QUÃO DEMOCRÁTICA É A CHINA ?
Por Here Comes China 04/03/2021 14:40
Assim
como os Estados Unidos, a China é uma república e, como os Estados
Unidos, diz que é democrática, mas quão democrática é a China?
Uma olhada na história é sempre um bom ponto de partida. Aqui está
Mêncio [1], o maior discípulo de Confúcio, sobre a relação do
Estado com o povo: “o Estado é secundário e o Governante é o
menos importante: só quem for do agrado do povo pode governar”.
Na
política romana, os cidadãos perdiam o controle dos políticos
depois que os elegiam. Essa é uma das maiores fraquezas do sistema e
não é de se admirar que, como nossos antepassados romanos,
consideremos o governo como nosso maior problema [2]: não podemos
obrigá-los a cumprir suas promessas.
Imagine
se, em vez de contratar amadores eloquentes, contratássemos
profissionais - sociólogos, estatísticos, cientistas políticos,
economistas - e pedíssemos a eles que criassem soluções para
nossos problemas identificados por pesquisas conduzidas publicamente.
Em seguida, eles deveriam apoiar os governos estaduais e locais para
implementar as soluções, rastrear a satisfação do público com
elas por alguns anos e descartar as políticas malsucedidas
A Califórnia provavelmente tentaria o programa de saúde canadense e se suas contas médicas ficassem cinquenta por cento mais baratas e os californianos exibissem um ganho de três anos na expectativa de vida saudável, nós elegeríamos mil voluntários e os enviaríamos - todas as despesas pagas - a Washington para que pudessem auditar os resultados e aprovar legislação.
É isso que a China faz e é por isso que sua democracia se parece mais com a Procter & Gamble do que com Péricles de Atenas.
Quão
democrática, de verdade, é a China?
Pesquisas nacionais
em grande escala - Pesquisa da Dinâmica do Trabalho Chinês (Sun
Yat-Sen University), Painel da Família Chinesa (Peking U), Pesquisa
Social Geral da China (Renmin U), Pesquisas da Desigualdade de Renda
da China (Beijing Normal U) e centenas de pesquisas feitas por
acadêmicos e instituições estrangeiras como a Universidade
de Harvard, Gallup, Edelman, World
Values e Asian
Barometer -
rivalizam com as melhores do mundo em técnicas de amostragem, design
de questionário e controle de qualidade.
Os
resultados, todos disponíveis online, são um tesouro de dados
democráticos que Mao criou arrancando o controle das políticas de
estudiosos e encomendando pesquisas extensas [3], dizendo: “A
opinião pública deve guiar nossas ações”. Hoje, diz o autor
Jeff J. Brown:
“Meu
comitê de bairro e a prefeitura de Pequim estão constantemente
fazendo anúncios, convidando grupos de pessoas - locatários,
proprietários, com mais de setenta anos, mulheres com menos de
quarenta anos, pessoas com ou sem seguro médico, aposentados - para
responder a pesquisas. O Partido Comunista da China é o maior
pesquisador do mundo por um motivo: a "ditadura do povo"
democrática na China está altamente engajada no nível do cidadão
comum no dia a dia. Eu sei, porque vivo em uma comunidade chinesa de
classe média e os questiono o tempo todo. Acho o governo deles muito
mais ágil e democrático do que o que é alardeado domesticamente
nos EUA, e falo sério.”
Mao
introduziu o sufrágio universal em 1951 (dez anos antes dos Estados
Unidos [4]) com base em uma pessoa, um voto. Todos votavam para
eleger uma legislatura que controlaria toda a legislação e
aprovaria todas as nomeações de alto escalão. Ele até estendeu a
democracia a não cidadãos, como lembra o quaker William Sewell [5],
professor da Jen Dah Christian University em Szechuan:
“Como
membro do sindicato, eu tinha direito a voto. A eleição de um
governo na China é indireta. Nós, em Jen Dah, devíamos votar para
nosso Congresso do Povo local. Então, os Congressos Locais, dentre
seus próprios membros, elegeriam o Congresso Duliang. Destes membros
e dos congressos das grandes cidades e de muitos condados seria
eleito o Congresso Provincial do Povo de Szechwan. Por fim, emergia o
Congresso Nacional do Povo, em que cada membro tinha sido, em
primeiro lugar, eleito para um órgão local. O Congresso Nacional
faz as leis, elege o Presidente e nomeia o Primeiro Ministro e os
membros do Conselho de Estado. Em nosso grupo de química,
discutíamos o tipo de homem e mulher que poderia nos representar
melhor; então apresentamos meia dúzia de nomes.
