quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana: resumo


ANATOMIA DE UM ESCÂNDALO ZUMBI


Por Eduardo Guimarães

“Devido à resistência da imprensa a se aprofundar em um dos escândalos mais clamorosos de que se tem notícia, ainda falta muito para que amaine a tempestade de reportagens e análises de jornalistas independentes, de blogueiros, de tuiteiros, de facebookers e de assemelhados sobre um escândalo que, do ponto de vista dos valores envolvidos e da gravidade dos crimes cometidos, pode ser considerado o maior escândalo de corrupção da história brasileira e um dos maiores do mundo.

À diferença do que pode parecer, porém, não se irá tratar, aqui, do escândalo preferido da imprensa brasileira, o dito “escândalo do mensalão”, cujos valores envolvidos, independentemente da veracidade – ou não – da tese de que se tratou de suborno de parlamentares pelo governo federal, não pode sequer ser comparado ao escândalo que brotou do “Programa Nacional de Desestatização” (PND), instituído no governo Fernando Collor a partir de 1991 e incrementado pelo primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.

Para que se entenda a razão de tal afirmativa, basta lembrar que, de 1991 até 2000, o conjunto de privatizações nas telecomunicações, nos setores elétrico, petroquímico, de mineração, portuário, financeiro, de informática, de malhas ferroviárias e de empresas estatais dos Estados gerou receita total de 91,1 bilhões de dólares.

Se o critério para um grande escândalo de corrupção, portanto, for a quantidade de dinheiro envolvido, as denúncias que envolvem o programa brasileiro de privatizações constituem, sem dúvida, o maior da história do país. E o que é mais grave: pode ter sido empreendido por quadrilha formada por grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, por políticos e até por grandes meios de comunicação nacionais, o que lhes explica a reticência em tocar no assunto.

Esses são os fatos narrados pelo livro-denúncia A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro, um dos maiores fenômenos editoriais de que se tem notícia devido a ter se tornado ‘best-seller’ em menos de uma semana e à revelia desse impressionante boicote dos grandes meios de comunicação de massa, que, após desistirem de ocultar o livro, passaram a acusá-lo de “farsa” e “ficção”, bem como ao seu autor de “bandido” por ter sido indiciado pela Polícia Federal durante a campanha eleitoral de 2010 por supostamente estar envolvido na quebra de sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo José Serra, o político que comandou boa parte do período mais intenso de privatizações (1994 – 1998).

No período de 1991 a 2000, ocorreram no Brasil privatizações de 65 empresas estatais federais consideradas “jóias da coroa” do patrimônio público brasileiro. Abaixo, a relação dessas empresas.(necessita "zoom" para a leitura):

Durante a década dessas privatizações, além das estatais federais, os Estados e municípios foram compelidos, mediante condicionamentos financeiros, a privatizarem empresas públicas que, juntas, geraram uma dinheirama que até hoje não se sabe onde foi parar, pois, ao fim do governo que mais privatizou, o de Fernando Henrique Cardoso, o país estava quebrado e sem reservas próprias em dólares, tendo em caixa apenas o que lhe fora emprestado pelo governo dos Estados Unidos, pelo FMI e pelos bancos europeus do Clube de Paris a fim de evitar a literal quebra do Brasil.

Apesar da dimensão paquidérmica das denúncias e dos fatos que sugerem que os políticos que conduziram o PND durante a última década do século XX foram subornados para entregarem a preço vil à iniciativa privada o que fora privatizado, a imprensa nacional jamais dedicou ao caso uma mera fração da atenção que vem dedicando ao “escândalo do mensalão”, que não envolveu nem 0,1% dos valores envolvidos no que o livro supramencionado chama de “privataria”.

O processo foi tão danoso à imagem do governo FHC que o Partido dos Trabalhadores elegeu e reelegeu facilmente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, a atual presidente, Dilma Rousseff, ainda que o que tenha pesado mais tenha sido a situação social e econômica desastrosa em que terminou o governo tucano. Todavia, há até prova científica da percepção da sociedade de que as privatizações pioraram a vida dos brasileiros.

O que comprova a rejeição da sociedade ao processo de privatização é a única pesquisa de opinião sobre o assunto que se conhece. Entre os dias 24 e 31 de outubro de 2007, o instituto IPSOS, sob encomenda do jornal “O Estado de S. Paulo”, realizou uma pesquisa sobre a opinião do brasileiro sobre as privatizações com mil entrevistas em setenta cidades e nove regiões metropolitanas. Essa pesquisa apontou que 62% dos entrevistados eram contra a privatização de serviços públicos. Apenas 25% se mostraram favoráveis.

De acordo com o jornal, “a percepção dos brasileiros é a de que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica, água e esgoto”. As mais altas taxas de rejeição (73%) surgiram no estrato social de nível superior e nas classes A e B.

Segundo mostrou a pesquisa, a rejeição à privatização não tinha, naquele 2007, razão partidária ou ideológica, atingindo por igual as privatizações feitas em diversos governos, tanto o federal quanto os estaduais e municipais. Enquanto 55% acharam que o governo FHC fez mal em privatizar a telefonia, apenas 33% disseram que fez bem. Em nenhuma região a maioria da população aprovou a privatização. O Nordeste registrou a maior taxa de rejeição (73%), enquanto o Norte e o Centro-Oeste registram a menor (51%).

Por razões óbvias, nunca mais surgiu outra pesquisa de opinião sobre o assunto – e, se houve, foi pouco ou nada divulgada -, pois quem costuma empreender tais pesquisas são os meios de comunicação de massa, os quais se tornaram sócios do que foi chamado pelo jornalista Elio Gaspari de “privataria”, termo que comparou a condução do PND pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um saque de piratas.

Abaixo, tabela que mostra que grupos de comunicação como as “Organizações Globo”, o “Grupo Estado” e o “Grupo Folha” adquiriram parte das empresas privatizadas sem informar aos seus leitores que participavam do processo enquanto o defendiam em longos e incontáveis editoriais, artigos e reportagens..(necessita "zoom" para a leitura):


É nesse ponto que surge a figura central do processo de privatização que ora se encontra sob escrutínio da sociedade. José Serra, então ministro do Planejamento, elaborou e tocou o processo de privatização no Brasil em seu período mais intenso.

O livro “A Privataria Tucana” trata de suposto esquema de corrupção montado no governo de Fernando Henrique Cardoso por ocasião das privatizações. O livro é, na verdade, profunda reportagem investigativa com 200 páginas de texto apoiada em mais de uma centena de páginas de cópias autenticadas de documentos oficiais recolhidos em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça.

O obra descreve a trajetória de bilhões de dólares – que seriam pagamento de propina a parentes e assessores de Serra, que teria se valido de “laranjas” e de empresas ‘offshores’ de fachada – apresentando documentos com fé pública sobre negócios financeiros vultosos envolvendo grandes corporações financeiras.

O autor do livro acusa o envolvimento e a conivência de parte dos meios de comunicação, crimes de corrupção ativa e passiva, favorecimento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, invasão de privacidade, vazamento de dados tributários, tudo associado ao desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos. A trajetória do dinheiro ilícito ao voltar ao Brasil, segundo os documentos, explicaria as fortunas pessoais do grupo ligado a Serra.

Os documentos apresentados no livro pretendem demonstrar como teria funcionado o suposto esquema de propinas e de lavagem de dinheiro. Quem pagou a propina a teria enviado a empresas ‘offshores’ em paraísos fiscais como as Ilhas Virgens e o dinheiro retornava ao Brasil como “investimento estrangeiro”.

A investigação do jornalista Amaury Ribeiro Jr. apurou que os beneficiários desses bilhões de dólares que entraram no país eram os mesmos que assinavam os dois lados da operação, como procuradores das empresas de fachada sediadas no Caribe e como donos das empresas brasileiras receptoras do suposto investimento estrangeiro.

O esquema envolve nomes como Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro das campanhas de FHC e José Serra, descrito na página 38 do livro como “o chefe da lavanderia do tucanato”), Carlos Jereissati, José Serra, sua filha Verônica Serra e o marido, Alexandre Bourgeois, além de empresas como a ‘Oi’ (na época Telemar), ‘IConexa’, ‘Citco Building’, ‘Andover’, ‘Westscheste’r e, sobretudo, a ‘Decidir.com’, da filha de Serra em sociedade com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas.

Para demonstrar o montante de dinheiro envolvido, o livro revela que, entre 1998 e 2002, Gregório Preciado, marido de uma prima de José Serra, teria depositado 2,5 bilhões de dólares na conta de Ricardo Sérgio de Oliveira, que, como diretor do Banco do Brasil, interferiu na liberação de recursos para empresas sem capacidade financeira adquirirem parte do que estava sendo privatizado.

