terça-feira, 23 de agosto de 2022

COMO ERAM AS PRISÕES NA ERA STALIN


 

AS PRISÕES NA ERA STÁLIN (trechos de “A Atualidade de Stálin” de Klaus Scarmeloto).


O papel do Relatório Khrushchev - (documentos analisados por Grover Furr nos antigos arquivos secretos soviéticos revelam que Kruschev mentiu…...…Grover Furr analisou o discurso secreto de Nikita S. Khrushchev, proferido em 25 de fevereiro de 1956, citado por Scarmeloto em https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/kruschev-mentiu-resumo-parte-1…. uma investigação séria, à luz dos numerosos documentos nos antigos arquivos secretos soviéticos agora disponíveis, poderia revelar outras “questões” sobre Stalin que eram falsas. ….Nenhuma das "revelações" concretas de Khrushchev sobre Stalin ou Beria se revelou verdadeira. Entre aqueles que puderam ser verificados com dados, todos eram falsos. Todo o seu discurso secreto é criado com mentiras), - foi indispensável para o sucesso do imperialismo, sua principal característica foi permitir aos inimigos do marxismo um canal para expressar, mundialmente uma convergência metodológica mesmo com fundamentações e intenções distintas dentro da direita e, também da “esquerda”. O impacto deste relatório era inesperado até mesmo para os percursores da Guerra Fria antissoviética e serviu, na realidade, para colocar, no poder, o embrião do processo de dissolução do bloco socialista que estava se formando: o revisionismo. Ao atacar Stálin, atacava-se Lenin e, desta forma, todo a sustentação teórica e prática da grande Revolução de Outubro. A partir, deste momento, o imperialismo e sua agência de inteligência, passaram a atuar ainda mais intensamente no combate ideológico anticomunista aproveitando-se da confusão instalada por Khrushchev. Pouco a pouco, os intelectuais que antes saudavam o heróico Uncle Joe da II Guerra Mundial, passam a compará-lo a Hitler, para assim, ampliar a criação abstrata da identidade entre a Alemanha nazista e a União Soviética, do campo de concentração nazista (konzentrationslager) com a prisão russa Gulag. Aqui a propaganda anticomunista chega ao seu ponto primordial, explora a imagem comum entre ambos países, antros do totalitarismo, para assim vender a idílica democracia liberal burguesa como a única via possível. As comparações atuam de maneira eficiente, porque exploram as falhas do cérebro na hora de criar padrões, bastando qualquer generalidade para realizar a analogia e depois sacralizar a igualdade dos dois objetos, fazendo da mentira, por repetição, uma verdade inquestionável.


Tendo em vista o objetivo de desmontar o anticomunismo tanto oriundo da “esquerda” como da direita, vale a pena mencionar um pouco de uma rotina numa fábrica da época. É notório o fato de que no país de Stálin “os trabalhadores são chamados a julgar seus chefes”, a modernização promovida no período staliniano permitiu decisões vindas de baixo contrariando a lógica da Rússia Czarista, o poder disciplinar capitalista que cria sobretrabalho já se tornaram, pela primeira vez na história da humanidade, não absolutos! Em 1938 mais de 87% dos trabalhadores deixaram as fábricas em que trabalhavam, sem qualquer receio de serem necessariamente punidos. Ao refletir este contexto prático das fábricas da URSS não é possível fundamentar a idéia de totalitarismo.


O MITO DE QUE GULAG ERA UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO….as prisões soviéticas tinham estruturas melhores que as periferias do capitalismo na atualidade e isto sem dúvida se deve a revolução, embora o objetivo das prisões fossem sempre ressocializar, tal premissa não pode ser conquistada sem uma revolução de caráter democrático. Em 1921 na prisão moscovita de Butyrka, os presos podiam fazer o que quisessem na prisão, desde organizar sessões matinais de ginástica, fundar uma orquestra e um coro ,etc. … criaram um “grêmio” que dispunha de periódicos estrangeiros e boa biblioteca…. Todos os presos deixavam seus livros quando era solto….

Em outras localizações relatos mais impressionantes vem à tona, em 1924 em Savvatievo no arquipélago de Soloveckia….outra prisioneira fica gratificada ao encontrar na prisão um local bem longe de parecer um presídio, os prisioneiros políticos encontravam alimentos em grande quantidade, de boa qualidade em excesso e roupas à vontade. Além disto, havia também, teatro, uma biblioteca com mais de 30.000 volumes e um jardim para prática de botânica. Isto é, melhor seria morar em uma prisão na União Soviética, do que numa periferia controlada pela polícia nos Estados Unidos. A vida no “campo de concentração soviético” mostra certa brandura acolhendo pedidos que nenhuma prisão, na atualidade faria. A direção de Gulag, sem hesitar, permitiu que a dieta dos vegetarianos fosse cumprida à risca. Precisando de hospitais, os administradores dos campos os construiam e ainda implantavam sistemas para treinar presos como farmacêuticos e enfermeiros. Precisando de comida, estabeleciam suas fazendas coletivas, seus armazéns e seus sistemas de distribuição. Precisando de eletricidade, instalavam usinas de força. Precisando de material de construção, criavam olarias. Precisando de trabalhadores qualificados, treinaram os que tinham. Boa parte da mão de obra que fora kulak era analfabeta ou semianalfabeta, o que acarretava enormes problemas quando se lidava com projetos de relativa complexidade técnica. Assim, a administração montou escolas técnicas, que por sua vez exigiam novos edifícios e novos quadros de professores de matemática e física, bem como “instrutores políticos” para supervisionar o trabalho desses docentes. Na década de 1940, Vorkuta – uma cidade construída sobre o permafrost, onde todo ano as estradas tinham que ser repavimentadas e as tubulações consertadas – já ganhara um instituto geológico, uma universidade, teatros e cinemas, teatros de marionetes, piscinas e creches.

