sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 

PELÉ DESTRUIU ESTIGMAS RACIAIS E INFLUENCIOU A IDENTIDADE BRASILEIRA


Pelé 'destruiu estigmas raciais' e influenciou identidade brasileira, dizem pesquisadores

SPUTNIK BRASIL….30.12.2022 (atualizado: 08:51 30.12.2022)….Solon Neto.

https://sputniknewsbrasil.com.br/20221230/pele-destruiu-estigmas-raciais-e-influenciou-identidade-brasileira-dizem-pesquisadores-26705843.html


Sputnik - Nesta quinta-feira (29), Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, tricampeão mundial e sinônimo de futebol, faleceu aos 82 anos. A Sputnik Brasil ouviu jornalistas e pesquisadores para discutir o legado da carreira do eterno camisa 10 para o esporte, para a construção da identidade nacional e para população negra do Brasil.

Há semanas internado no hospital Albert Einstein, na capital paulista, onde tratava um câncer no cólon, Pelé morreu nesta quinta-feira (29). Sendo uma das figuras mais famosas do século XX, a morte do ex-jogador repercutiu mundialmente.


Com uma carreira brilhante, Pelé conquistou, ao lado da Seleção Brasileira, as Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970. No Santos, onde jogou praticamente a carreira toda, também empilhou títulos, entre eles duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes, viajando o mundo inteiro em partidas de exibição com a equipe. Em um dos episódios mais notórios dessa trajetória no clube, chegou a paralisar uma guerra civil na Nigéria.

Para discutir o legado do "atleta do século", a Sputnik Brasil ouviu pesquisadores de diversas áreas, que apontaram as contribuições de Pelé para além dos campos de futebol, desde sua ascensão em meio a um mundo ainda marcado pela segregação racial, à sua contribuição para a profissionalização do esporte e a formação da identidade brasileira.

Pelé foi um 'destruidor de estigmas' racistas

Apesar de Pelé não ter sido conhecido como um ativista contra o racismo, especialistas na questão racial brasileira atribuem a ele um legado importante nessa frente. Na avaliação do pesquisador Juarez Tadeu de Paula Xavier, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e militante histórico do movimento negro, "o legado de Pelé para população negra brasileira é extraordinário, enorme".

Segundo o professor, é preciso observar que o Brasil construiu políticas públicas de segregação e violência contra a população negra a partir do século XIX, incluindo a negação da humanidade e estigma dos negros brasileiros. Nesse sentido, Pelé quebrou com a lógica racista dessa visão. 

"O Pelé desmonta tudo isso com a sua genialidade, especialmente a partir de 1959, quando se torna um ícone mundial. Então toda a ideia que se tinha de o negro ser incapaz de ser criativo, o Pelé destruiu; incapaz de compreender os processos políticos, econômicos, sociais, o Pelé destruiu; incapaz de expressar de forma ampla a sua humanidade, o Pelé destruiu. Então a figura dele destruiu, destroçou, todos os preconceitos e estigmas de discriminação em relação à população negra", explica o pesquisador à Sputnik Brasil. 

Xavier aponta que com o surgimento e o sucesso inegável da figura de Pelé, caem "o mito da fabulação da incapacidade da população negra" e a ideia de que o negro não seria um sujeito de direitos.

"Esse é o grande legado de Pelé para o Brasil, de modo geral, e para a população negra, em especial. É o fim dos estigmas. Ele questiona os estigmas com a sua genialidade, ele provoca a necessidade de uma mudança, de pensar o negro a partir de um novo prisma, diferente do que vigia até o século XIX nesse país. Ele abre possibilidade para que o negro, como cidadão, reivindique políticas públicas e ele mostra a iniquidade do racismo na sociedade brasileira, em que mais de 60% da população é negra. Então ele deu uma grande contribuição nesse sentido", afirma.

O pesquisador salienta que a Seleção Brasileira que venceu a Copa de 1958 com Pelé quebrou um paradigma racial que vigia no Brasil até então. Xavier lembra que a presença negra chegou a ser proibida no time nos anos 1920 por decisão do então presidente brasileiro, Epitácio Pessoa.

Essa estigmatização ficou explícita também em episódios posteriores, como o massacre da opinião pública contra o goleiro Barbosa, um homem negro, responsabilizado pela derrota brasileira na final de 1950 da Copa do Mundo, e em declarações de dirigentes do futebol brasileiro nos anos seguintes.

 "E aí vem 1958 e um menino 17 anos muda tudo. Provoca uma mudança em tudo, mostra genialidade, competência, destreza, inteligência, estratégia — tudo aquilo que fora negado até 1954, Pelé destrói isso com a sua genialidade. E isso traz questões importantes porque, a partir de 1958, todo jogador negro — garoto, criança — queria ser Pelé", aponta, acrescentando que a trajetória do gênio do futebol mudou a lógica anterior e tornou a presença negra no futebol algo positivo.

Para Xavier, apesar da importância inegável de Pelé para o futebol brasileiro, o racismo ainda será uma questão importante na disputa pela memória e pelo legado do eterno jogador.

"Nesse sentido, acho que o movimento negro tem que ter uma ação política. Não, obviamente, inventando a imagem Pelé, mas problematizando essa questão para compreender a dialética do que ele provocou em relação à presença do negro [...]. Precisamos ir além da aparência e observar a essência do fenômeno Pelé [...]. Pelé teve um papel importante na humanização do negro na sociedade brasileira. Isso eu não tenho dúvida alguma", diz o professor.

'Um inventor da brasilidade'

Em entrevista à Sputnik Brasil, o escritor e historiador Luiz Antonio Simas, autor de "Maracanã: quando a cidade era terreiro", afirma que Pelé talvez represente o ápice de "um futebol de sonho, de imaginação".

"Pelé talvez tenha sido o primeiro jogador — e acho que ninguém conseguiu isso tanto como ele, até hoje — que consolidou a relação, a união, entre o sonho e o concreto. Era um tremendo de um atleta e ao mesmo tempo era um mágico com a bola nos pés. Então é por isso que ele é alçado à categoria do maior de todos", avalia Simas.

Na visão do escritor, Pelé, além de um excelente atleta, é também um dos responsáveis pela criação da identidade brasileira.

"O Pelé, mais do que um jogador de futebol, é um inventor da brasilidade. Isso porque, em um país com quatro séculos de escravidão ver um descendente de pessoas que foram escravizadas furar a bolha da exclusão social — que sempre caracterizou a nossa história — e chegar ao auge de ser o brasileiro mais conhecido de todos os tempos, se para o futebol, o Pelé é o ápice, para o Brasil, o Pelé é um inventor da brasilidade, é um dos inventores de um país que a gente sonha que seja mais generoso, mais imaginativo. Pelé é tudo isso", avalia.


Pelé marcou ruptura no futebol profissional

O sociólogo Ronaldo Helal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME), acredita que Pelé, além do talento, revolucionou o futebol profissional em relação à importância da preparação física.

 "O Pelé, não só para o Brasil, mas mundialmente, marcou uma ruptura na forma de se encarar é o futebol profissional. No caso brasileiro, eu diria que — apesar de ele ter sido muito cobrado durante toda a sua carreira de que ele poderia ter feito mais pelos projetos no Brasil — acho que a imagem dele foi extremamente importante, de mostrar para o mundo um atleta negro e tricampeão, o atleta do século. Então nesse sentido, é um ícone, fantástico, incomparável do Brasil e para o mundo", avalia Helal em entrevista à Sputnik Brasil.

O sociólogo aponta que o Brasil saiu da década de 1930 "com uma certa fragilidade na noção do que era ser brasileiro". Helal, lembra que a ideia de brasilidade passou a ser discutida por diversos autores, como o jornalista Mário Filho e os escritores Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e José Lins do Rêgo. Segundo ele, o pensamento brasileiro passou a enxergar no futebol um "motor para juntar uma nação de dimensão continental como o Brasil". Nesse sentido, o sucesso de Pelé a partir de 1958 ajuda a formar a identidade brasileira.