O método de lavagem de dinheiro também teria sido utilizado por Paulo Maluf, por Ricardo Teixeira e pela quadrilha da advogada Jorgina de Freitas, que fraudou a previdência em R$ 1 bilhão, e por Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ricardo Sergio, segundo o livro-reportagem, por ser banqueiro experiente foi o arquiteto do esquema que inseria dinheiro de origem duvidosa no Brasil. Os documentos, obtidos legalmente, demonstram que Alexandre Bourgeois, genro de José Serra, abriu empresas ‘offshores’ imediatamente após as privatizações. Essas empresas tinham o mesmo endereço da ‘Decidir’, empresa de Verônica Dantas e de Verônica Serra.

Na página 25 do livro, ainda há detalhes de como Serra, então no governo federal, teria utilizado arapongas, pagos com dinheiro público, para criar dossiês contra adversários políticos, e de como sua filha e a irmã de Daniel Dantas teriam quebrado o sigilo de milhões de brasileiros para obterem informações privilegiadas dentro do governo, o que gerou inquérito na Polícia Federal que originou denúncia do Ministério Público e que agora tramita na Justiça contra as duas Verônicas.

Detalhe: os meios de comunicação e os seus colunistas que procuram desacreditar o livro e o autor se valem de denúncia feita no calor da eleição do ano passado contra o autor de “Privataria”, de que ele é que teria quebrado o sigilo fiscal da mesma Verônica Serra que hoje está sendo processada por quebrar sigilo não de uma pessoa, mas de dezenas de milhões de pessoas, o que jamais veio à tona por iniciativa da imprensa, com exceção da revista “Carta Capital”.

As fortunas que foram amealhadas pelos familiares do homem que comandou as privatizações da era Fernando Henrique Cardoso no exato momento em que as vendas de patrimônio público ocorriam, segundo as denúncias do livro-bomba, decorreram do pagamento de propina pelos grupos econômicos que compraram aquele patrimônio por preços subavaliados.

Um dos casos mais clamorosos diz respeito à primeira grande empresa estatal a ser privatizada no governo FHC, a Companhia Vale do Rio Doce, então a maior exportadora de minério de ferro do mundo e que ostenta esse título até hoje, permanecendo líder mundial na exportação de minério de ferro.

A privatização da Vale S.A. foi polêmica por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de ferro sob controle da companhia na época. Para avaliar o preço pelo qual seria vendida, foi computado apenas o valor de sua infraestrutura. As reservas minerais que controlava foram simplesmente ignoradas. Ou seja, computaram-se bens imóveis, máquinas, equipamentos, mas não o potencial de exploração que havia sob a terra. Minas de ferro com potencial para 400 anos não foram computadas na avaliação.

O processo em que ocorreu a subavaliação da Vale mereceu do Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz o apelido de “briberization” (“propinização”). Segundo o economista, essa “propinização” das privatizações teria ocorrido em todos os países que adotaram o programa de estabilização então engendrado pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, que previa privatizações como uma das principais vertentes, e que, no Brasil, foi chamado de “Plano Real”.

A venda do controle acionário da "Vale" ocorreu em 1997 por 3,3 bilhões de dólares, ao dólar da época. Hoje, o valor da mineradora, após investimentos dos que a adquiriram, chega próximo a 160 bilhões de dólares. Os defensores da venda da empresa dizem que essa valorização só foi possível devido aos investimentos dos seus compradores, mas essa mesma valorização indica o potencial que a empresa tinha e que não foi computado em seu preço de venda.

Essas vendas de empresas públicas a preço vil seriam a origem dos bilhões de dólares que pingaram em contas bancárias de familiares e assessores de Serra. Milhões de dólares que a filha dele recebeu do exterior – e que, até hoje, não têm origem comprovada –, receberam obsequioso silêncio da Justiça e até do governo petista que sucedeu o governo federal tucano, que jamais fizeram mísera menção a investigar denúncias que, em 2003, já apareciam na CPI do Banestado.

O grupo de Serra, sob sua batuta, além de tudo ainda faria uso de métodos de filmes de espionagem, visando antecipar e esvaziar denúncias contra ele, vitimizando-o perante a opinião pública com a ajuda da Globo, da Folha, do Estadão e da Veja, sempre dispostos a acusar os adversários dele de estarem por trás de armações contra si.

O livro “A Privataria Tucana”, por fim, gera questionamento ao Partido dos Trabalhadores, ao governo Lula, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à própria Justiça por terem permanecido impassíveis diante de fartura de evidências que a obra oferece e que em parte já eram conhecidas. Por que até os adversários políticos do grupo que conduziu processo tão nebuloso permaneceram silentes por tanto tempo?

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/anatomia-de-um-escandalo-zumbi/).

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O ano em que um livro desmascarou a imprensa

O ano em que um livro desmascarou a imprensa

Ricardo  Kotscho  em   Balaio do Kotscho  do   r7.com

privatariatucana blogs21 O ano em que um livro desmascarou a imprensa

"Se a Gazeta Esportiva não deu, ninguém sabe o que aconteceu".
(Slogan de um antigo jornal de São Paulo, nos tempos pré-internet, que ainda inspira muitos jornalistas brasileiros).
***
Daqui a cem anos, quando os historiadores do futuro contarem a história da velha mídia brasileira, certamente vão reservar um capítulo especial para o que aconteceu em 2011.
Foi o ano em que um livro desmascarou o que ainda restava de importância e influência da chamada grande imprensa na formação da opinião pública brasileira.
O suicídio coletivo foi provocado pelo lançamento de um livro polêmico, A Privataria Tucana, do premiado repórter Amaury Ribeiro Júnior, com denúncias sobre o destino dado a bilhões de reais na época do processo de privatização promovido nos anos FHC.
Como envolve personagens do alto tucanato em nebulosas viagens de dinheiro pelo mundo, o livro foi primeiro ignorado pelos principais veículos do país, com exceção da revista "Carta Capital" e dos telejornais da Rede Record; nos dias seguintes, os poucos que se atreveram a tocar no assunto se limitaram a detonar o livro e o seu autor.
Sem entrar no mérito da obra, o fato é que, em poucos dias, A Privataria Tucana alcançou o topo dos livros mais vendidos do país e invadiu as redes sociais, tornando-se tema dominante nas rodas de conversa do Brasil que tem acesso à internet.
No final de semana, o fenômeno editorial apareceu nas listas de jornais e revistas, mas não mereceu qualquer resenha ou reportagem sobre o seu conteúdo.
Em 47 anos de trabalho nas principais redações da imprensa brasileira, com exceção da revista "Veja", nunca tinha visto nada igual, nem mesmo na época da ditadura militar, quando a gente não era proibido de escrever _ apenas, os censores não deixavam publicar.
Foi como se todos houvessem combinado que o livro simplesmente não existiria. Esqueceram-se que há alguns anos o mundo foi revolucionado por um negócio chamado internet, em que todos nos tornamos emissores e receptores de informações, tornando-se impossível esconder qualquer notícia.
O que mais me espantou foi o silêncio dos principais colunistas e blogueiros do país _ falo dos profissionais considerados sérios _, muitos deles meus amigos e mestres no ofício, que sempre preservaram sua independência, mesmo quando discordavam da posição editorial da empresa onde estão trabalhando.
Nenhum deles ousou escrever, nem bem nem mal, sobre A Privataria Tucana, com a honrosa exceção de José Simão, o mais sério de todos eles.
Alguns ainda tentaram dar alguma desculpa esfarrapada, como falta de tempo para ler e investigar os documentos publicados no livro, mas a grande maioria simplesmente saiu por aí assobiando e mudando de assunto.

O que aconteceu? Faz algum tempo, as entidades representativas da velha mídia criaram o Instituto Millenium, uma instituição voltada à defesa dos seus interesses e negócios, o que é muito justo. (Kotscho esqueceu de dizer que o Instituto Millenium representa a direita brasileira, incluindo a velha mídia ou PIG, partido da imprensa golpista - rede Globo, editora Abril, revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão,etc. - e os partidos PSDB, DEM e PPS).

