através da ignorância, provavelmente não combateremos o aquecimento, provavelmente destruiremos as democracias do mundo, transformando-as em uma espécie de autocracia disfuncional, provavelmente destruiremos a economia global, provavelmente não sobreviveremos.....”
Bailey Richardson (trabalhou no Instagram) ".... então precisamos mudar tudo....o milagre é a vontade coletiva.... esse sistema não vai mudar sem muita pressão popular.…"
Tristan Harris foi especialista ético do Google, em depoimento no senado americano : "Não é que a tecnologia em si seja uma ameaça existencial. É a capacidade da tecnologia de trazer à tona o pior da sociedade. O pior da sociedade é uma ameaça existencial. Se a tecnologia cria caos em massa, indignação, incivilidade, falta de confiança um no outro, solidão, alienação, mais polarização, mais polarização eleitoral, mais populismo, mais distração e incapacidade de focar nos problemas reais. Isso é a sociedade. E agora a sociedade se vê incapaz de se curar e reverte a um estado de caos. Isso afeta a todos inclusive quem não usa esses produtos. Essas coisas viraram Frankensteins digitais que estão transformando o mundo em seu pior....seja na saúde mental das crianças, seja na política e nos discursos políticos, sem assumir a responsabilidade por tais ações.... acho que as plataformas precisam ser responsabilizadas quando admitem propaganda política.… a tecnologia vai se integrar mais às vidas das pessoas, não menos.....os algoritmos ficarão melhores em deduzir o que te mantém na tela, não ficarão piores…...é utopia e distopia ao mesmo tempo.… não dá pra voltar atrás.... as empresas estão agindo como se fossem governos, não há regulamentação nem regras para elas, não temos nenhuma lei que regulamenta a privacidade digital, há momentos que os interesses das pessoas são mais importante do que os lucros bilionários de uma empresa gigante… o intuito das redes é criar dois lados que não se escutam mais....que não querem mais dialogar e não confiam um no outro.... o Google e a inteligência artificial não sabem distinguir o que é verdade e o que não é.... eles não tem um padrão do que é verdade, se baseiam nos cliques, ....e se não acreditamos o que é verdade, não conseguiremos resolver nenhum de nossos problemas....
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