"Essa equação de Seleção Brasileira e nação brasileira, identidade nacional, praticamente se consolida ali. Eu digo sempre que essa equação vai perdendo força nas últimas décadas por conta da globalização, da ida dos melhores jogadores para a Europa, mas acho até que hoje em dia ela não é tão importante quanto foi naquele momento. Naquele momento, era importante você ter essa noção de brasilidade e o futebol, muito por conta do Pelé, acabou sendo bastante exitoso nessa construção de identidade nacional", afirma.

Sinônimo de excelência

O jornalista Leandro Iamin descreve Pelé como o "mais impactante atleta e jogador do século XX" e lembra que o brasileiro é uma das figuras midiáticas globais mais conhecidas do planeta. Iamin ressalta que a permanência do "atleta do século" por quase toda a carreira no futebol brasileiro, algo incomum para os grandes talentos da atualidade, foi também uma vitória para o esporte do país.

"A gente conseguiu ter o Pelé a carreira quase inteira aqui no Brasil. Ele não precisou ir à Europa, não quis à Europa, quis ficar aqui e a gente conseguiu viabilizar isso. Então é uma grande vitória do futebol brasileiro. É uma história de vitória do futebol brasileiro em campo, mas a vitória brasileira que representa o Pelé é também para autoestima, para a ideia do atleta de elite, para o atleta negro brasileiro", afirma Iamin em entrevista à Sputnik Brasil.

O jornalista afirma que, apesar de que a notícia da morte de Pelé já era esperada devido ao seu quadro de saúde, está de coração partido ao recebê-la. Para Iamin, seria necessário inventar uma nova palavra para classificar a importância do tricampeão mundial.

"Muitas vezes a gente fala sobre alguém que é muito bom em alguma coisa que 'esse cara é o Pelé de determinada coisa', porque o Pelé não tem um adjetivo que possa defini-lo, então que o adjetivo vire Pelé", conclui Iamin.







domingo, 18 de dezembro de 2022

A TEORIA DA DEPENDÊNCIA DE ANDRÉ GUNDER FRANK

 


TEORIA DA DEPENDENCIA DE ANDRÉ GUNDER FRANK


Este post é um breve resumo da visão da Teoria da Dependência sobre Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. É, em termos gerais, uma teoria marxista do desenvolvimento, desenvolvida pelo economista alemão André Gunder Frank, um dos criadores da Teoria da Dependência, ao lado dos brasileiros Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra e outros.


Teoria da Dependência

A teoria da dependência é uma teoria que nega os benefícios do comércio internacional propostos pela escola clássica e explica o subdesenvolvimento através da subordinação ou submissão que ocorre aos países desenvolvidos.

Sem dúvida, esta teoria tenta encontrar uma resposta teórica para o porquê da estagnação econômica nos países latino-americanos no século XX. Começou a se formar durante os anos de 1950 a 1970, quando um grupo de especialistas latino-americanos se preocupava com a estagnação socioeconômica que ocorria na América Latina.

Acima de tudo, parte-se do pressuposto de que a economia mundial está gerando um sistema de desigualdade para os países subdesenvolvidos e, portanto, prejudicial. As economias dos países desenvolvidos estão crescendo e se tornando mais fortes, enquanto as economias dos países subdesenvolvidos estão se tornando mais frágeis e fracas.

Além disso, afirma que existe um eixo ou um país que atua como centro. Trata-se de um país desenvolvido e dotado de alto nível de investimento em sua infraestrutura produtiva. Por isso, os bens e serviços que produzem são manufaturados e possuem alto grau de agregação de valor.

Os teóricos da dependência argumentam que os países ricos acumularam sua riqueza explorando os países mais pobres. Inicialmente, isso foi através do colonialismo e da escravidão, mais tarde através do neocolonialismo. Para se desenvolver, os países mais pobres precisam se livrar dessas relações exploradoras.

Andre Gunder Frank (1971), um dos principais teóricos da 'teoria da dependência', argumentou que as nações em desenvolvimento falharam em se desenvolver não por causa de 'barreiras internas ao desenvolvimento' como argumentam os teóricos da modernização, mas porque o Ocidente desenvolvido sistematicamente as subdesenvolveu, mantendo num estado de dependência (daí a 'teoria da dependência').

Frank argumentou que um sistema capitalista mundial surgiu no século 16, que progressivamente prendeu a América Latina, Ásia e África em um relacionamento desigual e explorador com as nações européias mais poderosas.

Este sistema capitalista mundial é organizado como uma cadeia interligada: de um lado estão as ricas “metrópoles” ou nações “centrais” (nações europeias), e do outro estão as nações subdesenvolvidas “satélites” ou “periféricas”. As nações centrais são capazes de explorar as nações periféricas por causa de seu poder econômico e militar superior.

Da perspectiva da dependência de Frank, a história mundial de 1500 até a década de 1960 é melhor compreendida como um processo pelo qual as nações europeias mais ricas acumularam enorme riqueza por meio da extração de recursos naturais do mundo em desenvolvimento, cujos lucros pagaram por sua industrialização e desenvolvimento econômico e social, enquanto o os países em desenvolvimento ficaram desamparados no processo. Escrevendo no final dos anos 1960, Frank argumentou que as nações desenvolvidas tinham interesse em manter os países pobres em um estado de subdesenvolvimento para que pudessem continuar a se beneficiar de sua fraqueza econômica – países desesperados estão preparados para vender matérias-primas por um preço mais barato e os trabalhadores trabalharão por menos do que pessoas em países economicamente mais poderosos.

De acordo com Frank, as nações desenvolvidas realmente temem o desenvolvimento dos países mais pobres porque seu desenvolvimento ameaça o domínio e a prosperidade do Ocidente. E explora seus recursos em benefício próprio. Sob o domínio colonial, as colônias são efetivamente vistas como parte da metrópole e não como entidades independentes por si mesmas. O colonialismo está fundamentalmente ligado ao processo de “construção do Império” ou “Imperialismo”.

De acordo com Frank, o principal período de expansão colonial foi de 1650 a 1900, quando as potências européias, com a Grã-Bretanha à frente, usaram sua tecnologia naval e militar superior para conquistar e colonizar a maior parte do resto do mundo. Durante esse período de 250 anos, as potências das “metrópoles” europeias basicamente viam o resto do mundo como um lugar de onde extrair recursos e, portanto, riqueza.

Em algumas regiões, a extração assumia a forma simples de mineração de metais ou recursos preciosos – nos primórdios do colonialismo, por exemplo, os portugueses e espanhóis extraíam enormes volumes de ouro e prata das colônias da América do Sul e, mais tarde, com a revolução industrial decolou na Europa, a Bélgica lucrou enormemente com a extração de borracha (para pneus de carros) de sua colônia na RDC e o Reino Unido lucrou com as reservas de petróleo no que hoje é a Arábia Saudita. Em outras partes do mundo (onde não havia matérias-primas a serem extraídas), as potências coloniais européias estabeleceram plantações em suas colônias, com cada colônia produzindo diferentes produtos agrícolas para exportação de volta à “terra mãe”.

À medida que o colonialismo evoluiu, diferentes colônias se especializaram na produção de diferentes matérias-primas (dependentes do clima) – Bananas e Cana-de-Açúcar do Caribe, Cacau (e, claro, escravos) da África Ocidental, Café da África Oriental, Chá da Índia, e especiarias como a noz-moscada da Indonésia.

Tudo isso resultou em grandes mudanças sociais nas regiões coloniais: para estabelecer suas plantações e extrair recursos, as potências coloniais tiveram que estabelecer sistemas locais de governo para organizar o trabalho e manter a ordem social – às vezes a força bruta era usada para fazer isso. Isso, mas uma tática mais eficiente era empregar nativos dispostos a administrar o governo local em nome das potências coloniais, recompensando-os com dinheiro e status por manter a paz e os recursos que fluíam do território colonial e voltavam para a metrópole.