Sob a bandeira da "defesa da liberdade de expressão", segundo eles sempre ameaçada por malfeitores do PT e de setores do governo federal, os barões da mídia promoveram vários saraus para denunciar os perigos que enfrentavam. O principal deles, claro, era "a volta da censura".
Pois a censura voltou a imperar escandalosamente na semana passada. Só que, desta vez, não promovida por orgãos do Estado, mas pelas próprias empresas jornalísticas abrigadas no Instituto Millenium. Os antigos donos do poder midiático decidiram apagar do mapa, não uma reportagem ou uma foto, mas um livro.
O episódio certamente será um divisor de águas no relacionamento entre a grande imprensa e seus clientes. Por mais que cada vez menos gente acreditasse nessa conversa, seus porta-vozes sempre insistiam em nos garantir que a mídia grande era independente, apartidária, isenta, preocupada apenas em contar o que está acontecendo e denunciar os malfeitos do governo, em defesa do interesse nacional e da felicidade de todos. (OBS deste blog: a ordem do Instituto Millenium é atacar o PT e o governo federal, com bombardeios e estardalhaços frequentes, promovendo um denuncismo até mesmo sem provas, pois o objetivo do PIG é queimar o governo petista e desgastá-lo politicamente e blindar os governos estaduais tucanos).
 
Agora, caiu definitivamente a máscara. Neste final de semana, ouvi de várias pessoas, em diferentes ambientes, que vão cancelar assinaturas de publicações em que não confiam mais.
Como jornalista ainda apaixonado pela profissão, fico triste com tudo isso, mas não posso brigar com os fatos. Foi vergonhoso ver o que aconteceu e não deu para esconder. Graças à internet, todo mundo ficou sabendo.
E agora? O que vão dizer aos seus ouvintes, leitores e telespectadores? Que tudo não passou de um engano, uma ilusão de ótica? Vão publicar um "erramos" coletivo ou vai ficar tudo por isso mesmo?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O PIOR INIMIGO DO GOVERNO DILMA

O PIOR INIMIGO DO GOVERNO DILMA


Por Eduardo Guimarães

“A queda do sexto ministro de Dilma sob acusação de corrupção ocorre no âmbito de um processo kafkiano iniciado em março deste ano. Sabia-se que a imprensa [por ser de direita, pró-demotucanos] continuaria se opondo ao governo federal caso a candidata de Lula se elegesse, mas os consideráveis esforços dela para distender o clima político tornam o ataque midiático inexplicável, sem razão, daí a alusão à obra de Franz Kafka.

Dilma começou a governar claramente convencida de que, se não fizesse provocações à mídia e à oposição, não sofreria processo similar ao que acompanhou cada dia da gestão de seu antecessor.

Ela desafiou a ira da militância fazendo afagos à imprensa tucana, afagos que todos os que se interessam por política sabem quais foram – aniversário da Folha, Ana Maria Braga, Hebe Camargo etc., com direito aos famosos almoços com barões da mídia aos quais Lula jamais acedeu. Por atos e declarações, também tirou do horizonte a temida lei da mídia, que esta e a oposição não aceitam sequer discutir. Desmanchou-se em mesuras ao líder máximo da oposição e da imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegando a lhe dar créditos que não merece pelo sucesso econômico do Brasil hoje.

O que mais a mídia e a oposição querem?

A resposta é simples: o poder. E não é só o poder pelo poder, mas para voltarem a roubar o patrimônio nacional como fizeram juntinhas (mídia e oposição) à época da [multibilionária] privataria, quando barões da mídia, como a família Mesquita, apuraram-se a receptar o saque tucano na telefonia, nesse caso comprando parte da operadora de telefonia celular BCP.

O poder que a mídia tem hoje deriva de sua fortuna incalculável, um tesouro que, centavo por centavo, veio sendo surrupiado da nação ao longo do século passado, sobretudo durante a ditadura militar, quando essas famílias que controlam a comunicação no país receptaram bilhões de dólares desviados pelos ditadores para construírem a máquina de comunicação que usariam para tentar manipular o povo do qual haviam usurpado todos direitos civis.

É o poder de manipular as instituições e, ainda em grande medida, a opinião pública. E é um poder que se fundamenta na posse de muito dinheiro, de volumes de riqueza que só são possíveis auferir em grandes negociatas como as privatizações.

Há nove anos fora do poder, a fonte secou. As operações desses impérios de comunicação muitas vezes são deficitárias. Essas empresas não sobrevivem sem dinheiro público e hoje só quem lhes doa dinheiro dos nossos impostos são os governos estaduais, que gerem orçamentos infinitamente menores do que o governo federal, o que lhes deixa pouco espaço para roubar.

O Santo Graal da mídia é o Pré Sal. Será com facilitação de negociatas com as reservas petrolíferas que seu 'e$toque de poder' será reposto. Todos sabem das negociações entre José Serra e as petroleiras internacionais que vazaram através do Wikileaks. O tucano lhes prometera [em prejuízo da Petrobras] regime de concessão para explorarem as recém-descobertas reservas petrolíferas do país, ou seja, prometeu que ganhariam infinitamente mais com o petróleo que extraíssem.

Não haverá gentileza deste governo, pois, que faça a mídia parar de tentar inviabilizá-lo. Recusar-se a dotar o país de um marco regulatório para as comunicações tampouco adiantará. A única forma de Dilma se compor com a imprensa é através do suborno, como faz o governo Alckmin, por exemplo, ao gastar milhões e milhões de reais em assinaturas dos jornais e revistas que denunciam sem parar seus adversários políticos e que o protegem de escândalos como o das emendas parlamentares.

A sucessiva queda de ministros, portanto, se funcionar, deixará o PSDB e os abutres internacionais em imenso débito com ‘Folhas’, ‘Estadões’, ‘Vejas’ e ‘Globos’, certamente permitindo novas incursões das empresas “jornalísticas” em negócios estranhos à própria atividade, como na época da telefonia celular privatizada.

Dessa feita, incursionarão pelo setor petrolífero.

As tropas de choque da mídia e da oposição na internet ou os militontos da oposição de ultraesquerda logo se apressarão a bradar que essa é uma “teoria conspiratória”, como se o primeiro passo de toda conspiração não fosse desacreditar qualquer suspeita de que esteja ocorrendo. Acredita quem quer…

Quem acha que nada significa o fenômeno de ministros caírem em efeito dominó sob denúncias da imprensa como a de uma carona de avião ou a de acumulação questionável de cargos públicos enquanto escândalos muito piores envolvendo governos tucanos são ignorados, como o caso recente envolvendo o ex-assessor do então ex-governador José Serra João Faustino, que se encontra preso no Rio Grande do Norte, sugiro que interrompa a leitura deste post.

Se você continua lendo é porque sabe que o processo que vem desmontando o ministério de Dilma é hipócrita. Todavia, assim mesmo, você pode estar entre os piores inimigos de seu governo se está entre os que dizem frases como “Quanto mais a mídia bate em Dilma, mais ela se torna popular” ou como “Dilma tem mesmo que se livrar de ministros picaretas”.

Nem a própria Dilma continua acreditando no que já chegou a acreditar, que ganha alguma coisa com as denúncias da imprensa. Ela bem que tentou, desta vez, segurar o ministro bola da vez. E isso porque a teoria de que se torna mais popular a cada denúncia contra seus ministros é um delírio, não existe. Nenhuma pesquisa sobre sua popularidade mostra isso. Hoje, ela tem menos aprovação do que no início de seu governo.

Administrativamente, este governo está sendo literalmente sabotado. Ou, para os que não partilham dessa teoria, está ao menos sendo paralisado. Por seis vezes neste ano, algum ministério ficou praticamente acéfalo durante semanas a fio, com o titular de cada pasta usando cada minuto para se defender.

O estilo Dilma de administrar explica a razão pela qual ela já se deixou enganar por essa história de que ganharia alguma coisa com esse processo. Seu estilo enérgico estimula bajuladores em seu entorno a dourarem a pílula, a só dizerem o que ela quer ouvir. E o que ela ainda parece querer ouvir é que há como evitar o confronto político, como se a mera rendição tivesse o poder de suspender a sabotagem.

Entre as teorias que empanam a visão da presidente está a de que a mídia quereria defenestrar apenas os ministros “da cota de Lula, ou seja, aqueles que dizem que foram “impostos” pelo ex-presidente à sucessora, o que matéria do ‘Estadão’ divulgada domingo desmente.

A matéria Depois dos aliados, mídia chega à cota pessoal de Dilma acusa Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Ele teria sido escolha dela e não de Lula, mas, assim mesmo, está sendo acusado pela imprensa por atuação como consultor entre 2009 e 2010, uma acusação análoga à que sofreu Antonio Palocci, a primeira peça do dominó político em que se converteu o ministério deste governo.

E tem gente achando que não tem nada demais nesse processo.

Dilma já acordou. Tentou manter Lupi, mas esbarrou em um problema que ela mesma criou para que seus auxiliares resistam ao bombardeio. Ao não declarar apoio aos alvos da mídia, dando apenas declarações genéricas sobre querer analisar com calma as denúncias, termina por legitimá-las, retirando-lhes um caráter político que só ela não vê ou finge que não vê, achando que, assim, evitará briga. Daí o alvo da artilharia, sentindo-se sem apoio, pula fora.

