quarta-feira, 27 de julho de 2022

POR QUE LER MARX CONTINUA RELEVANTE

 

Por que O Capital continua relevante

POR David Harvey e Daniel Denvir

Tradução Revista Movimento

Publicado na revista The Jacobin em  17/10/2019

David Harvey discute por que a principal obra de Karl Marx continua sendo o guia definitivo para se compreender - e para superar - os horrores do capitalismo.


David Harvey é um ilustre professor de Antropologia e Geografia no Centro de Pós-Graduação da City University de Nova Iorque. Faz mais de um século e meio desde que Karl Marx publicou o primeiro volume de O Capital. Harvey ensina O Capital há décadas. Seus cursos populares sobre os três volumes do livro estão disponíveis gratuitamente on-line e já foram assistidos por milhões de pessoas em todo o mundo; eles formaram a base dos seus livros de apoio à leitura para os volumes I, II e III. O livro mais recente de Harvey, A Loucura da Razão Econômica, é um apoio mais curto à leitura dos três volumes, no qual ele lida com a irracionalidade fundamental de um sistema capitalista – cujo funcionamento pode ser qualquer coisa, menos racional. Nesta entrevista à revista The Jacobin o autor fala sobre a atualidade de ler Karl Marx.



Em O Capital Marx explica como funciona a engrenagem do capitalismo. Para David Harvey a verdade é simples. Capitalistas começam o seu dia com alguma quantidade de dinheiro, vão ao mercado e compram algumas mercadorias, como meios de produção e força de trabalho, e os colocam em movimento em um processo de trabalho que produz novas mercadorias. Essa nova mercadoria é vendida por dinheiro acrescida de lucro. Depois, o lucro é redistribuído por vários caminhos, na forma de juros e renda, e volta a ser aquele dinheiro que inicia o ciclo de produção novamente. Trata-se de um processo de circulação. Os três volumes d’O Capital tratam dos diferentes aspectos desse processo. O primeiro trata da produção. O segundo, da circulação e do que chamamos de “realização” – a maneira como a mercadoria volta a se converter em dinheiro. Já o terceiro trata da distribuição – quanto vai para o proprietário, para o financiador e para o comerciante antes que tudo isso volte para o processo de circulação. ….. precisamos entender essa constante dinâmica de expansão que conduz o capitalismo – é o que chamamos de “mau infinito”, para citar Hegel.

O que é esse “mau infinito”?

A ideia de “mau infinito” está no volume I. O sistema deve expandir-se, pois se trata de gerar lucro, de criar o que Marx chama de “mais-valia” e depois reinvestir essa mais-valia para que crie ainda mais mais-valia. Portanto o capital está em constante expansão. E o que acontece é o seguinte: se se cresce 3% ao ano, para sempre, chega-se a um ponto em que a quantidade de expansão necessária é absolutamente gigantesca. Nos tempos de Marx, havia muito espaço no planeta para que o capital se expandisse, mas hoje estamos falando de uma taxa de crescimento de 3% com tudo que está ocorrendo na China, sul da Ásia e América Latina. O problema aumenta: para onde ir para continuar a expansão? É aí que surge o problema do mau infinito. No volume III, Marx aponta que talvez o único meio para manter a expansão seja a expansão monetária. Porque com dinheiro não há limite. Se falarmos em usar cimento ou algo assim, há um limite físico sobre quanto você pode produzir. Mas com dinheiro você pode apenas acrescentar zeros às reservas mundiais.

Se você olhar o que foi feito depois da crise de 2008, verá que foram adicionados zeros à reserva de dinheiro por meio de algo chamado “flexibilização quantitativa”. O dinheiro voltou para o mercado de ações e transformou-se em bolhas de ativos, especialmente no mercado imobiliário. Agora nós nos encontramos em uma estranha situação na qual, em qualquer região metropolitana que visitei no mundo, há um grande boom na construção civil e nos preços dos ativos de propriedade – tudo isso alimentado pelo fato de que dinheiro tem sido criado e não se sabe para onde enviá-lo a não ser para especulação e ativos financeiros.