O Gulag cumpria o objetivo comunista como qualquer outra instituição soviética, isto é, emancipar a civilização e a humanidade. Mesmo com o Estado de Exceção em curso, com as desordens da guerra civil em andamento, o perigo com a ascensão do nazifascismo, do cerco imperialista e o estourar da segunda guerra mundial, nada pôde impedir os soviéticos no plano interno de concretizar reabilitações dos presos políticos. As atividades em curso para isto variavam, mas sempre se ligavam desde o estímulo ao trabalho até meios de sublimação como salas cinematográficas, círculos de leitura e discussões. Vemos, portanto, o totalitarismo se transformar em uma mera dissimulação anticomunista.

As prisões, assim como as relações sociais, são reflexos de uma ideologia, o sistema carcerário soviético não pode ser julgado sem que se considere a ideologia no comando. Ao contrário do que acontece nos países imperialistas, nas residuais colônias e semicolônias, o terror na prisão na URSS, foi um fenômeno de exceção, que a propaganda anticomunista tenta a todo o custo transformar em regra, mas infelizmente, as excepcionalidades só confirmam as rotinas. Mas, há de se ter em mente, que para os dias de hoje, as prisões soviéticas soam excessivamente revolucionárias, atingindo objetivos úteis para a nação e promovendo o bem estar social que nunca foi conquistado em nenhuma parte dos países capitalistas e, sobretudo nas, ainda existentes, semicolônias do Imperialismo. No universo nazista a Hierarquia reflete-se em base racial que caracteriza o Estado racial já existente e império racial a edificar. Neste caso, o comportamento concreto dos indivíduos detidos desempenha um papel irrelevante ou bastante marginal. Portanto, a preocupação pedagógica não teria sentido.

O detido no Gulag é um potencial “camarada” e um potencial cidadão. Quaisquer comparações entre estas duas realidades não são apenas desonestas, mas completamente descabidas; não se sustentam ao estudo científico da história do século XX. Esses são alguns dos exemplos de como se estruturou os principais pontos de apoio da propaganda anticomunista para – a partir do seu gigantesco aparato midiático mundial – buscar desacreditar o socialismo pela calúnia e difamação da figura de J.V. Stalin, concentrando assim o ataque ao marxismo-leninismo, ao materialismo histórico e a rica experiência histórica da primeira revolução proletária da humanidade e o grande processo de emancipação iniciado em outubro de 1917, que levou a dezenas de povos a se levantar contra o colonialismo e o imperialismo para lutar pela libertação nacional e pela independência.


Existe uma imagem de que na URSS a maior parte do povo penou sobre repressões e foi intimidado por elas. É evidente que todo esse conceito constitui um grande exagero. O levantamento fatual de repressões são fato público e notório – foram editadas publicações inúmeras vezes. Assim podemos afirmar com base nessa densa pesquisa que o Terror descrito na era Stálin não existiu. É nisso que consiste as pesquisas de Robert Thurston, John Arch Getty, Losurdo e Grover Furr. O Terror, portanto, não foi uma política aplicada amplamente as massas populares, não teve um significado amplo, , como comumente se afirma. Para responder à pergunta sobre o impacto da repressão em sua escala real na sociedade soviética, recomendamos que se leia as conclusões do historiador americano Robert Thurston, que publicou em meados da década de 1990 a monografia científica Life and Terror in Stalin’s Russia – 1934-1941. As principais conclusões, de acordo com Thurston, são as seguintes: o sistema de terror stalinista na forma em que foi descrito por gerações anteriores de pesquisadores (ocidentais) nunca existiu; a influência do terror na sociedade soviética durante os anos de Stalin não foi significativa; não havia medo em massa de represálias na década de 1930 na URSS; a repressão foi limitada e não afetou a maioria do povo soviético; a sociedade soviética preferia apoiar o regime stalinista do que temê-lo.


Ademais, os cidadãos da URSS majoritariamente conheciam pouco ou nada sobre as repressões, das quais as vítimas eram milhares de inocentes, que souberam disso somente após o famigerado discurso de N S Khrushchev no XX Congresso do PCUS em 1956. … o regime político que se desenrolou na URSS na consciência das massas foi fortemente ligado não ao terror e à repressão, mas às idéias cristalizadas pela justiça social….. o regime social e político que se criou na URSS era massivamente apoiado – a majoritária leva de cidadãos, com orgulho, esforçava-se pelo país e pelo sistema socialista. Ele foi incorporado no povo com os ideais herdados da Revolução de Outubro de 1917 e o Estado soviético na consciência de milhões de pessoas foi concebido como o exclusivo Estado dos trabalhadores e camponeses do mundo. Logo, as pessoas na URSS na hipótese de perigo militar estavam preparadas para lutar não apenas pela sua pátria e nação, independentemente de sua base política, mas também pelo regime sociopolítico que se desenrolou na URSS, seu sistema social e estatal. Na realidade, uma original civilização se configurou. Era uma civilização exclusiva, não comparáveis na história da humanidade nem no passado nem na atualidade.



FONTE: trechos do capítulo “As prisões na era Stálin”, do livro “A atualidade de Stálin”, de Klaus Scarmeloto, copyright 2021 da Editora Raízes da América, 1ª edição, São Paulo.

Da série EDIÇÕES CIÊNCIAS REVOLUCIONARIAS – www.cienciasrevolucionarias.info.