Enquanto isso, lideranças políticas da oposição como José Serra e colunistas de veículos como ‘Veja’ ou ‘Globo’ já pedem o impeachment da presidente por crime de responsabilidade, porque se um ministro cai o problema é dele, mas se seis caem sucessivamente vai ficando claro que quem os escolheu, escolheu mal. Ao menos para o espectador desavisado.

Você não entende por que o ministério de Lula não passou por processo semelhante se alguns dos que estão caindo hoje já eram ministros àquela época? Para entender, tomemos o caso de Lupi. As denúncias são antigas. Por que nunca foram levantadas? É óbvio que a mídia achava que não adiantaria tentar forçar queda em série de ministros porque o titular do governo não se curvaria.

A única forma de enfrentar um processo que cada vez mais vai ficando claro que haverá de chegar à própria Dilma, será reagindo. Haveria que reagir denunciando a seletividade da imprensa, que esconde escândalos dos governos estaduais da oposição enquanto infla acusações contra o governo central. E, sobretudo, enviando ao Congresso o marco regulatório das comunicações.

Quem impede que isso aconteça é o entorno da presidente. Alguém está lhe vendendo que é possível governar assim, com ministros caindo em série, porque, após caírem todos os “da cota de Lula”, o processo será estancado. Assim, esses bajuladores estão empurrando o governo para o precipício. O entorno da presidente Dilma é hoje seu pior inimigo, pior do que a oposição e a imprensa juntas.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães no seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/o-pior-inimigo-do-governo-dilma/).
[trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“O GLOBO” MENTIU: CHEVRON VAZA O DOBRO DA PETROBRAS

COMO SEMPRE, “O GLOBO” MENTIU PARA DEFENDER INTERESSES NORTE-AMERICANOS


Por Brizola Neto

“O GLOBO” MENTIU: CHEVRON VAZA O DOBRO DA PETROBRAS

O ódio de ‘O Globo’ à Petrobras é um péssimo conselheiro para seus profissionais.

Porque, na ânsia de cumprir a pauta que recebem, acabam fazendo um mau jornalismo.

É o que fizeram ontem, domingo, quando publicaram que os acidentes ocorridos com a Petrobras representam, em quantidade de petróleo derramado, o dobro do acidente da Chevron no Campo do Frade. Foram 4.201 barris em 2010, contra o que seriam 2.400 barris desse acidente.

Ora, além do fato de aceitar passivamente o número fornecido pela Chevron, quando todos sabem que a empresa fez (e faz) o que pôde para “dourar a pílula” desse derrame, ignorou um fato essencial

[OBS deste blog 'democracia&política': como já dissemos neste blog e é, há muito, sabido por todos, a Globo e a 'grande' mídia brasileira em geral, juntamente com os partidos da direita (PSDB, DEM, PPS e alguns outros menores), acima dos interesses brasileiros, são defensores dos interesses norte-americanos e os dos grandes grupos econômicos e financeiros estrangeiros. Por isso, a omissão de informações sobre o vazamento da Chevron e a sua minimização e os ataques e críticas ao governo federal, à ANP, à Petrobras].

É que a Chevron, no Brasil, tem apenas uma dezena de poços e produz 79 mil barris diários. E a Petrobras produz 2,60 milhões barris/dia, tem milhares de poços, doze refinarias, milhares de quilômetros de oleodutos, dezenas de terminais de embarque e desembarque de petróleo e derivados, em terra e no mar, e frota enorme de navios petroleiros.

É, portanto, uma comparação estapafúrdia. Igual a dizer, apenas como exemplo, que uma empresa enorme como a Volkswagen teve o dobro de acidentes de trabalho, porque duas pessoas se machucaram lá no ano passado, do que a Oficina do Zezinho, onde ele trabalha com um ajudante, porque o dito Zezinho se feriu ali em 2010.

Se o jornal quisesse ser honesto, faria o que este modesto blog [Tijolaço], com o Google apenas, fez.

Leria (no mesmo relatório de sustentabilidade de onde tirou os dados, lá está escrito) que estava sendo mantida a tendência de níveis de vazamento na Petrobras ”inferiores a um metro cúbico por milhão de barris de petróleo produzidos, um referencial de excelência na indústria mundial de óleo e gás”.

E se perguntaria: isso é referência de excelência? Então, quanto será o de outras grandes petroleiras, como a Chevron?

E acharia o último número tornado disponível pela empresa, o de 2007. Para uma produção então de 2.620 mil barris/dia (praticamente igual à da Petrobras), os vazamentos de petróleo, segundo os números oficiais da própria Chevron, somaram 9.245 barris, muito mais que o dobro da petroleira brasileira [ver quadro acima]. Estatisticamente, o volume dos acidentes com a Petrobras, em 2010, é 55% menor que o da gigante americana.

Mas a cegueira [?] provocada pelo ódio leva [‘O Globo’] àquela comparação desonesta. Desonesta com a Petrobras e, sobretudo, desonesta com o leitor.

E é desonesta porque é sabido que, se há deficiências, os sistemas de segurança da Petrobras são reconhecidos como excelentes por todos, como registrou, semana passada, até mesmo Miriam Leitão, totalmente insuspeita de simpatias [ao contrário, sempre propala sua antipatia] pela empresa:
“A Petrobras trabalha com políticas de redundância na operação, tem equipes para situações de emergência. É preciso saber se esse protocolo está sendo usado por outras empresas que operam no Brasil.”

Ou será que nem ‘O Globo’ leva a sério o que diz a Miriam Leitão?”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço”  (http://www.tijolaco.com/o-globo-mentiu-chevron-vaza-o-dobro-da-petrobras/) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

"A CIA quer acabar com o samba"

Beth Carvalho: "A CIA quer acabar com o samba"

Cantora lança CD e, em entrevista ao iG, acusa a Agência Central de Inteligência dos EUA.

Valmir Moratelli, iG Rio de Janeiro | 25/11/2011  Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.

......... (trechos da entrevista)........
iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?
BETH CARVALHO
: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?
BETH CARVALHO:
Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.
iG: Por quê?
BETH CARVALHO:
Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.
iG: Como quais?
BETH CARVALHO:
Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.
iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?
BETH CARVALHO:
Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?
BETH CARVALHO:
Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.
iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.
BETH CARVALHO:
Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)
iG: Com a democracia...
BETH CARVALHO
: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.
iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez...
BETH CARVALHO:
Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.

iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?
BETH CARVALHO:
Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.

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domingo, 27 de novembro de 2011

Brasil será maior produtor de petróleo fora da OPEP

BRASIL SERÁ MAIOR PRODUTOR DE PETRÓLEO FORA DA OPEP






Pedro Peduzzi, Daniel Lima e Yara Aquino
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), disse nesta terça (22) o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, durante o balanço da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

"O pré-sal já atinge 2% da média anual da produção de petróleo brasileira. É a produção que mais vai crescer entre 2011 e 2015”, destacou. “Fora a Opep, teremos a maior produção de petróleo do mundo. O Brasil será o país que dará a maior contribuição de petróleo nos próximos dez anos”, disse Gabrielli, ao destacar as previsões de contratação de materiais, equipamentos e serviços, pela estatal petrolífera brasileira.

Segundo ele, isso beneficiará, direta e indiretamente, mais de 250 mil empresas no país. “Dentro do PAC, estamos com papel importante. Porém, a atividade vai além, e beneficia a indústria brasileira em diversas frentes.” Gabrielli destacou também a geração de empregos em decorrência dessa expansão prevista para ocorrer no país até 2020.

“Serão mais de 1 milhão de empregos gerados, o que vai requerer treinamento de mão de obra. O país é um canteiro de obras com mercado de trabalho cada vez mais aquecido. Quase 290 mil pessoas [serão preparadas] até 2014. Já treinamos mais de 70 mil para 180 diferentes ocupações”, ressaltou o presidente da estatal.

Ele acrescentou que há a previsão de investimentos em pesquisas sobre diferentes temas, por meio de convênios com diversas universidades, visando ao avanço tecnológico do setor.
A Petrobras pretende contratar 28 navios-sonda e plataformas semissubmersíveis, construídos no Brasil, com pelo menos 55% de conteúdo nacional. Além disso, está prevista a renovação da frota, com 146 embarcações de médio e grande portes, a serem recebidas entre 2012 e 2018. Destas, 40 já foram contratadas.