Cada
grupo em nossa seção em Jen Dah fazia o mesmo. Todos os nomes eram
então escritos em um quadro para que todos pudessem ver quem havia
sido sugerido. Os nomes que vários grupos tinham listado em comum
eram colocados em uma lista menor. Eram mais de uma dúzia, os grupos
ainda tinham a liberdade para propor novamente qualquer nome que
considerassem que não deveria ter sido omitido. Aqueles cujos nomes
estavam na lista curta tinham então que ser persuadidos a aceitar a
permanência de seus nomes. Isso levava algum tempo, pois uma
sensação genuína de incapacidade de lidar com a situação fazia
com que muitos deles relutassem em aceitar um trabalho de tanta
responsabilidade. Cada nome era longamente discutido pelo grupo. Os
desconhecidos eram convidados a visitar os vários grupos para
responderem perguntas. Por fim, obtinha-se uma lista ainda mais curta
de candidatos, que acabava sendo ainda mais reduzida, após mais
discussão, ao número desejado.
Quando chegava o dia da eleição, as bandeiras tremulavam e as bandas com seus címbalos e tambores em seu ritmo constante tornavam tudo agradavelmente barulhento. Os comprovantes de votação eram entregues em uma extremidade da cabine e os alunos, todos tendo prestado juramento de manter sigilo, ficavam disponíveis para ajudar se você não soubesse ler. Então, sozinho ou acompanhado por seu ajudante, você se sentava à mesa e marcava seus votos. A lista continha nomes que agora tinham ficado muito familiares, mas havia um espaço na parte inferior para nomes a serem adicionados, se assim você o desejasse. Um círculo era desenhado em volta do nome daquele que você desejava que fosse eleito e o papel era colocado na caixa. Na Inglaterra, eu tinha votado em um homem que não conhecia, com quem nunca havia falado e que pediu meu voto por meio de uma carta circular e que havia perdido para seu rival por mais de 14.000 votos. Achava que meu voto era totalmente inútil. Na China, nesta única eleição, tive pelo menos a feliz ilusão de que meu voto tinha um significado real.”
Na
década de 1980, o processo eleitoral se deteriorou, poderosos clãs
familiares dominaram as eleições locais e os moradores regularmente
pediam a Pequim que enviasse "um secretário do Partido capaz
para endireitar as coisas". Por essa razão, o governo convidou
o Carter Center para supervisionar a votação e, em 2010, o
comparecimento dos eleitores à votação ultrapassou os Estados
Unidos. O primeiro-ministro encorajou mais experimentos: “a
experiência de muitas aldeias provou que os agricultores podem
eleger comitês de aldeia com sucesso. Se as pessoas conseguem
administrar bem uma aldeia, podem administrar um município e um
condado. Devemos encorajar as pessoas a experimentar ousadamente e
testar a democracia na prática.”
Cinco
anos depois, o presidente Xi pediu ao Carter Center para reavaliar a
justiça das leis eleitorais e educar os candidatos em campanhas
éticas. “A democracia não é apenas definida pelo direito das
pessoas de votar nas eleições, mas também pelo seu direito de
participar dos assuntos políticos diariamente. Democracia não é
decoração, é para resolver os problemas das pessoas”. Como o
capitalismo, a democracia é uma ferramenta na China, não uma
religião.
Há
seiscentos mil vilarejos e os candidatos bem-sucedidos, que não
precisam ser membros do Partido, começam seus mandatos de cinco anos
com um ano de experiência. No final do ano, se os representantes da
aldeia não cumprirem as promessas, são demitidos. Os bem-sucedidos
passam o segundo ano ajustando seus objetivos, sabendo que seus
sucessos podem ser propagados por todo o país.
Representantes
de vilarejos escolhem colegas para representá-los em nível
distrital, onde a votação posterior elege representantes de
condados até que, por fim, rês mil congressistas provinciais, todos
voluntários, se reúnam em Pequim e se esforcem por consenso tão
seriamente quanto fazem em suas vilas. Em Pequim, eles lutam pelo
consenso com a mesma intensidade com que o fizeram em suas aldeias.
Os parlamentares são voluntários, cidadãos comuns cujo avanço
para o nível nacional requer prudência e bom senso.