Os teóricos da dependência argumentam que tais políticas aumentaram as divisões entre grupos étnicos e semearam as sementes do conflito étnico nos anos seguintes, após a independência do domínio colonial. Em Ruanda, por exemplo, os belgas transformaram a minoria tutsis na elite governante, dando-lhes poder sobre a maioria hutu.

Antes do domínio colonial, havia muito pouca tensão entre esses dois grupos, mas as tensões aumentaram progressivamente quando os belgas definiram os tutsis como politicamente superiores. Após a independência, foi essa divisão étnica que alimentou o genocídio de Ruanda na década de 1990.


Uma relação desigual e dependente

O que muitas vezes é esquecido na história mundial é o fato de que, antes do início do colonialismo, havia vários sistemas políticos e econômicos em bom funcionamento em todo o mundo, a maioria deles baseados na agricultura de subsistência em pequena escala. 400 anos de colonialismo acabaram com tudo isso.

O colonialismo destruiu as economias locais que eram autossuficientes e independentes e as substituiu por economias monocultoras de plantação voltadas para a exportação de um produto para a metrópole. Isso significava que populações inteiras haviam efetivamente deixado de cultivar seus próprios alimentos e produzir seus próprios bens para ganhar salários cultivando e colhendo açúcar, chá ou café para exportação para a Europa.

Como resultado disso, algumas colônias tornaram-se realmente dependentes de seus mestres coloniais para a importação de alimentos, o que obviamente resultou em ainda mais lucro para as potências coloniais, pois esses alimentos tinham que ser comprados com os escassos salários ganhos pelas colônias. A riqueza que fluiu da América Latina, Ásia e África para os países europeus forneceu os fundos para iniciar a revolução industrial, que permitiu aos países europeus começar a produzir bens manufaturados de maior valor para exportação, o que acelerou ainda mais a capacidade de geração de riqueza das potências coloniais , e conduzem a uma desigualdade crescente entre a Europa e o resto do mundo.

Os produtos fabricados pela industrialização acabaram chegando aos mercados dos países em desenvolvimento, o que prejudicou ainda mais as economias locais, bem como a capacidade desses países de se desenvolverem em seus próprios termos. Um bom exemplo disso está na Índia nas décadas de 1930 e 1940, onde as importações baratas de têxteis fabricados na Grã-Bretanha prejudicaram as indústrias locais de tecelagem manual. Foi precisamente a esse processo que Gandhi resistiu como figura principal do movimento de independência da Índia.

Na década de 1960, a maioria das colônias alcançou sua independência, mas as nações européias continuaram a ver os países em desenvolvimento como fontes de matérias-primas e mão de obra baratas e, de acordo com a Teoria da Dependência, não tinham interesse em desenvolvê-los porque continuaram a se beneficiar de sua pobreza.

A exploração continuou via neocolonialismo – que descreve uma situação em que as potências europeias não têm mais controle político direto sobre os países da América Latina, Ásia e África, mas continuam a explorá-los economicamente de maneiras mais sutis. Três tipos principais de neocolonialismo: Frank identificou três tipos principais: Em primeiro lugar, os termos de troca continuam a beneficiar os interesses ocidentais.

Após o colonialismo, muitas das ex-colônias dependiam de produtos primários para suas receitas de exportação, principalmente culturas agrícolas de rendimento, como café ou chá, que têm muito pouco valor em si mesmas – é o processamento dessas matérias-primas que agrega valor a elas, e o processamento ocorre principalmente no oeste.

Em segundo lugar, Frank destaca o crescente domínio das Corporações Transnacionais na exploração de mão de obra e recursos em países pobres – como essas empresas são globalmente móveis, elas são capazes de fazer os países pobres competirem em uma 'corrida para baixo' na qual oferecem salários cada vez mais baixos para atrair a empresa, o que não promove o desenvolvimento.

Finalmente, Frank argumenta que o dinheiro da ajuda ocidental é outro meio pelo qual os países ricos continuam a explorar os países pobres e mantê-los dependentes deles – a ajuda é, de fato, muitas vezes na forma de empréstimos, que vêm com condições anexadas, como exigir que os pobres países abrem seus mercados para corporações ocidentais.

FONTE: página do Facebook Time To Change Colonization Mind

18-12-2022

Teresa








terça-feira, 20 de setembro de 2022

PORQUE OS PAÍSES POBRES CONTINUAM POBRES ?

 

PORQUE OS PAÍSES POBRES CONTINUAM POBRES ?

- ou como os paises imperialistas impedem o nosso desenvolvimento.

 

 SABOTAGEM EM ALCÂNTARA


 
FOTO ACIMA
: Um soldado observa os destroços da plataforma de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) no Centro de Lançamento de Alcântara, Maranhão. Em 26 de agosto de 2003, uma grande explosão destruiu o foguete e sua plataforma, matando 21 engenheiros e técnicos civis. ….especialistas em astronáutica apontaram sabotagem como a causa mais provável do incidente. ….O incidente causou um enorme retrocesso ao programa espacial brasileiro….Quase duas décadas após a explosão na base de Alcântara, o programa espacial brasileiro ainda não se recuperou das perdas ….Em março de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou com Donald Trump um novo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, transferindo o uso da base aeroespacial de Alcântara para os Estados Unidos. (FHC já tinha assinado este mesmíssimo acordo com os EUA em 2000, mas em 2003 Lula desfez esse compromisso e prosseguiu com o programa espacial e logo depois veio a sabotagem e a explosão)…. . O acordo já foi aprovado pelo Congresso brasileiro e entrará em vigor a partir de 2022, dando aos estadunidenses o tão almejado controle exclusivo do centro aeroespacial.

Este é só um exemplo, aliás dos mais representativos, de como o IMPÉRIO se comporta para manter os interesses de seus domínios e ao mesmo tempo submissão das colônias aos seus desejos…..Não é permitido às colônias alçar vôo próprio, se alguém tentar será punido…. e a punição é severa, como se pôde ver acima.

 

O QUE O TIO SAM REALMENTE QUER ?


O que o Tio Sam realmente quer?” é o nome do livro de Noam Chomsky. Os EUA desde que consolidaram o seu império como a maior potência mundial, principalmente a partir da II GRANDE GUERRA MUNDIAL começaram a estabelecer políticas externas de controle sobre os seus supostos domínios mundiais. A elite americana representada dentro do governo americano já tinham estabelecidos suas regras. Os estrategistas norte-americanos - desde os ligados ao Departamento de Estado até os do Conselho de Relações Exteriores (um dos grandes canais pelos quais líderes empresariais influenciam a política externa) - concordaram que o domínio dos Estados Unidos tinha de ser mantido Na extrema linha dura, temos documentos como o Memorando 68 do Conselho de Segurança Nacional (de 1950). O CSN 68 propunha uma "estratégia de empurrar para trás", que "fomentaria as sementes da destruição dentro do sistema soviético, para que pudéssemos então negociar um pacto, em nossos termos, com a União Soviética" (um Estado ou Estados sucessores)”. Essas políticas já estavam, de fato, sendo implementadas desde 1949, quando a espionagem dos EUA na Europa Oriental foi transferida para uma rede liderada por Reinhard Gehlen, que já havia dirigido a inteligência militar nazista na Frente Leste da guerra. Essa rede era parte da aliança EUA-nazistas, que absorveu rapidamente muitos dos piores criminosos de guerra e estendeu suas operações para a América Latina e para outras partes do mundo. Essas operações incluíam um exército secreto, patrocinado pela aliança EUA-nazistas, que se encarregava de fornecer agentes e provisões militares a exércitos que tinham sido criados por Hitler e que, no início da década de 1950, ainda estavam operando na União Soviética e no Leste Europeu. No outro extremo: o grupo denominado "os pombos", onde o principal pombo era, sem dúvida, George Kennan, que dirigiu a equipe de planejamento do Departamento de Estado até 1950. Kennan também escreveu Estudo de Planejamento Político 23, para a equipe de planejamento do Departamento de Estado, em 1948.