O presidente da estatal apresentou ainda uma lista com a demanda de materiais e equipamentos que devem ser adquiridos entre 2011 e 2020. Entre os 22 itens apresentados há grande quantidade de compressores, guinchos, guindastes, motores a combustão, turbinas, bombas, geradores, filtros, reatores, revestimentos e tubos, entre outros.
Texto: / Postado em 22/11/2011 ás 22:42

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As velhas mídias e as novas mídias

Mídia tradicional tenta censurar novas mídias; reformar leis é urgente

Em debate na Câmara dos Deputados sobre liberdade de expressão, militantes de novas mídias criticam autoritarismo de veículos tradicionais de imprensa, que reagiriam apelando para censura de que se sentem ameaçados. Aprovação de marco civil da internet e de novo marco regulatório para radiodifusão é considerada fundamental para garantir pluralidade.

BRASÍLIA - No Brasil, os veículos tradicionais da imprensa, comandados por uma meia dúzia de famílias, se armam de todos os meios possíveis para manter o controle exclusivo e absoluto da agenda pública. E, para isso, cometem os mais variados excessos, incluindo aí alguns crimes, como destruir a reputação de pessoas sem provas ou sequer indícios.

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Há uma luta política em andamento entre as velhas mídias e as novas mídias. As velhas mídias, que também se utilizam das novas e estabelecem a propriedade cruzada em tudo, estão profundamente incomodadas com essas últimas”, disse o membro da coordenação da Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade de Expressão e Democratização da Comunicação, o jornalista e deputado Emiliano José (PT-BA).

As velhas mídias são os meios tradicionais, como os jornais, revistas, TVs e rádios. As novas são as que nasceram no bojo da internet: sites, blogs e microblogs, dentre outras.


A jornalista e secretária-geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Vicentini Mielli, afirmou que as novas tecnologias de comunicação criaram um novo paradigma na sociedade atual. “Até bem pouco tempo atrás, o agente social responsável por fazer a mediação da agenda pública eram os grandes meios de comunicação. Agora, um novo agente entrou em jogo. As novas mídias permitiram mais pluralidade, mais diversidade na discussão da esfera pública”, diz.

São blogs, microblogs, redes sociais, pequenos sites e uma série de atores que atuam na internet permitindo a distribuição e organização da informação de forma mais ágil e democrática. “Isso, de alguma maneira, diminuiu o monopólio das grandes empresas de comunicação como mediadores da agenda pública. O poder dos grandes veículos não foi sepultado, mas foi diluído. E eles não querem perder esse poder. Por isso, desqualificam esse pólo alternativo de comunicação ou exercem pressão econômica sobre eles, através da judicialização”, afirma.

Segundo ela, o fenômeno é mundial. Nos EUA, só em 2007, processos contra blogueiros movimentaram US$ 17,4 milhões. No Brasil, os valores também assutam. No caso do site “Falha de S. Paulo”, a justiça estipulou multa diária de R$ 5 mil. “Como dois jornalistas, assalariados, vão pagar uma multa dessas? O objetivo é calar as vozes dissonantes”, questiona ela.

A jornalista afirma que processos civis e criminais contra blogueiros estão pipocando em todo o Brasil. Só o jornalista Paulo Henrique Amorim é alvo de 37 processos.É preciso cuidado para não virarmos sociedade do patrulhamento, do policiamento. Devemos ser uma sociedade da liberdade. E a comunicação é um direito humano”, acrescenta.

Para ela, é urgente que se aprove o marco civil da internet. O projeto de lei está parado justamente na Câmara dos Deputados, esperando a constituição de comissão especial para avaliar o tema. A jornalista avalia que é urgente também a definição de um novo marco regulatório para a radiofusão.

“Não é possível que se discuta as questões da comunicação de forma fatiada. Isso permite que as empresas coloquem no movimento social, que sempre defendeu a liberdade de expressão, a pecha de serem novos censores da sociedade. Regra não é censura. A sociedade precisa entender isso."

O deputado Emiliano José acrescentou que a distinção entre fatos e opiniões não é algo muito simples: não há jornalismo sem interpretação em nenhum momento. “A organização do fato comporta opinião, mas há alguma diferenciação entre as duas coisas, e o jornalismo brasileiro tem caminhado numa direção."

Ele lembrou que as novas mídias, ao mesmo tempo que permitem maior democratização na produção de conteúdos, também ajudam a trazer à tona velhos preconceitos que resistem nas entranhas da sociedade brasileira, com ocorreu no episódio do câncer do ex-presidente Lula. Ele acha que a velha mídia brasileira é um partido político que conspira contra os governos petistas, de caráter popular e democrático.

Segundo o deputado, a velha mídia demite jornalistas que usam as novas mídias para manifestar suas opiniões, como aconteceu, por exemplo com Maria Rita Khel, que elogiou o impacto do bolsa família na vida das famílias pobres brasileiras e acabou demitida do jornal O Estado de S. Paulo. “Isto sim é censura”, afirma.

Ele defendeu a regulamentação da mídia, incluindo novas e velhas. “As novas mídias têm uma responsabilidade social e política muito grande porque representam novas vozes, novos atores políticos. Ninguém faz o que quer. Precisamos ter direito de resposta. A sociedade também precisa ser protegida dos erros dos jornalistas, sejam elas das novas e velhas mídias.”

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O dia em que a USP reviveu a ditadura

DE  NOVO, UM GOVERNO  TUCANO  TEM  APOIO DA  MÍDIA

9 de Novembro de 2011 - 1h46

Estudantes da USP entram em greve contra presença da PM

Pelo menos 2 mil estudantes da Universidade de São Paulo (USP), presentes em assembleia na noite de terça-feira (8), no prédio do curso de História, aprovaram uma greve para protestar contra a presença da Polícia Militar (PM) no campus Butantã e a prisão de 73 pessoas durante a ação de reintegração de posse na manhã do mesmo dia, feita pela Tropa de Choque.

Durante a assembleia de ontem, convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que representa todos os universitários do campus, os jovens denunciaram as condições a que os presos foram submetidos: confinados dentro dos ônibus que os transportaram até o 91º DP, onde prestaram depoimentos, sem banheiro, sob sol forte, desde o começo da manhã.

“Liberdade aos presos políticos da USP”, ecoavam gritos dos estudantes nos corredores da FFLCH. Outros falavam em universidade sitiada: “Nesta manhã, a USP acordou em estado de sítio. Logo pela manhã, os moradores do Crusp foram acordados com bombas de gás lacrimogêneo. Além dos estudantes, tem mulheres e crianças que moram lá e sofreram da mesma forma com essa ação policial”.
Nos solidarizamos com a causa. Uma invasão da polícia no campus dessa forma só foi visto na ditadura militar. Por isso, disponibilizamos uma equipe de advogados e organizações de todo o país se manifestaram a favor dos estudantes e doaram recursos”, contou ao Vermelho Luiz Carlos Prates Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, presente na assembleia, e integrante da Coordenação Nacional de Lutas (ConLutas), que encabeçou o rateio dos valores para os presos.Os universitários presos podem ser acusados de dano ao patrimônio público, crime ambiental e desobediência civil. A reitoria acusa o grupo de ter depredado o espaço da reitoria, ocupado desde o dia 1º de novembro. Para reforçar essa tese, a grande mídia tem exibido imagens da reitoria com móveis amontoados, restos de comida na cozinha e paredes pichadas. Nas paredes, palavras pedem a saída do reitor João Grandino Rodas. Além disso, a polícia apresentou bombas caseiras que teriam sido encontradas no local. Os estudantes negam ter danificado o prédio da reitoria e de fabricarem as bombas. “Foi plantado, assim como o mobiliário quebrado”, disse em entrevista a um portal, o estudante de letras, Rafael Alves.Durante o dia, pais dos alunos que estiveram na 91º DP criticaram a prisão dos filhos. Para não prejudicarem os jovens, pais e mães não se identificaram. Numa folha de papel escrita por um deles, mandaram a seguinte mensagem:

“Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.

O que deflagrou a ocupação da reitoria foi a prisão de três universitários, na quinta-feira (27), depois de serem abordados por policiais. Eles estavam portando maconha no estacionamento da faculdade de História e Geografia. O fato causou confronto entre estudantes e policiais que culminou com a ocupação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e, posteriormente, da reitoria.

Mas, antes disso, muitos estudantes, professores e trabalhadores do campus já vinham denunciando que a presença da PM na USP faz parte de uma ação da reitoria e do governo do estado para restringir o movimento estudantil, além de ferir a autonomia da universidade.