A
votação escalonada torna difícil ingressar em uma assembleia de
nível superior sem o apoio dos políticos de baixo e torna
impossível para o Partido controlar completamente o processo. Como
resultado, um terço dos parlamentares populares nacionais não são
membros do Partido Comunista, tampouco os outros partidos são
meramente decorativos. Partidos como a Liga Democrática da China
[6], o Kuomintang [7] e a Sociedade Jiusan [8] (cujos membros, todos
com PhD, fazem campanha por iniciativas climáticas, aumentos nos
orçamentos de P&D e políticas de saúde baseadas em dados)
regularmente produzem ministros notáveis.
A
Constituição da China é democrática?
A Constituição
é clara: “O Congresso Nacional do Povo e os congressos da
população local em vários níveis são constituídos por meio de
eleições democráticas. Eles são responsáveis perante as pessoas
e estão sujeitos à sua supervisão. Todos os órgãos
administrativos, judiciais e procuradores do Estado são criados
pelos Congressos do Povo aos quais devem responder e pelos quais são
supervisionados.” A maior parte da legislação recebe 90% de apoio
no Congresso, mas isso o torna um mero carimbador das propostas, como
afirmam os críticos [9]?
O
mal-entendido de 'aprovador automático' surge porque o
desenvolvimento de políticas chinesas é administrado por ensaios
clínicos randomizados e duplo cegos, chamados de Pontos de Teste
(Trial
Spots),
e o Congresso é o principal responsável por avaliar publicamente os
dados neles coletados. A Europa iniciou programas de teste de renda
universal, mas a China os faz há trinta anos e tem um sistema maduro
para apoiá-lo e gerenciá-lo.
Não
é difícil ter apoio de noventa por cento dos parlamentares se os
dados são sólidos. As propostas de políticas são testadas
primeiro em aldeias, vilas ou cidades e a grande maioria morre
durante esta fase pelas mesmas razões que a maioria dos experimentos
científicos falham. O processo criou o governo mais confiável do
mundo, mas o Congresso não é tarefa fácil. Os congressistas
visitam, inspecionam e auditam fluxos de caixa dos Pontos de Teste,
calculam a acessibilidade e debatem a escalabilidade e o impacto
nacional.
Quando,
após trinta anos de estudos de engenharia, o governo apresentou sua
proposta para financiar a Barragem das Três Gargantas, o Congresso
não a aprovou. O custo e a escala do projeto estavam além da
imaginação da maioria dos membros, engenheiros aposentados e
especialistas estrangeiros o condenaram e um milhão de pessoas que
seriam deslocadas criticaram o projeto com tanta veemência que os
legisladores exigiram que uma barragem semelhante fosse construída
nas proximidades para demonstrar a estabilidade geológica. O governo
construiu devidamente a barragem de Gezhouba rio abaixo, mas quando
reapresentou o pedido de financiamento, apenas sessenta e quatro por
cento dos delegados apoiaram e, quando o governo decidiu prosseguir,
as pessoas acusaram ruidosamente de ‘forçar a aprovação do
projeto de lei’.
Embora
o processo da China não seja totalmente científico nem totalmente
democrático, rotulá-lo de 'autoritário' - um conceito ocidental -
também não acerta o alvo. A confiança da China em dados para
correções de curso é sua maior força, embora mesmo dados sólidos
não garantam uma navegação tranquila. Cinquenta por cento da
legislação [10] não é aprovada dentro do período planejado e dez
por cento leva mais de uma década, graças ao Congresso Consultivo
do Povo, um lobby gigantesco de grupos de interesses especiais -
incluindo camponeses, indígenas, professores, pescadores,
fabricantes e taiwaneses do Partido Kuomintang - que garante que a
legislação pendente não prejudique seus interesses. Os
legisladores devem usar os dados dos testes e as compensações
políticas para elaborar as leis que, quando surgirem, terão apoio
quase unânime [11]. Mesmo assim, a legislação é aprovada 'sujeita
a revisão' porque a coleta de dados também continua após a
implementação.