O capitalismo é basicamente sobre questões de tempo e espaço

O problema do espaço material vem à tona porque, quando se começa a expansão, há sempre a possibilidade de, se você não pode continuar crescendo em um dado espaço, levar seu capital para outro lugar. A Inglaterra, por exemplo, estava produzindo muita mais-valia no século XIX, de modo que boa parte dela ia para a América do Norte, uma parte para a América Latina e outra para a África do Sul. Portanto, há um aspecto geográfico nisso.

A expansão do sistema refere-se ao que eu chamo de “estabelecimentos espaciais”. Suponhamos que você tenha um problema: há capital em excesso. O que fazer com isso? Bem, você tem um estabelecimento espacial, o que significa que você pode sair e construir algo novo em outro lugar do mundo. Se há um continente “despovoado” como a América do Norte no século XIX, então existem vastas regiões para onde é possível expandir. Mas agora a América do Norte está bastante coberta.

A reorganização espacial não é simplesmente sobre expansão. É também sobre reconstrução. Houve desindustrialização nos Estados Unidos e na Europa e reconfiguração de algumas áreas por meio de desenvolvimento urbano, de modo que os moinhos de algodão de Massachusetts transformaram-se em condomínios.

Agora estamos ficando sem tempo e espaço. Esse é um dos grandes problemas do capitalismo contemporâneo.



Nosso futuro está sendo hipotecadoVocê poderia imaginar que depois de 2007-2008 houve uma pausa na geração criação de dívidas. Porém, houve na verdade um enorme crescimento da dívida.

O capitalismo tem nos levado cada vez mais às dívidas. Isso deveria nos preocupar. Como isso será pago? E por quais meios? E nós vamos parar de criar mais e mais dinheiro que agora não tem mais para onde ir a não ser especulação e ativos?

Isso é o que acontece quando passamos a construir coisas para as pessoas investirem e não realmente para morarem. Uma das coisas mais impressionantes da China contemporânea, por exemplo, é que há cidades inteiras que já foram construídas, mas ainda não foram habitadas. Mesmo assim, pessoas as compraram já que são um bom investimento.



A loucura da razão econômica” - o sistema é irracional. A melhor medida disso é olhar para o que acontece em uma crise. O capital produz crises periodicamente. Uma das características de uma crise é que você tem excedentes de trabalho – pessoas desempregadas, sem saber como fazer para sobreviver – ao mesmo tempo em que você tem excedentes de capital que não parecem serem capazes de encontrar um lugar para ir de modo a terem uma taxa de retorno adequada. Você tem esses dois excedentes lado a lado, em uma situação onde a necessidade social é crônica.

Precisamos colocar capital e trabalho juntos para criar coisas atualmente. Mas você não pode fazer isso, porque o que você quer criar não é lucrável, e se não é lucrável então o capital não o fará. Ele faz uma greve. Então nós acabamos com excedentes de capital e excedentes de trabalho, lado a lado. Esse é o pico da irracionalidade.

Ensina-se que o sistema econômico capitalista é altamente racional. Mas ele não é. Ele atualmente produz irracionalidades inacreditáveis.



O capitalismo não é imoral…. Ele é amoral. Muitos dos primeiros socialistas eram moralistas, no bom sentido do termo, e expressavam seu ultraje dizendo que poderíamos construir uma sociedade alternativa, baseada no bem-estar comum e em solidariedades sociais, e outras questões desse tipo.

Marx olhou para essa situação e disse que atualmente o problema com o capital não é que ele é imoral. O problema com o capital é que ele é quase amoral. Tentar confrontá-lo com a razão moral nunca chegaria muito longe, porque o sistema é auto-gerador e auto-reprodutor. Nós temos que lidar com a auto-reprodução do sistema.

Marx tomou uma visão muito mais cientifica do capital e disse: nós agora precisamos substituir o sistema inteiro. Não é apenas uma questão de limpar as fábricas – nós temos que lidar com o capital

Marx abstraiu das particularidades do seu tampo e falou sobre as dinâmicas da acumulação capitalista e apontou para o seu caráter contraditório – como, na sua força motriz, ele está aprisionando todos nós através de dívidas. Marx disse que nós precisamos ir além do protesto moral. Trata-se de descrever um processo sistemático que precisamos enfrentar e entender sua dinâmica. Porque de outra forma as pessoas tentam criar uma espécie de reforma moral, e a reforma moral então é cooptada pelo capital.