Neste documento ele diz: “Nós temos cerca de 50% da riqueza mundial, mas somente 6,3% de sua população... Nesta situação, não podemos deixar de ser alvo de inveja e ressentimento. Nossa verdadeira tarefa, na próxima fase, é planejar um padrão de relações que nos permitirá manter esta posição de desigualdade... Para agir assim, teremos de dispensar todo sentimentalismo e devaneio; nossa atenção deve concentrar-se em toda parte, em nossos objetivos nacionais imediatos... Precisamos parar de falar de vagos e irreais objetivos, tais como direitos humanos, elevação do padrão de vida e democratização. Não está longe o dia em que teremos de lidar com conceitos de poder direto. Então, quanto menos impedidos formos por slogans idealistas, melhor.”

Kennan observou que a maior preocupação da política externa norte-americana deve ser "a proteção das nossas (isto é, da América Latina) matérias-primas". Devemos, portanto, combater a perigosa heresia que, segundo informava a Inteligência americana, estava se espalhando pela América Latina: "A idéia de que o 'governo tem responsabilidade direta pelo bem do povo" Os estrategistas americanos chamam essa idéia de comunismo, seja qual for a real opinião das pessoas que a defendem. Essa posição é também clara nos arquivos públicos. Por exemplo, um grupo de estudos de alto nível declarou, em 1955, que a ameaça principal das potências comunistas (o verdadeiro sentido do termo comunismo na prática) é a recusa em exercer seu papel serviçal, isto é, o de "complementar as economias industriais do Ocidente".

Assim a cúpula do governo americano já tinham decidido no clima da guerra fria que não iriam permitir que os países sob seu jugo poderiam alçar caminhos independentes de suas diretrizes imperiais: seja no caminho do NACIONALISMO ou de uma via SOCIALISTA,. não permitiriam nem mesmo um desenvolvimento que pudesse melhorar o bem estar social destas populaçôes.

Chomsky cita textos oficiais, baseado nos arquivos secretos sigilosos, já liberados pelo governo: O problema com as democracias verdadeiras e que elas podem fazer seus governantes caírem na heresia de responderem às necessidades de sua própria população, em vez das dos investidores norte americanos. (p.09) …..o que os EUA querem é "estabilidade", quer dizer, segurança para "as classes dominantes e liberdade para as empresas estrangeiras". Se isso pode ser obtido com métodos democráticos formais, OK. Se não, a ameaça à "estabilidade" causada pelo bom exemplo tem de ser destruída, antes que o vírus infecte os outros. (p.11) ….”É melhor ter um regime forte no poder do que um governo liberal, indulgente, brando e infiltrado de comunistas” (p.5) ….”Ao Terceiro Mundo cabia “executar sua principal função de fonte de matérias –primas e de mercado” para as sociedades industriais capitalistas, como dizia um memorando do Departamento de Estado, de 1949, p.5)”…. “Com um documento de alto nível atrás do outro, os estrategistas norte-americanos expunham a visão de que a principal ameaça à nova ordem mundial, liderada pelos EUA, era o nacionalismo do Terceiro Mundo - algumas vezes chamado de ultranacionalismo….se por um golpe de sorte eles chegassem ao poder, retirá-los e instalar ali governos que favorecessem os investimentos privados do capital interno e externo, a produção para exportação e o direito de remessa de lucros para fora do país. (p.8)…. .

(“Exposto tudo isso, é fácil entender a política dos EUA para o Terceiro Mundo. Somos radicalmente opostos à democracia se seus resultados não podem ser controlados”. p.9)). Governos parlamentaristas foram derrubados com o apoio dos EUA e, algumas vezes, com intervenção direta. No Irã, em 1953; na Guatemala, em 1954 (e em 1963, quando Kennedy apoiou o golpe militar para evitar a ameaça do retorno à democracia); na República Dominicana, em 1963 e 1965; no Brasil, em 1964; no Chile, em 1973, e freqüentemente em outros lugares (p.10)……... assim todos os governos que tentaram estas vias foram derrubados pelo IMPÉRIO de uma forma violenta (p.ex. via golpes de Estado ou ditaduras militares) ou mesmo de outra forma subsidiada via lideranças locais (financiando grupos de direita locais).... Os exemplos são vários; 1) ditadura militar do governo Pinochet, no Chile, que substitui um governo socialista que ganhou eleições legítimas; 2) o nacionalismo de Getúlio Vargas é combatido com financiamento a grupos direitistas até o seu suicídio; 3) ditadura militar de 1964 no Brasil para substituir o governo democrático de João Goulart que caminhava aos moldes do getulismo…..vários outros exemplos em toda a América Latina….e no MUNDO….

O MÉTODO JACARTA é o nome do livro de Vincent Bevins - é um método de massacres sanguinários usado como exemplo a partir do massacre na Indonésia de mais de um milhão de pessoas ligadas ao Partido Comunista da Indonésia que foram assassinadas para que regimes ditatoriais de direita, servis ao Império, fossem implantados. O massacre dos comunistas na Indonésia por parte do regime Suharto (ditadura militar), com o apoio e a tolerância dos imperialistas anglo-americanos, consiste em uma das páginas mais negras do século XX..Consiste em um holocausto deliberadamente “esquecido” que a propaganda burguesa tenta rebaixar como um “dano colateral” da Guerra Fria. Eles tentam diminuir o significado histórico do massacre dos comunistas da Indonésia em 1965-66 porque é mais um exemplo que expõe a brutalidade imperialista.

Porque o governo Sukarno foi derrubado pelo Imperialismo ? Sukarno foi eleito presidente em 1945, junto com a proclamação da Independência da Indonésia, Ele liderou os indonésios na resistência contra as forças coloniais, por meios diplomáticos e militares, até que a independência do país foi reconhecida em 1949. Mas após vários conflitos e instabilidade do governo parlamentar, ele estabeleceu um regime chamado de “democracia guiada” que acabou por resolver aqueles conflitos, unificando grupos étnicos, culturais e religiosos diferentes. No começo da década de 1960, Sukarno deu uma guinada na política nacional em direção a esquerda ao apoiar e proteger o Partido Comunista da Indonésia (PKI). Estes movimentos irritaram os militares e os islamitas. Ele também embarcou em uma série de políticas externas agressivas sob a rubrica de "anti-imperialismo", com ajuda da União Soviética e da China .

BALAS DE WASHINGTON é o livro do historiador marxista indiano Vijay Prashad. O indiano Vijay Prashad enumera inúmeros golpes, massacres e assassinatos promovidos pelos EUA ao redor do mundo. ….. o livro do historiador Vijay Prashad é uma síntese da longa história de lutas dos povos do Terceiro Mundo pela libertação e por sua própria independência, mas que foram impedidos por golpes, assassinatos e massacres promovidos pelos EUA para que estes povos continuassem sob seu jugo imperialista….”queriam conter a onda que varreu a Revolução de Outubro de 1917 e as muitas ondas que açoitaram o mundo para formar o movimento anticolonial”....”As balas de Washington que apontavam para a URSS permaneceram sem uso, mas foram disparadas no coração do Sul. Foi nos campos de batalha do Sul que Washington pressionou contra a influência soviética e contra os projetos de libertação nacional, contra a esperança e a favor do lucro das empresas imperialistas”. Juan Jacobo Arbenz Guzmán (presidente da Guatemala entre 1951 e 1954), tentou realizar uma reforma agrária, entrando em choque com o monopólio das empresas dos Estados Unidos nas terras da Guatemala, sobretudo a United Fruit Company. Em resposta seu governo foi alvo de golpe de Estado organizado pela CIA que instalou uma ditadura militar no país. Este foi o primeiro golpe de Estado promovido pela CIA na América Latina, durante a Guerra Fria.