O
Congresso encomendou o Ponto de Teste do trem de alta velocidade
Guangzhou-Shenzhen em 1998, antes de votar para financiar a enorme
rede HSR de hoje. Em 2016, o governo avançou com a legislação
permitindo culturas de alimentos geneticamente modificados porque
havia prometido que o milho e a soja geneticamente modificados
estariam em uso comercial em 2020. Dois anos depois - após uma
intensa campanha de educação pública - uma pesquisa [12] revelou
que metade do país ainda se opunha a produtos GM, dez por cento eram
favoráveis e onze por cento consideravam a modificação genética
GM 'uma arma de bioterrorismo apontada para a China'. A legislação
foi arquivada. O capitalista de risco Robin Daverman descreve o
processo em nível nacional:
“A
China é um portfólio gigante de testes, com milhões deles
acontecendo em todos os lugares. Hoje, inovações em tudo, desde
saúde até redução da pobreza, educação, energia, comércio e
transporte, estão sendo testadas em diferentes comunidades. Cada uma
das 662 cidades da China está experimentando: Xangai com zonas de
livre comércio, Guizhou com redução da pobreza, 23 cidades com
reformas educacionais, províncias do Nordeste com reforma do Estado:
escolas-piloto, cidades-piloto, hospitais-piloto, mercados-piloto,
tudo piloto. Prefeitos e governadores, os investigadores primários,
compartilham seus ‘resultados de laboratório’ na Escola Central
do Partido e os publicam em suas ‘revistas científicas’, os
jornais estatais.
Começando
em cidades pequenas, as principais políticas passam por ‘ensaios
clínicos’ que geram e analisam dados de teste. Se as estatísticas
parecerem boas, eles adicionarão outros locais de teste e farão
acompanhamentos de longo prazo. Eles testam e ajustam por 10-30 anos
e depois pedem ao Congresso do Povo de 3.000 membros para revisar os
dados e autorizar testes nacionais em três províncias principais.
Se um teste nacional for bem-sucedido, o Conselho de Estado [o Brains
Trust] aperfeiçoa
o plano e o leva de volta ao Congresso para uma votação final. É
muito transparente e, se seus dados forem melhores que os meus, seu
projetos será aprovado e o meu, não. Os votos do Congresso são
quase unânimes porque a legislação é respaldada por uma pilha de
dados. Isso permite que a China realize muito em um curto espaço de
tempo, porque sua solução vencedora será rapidamente propagada por
todo o país, você será um herói de primeira página, convidado
para reuniões de alto nível em Pequim e promovido. Como você pode
imaginar, a competição para resolver problemas é intensa. O
governo local tem muita liberdade para tentar suas próprias coisas,
contanto que tenha o apoio da população local. Tudo, do liberalismo
implacável ao comunismo puro, foi tentado por várias aldeias e
pequenas cidades.”
Yiwu,
uma cidade adormecida no meio da província de Zhejiang, iniciou um
Ponto de Teste de comércio internacional na década de 1980 e se
tornou o centro mundial de pequenas mercadorias, como bichos de
pelúcia (e tema de inúmeros livros e artigos). Hoje, os municípios
estão realizando pontos de teste em cidades inteligentes, as escolas
organizaram pontos de teste na qualidade acadêmica, sindicatos
trabalhistas geriram pontos de julgamento de direitos trabalhistas,
empresas estatais experimentaram indenizações mistas (dinheiro e
ações) e funcionários independentes experimentaram ideias sabendo
que qualquer dano seria contido e os sucessos rapidamente replicados.
Até mesmo a alfândega chinesa conservadora tinha "Pontos de
Teste de facilitação de comércio" nas passagens de
fronteira.
E
m
2019, o Ministério da Saúde em Pequim pediu a trinta e três ministros
provinciais de saúde - todos PhDs e Médicos - para controlar a
obesidade infantil até 2030. Os ministros perguntaram a dez mil
Diretores de Saúde do Condado e hoje centenas de Pontos de Testes de
Conscientização sobre a Obesidade Infantil estão funcionando em
cidades e distritos em todo o país. Um outdoor avisa, de modo
bastante duvidoso, que a obesidade reduz a inteligência das
crianças, mas o trigo e o joio serão separados até 2030 e as
crianças com excesso de peso se tornarão tão raras quanto eram
quando éramos jovens. No geral, o processo mantém o governo em
sincronia com os desejos das pessoas melhor do que qualquer outro na
terra:
A cada cinco anos desde 1950, os planejadores reajustam o curso da nação em direção ao objetivo final do país de dàtóng [Grande Unidade], emitem relatórios de progresso e coletam feedback. Os resultados os encorajaram a permitir que os empresários competissem em setores não essenciais, como a fabricação de automóveis, mas mostraram que os lucros em serviços essenciais eram tão onerosos quanto os impostos. Lucrar com a saúde, eles descobriram, tributava todas as empresas que precisam de trabalhadores saudáveis, e os lucros da educação tributavam todas as empresas que precisam de trabalhadores alfabetizados. O governo agora os fornece a preço de custo e até apoia corporações deficitárias ('zumbis' para neoliberais) que servem a um propósito social.