É realmente fantástico nós termos internet, que inicialmente todo mundo achou que era uma tecnologia libertadora que permitiria um grande acordo de liberdade humana. Mas agora veja o que aconteceu com ela. Ela é dominada por alguns monopólios que coletam nossos dados e os dão a todos os tipos de personagens decadentes que os usam para fins políticos.

Algo que foi começou como uma tecnológica libertária de repente se transformou em um veículo de repressão e opressão. Se você perguntar “como isso aconteceu?”, você diria que algumas más pessoas aí de fora que fizeram isso, ou, com Marx, que é o caráter sistemático do capital que sempre faz isso.

Não existe isso de uma ideia boa e moral de que o capital não pode cooptar e se transformar em algo horrendo. Quase todo esquema utópico que rompeu no horizonte ao longo dos últimos cem anos se tornou numa distopia por conta da dinâmica capitalista. É para isso que Marx está apontando. Ele está dizendo “Você tem que lidar com esse processo. Se você não o fizer, você não vai criar um mundo alternativo que pode prover liberdade humana para todos”.



As contradições do capitalismo…. O capitalismo constrói e destrói. Marx não é simplesmente um crítico do capitalismo, ele é também um fã de algumas coisas que o capitalismo constrói. Essa é a grande contradição de tudo para Marx.

O capital construiu a capacidade, tecnologicamente e organizacionalmente, de criar um mundo muito melhor. Mas ele faz isso através de relações sociais de dominação ao invés de emancipação. Essa é a principal contradição. E Marx segue dizendo “Por que nós não usamos toda essa capacidade organizacional e tecnológica para criar um mundo liberatório, ao invés de um baseado na dominação?”. Marx realmente aprovou a globalização. No Manifesto Comunista, há uma maravilhosa passagem que ele fala sobre isso. Ele a vê como uma potencialidade emancipatória. Mas mais uma vez, a questão é por que essas possibilidades emancipatórias não são adotadas. Por que elas são usadas como meios de dominação de uma classe por outra? Sim, é verdade que algumas pessoas no mundo melhoraram suas rendas, mas oito homens tem a mesma riqueza do que 50% da população mundial.

Marx está dizendo que nós precisamos fazer alguma coisa a respeito disso. Contudo, o fazendo, nós não somos nostálgicos ao dizer “queremos voltar ao feudalismo”, ou “nós queremos viver a partir terra”. Nós temos que pensar sobre um futuro progressivo, usando todas as tecnológicas que dispomos, mas usando-as para um propósito social ao invés de aumentar a riqueza e o poder na mão de cada vez menos pessoas. Os economistas amam confrontar o que eles chamam de problemas, e problemas têm soluções. Contradições, não.

Elas aumentam no que Marx chamou de “contradições absolutas”. Como os economistas tratam com o fato de que na crise dos anos 1930, dos anos 1970 ou a mais recente, capital excedente e trabalho excedente existiram lado a lado, e ninguém parece ter a pista de como colocá-los juntos novamente de modo que eles possam trabalhar em vista de fins socialmente produtivos?

Keynes tentou fazer alguma coisa em relação a isso. Mas em geral os economistas não têm ideia em como lidar com essas contradições. Enquanto Marx está dizendo que essa contradição está na natureza da acumulação de capital. E essa contradição, então, produz essas crises periodicamente, que faz vítimas e cria miséria.

Esse tipo de fenômenos precisa ser resolvido. E economistas não tem um bom modo de pensar a respeito.



E o crescimento dos salários está baixíssimo. …. a administração Trump seguiu algumas políticas fortemente neoliberais. Ele basicamente beneficia os detentores de títulos e donos do capital, e todos os demais são colocados de lado. E outra coisa que aconteceu foi a desregulação, que os neoliberais gostam. A administração Trump duplicou a desregulação – do meio ambiente, leis trabalhistas, e todo o resto. O argumento neoliberal teve muita legitimidade nos anos 1980 e 1990 ao ser liberatório em alguma medida. Mas ninguém mais acredita nisso. Todos perceberam que ele é uma trapaça em que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.

Mas o fato é que o maior problema dos empregos não é o offshore, é a mudança tecnológica. Entre 60% e 70% do desemprego gerado desde os anos 1980 foi causado pela mudança tecnológica. Talvez 20% ou 30% de tudo isso foi causado pelo offshore.