O século 20 viu uma onda de movimentos anticoloniais, anti-imperialistas e de libertação nacional transformar o mundo, muitas vezes com a ajuda de comunistas soviéticos, do Leste Europeu e cubanos. Com a mesma frequência, essas revoltas contra o velho mundo – o mundo racista e sexista de subjugação e opressão de povos inteiros – foram reprimidas com violência. Balas de Washington, de Prashad, não remete apenas ao passado distante. Ele trata brevemente da invasão do Iraque e do Afeganistão, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), do Partido dos Trabalhadores do Curdistão e, mais recentemente, das tentativas de derrubada dos governos da Venezuela, Bolívia e Brasil (lawfare de Dilma, que deu certo).. Ele discute “guerra híbrida”, o uso de ONGs, sanções e, sim, o uso contínuo de balas de Washington.

IMPERIALISMO MATA. Reportagem de Juan Manuel Dominguez, publicada no Brasil 247 em 8 de janeiro de 2020, afirma que de forma direta ou indireta, os Estados Unidos impõe sua supremacia em todos os países. Seu potencial bélico é uma ferramenta de pressão na hora de aplicar sansões econômicas a países (...) Total de mortos promovidos pelos EUA atingiram 110 milhões de pessoas direto ou indireto, sem ser denunciados em tribunais internacionais Cita pesquisa do jornalista e ex-professor Urias Rocha, de Mato Grosso do Sul que realizou uma breve cronologia das invasões e ataques dos Estados Unidos ao redor do mundo nos últimos 150 anos – de 1846 a 2020. A quantidade de mortes pelas quais são responsáveis é de aproximadamente 110 milhões de pessoas. Nunca foram denunciados formalmente ante tribunais internacionais. Algumas delas: México (1846-48 – anexação do Texas); Chile (1891); Haiti (1891); Havaí (1893); Nicarágua (1894); China (1894-95); Coréia,Panamá, China, Filipinas, Cuba, Porto Rico, Espanha, Nicarágua, Samoa, Nicarágua e Panamá (alguns várias vezes,até 1901); Honduras, República Dominicana, Coréia, Cuba, Nicarágua, Honduras, China (até 1912); mesmos países da AL até 1ª GM (EUA participam da guerra, morrem 114 mil soldados); Rússia (tropas contra a revolução bolchevique em 1918-1922, sendo derrotados); Turquia (1922); II GM; Irã (1946); Iugoslávia. Grécia (1946/47); Venezuela (1947); Porto Rico (1950); Coréia (1951-53. 3 milhões de pessoas morreram); Guatemala (1954); Egito (1956, Nasser); Líbano (1958); Vietnã (1961-1975, 3 milhões de vietnamitas morreram e 60 mil soldados americanos. A partir daí, os EUA decidem não participar diretamente de conflitos armados e devido à derrota contra guerrilhas); Laos (1972); Camboja, Laos, Irã (1980); vários países AL; Libéria (1990); Iraque (1990/91, Guerra do Golfo); Somália (1992/94); Zaire (1996/97); Albânia, Colômbia, Afeganistão (2001-….); Iraque (2003); ….. ENTRE 2014/2016 esteve por trás do golpe que derrubou a nossa PRESIDENTA DILMA e claro com o objetivo de roubar o nosso Petróleo.

IMPERIALISMO BRITÂNICO. Fora estas intervenções diretas e indiretas do governo Imperialista dos EUA, ainda existe as intervenções de outros governos imperialistas como o Reino Unido – sendo o maior império do mundo em dimensões territoriais, o primeiro Império capitalista que desde o século XIX até a II GGM também promoveu massacres, golpes, etc. Este Império também provocou a morte de milhões de pessoas na África e Ásia. Na Índia os britânicos destruiram a indústria têxtil original do país (aliás de melhor qualidade que a dos britânicos) desempregando milhões de pessoas que voltaram à zona rural e a grande maioria morreram de fome. Saquearam, depredaram e destruiram culturas e povos no continente Africano, roubando jóias, diamantes, ouro, etc..Só 22 países no mundo não foram invadidos pelo Império Britânico.

GENOCÍDIO AMERICANO. Além destas intervenções imperialistas, não podemos esquecer que a expansão capitalista, desde a acumulação primitiva do capital, a partir do século XVI, provocou a morte e o extermínio de milhões de povos indígenas originários das Américas, resultando no “genocídio americano”, como é o caso dos índios mais primitivos do território dos EUA e do Brasil, que foram praticamente dizimados (hoje são minorias ínfimas da população) com a propagação de doenças, destruição de seus habitats e fontes de alimentos (matança de búfalos no território da América do Norte simplesmente aniquilou a população destes animais), perseguição e expulsão dos índios de seus territórios originais, transformados em escravos pelos colonizadores europeus e além, é claro, da matança generalizada destes povos. Alguns dados indicam que havia cerca de 100 milhões destes índios originários antes dos europeus chegarem, hoje representam pequenas minorias vivendo em reservas.

CAPITALISMO MATA. Assim, se somarmos todos estes fatores, podemos afirmar que o Capitalismo Mata. Segundo fontes do próprio sistema, tais como organismos da ONU (Fome e Pobreza Mundial. Fontes:Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), Oxfam e UNICEF) ; e o próprio Banco Mundial, estima-se que 711 milhões de pessoas viviam em extrema pobreza – definida como sobrevivendo com menos de US$ 1,90 por dia – em 2021, o que equivale a cerca de 10% da população global. Se somarmos à estes órgãos, a UNWATER (desenvolve programa para saneamento de água) da ONU, podemos afirmar que, baseados nestes dados oficiais, que O CUSTO HUMANO ANUAL DO CAPITALISMO tem como consequências: 8 milhões de pessoas morrem por falta de água; 7.665.000 morrem de fome; 3 milhões de pessoas morrem de doenças curáveis; 500.000 morrem de malária. Em outras palavras cerca de 20 milhões de mortes anuais facilmente evitáveis. Estas pessoas não morrem por falta de meios para resolver esses problemas, mas porque solucioná-los não é lucrativo. O CAPITALISMO MATA 100 MILHÕES DE PESSOAS A CADA CINCO ANOS, portanto mais do que os golpes, massacres, genocídios, intervenções, assassinatos do próprio Imperialismo em geral.


DEVIDO AO SUCESSO DESTAS POLÍTICAS IMPERIALISTAS POUQUÍSSIMOS PAÍSES DO TERCEIRO MUNDO CONSEGUIRAM SUA LIBERTAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO.