Estudantes detidos na USP passam dia em ônibus e acusam PM de fabricar cena de destruição


Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Publicado em 08/11/2011, 19:50O governador Geraldo Alckmin criticou a atitude dos alunos. “Os estudantes precisam ter aula de democracia, precisam ter aula de respeito ao dinheiro público, respeito ao patrimônio público. Não é possível depredar instituições que foram construídas com o dinheiro da população que paga impostos. Eles precisam ter aula de respeito a ordem judicial”, afirmou.
Os alunos fazem questão de negar que tenham depredado as instalações da Reitoria. Após o cumprimento da ordem de desocupação, cinegrafistas de algumas emissoras de televisão foram chamados para fazer imagens do prédio, e registraram aquilo que, na versão policial, seria a destruição de máquinas e equipamentos promovida pelos jovens.
“Com certeza o ambiente em que fomos abordados não foi o ambiente que deixamos”, argumenta um rapaz detido. “Durante as revistas e tudo o que estava acontecendo, ouvimos por diversas vezes barulho de quebradeira. Agora vieram dizer que tem um monte de coisa danificada. Objetos que colocamos em salas separadas sumiram.”
“Um retrocesso histórico toda essa força bruta na universidade”, queixou-se, pelo Facebook, o jovem de perfil PaulinhoIn Fluxusz, também detido. “Impressionante ver a PM apresentando falsos coquetéis molotov ao lado do meu cachecol”.

“Rodas provou que merece o título (inédito) de persona non grata da Faculdade de Direito”. A ocupação da Reitoria foi um movimento pacífico, apresentado pela mídia de forma totalmente distorcida para a sociedade, e que reivindicava algo que deveria fazer parte da normalidade: participação nas decisões. Se a USP fosse uma universidade democrática, se o Reitor fosse eleito com o voto direto da comunidade universitária, se no Conselho Universitário houvesse uma representação adequada de estudantes, funcionários e professores, não haveria ocupação. As questões seriam discutidas e encaminhadas normalmente, no diálogo. Ocorre que a USP é um feudo, onde um pequeno círculo de poder manda e desmanda. O Reitor nomeia a maioria dos eleitores do Reitor que o sucederá. E assim um pequeno grupo, um círculo de poder, ligado ao Governo do Estado, perpetua-se como proprietário da USP. (Posição do coletivo Universidade em Movimento sobre a ação da Tropa de Choque e a ocupação do campus pela Polícia Militar)


Celso Lungaretti: Escalada autoritária na USP é início de golpismo?

por Celso Lungaretti, em Náufrago da Utopia
Previsivelmente, a ditadura mal extirpada em 1985 insinua-se pelas frestas da democracia.
A presença e a ação da Polícia Militar no campus da USP, como um túnel do tempo, nos remete diretamente aos  anos de chumbo, quando tais demonstrações de força, de uma truculência e de um ridículo atroz, eram amiúde utilizadas para intimidar estudantes e cidadãos.
Pareceu estarmos assisitndo de novo a prisões em massa de universitários como as do congresso da UNE em Ibiúna e ataques a campi como o deflagrado por Erasmo Dias contra a PUC.
Foi o máximo de perda que poderia causar um episódio de absoluta insignificância. E, agora, a exigência de fiança para libertar quem jamais deveria ter sido preso é outra grotesca aberração — para não dizer evidente provocação.
Este caminho só leva ao acirramento dos ânimos, até se chegar ao que ninguém deveria querer: universitários mortos ou feridos por aqueles a quem compete defender a coletividade de bandidos, não tumultuar ambientes acadêmicos, com a conivência de um reitor sem legitimidade e sob as ordens de um governador que segue as piores cartilhas direitistas.
NÃO vale a pena ver de novo

O dia em que a USP reviveu a ditadura,  Texto : Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, do MediaQuatro

A detenção dos estudantes que fazem parte um movimento contra a repressão política e pela saída da Polícia Militar do campus representa uma escalada na criminalização das manifestações populares dentro da, talvez, mais importante universidade o Brasil. Dezenas de alunos e funcionários já respondem a processos administrativos baseados em um regulamento interno de 1972, criado em plena ditadura militar, por terem participado de outras manifestações no campus da USP nos últimos anos, algumas, inclusive, reprimidas fortemente pela polícia com o uso de cassetetes, balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

imprensa só investiga petistas e blinda governos tucanos

CORRUPÇÃO EM SP

".....É possível concluir, então, que a única forma de os governos federal, estadual e municipal serem fiscalizados pela imprensa é sendo governos petistas, pois só esses são alvos de investigação da imprensa. Essas campanhas “jornalísticas” contra ministros, com manchetes de capa e de primeira página tomando os telejornais todos os dias, e com a Justiça sendo célere, só ocorrem desse jeito. Votar no PSDB, portanto, significa conceder a políticos uma espécie de licença para roubar sob as barbas da imprensa e da Justiça.” .....


FOLHA, ESTADO, VEJA E TELEVISÕES MINIMIZAM CORRUPÇÃO EM SP

Por Eduardo Guimarães

“No último dia 12 de outubro, este blog [Cidadania.com] cobriu ato público “contra a corrupção” que começou no Museu de Arte de São Paulo (MASP), na avenida Paulista, e terminou no “Centro Velho” da cidade, na praça Ramos de Azevedo, diante do Teatro Municipal de São Paulo. A matéria reproduziu respostas a um questionário que esta página apresentou aos manifestantes. Aquele questionário foi elaborado de forma a identificar possível viés político-partidário e ideológico nos integrantes da manifestação.
Das 27 entrevistas feitas com os manifestantes, 26 apontaram forte viés político-partidário, deixando ver que o que ocorria ali era produto de campanha de partidos e entidades de oposição ao governo federal. Dessas 26 entrevistas que apuraram esse fato, sete se estenderam em breves conversas entre o entrevistador e os entrevistados. Só não foram relatadas antes porque o blog esperou pelo contato com fonte da Assembléia Legislativa que só ocorreu na semana passada.

Naquelas conversas com os manifestantes “contra a corrupção”, eles foram perguntados sobre se também estavam protestando contra o escândalo das emendas parlamentares na Assembléia Legislativa de São Paulo. Apesar de o entrevistador ter percebido que um dos entrevistados se fez de desentendido, os outros seis pareceram sinceros ao declararem que não sabiam de nada sobre esse escândalo, o que pode ser explicado pela discretíssima e rara cobertura do assunto pela imprensa.


Por conta disso, a base de apoio do governo Alckmin na AL-SP está conseguindo enterrar mais esse escândalo. Na última quinta-feira, os deputados governistas conseguiram derrubar, por seis votos a dois, o funcionamento do Conselho de Ética. Segundo um funcionário da AL (que preferiu não se identificar) ouvido pelo blog no último sábado, sem uma divulgação da imprensa igual à que é feita em relação a ministros do governo Dilma, investigação alguma relevante e profunda ocorrerá, como nenhuma ocorre há muito tempo em São Paulo.

A explicação que esses veículos dão ‘em off’ (através de alguns de seus jornalistas que frequentam redes sociais como Twitter ou Facebook e entram em debates com quem questiona a omissão da imprensa nos escândalos tucanos) é a de que são escândalos “regionais” e que, por isso, receberiam cobertura tão “diferenciada”, um claro eufemismo para cobertura omissa porque, a bem dos fatos, não há, em relação ao PSDB, o jornalismo “investigativo” que chega a tentar invadir domicílios em busca de “provas” contra pessoas ligadas ao governo federal.

A cobertura e fiscalização pífias da imprensa em relação ao comportamento da oposição ao governo Dilma nos Estados em que essa oposição é governo – como em São Paulo ou em Minas Gerais – se dá sob o argumento de que seriam assuntos “regionais”. Todavia, tal falácia pode ser facilmente desmontada meramente lembrando o que era feito pela imprensa quando a petista Marta Suplicy ou a ex-petista Luiza Erundina governaram a capital paulista. Então, críticas e denúncias ganhavam manchetes quase diárias nos jornais supracitados e nos telejornais de alcance nacional.

A imprensa, por essa razão, não investiga o escândalo das emendas parlamentares em São Paulo, um escândalo que lança suspeitas sobre os governos tucanos que se encastelaram no poder desse Estado há quase vinte anos, suspeitas comparáveis às que desencadearam o escândalo do mensalão federal porque insinuam que os governos tucanos paulistas subornam deputados para obterem deles favores em votações na Assembléia Legislativa.

À diferença das matérias investigativas que veículos como ‘Folha de São Paulo’, ‘O Estado de São Paulo’ e a revista ‘Veja’ passaram a fazer todos os meses contra o governo federal desde o começo do governo Lula e que neste ano ganharam intensidade nunca vista em anos anteriores, com trabalhos de investigação se sobrepondo em várias frentes simultâneas, nenhuma das matérias sobre o governo de São Paulo, na última década, partiu da imprensa brasileira, mas, sim, da repercussão de denúncias antigas que circulam entre os aliados do governo federal ou da repercussão de investigações no exterior.