O que Marx diz sobre automação e o que fazer com ela? O fim do trabalho está realmente próximo? …. Eu vim para os Estados Unidos em 1969 e fui para Baltimore. Havia imensas fábricas de aço e ferro que empregavam cerca de trinta e sete mil pessoas. Em 1990, as fábricas de ferro ainda produziam a mesma quantidade de ferro, mas empregavam cerce de cinco mil pessoas. Agora, as fábricas de ferro praticamente foram embora. O ponto é que na manufatura, a automação expulsou empregos no atacado, em todos os lugares, muito rapidamente. A esquerda passou muito tempo tentando defender esses empregos e travou uma ação de retaguarda contra a automação. Essa foi uma estratégia errada por uma série de razões. A automação estava chegando de qualquer jeito, e você iria perder. Em segundo lugar, eu não entendo porque a esquerda deveria ser absolutamente contra a automação. A posição de Marx, na medida em que ele tinha uma, seria de que nós deveríamos nos utilizar dessa inteligência artificial e da automação, mas nós deveríamos fazê-lo de modo que isso aliviasse a carga do trabalho. Uma das maiores coisas que Marx sugere é que o tempo livre é uma das coisas mais emancipatórias que podemos ter. Ele tem uma ótima frase: o reino da liberdade começa quando o reino da necessidade é deixado para trás. Imagine um mundo em que as necessidades podem ser cuidadas. Um ou dois dias da semana trabalhando, o resto do tempo é tempo livre. O que está nos impedindo é todas essas coisas sendo usadas para sustentar os lucros da Google e da Amazon. Até o momento em que não lidarmos com as relações sociais e as relações de classe por trás de tudo isso, nós não seremos capazes de usar todos esses dispositivos e oportunidades fantásticas de maneira que possam beneficiar a todos.



O capitalismo pode sobreviver à crise das mudanças climáticas ? De fato, se você observar os desastres climáticos, verá que o capital pode transformá-los no que Naomi Klein chama de “capitalismo de desastres”. Se há um desastre, bem, é preciso uma reconstrução. Isso traz muitas oportunidades para o capitalismo obter retornos lucrativos a partir dos desastres.

Do ponto vista da humanidade, eu não acredito que nós sairemos bem disso em hipótese alguma. Mas para o capital é diferente. O capital poderá superar essas coisas e, contanto que seja lucrativo, ele o fará.



Capitalismo e consumismo. O capital é produção de vontades, necessidades e desejos. É uma produção de consumismo. Todos nós temos celulares. Isso é a criação de um estilo de vida, e esse estilo de vida não é algo que eu possa escolher individualmente fazer parte dele ou não – eu tenho que ter um celular, mesmo que eu não saiba como diabos ele funciona. ….as pessoas estão tentando criar um novo estilo de vida. As que mais me interessam são as que usam novas tecnologias, como celulares e internet, para criar estilos de vida alternativos, com formas de relação diferentes daquelas que caracterizam as corporações, com estruturas hierárquicas de poder que encontramos em nosso dia a dia. Lutar contra um estilo de vida é bem diferente de lutar por salários ou condições de trabalho em uma fábrica. No entanto, há, do ponto de vista da totalidade, uma relação entre essas diferentes lutas. Eu estou interessado em mostrar para as pessoas como as lutas pelo meio ambiente, para a produção de novas vontades, necessidades, desejos e consumo está relacionada às formas de produção. Junte todas essas coisas e você terá uma visão sobre a totalidade do que é a sociedade capitalista e sobre os diferentes tipos de insatisfação e alienação que existem nos diferentes componentes da circulação do capital que Marx identifica



A luta contra o racismo …. Dependendo do lugar em que você estiver no mundo, essas questões são fundamentais. Mas aqui as relações sociais são sempre atravessadas por questões de gênero, raça, religião, etnia, etc. Portanto, não se pode lidar com a questão da produção de estilos de vida e de necessidades, vontades e desejos sem levar em conta a questão da racialização do mercado imobiliário e de como a questão racial é utilizada de diversas formas. As questões de gênero também são proeminentes na sociedade capitalista quando se trata da reprodução social em qualquer lugar do mundo. Essas questões estão embutidas na acumulação capitalista. Porém, os antirracistas devem lidar com a forma como a acumulação de capital interfere nas políticas antirracistas. E observar a relação entre o processo de acumulação e a perpetuação das desigualdades raciais. Em certa medida, antirracistas devem ser também anticapitalistas se quiserem ir à verdadeira raíz de muitos problemas.