Pode-se perceber facilmente que poucos ou pouquíssimos países conseguiram passar para o lado de lá - ou seja para o lado dos soviéticos, na guerra fria que se tratava entre EUA X URSS e muito menos se tornarem países independentes e desenvolvidos…. estes poucos que conseguiam mudar de regime ainda eram boicotados pelo Império, como foi o caso de Cuba…. Assim se pensarmos em termos gerais, desde o pós-guerra praticamente nenhum país do TERCEIRO MUNDO conseguiu se desenvolver ou se tornar um país desenvolvido, em termos de nível de condições de vida, como os países europeus conseguiram… Com exceção da Coréia do Sul, que foi uma concessão geopolítica do Império, por causa da guerra da Coréia….. nenhum outro país conseguiu ultrapassar as barreiras do subdesenvolvimento, os que tentaram sofriam golpes direcionados de fora pelo imperialismo como foi o exemplo clássico do Brasil, que continuou subdesenvolvido. Os países imperialistas boicotaram e derrubaram governos de esquerda e progressistas, (alguns chegaram a iniciar seus programas, mas a maioria foi interrompida pelas operações de fora) que colocavam em prática programas de desenvolvimento econômico e de melhoria das condições de vida da maioria da população, programas sociais de distribuição de renda. Portanto se conseguissem levar a cabo seus programas por vários governos, provavelmente teriam conseguido superar as barreiras do subdesenvolvimento. Assim, todos os países imperialistas (EUA, Europa e Japão) que conseguiram evoluir para países super desenvolvidos, o fizeram às custas das riquezas minerais, agrícolas e de commodities (é só ver os ciclos de exportações do Brasil, desde 1500 até II G.G.M : pau-brasil, açúcar, ouro, diamantes,, café e cacau, borracha, matérias-primas, etc.) arrancadas da periferia via relações de dominação e dependência criadas com estes países, e assim transformaram os países do Terceiro Mundo em meros exportadores de matérias-primas, alimentos e commodities. Estes produtos possuem baixo valor agregado, estão sujeitos à concorrência internacional e portanto seus preços são baixos e não tendem a subir, enquanto que os produtos exportados pelo países desenvolvidos são produtos industriais e serviços de alto valor agregado, tendem a subir e são controlados por oligopólios e monopólios que influenciam os preços. Portanto as relações de troca internacionais entre países centrais e periféricos favoreceram e favorecem amplamente os primeiros, com enormes transferências de renda do Sul para o Norte em forma de lucros, dividendos, juros, pagamentos de royalties, patentes e usos de serviços especializados, etc (enfim MAIS-VALIA). Daí o interesse dos países centrais em proteger suas grandes empresas monopolistas e evitar o desenvolvimento dos países periféricos que ao se desenvolverem certamente cortariam a maior parte destas explorações e dependências externas que com certeza impediriam o caminho para o desenvolvimento.




PORQUE OS PAÍSES DO TERCEIRO MUNDO NÃO CONSEGUIRAM SE DESENVOLVER ? (De quase 200 países só 1 conseguiu passar para o Primeiro Mundo (mesmo assim com muita ajuda dos EUA e Japão)Um número maior de países conseguiram passar para o Segundo Mundo, melhorando bastante seus indicadores sociais, mas não conseguiram tomar impulso para o seu auto-desenvolvimento, alguns voltaram para o capitalismo, outros estão se aproximando do modelo chinês, como veremos mais adiante com Samir Amin). .

O norueguês Erik S. Reinert (“Como os países ricos ficaram ricos e Porque os países pobres continuam pobres”) e o professor Ha-Joon Chang (“Chutando a escada”)

da Universidade de Cambridge, escreveram dois livros, muito citados, que oferecem uma análise interessante do ponto de vista do pensamento econômico e políticas públicas que, embora verdadeiras, não são suficientes para explicar todo o contexto. Estes autores afirmam que os países ricos só se tornaram ricos porque aplicaram na prática, políticas protecionistas de intervenção estatal que protegiam suas indústrias nascentes e continuam protegendo e nunca aplicaram políticas liberais de total abertura ao mercado livre mundial, enquanto se tornavam países desenvolvidos. EXEMPLOS CLÁSSICOS DA EUROPA, EUA E JAPÃO. Enquanto que os países pobres nunca seguiram estas medidas e foram fortemente influenciados e controlados pelos organismos econômicos internacionais (tais como FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio, etc - praticamente exigências do neoliberalismo do Consenso de Washington, pós-queda do Muro de Berlim, para implantar a hegemonia dos EUA, no mundo UNIPOLAR) que pregavam o livre comércio, a privatização plena e liberdade total para investimentos estrangeiros. Daí que nunca conseguiram proteger seus próprios empreendimentos e se deixaram dominar por empresas estrangeiras. O problema maior desta abordagem é que elas não explicam porque alguns países periféricos que mesmo protegendo seu mercado nunca conseguiram ultrapassar as barreiras do subdesenvolvimento. Países como Brasil e México conseguiram atingir estágios avançados em seu processo industrial e econômico mas continuaram pobres. Por isso que este tipo de abordagem é limitada, ela não explica que quando estes países tentaram avançar mais em seu desenvolvimento, eles foram impedidos pelo imperialismo. Por exemplo, criando estatais (os imperialistas sempre foram contra criar estatais nestes países, só era permitido nos países deles ) e investindo mais em ciência e tecnologia. Mesmo investindo mais em Ciência e Tecnologia, os limites eram profundos porque as empresas estrangeiras importavam suas tecnologias das matrizes e estes países continuavam dependentes. Até mesmo empresas brasileiras privadas como a FNM e a GURGEL foram boicotadas aqui dentro do mercado interno protegido, porque estavam concorrendo com empresas estrangeiras que tinham mais influência sobre o governo brasileiro. A Gurgel foi à falência porque foi perseguida e boicotada por medidas do próprio governo que deveria protegê-la, mas preferiu proteger a indústria estrangeira. Completamente diferente do Modelo Oriental (Coréia do Sul) que protegeu suas empresas e deu todo o apoio para que elas se desenvolvessem, eliminando a concorrência externa. Países que fizeram como a Coréia conseguiram dar sua arrancada para o desenvolvimento pleno e se tornarem desenvolvidos.

Assim quando aparecia um governo procurando mais independência, ele era sabotado, pressionado pelos países centrais ou mesmo derrubado por golpes militares ou governos de direita. No Brasil, é o caso grave da sabotagem do programa espacial (citado acima) brasileiro que atrasou e continua atrasando todo o programa até hoje. Também o caso da Usina Nuclear de Angra dos Reis, amplamente sabotada pelos imperialistas… ou mesmo o caso do Submarino Nuclear brasileiro que estava indo bem no governo Dilma, aí veio a Lava Jato e o golpe que derrubou o governo Dilma e o programa foi abandonado. Mas muito antes disso, quando o governo Getúlio Vargas criou a Petrobrás em 1953, as reações americanas foram imediatas, os EUA fizeram muita pressão e esta pressão foi tão grande que resultou no suicídio de Vargas em 1954…

O governo LULA desenvolveu bastante o setor de infra-estrutura e construção civil, as empresas chegaram a investir no exterior… Mas Sérgio Moro, lacaio do imperialismo americano, inventou a Lava Jato para destruir quase que completamente este setor, criando mais de 4 milhões de desempregados, privatizar e entregar para o capital estrangeiro (depois do golpe contra Dilma), reduzindo o PIB

.  Até hoje, criar estatais e apoiar os programas delas é um tabú na elite brasileira e outras elites do mundo periférico (fizeram uma lavagem cerebral nestas elites submissas ao capitalismo central)… porque difundiu-se amplamente pela mídia burguesa e imperialista os ideais hipócritas do neoliberalismo - que o melhor mundo é o mercado livre - e de que estes conceitos só são válidos para o Terceiro Mundo, pros idiotas das elites burguesas dos países periféricos, porque para eles do Primeiro Mundo estas regras nunca foram válidas… eles continuam criando e desenvolvendo estatais em seus países porque sabem que elas são importantes para todo o sistema econômico.



EXISTEM OUTROS LIVROS QUE EXPLICAM MELHOR E DE FORMA MAIS AMPLA o porquê isso acontece no Terceiro Mundo. Os autores acima, Reinert e Chang oferecem uma explicação simplificada do ponto de vista de políticas econômicas, mas dentro do limite burguês, do pensamento não marxista. Outros autores da linha marxista oferecem uma visão mais geral, do ponto de vista político e econômico da situação destes países.

MARXISMO OCIDENTAL X MARXISMO ORIENTAL (Domenico Losurdo).