O caso Alstom é um exemplo. Contém denúncias sobre propina que teria sido paga pela empresa francesa Alstom a vários políticos do PSDB, entre eles o ex-governador Mario Covas, já falecido, e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alkmin. As raras matérias que saíram na imprensa brasileira foram “chupadas” da mídia internacional, de veículos como “Wall Street Journal” e “Der Spiegel”, entre outros. A imprensa brasileira mesma, não investiga nada sobre esse caso.

Todavia, é um caso gravíssimo. Trata-se de escândalo que envolve muitos milhões de dólares e que tem alcance internacional. Fora do Brasil, as notícias correm soltas. O assunto é tão sério que está sendo investigado pelo ministério público da Suíça, onde estão arrolados os nomes dos políticos tucanos aqui citados e de outros brasileiros envolvidos.

De acordo com o que consta em documentos enviados ao Ministério da Justiça do Brasil pelo ministério público da Suíça, no período que vai de 1998 a 2001 pelo menos 34 milhões de francos franceses teriam sido pagos em propinas a autoridades do governo do Estado de São Paulo através de empresas offshore (empresas criadas em paraísos fiscais, onde gozam de sigilo de suas contas bancárias que dificultam investigações).

Segundo o ministério público suíço, os pagamentos teriam sido feitos utilizando-se do esquema de contratos de “consultoria de fachada”. O valor das “comissões” supostamente pagas pela Alstom em troca da assinatura de contratos pelo governo de São Paulo chegaria a aproximadamente R$ 13,5 milhões. Segundo o Ministério Público da Suíça, pelo cruzamento de informações, esses trabalhos de “consultoria” foram considerados como sendo fictícios.

No período de negociação e da assinatura dos contratos de consultoria, estava à frente da Secretaria de Energia de São Paulo o então genro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, David Zylbersztajn, que deixou o cargo em janeiro de 1998 ao assumir a direção geral da Agência Nacional do Petróleo. O atual secretário de Coordenação das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, que ocupou a secretaria por alguns meses, e o atual secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce, também estão envolvidos.

Para que se tenha uma idéia da enormidade do caso e para que se possa mensurar a enormidade da minimização que a imprensa brasileira faz dele, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) julgou irregular uma compra de 12 trens da Alstom no valor de R$ 223,5 milhões feita sem licitação pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), empresa do governo de São Paulo. O contrato foi assinado em 28 de dezembro de 2005, no governo de Geraldo Alckmin.

Pergunta: você se lembra, leitor, de quando foi a última vez que recebeu uma única notícia sobre esse caso?


A imprensa daria ajuda inestimável ao ministério público suíço usando contra o PSDB esse “jornalismo investigativo” que descobre “provas” contra petistas e aliados toda semana. Contudo, é escandaloso o total desinteresse da imprensa brasileira sobre qualquer pedido de CPI entre as dezenas deles que hibernam nas gavetas da Assembléia Legislativa de São Paulo, que, agora se sabe, vem sendo banhada pelos impostos dos paulistas que acabam escorrendo para o setor privado através de nada mais, nada menos do que… ONGs.
É possível concluir, então, que a única forma de os governos federal, estadual e municipal serem fiscalizados pela imprensa é sendo governos petistas, pois só esses são alvos de investigação da imprensa. Essas campanhas “jornalísticas” contra ministros, com manchetes de capa e de primeira página tomando os telejornais todos os dias, e com a Justiça sendo célere, só ocorrem desse jeito. Votar no PSDB, portanto, significa conceder a políticos uma espécie de licença para roubar sob as barbas da imprensa e da Justiça.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/11/folha-estado-veja-e-televisoes-minimizam-corrupcao-em-sp/).
Postado por Política às 08:21 em 7/11/2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"Lula, faça o tratamento pelo SUS"

"Lula, faça o tratamento pelo SUS" 
(piada de mau gosto nas redes sociais)

O câncer de Lula e o preconceito

por Elizângela Araújo 
(trechos de seu artigo em www.viomundo.com.br)

‘De acordo com a agência de notícias IDGNow, especializada em tecnologia, houve 120 mil compartilhamentos da foto do ex-presidente com a mensagem ‘Lula, faça o tratamento pelo SUS’, no Facebook, desde sábado à tarde até esta segunda. Ainda não há números sobre a repercussão no Twitter’. Se o número é pequeno diante do total de usuários – 31 milhões de brasileiros utilizam o Facebook, segundo pesquisa do Ibope realizada em agosto – não deixa de assustar pelo nível dos comentários.
Outros políticos brasileiros enfrentaram a mesma doença – alguns morreram e outros a superaram – sem que houvesse semelhante “campanha”. A presidenta Dilma Rousseff, por exemplo, também tratou-se no Sírio-Libanês. Mário Covas, morto em 2001 depois de perder a luta contra um câncer na bexiga, também não foi alvo de semelhante galhofa.Roseana Sarney, Paulo Maluf, e se comoveram tanto com a morte do empresário Steve Jobs, morto no dia 5 de outubro também vítima de câncer. Enfim, há outros inúmeros casos de políticos menos ilustres que tiveram câncer e comoveram mais ou menos brasileiros. No entanto, em nenhum desses casos houve tamanha falta de sensibilidade e oportunismo como no caso do ex-presidente-metalúrgico.  Não se trata de uma campanha pelo fortalecimento do sistema, mas de uma campanha anti-Lula. E se tantas pessoas passam a reproduzir uma brincadeira inconsequente como essa sem se importar de tripudiar  uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico inquietante como esse, seja quem for, é sinal de que estamos consolidando uma sociedade com valores bem equivocados.

Nina Crintzs: Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto

por Nina Crintzs, no blog do Luis Nassif, por sugestão de Lu Witovisk (trechos de seu artigo).
Há seis anos atrás eu tive uma dor no olho. Só que a dor no olho era, na verdade, no nervo ótico, que faz parte do sistema nervoso. O meu nervo ótico estava inflamado, e era uma inflamação característica de um processo desmielinizante. ..... Em poucas palavras: eu descobri, em detalhes, como se dá uma doença-auto imune no sistema nervoso central. Esta, específica, chama-se Esclerose Múltipla. É o que eu tenho. Há seis anos.Os médicos sabem tudo sobre o coração e quase nada sobre o cérebro – na minha humilde opinião. Ninguém sabe dizer porque a Esclerose Múltipla se manifesta. Não é uma doença genética.....
Mil médicos diferentes passaram pela minha vida desde então. Uma via crucis de perguntas sem respostas. O plano de saúde, caro, pago religiosamente desde sempre, não cobria os especialistas mais especialistas que os outros. Fui em todos – TODOS – os neurologistas famosos – sim, porque tem disso, médico famoso – e, um por um, eles viam meus exames, confirmavam o diagnóstico, discutiam os mesmos tratamentos e confirmavam que cura, não tem.

....
O diagnóstico de uma doença grave e incurável é um abismo no qual você é empurrado sem aviso. E sem pára-quedas. .... Porque já é suficientemente difícil estar vivo sem esta sentença de morte lenta e degradante....
O problema é que uma raiva desse tamanho cansa, e o tempo passa....

O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria” porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS?! O Sistema Único de Saúde? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer?

Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que têm o mesmo problema que eu. É pouca gente? Não vale a pena? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil.

O maior especialista em Esclerose Múltipla do Brasil atende no HC, que é do SUS, num ambulatório especial para a doença. De graça, ou melhor, pago pelos impostos que a gente reclama em pagar. Uma vez a cada seis meses, eu me consulto com ele. É no HC que eu pego minhas receitas – para o tratamento propriamente dito e para os remédios que uso para lidar com os efeitos colaterais desse tratamento, que também me são entregues pelo SUS. O que me custaria fácil uns outros R$2.000,00.

Eu acredito em poucas coisas nessa vida. Tenho certeza de que o mundo não é justo, mas é irônico. E também sei que só o humor salva. Mas a única pessoa que pode fazer piada com a minha desgraça sou eu – e faço com regularidade. Afinal, uma doença auto-imune é o cúmulo da auto-sabotagem.
Mas attention shoppers: fazer piada com a tragédia alheia não é humor, é mau gosto. É, talvez, falha de caráter. E falar do que não se conhece é coisa de gente burra. Se você nunca pisou no SUS – se a TV Globo é a referência mais próxima que você tem da saúde pública nacional, talvez esse não seja exatamente o melhor assunto para o seu, digamos, “humor”.
Quem me conhece sabe que eu não voto – não voto nem justifico. Pago lá minha multa de três reais e tals depois de cada eleição porque me nego a ser obrigada a votar. O sistema público de saúde está longe de ser o ideal. E eu adoraria não saber tanto dele quanto sei. O mundo, meus amigos, é mesmo uma merda. Mas nós estamos todos juntos nele, não tem jeito. E é bom lembrar: a ironia é uma certeza. Não comemora a desgraça do amiguinho, não.