Ativismo, trabalho acadêmico e por que conhecer Marx fora da academia ? A maioria das pessoas que eu conheço que estão envolvidas em ativismos encontra-se tão consumidas pelos detalhes do que estão fazendo que às vezes se esquecem de ter uma perspectiva global – seja das lutas na cidade, sem falar das do mundo. Às vezes você percebe que as pessoas precisam de ajuda de fora. Você começa a construir alianças. E quanto mais alianças são feitas, mais poderoso torna-se o movimento.

Eu tento não dizer para as pessoas o que elas deveriam pensar, mas tento criar uma estrutura de pensamento que permita às pessoas perceberem seu lugar na totalidade complexa de relações que fazem a sociedade contemporânea. Então as pessoas podem formar alianças em torno das questões com as quais se preocupam, e, ao mesmo tempo, mobilizar suas próprias forças para ajudar outras pessoas em suas alianças.

Eu estou empenhado em construir alianças. Para isso, é preciso ter uma concepção sobre a totalidade da sociedade capitalista. Na medida em que você puder fazer isso estudando Marx, eu penso que isso é útil.



FONTE: https://jacobin.com.br/2019/10/por-que-o-capital-continua-relevante/?fbclid=IwAR1wjTBKZn-c5kCCXmOWbPCctr1OzEbeXcIWcvxisNQy5DZUB5P38zjrnBY



quarta-feira, 20 de julho de 2022

ESTADOS UNIDOS : UMA FÔRÇA ASSASSINA, SENHORES DA BARBÁRIE

 

Estados Unidos: uma força assassina, senhores da barbárie

Estados Unidos: uma força assassina, senhores da barbárie, por Elias Jabbour

Todos os golpes de Estado que resultaram em governos militares fascistas na América Latina nas décadas de 1960 e 1970 tiveram a participação direta dos EUA

Elias Jabbour jornalggn@gmail.com

Publicado em 20 de julho de 2022.

Artigo produzido em colaboração com a Rádio Internacional da China.

 




Na medida em que o mundo se transforma, novos polos de poder mundial surgem e, em grande medida, o nível de consciência dos povos se eleva, vai ficando cada vez mais difícil para os Estados Unidos manterem sua fleuma de defensores da “democracia” e dos “direitos humanos”. Muito ainda há de ser revelado. Por exemplo, é preciso que o mundo saiba que o nazismo alemão teve grande inspiração na política de segregação racial norte-americana. O país mais racista e mais violento do mundo parece ser herdeiro legítimo da cultura nazista acerca de uma “raça superior” dotada de um “destino manifesto”. Quando transformada em política externa, torna-se uma grande força assassina, elemento de instabilidade, guerras e pilhagens.

Os exemplos são muitos. Todos os golpes de Estado que resultaram em governos militares fascistas na América Latina nas décadas de 1960 e 1970 tiveram a participação direta dos Estados Unidos. A ditadura militar argentina assassinou 20 mil pessoas, enquanto a do Chile vitimou outras 30 mil. São armas, proteção e orientação do imperialismo norte-americano que encobre um verdadeiro massacre que ocorre no Iêmen onde a Arábia Saudita assassinou 400 mil pessoas nos últimos anos, sendo 100 mil crianças. Documentos disponibilizados ao público também atestam a ampla participação dos Estados Unidos em um dos maiores massacres do século XX ocorrido no ano de 1965, no qual quase um milhão de pessoas foram assassinadas pela ditadura de Suharto, na Indonésia, apoiada por Estados Unidos. Segundo Bill Clinton, Suharto é o “tipo de amigo que gostamos”.

O imperialismo assassino norte-americano não se contentou em apoiar massacres mundo afora. Suas mãos banhadas de sangue podem ser observadas no Laos, país onde os Estados Unidos despejaram mais bombas do que em toda a 2ª Guerra Mundial. A Guerra da Coreia (1950-1953) foi um grande campo de testes de armas de todos os tipos, principalmente as chamadas armas químicas e bacteriológicas. A capital da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Pyongyang, foi destruída até a última edificação. Aliás, o único país do mundo a se utilizar de artefatos nucleares contra outro país é justamente os Estados Unidos. De imediato foram mortas 140 mil pessoas somente em Nagazaki, mas as consequências deste ato brutal podem ser sentidas até os dias de hoje.