Autores como Domenico Losurdo, contrapõe o Marxismo Ocidental X Marxismo Oriental, fazem uma crítica aos marxistas do eurocentrismo social democrata que elogiam o capitalismo e criticam as experiências do “socialismo real”. O marxismo ocidental queria excomungar o marxismo oriental, mas acabou sendo excomungado. Ele mesmo se definha e praticamente morre absorvendo parte da doutrina burguesa liberal, se contradiz e acaba concordando com as críticas liberais burguesas ao analisarem as experiências orientais. Os marxistas ocidentais no pós-guerra fria abominaram as experiências soviéticas e chinesas e desta forma sucubiram à sua própria interpretação, pois ficaram presos às suas críticas tipicamente liberais burguesas. …. segundo Losurdo, que diz que no entanto existe uma outra visão marxista do mundo, a visão anti-colonial e anti-imperialista de autores sob a influência do mundo oriental, maoísta. ….No Oriente (e na prática em todos os países onde os comunistas conquistaram o poder) o problema prioritário para os dirigentes políticos não era promover a “desintegração do aparelho estatal”, mas outro bem diferente : como evitar o perigo da submissão colonial ou semicolonial e de que maneira superar o atraso em relação aos países industrialmente mais avançados. …. as prioridades das periferias são diferentes das prioridades do centro desenvolvido do capitalismo….O Ocidente ao ganhar a guerra fria, praticamente mata o marxismo ocidental. Existia a visão de que o Ocidente era livre e democrático e o Oriente dominado por ditaduras totalitárias e cruéis. MARXISMO OCIDENTAL DEFENDE O IMPERIALISMO “DEMOCRÁTICO” QUE IMPÕE DITADURAS E ESCRAVIDÃO NO TERCEIRO MUNDO.

Acontece que os marxistas no Ocidente negaram em suas análises, que as potências capitalistas ocidentais na verdade colocavam em prática políticas discriminatórias imperialistas tão ou pior do que os regimes totalitários. No centro do capitalismo, desenvolvimento econômico acelerado, inovações tecnológicas e melhoria das condições de vida da população com as “migalhas” que vinham do Terceiro Mundo; enquanto que na periferia deste a exploração era selvagem, ditatorial e sub-humana. Hitler não faria melhor. Os próprios liberais burgueses denunciavam esta situação ao longo dos séculos e descobriram as situações mais cruéis e terroristas do mundo. Um deles dizia que o imperialismo britânico mandava para a linha de frente de suas batalhas e guerras, servos e escravos numa quantidade enorme, para servir de contenção das linhas inimigas. Cerca de 50 milhões de africanos e 250 milhões de indianos morreram nessas lutas imperialistas, segundo um historiador britânico conservador A.J.P. Taylor, citado por Losurdo (p.197). Na Bélgica liberal os colonizadores reduziram a população indígena do Congo, de 20-40 milhões em 1890 para 8 milhões em 1911. Porque tratavam as populações de suas colônias como sendo inferiores ou de raças inferiores, portanto sujeitas a qualquer tipo de exploração, com total decisão sobre suas vidas e mortes…. Quando um povo possui a decisão de controlar vida e morte de seus subjugados, é claro que é uma decisão extrema, de controle total….ou seja totalitário, onde se elimina qualquer tipo de liberdade. É O PODER DA ESCRAVIDÃO….


A TEORIA MARXISTA DA DEPENDÊNCIA. (Samir Amin).

Os intelectuais marxistas das periferias dão prioridade às lutas anti-coloniais e anti-imperialistas Para estes autores a revolução continua numa nova perspectiva dos países periféricos. Outra corrente desta mesma linha são os autores marxistas, de origem do Terceiro Mundo, que criaram a Teoria da Dependência. Nesta corrente se encontram autores indianos, latino americanos e um egípcio famoso, Samir Amin. Este último afirma que os países da periferia capitalista mundial nunca conseguirão superar seus atrasos sócio-econômicos se continuarem dentro da linha de influência do imperialismo hegemônico ocidental. Estes países só conseguirão se desenvolver plenamente como nação e como força econômica se libertarem dos laços de dependência do imperialismo ianque e se tornarem nações independentes, ou seja, a emancipação destes países periféricos passa por um movimento político anti-colonialista e anti-imperialista.

O Marxismo Ocidental tem ignorado a transformação decisiva representada pela emergência do capitalismo monopolista generalizado. Mudar o mundo, agora, significa mudar as condições de vida de 80% da população mundial. Enquanto que eles imaginam um impossível “outro capitalismo” com “face humana”, em contrapartida Mao apresenta uma visão que era profundamente revolucionária e realista (científica, lúcida), distinguindo e conectando três dimensões da realidade: povos, nações, Estados. A menção às nações refere-se ao fato de que a dominação imperialista nega a dignidade das “nações” forjada pela história das sociedades das periferias. Tal dominação destruiu sistematicamente tudo o que dá às nações sua originalidade – em nome da “ocidentalização” e a proliferação de lixo barato. A libertação do povo portanto é inseparável daquela das nações às quais ele pertence. Isso se baseia na transformação radical do patrimônio histórico da nação, em vez da importação artificial de uma falsa “modernidade”. A referência ao Estado é baseado no reconhecimento necessário da relativa autonomia de seu poder em suas relações com o bloco hegemônico que é a base de sua legitimidade. Essa autonomia relativa não pode ser ignorada enquanto o Estado existir, ou seja pelo menos por toda a duração da transição para o comunismo. É só depois disso que podemos pensar em uma “sociedade sem Estado”. Isso não é apenas porque os avanços populares e nacionais devem ser protegidos da agressão permanente do imperialismo, mas também porque avançar rumo à longa transição, também requer “desenvolvimento das forças produtivas”. A articulação correta da realidade nesses três níveis – povos, nações e Estados – condiciona o sucesso do progresso no longo caminho da transição. É uma questão de reforçar a complementariedade dos avanços do povo, da libertação da nação e das realizações do poder do Estado.

Para este autor Mao entendeu – melhor que Lenin - que o caminho para o capitalismo não leva a nada e que o renascimento da China só poderia ser obra dos comunistas. O modelo chinês não repete os erros da União Soviética, que apesar disso, conseguiu muitos avanços em vários setores sociais e de ciência e tecnologia, embora ainda não suficientes para avançarem em etapas mais significativas da economia O primeiro Marx estava certo porque não rejeitou a idéia de pular o estágio capitalista, porque os povos não podem pular a sequência necessária de etapas e que a China deve passar por um desenvolvimento capitalista antes que um possível futuro socialista seja considerado. Mao, um espírito marxista independente, entendeu isso. Mao entendeu o que é realmente o capitalismo e que ele estava fechado para a China, desde longos tempos e que a Revolução de 1949 não estava ainda vencida e que o conflito entre o compromisso com o longo caminho para o socialismo, condição para o renascimento da China, passava pelo retorno ao molde capitalista, para desenvolver suas forças produtivas. Não que o desenvolvimento das forças produtivas leve necessariamente ao socialismo. Na verdade, essas forças produtivas devem ser desenvolvidas desde o início com a perspectiva de construção do socialismo. A polarização criada pelo imperialismo, entre centro e periferia, elimina a possibilidade de um país da periferia “sair do atraso” dentro do contexto do capitalismo. Sair do atraso em relação aos países opulentos é impossível e a outra coisa a ser feita é seguir o caminho socialista. A China desenvolveu um projeto soberano e coerente, adequado às suas próprias necessidades. Isso certamente não é capitalismo, pois suas terras agrícolas não são tratadas como mercadoria. E esse projeto será soberano desde que a China permaneça fora da globalização financeira contemporânea. O fato de o projeto chinês não ser capitalista, não significa que “seja socialista”, apenas que possibilita avançar no longo caminho para o socialismo.