Os
planos quinquenais da China são democráticos?
Os
pesquisadores começam os Planos Quinquenais com questionários e
fóruns nas bases e, após as avaliações intermediárias, o
Congresso comissiona acadêmicos para avaliar e economistas para
fazer orçamentos de suas recomendações. Em seguida, as equipes
percorrem o país, aparecem na TV local, ouvem as opiniões locais e
formulam propostas. Um planejador [13] explicou: “os computadores
fizeram grandes melhorias na coleta e análise de informações, mas
ainda assim, milhares de estatísticos, atuários, especialistas em
banco de dados e técnicos com formação em planejamento urbano,
rural, agrícola, ambiental e econômico investem milhares de horas
interpretando e analisar este vasto tesouro de dados, estatísticas e
informações. Desnecessário dizer que para um país do tamanho de
um continente com mais de um bilhão de cidadãos, são necessárias
centenas de milhares de pessoas para desenvolver cada Plano
Quinquenal”.
Em
seguida, o Conselho de Estado publica um anteprojeto e solicita
contribuições de trabalhadores, agricultores, empresários,
empresários, funcionários públicos e especialistas e relatórios
de viabilidade de todos os 27 níveis da burocracia responsáveis por
implementá-lo. O Comitê de Finanças e Economia analisa o orçamento
do Plano e, após a aprovação do Conselho de Estado e do Politburo,
vota o Congresso. Em seguida, a discussão é suspensa e a
implementação prossegue sem impedimentos.
Ao longo dos cinco anos, o crescimento econômico foi em média de 7,8%, os serviços se tornaram o maior setor e o consumo tornou-se o principal motor do crescimento, a intensidade de energia caiu 18% e as emissões caíram 12%, a diferença de renda urbano-rural diminuiu, o seguro de saúde rudimentar tornou-se universal, 300 milhões de pessoas tiveram acesso à água potável segura e cem milhões foram retiradas da pobreza. Tony Saich, de Harvard, que realiza suas próprias pesquisas, conclui que 90% das pessoas estão satisfeitas com o governo e pesquisas descobriram que 83% acham que ele dirige o país em benefício de todos, em vez de para grupos especiais. Mais notavelmente, isso é executado com parcimônia:
A
administração atual prometeu estender o Estado democrático de
direito à medida que os níveis de educação aumentam, mas há
outra democracia menos forma em ação há três mil anos. Qualquer
cidadão pode fazer uma petição ao governo com uma demanda ou
reclamação. Historicamente, a qualquer momento, mas especialmente
agora, quando o Congresso está reunido com o Congresso Consultivo
dos Povos, milhares de eleitores insistentes aparecem em suas portas
com petições escritas. O protocolo exige que eles comecem no nível
do bairro, então, se ainda estiverem insatisfeitos, vão para o
próximo nível, até o Congresso Nacional do Povo, se necessário.
Na verdade, há um escritório especial, o Departamento de Estado de
Cartas e Chamadas, onde todos, mesmo não cidadãos, podem apresentar
petições.
A
legislação, que já foi publicada em jornais e postada em boletins
do bairro, agora floresce online. Todos os rascunhos são publicados
para cidadãos, não cidadãos, empresas nacionais e internacionais
para comentar e criticar — e eles o fazem. Se houver forte rejeição
ou resistência às leis propostas, elas são enviadas de volta para
serem emendadas. E se isso for muito complicado, há o direito
constitucional de se manifestar publicamente.
Hoje,
smartphones, mídia social e streaming de vídeo para multiplicar os
efeitos das manifestações públicas (como testemunham 150.000
"incidentes em massa" em 2018). Protestos barulhentos -
geralmente desencadeados pela injustiça, desonestidade ou
incompetência das autoridades locais - são baratos, emocionantes e
seguros, uma vez que a polícia não anda armada. Cidadãos
indignados [14] pintam cartazes, alertam ONGs e a mídia, recrutam
vizinhos, batem tambores, gritam slogans e transmitem sua
manifestação ao vivo.
As
respostas que antes demoravam meses, agora levam horas. Funcionários
alvo - geralmente após um telefonema de um superior furioso - vão
rapidamente à cena, curvam-se profundamente, pedem desculpas
profusamente, beijam bebês, explicam que não tinham ideia de que
tais coisas estavam acontecendo e prometem amanhãs mais brilhantes.