O mesmo pode ser observado no Vietnã onde a intervenção norte-americana causou a morte de dois milhões de vietnamitas e onde o terror das armas químicas, bacteriológicas e milhões de litros de “napalm” se fizeram sentir sobre toda a Península da Indochina. O imperialismo norte-americano é o maior poder corruptor e assassino da história da humanidade!

É uma história de horror sem fim. São variadas as formas de estrangular, assassinar e subjugar povos inteiros. As sanções econômicas têm demonstrado grande eficiência em destruir países e povos antes do “estupro” final. O caso do Iraque é sugestivo, no qual sanções foram aplicadas ao país entre 1991 e 2003. O aumento da mortalidade infantil, pobreza e sofrimento do povo iraquiano neste período levou dois altos representantes da ONU no Iraque a renunciar em protesto. As estimativas de mortes de civis durante as sanções estiveram na faixa de 100 mil a mais de 1,5 milhão, a maioria delas crianças. Após as sanções veio a guerra de rapina e ocupação de 2003 até recentemente. Em nome dos “direitos humanos” e da “democracia” foram assassinados cerca de 400 mil civis. No Afeganistão, outros 200 mil mortos. A chamada “guerra ao terror” já matou em torno de um milhão de inocentes mundo afora.

A lista dos crimes cometidos pelo imperialismo norte-americano pode incluir o irrestrito apoio político ao Apartheid sul-africano, o assassinato de milhares de pessoas simpáticas aos movimentos de libertação popular na África, incluindo o líder congolês Patrice Lumumba e outros mártires revolucionários na América Latina, África e Ásia. Dentro deste quadro não podemos nos surpreender com o apoio material, político e moral do imperialismo norte-americano a países governados por coalizões políticas com forte apelo nazista. O caso da Ucrânia é exemplar, onde um governo que se utiliza de nazistas para massacrar as minorias étnicas russas conta com o apoio e a solidariedade do chamado “Ocidente”.

Correto estava Georgi Dmitrov, o líder búlgaro da Internacional Comunista. Acusado de ter sido um dos responsáveis pelo incêndio do Reichstag em 1933, ao ser perguntado pelo juiz o que ele achava do nazismo, respondeu que se tratava de um fenômeno típico do capitalismo e que não deveríamos nos surpreender com o surgimento de uma nova vaga fascista do outro lado do Atlântico.


Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ).

FONTE:….. https://jornalggn.com.br/eua-canada/estados-unidos-uma-forca-assassina-senhores-da-barbarie-por-elias-jabbour/?fbclid=IwAR14EMTwvi13agnjvTqzNXvsS_zJMFiJk97gFEtTuTo_4IusTUgWxftJAag



domingo, 17 de julho de 2022

ASCENSÃO E QUEDA DE UM IMPÉRIO INDUSTRIAL

 

"O sistema de produção estadunidense": ascensão e 

fragmentação de um Império industrial

 Yan Peng

Yan Peng é professor associado do Instituto de História Moderna da China, Universidade Normal Huazhong, e diretor adjunto do Centro de Pesquisa da Cultura Industrial Chinesa. Ele publicou vários artigos sobre a relação entre o processo histórico de industrialização e o socialismo na China. Ele também publicou um livro intitulado Guerra e Industrialização: A mudança no setor chinês de fabricação de equipamentos durante a Guerra Anti-Japonesa.

RESUMO DO ARTIGO COMPLETO DO PROF. YAN PENG publicado em Vozes Chinesas No.52 | 17.07.2022

Contexto:

As tensões comerciais no mundo se concentram em torno do setor manufatureiro. Durante os últimos cinco anos, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos se intensificou e continuará a aumentar ainda mais. Yan Peng oferece um ponto de vista baseado em uma análise histórica dos acontecimentos: a base da hegemonia política dos Estados Unidos era um forte setor manufatureiro. Nas últimas décadas, a manufatura dos Estados Unidos tem mostrado um declínio irreversível, apesar dos esforços do governo para reativá-la. Esse declínio se tornou uma das fontes importantes para as tensões políticas e econômicas globais de hoje.