CHINA – DESENVOLVIMENTO ACELERADO. O capitalismo de Estado chinês alcançou resultados incríveis: construiu um sistema produtivo moderno, soberano e integrado, na escala deste país gigantesco, só comparável aos EUA; conseguiu deixar pra trás a forte dependência tecnológica desenvolvendo sua capacidade de produzir invenções tecnológicas; o planejamento dos Planos Quinquenais foram seguidos à risca. O “socialismo do mercado” ou melhor ainda o “socialismo com o mercado” foi amplamente justificado. Em apenas algumas décadas, a China construiu uma urbanização produtiva e industrial que reúne 600 milhões de pessoas. Isso se deve ao Plano e não ao mercado. Em apenas 40 anos (1980-2020) a China se transformou radicalmente de uma economia pobre, atrasada e feudal para uma economia altamente industrializada e com altos índices de crescimento do PIB (a maior taxa de todos os tempos de todos os países, até então). China hoje produz um terço da produção industrial mundial, seguida dos EUA com 16% em 2020. China agora tem um sistema produtivo verdadeiramente soberano, nenhum outro país do Sul (exceto Coréia e Taiwan) teve êxito em fazer isso. Na medida que a industrialização acelerava, com os estímulos à produção e atração de grandes empresas estrangeiras, o Estado estimulava a participação de trabalhadores e a abertura destas empresas à compartilhar tecnologias avançadas. Assim aos poucos foi crescendo o número de empresas genuinamente chinesas em todos os ramos e hoje elas já são as maiores do mundo, competindo com as estrangeiras. Também cresceu muito o número de empresas estatais em ramos estratégicos e de infra estrutura. Este modelo é bem diferente da industrialização no Terceiro Mundo, onde a desigualdade aumenta com a dominação das empresas estrangeiras, que também não permitem o avanço científico e tecnológico destes países. Mas a desigualdade econômica e social está diminuindo e diminuiu bastante nas últimas décadas. Paralelamente ao desenvolvimento econômico, o Estado implementou uma dimensão social aos projetos, em resposta aos movimentos sociais: erradicação do analfabetismo, cuidados básicos de saúde para todos, educação universal (os alunos chineses conseguiram no PISA INTERNACIONAL, avaliação de alunos de 15 anos realizada pela OCDE, última em 2019, os primeiros lugares nas 3 avaliações : Matemática, Conhecimentos Gerais e Ciências), moradia popular para 400 milhões de novos habitantes urbanos, rede inédita de estradas, rodovias e ferrovias (a maior extensão de redes de trens-bala do mundo), represas e usinas de energia elétrica, eliminação da pobreza (eliminou a pobreza absoluta em 2020), ciência e tecnologia (China possui o maior número de arquivos científicos publicados, ultrapassando os EUA em 2020), etc.etc.etc. Os salários estão subindo assim como a renda per capita com a distribuição de renda e a melhoria das condições sociais da população. Certamente há quarteirões “chiques” e outros que não são nada opulentos, mas NÃO HÁ FAVELAS, que continuaram a se expandir em todas as outras cidades do Terceiro Mundo.

DEMOCRACIA NA CHINA X DEMOCRACIA OCIDENTAL. Mao pregava o seguinte princípio para a China : reunir a esquerda, neutralizar a direita (sem eliminá-la) e governar a partir da centro-esquerda. Desta forma, Mao deu um conteúdo positivo ao conceito de democratização da sociedade combinada com o progresso social no longo caminho ao socialismo. A questão da democracia ligada ao progresso social entra em contraste com a “democracia” desconectada do progresso social (na verdade regresso social) que é o caso das democracias ocidentais . A fórmula ocidental e da propaganda da mídia burguesa; de partidos múltiplos e eleições deve ser rejeitada, pois é um tipo de democracia que se transforma em farsa. A “linha de massa” (método proposto por Mao) é um meio de produzir consenso em torno de objetivos estratégicos e em constante progresso. Esse método tem que ser reinventado constantemente para evitar o avanço da direita. Esse método se opõe ao “consenso” obtido nos países ocidentais por meio da manipulação da mídia e da farsa eleitoral, que é nada mais nada menos do que o alinhamento às demandas do capital.

A VISÃO DO MUNDO MULTIPOLAR DE SAMIR AMIN É BASTANTE ATUAL

A OTAN ainda fala hoje em nome da “comunidade internacional”, manifestando o seu desprezo pelo princípio democrático que governa essa comunidade por meio da ONU. Ainda assim, a Otan age somente para servir aos objetivos de Washington – nem mais nem menos – como a história da Guerra do Golfo e do Kosovo ilustram. A estratégia empregada pela tríade, sob a direção dos EUA, tem como objetivo a construção de um mundo UNIPOLAR organizado em dois princípios complementares : a ditadura unilateral do capital transnacional dominante e o desdobramento de um império militar estadunidense, ao qual todas as nações devem ser obrigadas a se submeter. Nessa perspectiva, nenhum outro projeto pode ser tolerado, nem mesmo o projeto europeu de aliados subalternos da Otan e especialmente não um projeto que envolve algum grau de autonomia, como o da China, (podemos incluir hoje a Rússia de Putin, que Amin não incluiu por não existir quando escreveu este artigo) que deve ser quebrado pela força, se necessário. Essa visão de um mundo UNIPOLAR está sendo cada vez mais contraposta a uma globalização MULTIPOLAR, a única estratégia que permitiria que diferentes regiões do mundo atingissem níveis sociais de desenvolvimento aceitáveis e, assim, promoveria a democratização social e a redução dos motivos de conflito. A estratégia hegemônica dos Estados Unidos e seus aliados da Otan é hoje o principal inimigo do progresso social, da democracia e da paz.

SAMIR AMIN PROFÉTICO O século XXI não será o século da América, será de grandes conflitos e do aumento de lutas sociais que questionam as ambições de Washington e do capital. Já se pode discernir os primeiros indícios de um conflito entre Estados (incluindo Japão e Austrália) de um lado e China e outros países asiáticos de outro. Nem é difícil imaginar o renascimento de um conflito entre os Estados Unidos e Rússia, se esta última conseguir se libertar do pesadelo espiral de morte e desintegração em que Boris Yeltsin e seus “conselheiros” dos EUA a mergulharam. (Estas duas previsões já aconteceram). E se a esquerda européia puder se libertar da submissão aos ditames duplos do capital e de Washington, seria possível imaginar que a nova estratégia européia poderia estar interligada com a da Rússia, China, Índia e do Terceiro Mundo em geral, em um necessário esforço de construção multipolar. Se isso não acontecer, o projeto europeu em si vai desaparecer.

Por fim ele pergunta: as lutas sociais superarão sua autonomia e forçarão as grandes potências a responder às suas demandas urgentes ? E responde: as lutas sociais não produzirão um remake do século anterior. A história não se repete de acordo com um modelo cíclico. As sociedades de hoje são confrontadas por novos desafios em todos os níveis. Mas precisamente porque as contradições imanentes do capitalismo são mais acentuadas no final do século do que eram no início e porque os meios de destruição também são muito maiores do que foram, as alternativas para o século XXI são (mais que nunca) socialismo ou barbárie”.



OBRAS DE AUTORES CITADOS, por ordem de apresentação no texto:

1) CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer?”. Brasília. UnB, 1999.

2) BEVINS, Vincent. “O Método Jacarta”. São Paulo, ed. Autonomia Literária, 2022.

3) PRASHAD, Vijay. “As balas de Washington: uma história da CIA, golpes e assassinatos”, São Paulo, ed. Expressão Popular, 2020.

4) Dominguez, Juan Manuel. Governos dos EUA mataram 110 milhões de pessoas ao longo do século”. …. https://www.brasil247.com/blog/governos-dos-eua-mataram-110-milhoes-de-pessoas-ao-longo-do-seculo.

5) REINERT, Erik S. Como os países ricos ficaram ricos… e porque os países pobres continuam pobres”. Rio de Janeiro, ed. Contraponto, 2016.

6) CHANG, Ha Joon. “Chutando a Escada” São Paulo, ed. Unesp, 2004.

7) Banco Mundial. “Pobreza.” https://www.worldbank.org/en/topic/poverty.

8) LOSURDO, Domenico. “O Marxismo Ocidental”. São Paulo, ed. Boitempo, 2018.

9) AMIN,Samir. “Somente os Povos fazem sua própria história”. São Paulo, ed. Expressão Popular, 2020.


Daniel Miranda Soares é economista, mestre pela UFV e professor aposentado