Como a esquerda vai ajudar a eleger Moro em 2022
Liana Cirne Lins. Professora da Faculdade de Direito da UFPE, doutora em Direito Público e mestra em Instituições Jurídico-Políticas.
"Moro
é mestre na arte de fingir ser homem probo e correto. E essa
narrativa seguramente vai estar em disputa daqui a dois anos, nas
eleições presidenciais de 2022", escreve a professora de
Direito da UFPE Liana Cirne Lins
28
de abril de 2020 .
Brasil 247.
https://www.brasil247.com/blog/como-a-esquerda-vai-ajudar-a-eleger-moro-em-2022-2043jyuz?fbclid=IwAR32TuzfCbti9wQjZAfBEg57MzDcgwuSbp1dSUx5KwvgEOgNuBg30WL0ie8
Um
meme de um comediante, satírico à demissão de Sergio Moro, foi
motivo de polêmica no dia seguinte à demissão. O vídeo foi
compartilhado por importantes páginas de esquerda nas redes sociais,
e por alguns políticos de esquerda, também.
O
vídeo simulava uma briga entre duas participantes do BBB, mas os
rostos tinham sido alterados para as faces de Moro e Bolsonaro. O
personagem de Moro dizia para Bolsonaro: "Eu não sei ser
fingido, não olho na sua cara por que eu não gosto de ser falso.
Acho você incoerente, você está onde eu te convém. Acho você
extremamente falso, extremamente sem educação e extremamente
soberbo."
Apesar
de ter sido compartilhado por inúmeras páginas de esquerda, na
minha opinião, o vídeo era peça de propaganda que reforçava a
imagem de Moro como bastião da moralidade, que denuncia as mentiras
de Bolsonaro.
Supõe-se
que quem é de esquerda sabe que Moro deu aula de hipocrisia a
Bolsonaro. Se manteve no governo enquanto lhe conveio, prevaricou,
cometeu corrupção passiva e acusou o ex-chefe de fazer exatamente o
que ele fez: usar a PF para perseguir adversários e proteger amigos
(inclusive o próprio Bolsonaro, que teve o sigilo do inquérito
contra Carlos garantido, nos tempos em os dois andavam às boas), sem
falar na quebra do sigilo do processo do laranjal do PSL e muitas
outras vezes em que Moro praticou crime de advocacia administrativa.
Entretanto,
Moro é mestre na arte de fingir ser homem probo e correto. E essa
narrativa seguramente vai estar em disputa daqui a dois anos, nas
eleições presidenciais de 2022, quando Moro vai surfar tanto na
briga com Lula, para os antipetistas, quanto na briga com Bolsonaro,
em que a imagem propagada no meme lhe favorece muito: o homem que
joga a verdade na cara, custe o que custar.
Como
eu tenho 48 anos e há mais de 20 não assisto à TV, nunca
acompanhei um Big Brother e a última novela que vi foi Rei do Gado,
às vezes é difícil entender a forma como a militância virtual
simpatizante da esquerda se organiza e pensa.
Mas
é evidente que precisamos fazer um duplo movimento: de um lado,
precisamos compreender que é impossível abandonar o campo da
lacração nas redes sociais. Essa é uma forma de militância que
tem disputado narrativa com força - como, aliás, aconteceu no
último BBB - e é um erro das gerações mais velhas ignorá-la ou
desprezá-la.
De
outro, as esquerdas precisam investir mais em formação política.
As direitas estão investindo, e muito.
Basta
olhar para a Fundação Lehmann, RAPS, Acredito, RenovaBR e por aí
segue. Esses grupos escolhem jovens dentro das favelas, das escolas
públicas, das universidades, das redes sociais. E FORMAM. Inclusive
com BOLSAS, para assegurar dedicação à militância.
Enquanto
isso, onde estão os cursos e formações para simpatizantes de
esquerda? Seria maravilhoso ver a Fundação Perseu Abramo ocupar
esse papel, por exemplo.
Nem
mesmo tática e estratégia para redes sociais são ensinadas. Não
admira que a gente compartilhe um meme que enaltece Moro, apenas
porque Bolsonaro foi ridicularizado.
A
falta de estratégia da esquerda inclusive ajuda a direita a promover
seus candidatos. Todo mundo sabe que simpatizantes de direita
compartilham posts movidos pelo MEDO. E que simpatizantes da esquerda
compartilham posts movidos pela INDIGNAÇÃO.
A
gente lembra do quanto nós fomos cruciais para promover Marco
Feliciano em 2013, e Bolsonaro em 2016. Era muito mais comum ver um
vídeo falando MAL de Bolsonaro do que um vídeo falando bem de
Dilma. Promovemos e ajudamos o crápula a se eleger.
Vamos
repetir o erro? Tudo indica que sim. Não temos tática, não temos
estratégia e não temos ninguém disputando institucionalmente a
formação política da esquerda, que segue à deriva, abandonada a
memes engraçadinhos.
Eu
sei que vocês vão dizer: relaxa, é só um meme.
É?
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