Nota do editor: embora o autor tenha apontado como a fraqueza competitiva contribuiu para o declínio da produção norte-americana, uma análise mais profunda das regras que regem a produção na era do imperialismo é necessária. Desde meados dos anos 90, com o domínio do capital financeiro para maximizar os lucros, o imperialismo americano acelerou a mudança de sua base industrial para o exterior, especialmente para o Sul Global e para a China em particular. Paralelamente, havia outros fatores em jogo: os ganhos de produtividade eliminaram muitos empregos nos Estados Unidos e a falta de investimento em manufatura resultou de investimentos de capital financeiro onde os lucros foram maiores.



Pontos-chave:

  • Como resultado de sua incapacidade de fabricar bens de primeira necessidade durante a Guerra da Independência da Grã-Bretanha, os líderes militares e políticos americanos aprenderam rapidamente a importância vital de ter um setor manufatureiro forte, que pudesse fornecer materiais estratégicos e bens manufaturados. Assim, nasceu o "sistema de produção estadunidense", primeiro desenvolvido pelos militares, e depois introduzido no setor industrial dos EUA, onde continuou a se desenvolver.

  • O "sistema estadunidense" tem duas conotações: a primeira se refere às idéias e práticas protecionistas econômicas dos Estados Unidos do século XIX contra o livre comércio britânico, conhecido como o "sistema institucional estadunidense"; a segunda se refere à ascensão do sistema de produção em massa dos Estados Unidos do século XIX.

  • A mecanização da produção em massa - um sistema de produção padronizado baseado em peças e módulos intercambiáveis - é uma das principais características na evolução da fabricação dos Estados Unidos.

  • A hegemonia militar e política alcançada pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial tornou-se, com o passar do tempo, um paradoxo para a manufatura estadunidense. Para manter sua hegemonia política, os Estados Unidos foram obrigados a fazer concessões econômicas a seus aliados, abrindo seu mercado interno aos bens manufaturados dos aliados. Como resultado, os concorrentes estrangeiros ganharam maior participação no mercado e isso contribuiu para o declínio de indústrias como a automobilística, a siderúrgica e a de máquinas-ferramentas.

  • Os Estados Unidos, entretanto, mantiveram sua liderança inovadora e de longo prazo nas indústrias militar, aeroespacial e de informação eletrônica, o que gerou altas margens de lucro ao alavancar a grande quantidade de capital de conhecimento acumulado.

  • Para o governo dos Estados Unidos, os problemas de desemprego, a perda de trabalhadores qualificados, a falta de auto-suficiência em bens estratégicos de defesa, e a deterioração das economias regionais provocada pelo declínio da manufatura doméstica são graves. Desde os anos 80, os Estados Unidos vêm travando guerras comerciais, primeiro contra seus aliados e depois contra potências emergentes em desenvolvimento.

  • As contradições econômicas dentro dos Estados Unidos representam uma importante razão pela qual a ordem política e econômica mundial entrou numa era de conflito e turbulência, que o poder hegemônico dos Estados Unidos não consegue resolver.



O ARTIGO COMPLETO DO PROF YAN PENG ENCONTRAM-SE NAS SEGUINTES FONTES:


FONTE: VOZES CHINESAS N° 52 DE 17/07/2022. https://mcusercontent.com/3804e8517f18cc127a31574ee/files/82763fcc-c4ac-0390-780a-c4574b0a4a4d/Vozes_Chinesas_No.52_17.07.2022.pdf


TAMBÉM NA READ CHINA…….https://readchina.info/en-US/articles/601098507905925121


E O ORIGINAL NA REVISTA “ASPECTO CULTURAL” DE 01-03-2022 .. https://mp.weixin.qq.com/s/jWNz0k-pqzOkVKZdq1ZRbQ

文化纵横(Beijing Cultural Review



TODOS ELES COM A SEGUINTE RESSALVA NO FINAL DO ARTIGO COMPLETO:…..

Este artigo apareceu originalmente nas páginas 120-130 em Culture, 2022, nº 1, sob o título "The American System: The Rise and Divisions of a Manufacturing Empire". Os indivíduos são bem-vindos a partilhar, e as reimpressões dos meios de comunicação social devem contactar este sítio público na Internet.