Desde que os telefones celulares se tornaram onipresentes, a
aprovação das autoridades locais aumentou de quarenta e cinco para
cinquenta e cinco por cento e, em 2025, deve rivalizar com os setenta
por cento dos americanos.
Da
redistribuição de terras na década de 1950 às comunas nos anos 60
ao Grande Salto Adiante, a Revolução Cultural, Reforma e Abertura e
Anticorrupção, a política chinesa é quase irreconhecível de uma
década para a outra, mas o apoio político rivaliza com o da Suíça.
O professor de Tsinghua Daniel Bell [15] credita à democracia na
base, aosexperimentos no meio e à meritocracia no topo pela série
de sucessos políticos. E Tom Friedman, do The New York Times, diz
melancolicamente: "Se pudéssemos ser a China por um dia,
poderíamos realmente tomar as decisões certas."
O
ex-presidente Hu Jintao, que formalizou os Pontos de Testes,
sabiamente observou que há mais ingredientes no processo democrático
da China do que nossa vista consegue alcançar: "tirar de cada
um de acordo com sua habilidade e dar a cada um de acordo com sua
necessidade requer estado democrático de direito, equidade e
justiça, honestidade e fraternidade, energia abundante,
estabilidade, ordem, harmonia entre as pessoas e o meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável".
ALGUNS GRÁFICOS DO ARTIGO:
Legenda do gráfico: percentual de pessoas que respondeu afirmativamente à questão se o governo trabalha para o benefício de todos.
Legenda do gráfico: A pergunta é se acham que seu país está indo na
direção correta. A barra da esquerda representa o percentual que acha
que sim. E a barra da direita o oposto.
Fonte:
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Poder-e-ContraPoder/Quao-democratica-e-a-China-/55/50055
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :
[1] O discípulo mais famoso de Confúcio, Mêncio, viveu entre 372 a.C. e 289 a.C.
[2] Número recorde de pessoas coloca o governo como o problema mais importante. Gallup em 18 de fevereiro de 2019
[3] The “Surprise” of Authoritarian Resilience in China, Wenfang Tang
[4] A Lei dos Direitos de Voto de 1965
[5] William Sewell, “I Stayed in China” [Eu Fiquei na China].
[6] A Liga Democrática da China [China Democratic League]
é para professores do ensino fundamental às universidades. Como
Confúcio é o professor arquetípico da China e os professores são
mantidos em alta consideração pela sociedade como um todo, este é um
partido altamente influente.
[7] O Kuomintang da China, KMT; (às
vezes Guomindang, muitas vezes traduzido como o Partido Nacionalista da
China) é um grande partido político da República da China em Taiwan, com
sede em Taipei e atualmente é o partido político de oposição no Yuan
Legislativo de Taiwan.
[8] A Sociedade Jiusan [Jiusan Society ] é
para cientistas com PhD, principalmente físicos e engenheiros, cuja
posição é "tudo deve ser executado pela ciência". Muito forte em
pressionar por iniciativas climáticas, proteção ambiental, mais
orçamento para P&D, melhores políticas de saúde, etc.
[9] Wikipédia
[10] “Authoritarian
Gridlock? Understanding Delay in the Chinese Legislative System”, Rory
Truex. Journal of Comparative Political Studies, April 2018 [Impasse
autoritário? Entendendo o atraso no sistema legislativo chinês. Rory
Truex. Revista de Estudos Políticos Comparativos, abril de 2018]
[11]
O menor apoio legislativo registrado é de 64% para o projeto da Represa
dos Três Desfiladeiros, que agora devolve seu investimento original a
cada dois anos. Foi o maior e mais caro projeto de um único local da
história cujo lago mudou a rotação da Terra, então a cautela dos
legisladores em sua geração é compreensível.
[12] “Public
perception of genetically-modified (GM) food: A Nationwide Chinese
Consumer Study. “ [Percepção pública dos alimentos geneticamente
modificados (GM): Um estudo nacional do consumidor chinês] Kai Cui &
Sharon P. Shoemaker. npj Ciência da Alimentação volume 2, número do
artigo: 10 (2018)
[13] Jeff J. Brown, China Rising.
[14] Tang, Autoritarismo Populista.
[15]
“The China Model: Political Meritocracy and the Limits of Democracy” [O
Modelo da China: Meritocracia Política e os Limites da Democracia]. (p.
9) Daniel Bell
*Publicado originalmente por Information Clearing House | Tradução por César Locatelli
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