As reportagens seletivas sobre o SUS

Comentário do post "O SUS, a ironia e o mau gosto"
Por Carlos Sales

MInha esposa teve Doença de Crohn.
Hoje a doença está em remissão devido a um remédio chamado Azatioprina que é distribuído gratuitamente pelo SUS. Todo mês ela vai pegar o remédio na Farmácia de Alto Custo em Brasília-DF.
Este mês, quando ela estava pegando o remédio, percebeu uma equipe da TV Globo Local (DFTV) fazendo reportagem a respeito da distribuição desse tipo de remédio. Ela ficou observando de longe e, para algumas pessoas, eles ligavam as luzes e equipamentos, para outras não.
Quando ele estava de saída, a equipe a procurou (com os equipamentos ainda desligados) e perguntou se ela tinha recebido o medicamento que veio buscar. Ela disse que sim. O repórter perguntou se tinha recebido todos. Ela disse que sim. O repórter então desmobilizou a equipe e partiram pra outra pessoa.

Ao meio dia fomos ver a reportagem editada. O Alexandre Garcia mostrava o 'caos' na administração do Agnelo. Só mostraram as pessoas que não conseguiram o remédio e se reclamavam.
Meus amigos, esse é apenas um caso vivido. Imaginem o que acontece pelo mundo afora.
Esta é a imprensa no Brasil.
Vergonha !!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Queda do ministro serve de alerta

Queda do ministro serve de alertaPor Altamiro Borges, em seu blog
26/10/2011
 É urgente pressionar o governo Dilma Rousseff, pautado e refém da mídia, a mudar de atitude.
O lamentável episódio da queda do ministro Orlando Silva deveria servir de alerta às forças democráticas da sociedade brasileira – que lutaram contra as torturas e assassinatos na ditadura militar e que, hoje, precisam encarar como estratégica a luta contra a ditadura midiática, em defesa da verdadeira liberdade de expressão e da efetiva ampliação da democracia no Brasil.
A mídia hegemônica hoje tem um poder tão descomunal que ela “investiga”, sempre de forma seletiva (blindando seus capachos); tortura (seviciando, inclusive, as famílias das vítimas); usa testemunhas “bandidas” (como um policial preso por corrupção, enriquecimento ilícito e suspeito de assassinato); julga (sem dar espaço aos “acusados”); condena (como nos tribunais nazistas); e fuzila!

Um pragmatismo covarde e suicida
Ninguém está imune ao poder ditatorial da mídia, controlada por sete famílias – Marinho (Globo), Macedo (Record), Saad (Band), Abravanel (SBT), Civita (Abril), Frias (Folha) e Mesquita (Estadão). Como o império Murdoch, hoje investigado por seus subornos e escutas ilegais, a mídia nativa é criminosa, mafiosa, sádica e abjeta. Ela manipula informações e deforma comportamentos.
Não dá mais para aceitar passivamente seu poder altamente concentrado, que, como disse o governador Tarso Genro – pena que não tenha agido com esta visão quando ministro da Justiça –, ruma para um “fascismo pós-moderno”. Essa ditadura amedronta e acovarda políticos sem vértebra, pauta a agenda política, difunde os dogmas do “deus-mercado” e criminaliza as lutas sociais.

Três desafios diante da ditadura midiática
Esta ditadura é cruel, sem qualquer escrúpulo ou compaixão. Ela utiliza seus jagunços bem pagos, sob o invólucro de “colunista” e “comentaristas”, para fazer o trabalho sujo. Muitos são agentes do “deus-mercado”, lucram com seus negócios rentistas; outros são adeptos da “massa cheirosa”, das elites arrogantes e burras. Eles fingem ser “neutros”, mas são adoradores da direita fascistóide.
Enquanto não se enfrentar esta ditadura midiática, não haverá avanços na democracia brasileira, na luta dos trabalhadores ou na superação das barbáries capitalistas. Neste enfrentamento, três desafios estão colocados:

1- Não ter qualquer ilusão com a mídia hegemônica; chega de babaquice e servilismo diante da chamada “grande imprensa”;
2- Investir em instrumentos próprios de comunicação. A luta de idéias não é “gasto”, é investimento estratégico;
3- Lutar pela regulação da mídia e por políticas públicas na comunicação, que coíbam o poder fascista do império midiático.
Chega de covardia diante dos fascistas midiáticos.

O criminoso episódio da tentativa de invasão do apartamento do ex-ministro José Dirceu num hotel em Brasília parece que serviu de sinal de alerta ao PT. Em seu encontro nacional, o partido aprovou a urgência de um novo marco regulatório da comunicação. Um seminário está previsto para final de novembro. Já no caso da queda Orlando Silva, o clima é de total indignação e revolta.
Que estes trágicos casos sirvam para mostrar que, de fato, a luta pela democratização da comunicação é uma questão estratégica. Não dá mais para se acovardar diante da ditadura da mídia. O governo Dilma precisa ficar esperto. Hoje são ministros depostos; amanhã será o sangramento e a derrota da própria presidenta e do seu projeto, moderado, de mudanças no Brasil.

Superar a choradeira e a defensiva
A esquerda política e social precisa rapidamente definir um plano de ação unitário de enfrentamento à ditadura midiática. As centrais sindicais e os movimentos populares, tão criminalizados em suas lutas, precisam sair da defensiva e da choradeira. Os partidos progressistas também precisam superar seu pragmatismo acovardado. A conjuntura exige respostas altivas e corajosas!

É urgente pressionar o governo Dilma Rousseff, pautado e refém da mídia, a mudar de atitude. Do contrário, não sobrará que defenda a continuidade deste projeto, moderado, de mudanças no Brasil. A direita retornará ao poder, alavancada pela mídia! Aécio Neves, o chefe de censura em Minas Gerais, será presidente! E ACM Neto, o herói da degola de Orlando Silva, será o chefe da Casa Civil!

domingo, 9 de outubro de 2011

A rebeldia no coração do sistema

A rebeldia no coração do sistema

É provocativo viver momentos que farão história, e tentar compreendê-los. Por suas inúmeras novidades, 2011 será lembrado durante muito tempo — e a partir de agora, há um motivo a mais. Occupy Wall Street, um movimento de contestação do sistema que nasceu com ousadia mas alcance limitado, em 17 de setembro, ganhou nos últimos dias novas dimensões. Inspirado pelas ideias da autonomia e contracultura — mas reforçado por jovens mais movidos pela defesa de seus interesses que pela ideologia anticapitalista –, espalhou-se, no fim-de-semana, por dezenas de cidades norte-americanas: do Texas ao Havaí; de Boston a Memphis. Na segunda-feira, recebeu a adesão de alguns dos maiores sindicatos norte-americanos. Ontem (5/10), já engrossado por este apoio, organizou uma marcha de 15 mil pessoas, em Manhattan.  Ao receber adesões e influências, está se convertendo, antropofagicamente, em algo muito distinto de todas as tendências que o compõem — anarquismo, hippíes, juventude desencantada, trabalhadores organizados. Talvez aí residam sua potência e sua capacidade de contribuir com a construção de uma nova cultura política — uma necessidade que também ficou mais clara que nunca este ano.

Um texto publicado hoje, em nossa revista virtual, ajuda a compreender as origens do movimento. Foi produzido para The Nation por Nathan Schneider, um ativista ligado à cultura de paz e à organização dos movimentos de base (grassroots, no jargão político norte-americano) [e traduzido pela rede Vila Vudu]. Revela que os preparativos para um acampamento próximo ao centro financeiro de Nova York e do mundo começaram em julho. Foram conduzidos por três pequenos coletivos: Adbusters (uma rede global anti-consumista, fundada no Canadá e presente em especial na América do Norte), Day of Rage (uma rede de grupos jovens cujos alvos parecem ser, como na Espanha, os banqueiros e políticos) e Anonymous (uma espécie de guerrilha digital em rede, que luta especialmente pela liberdade na internet).

Redigido na forma de perguntas e respostas, o breve texto de Nathan reconhece que o início foi difícil. Os organizadores esperavam reunir 20 mil pessoas em Wall Street, em 17 de setembro — um sábado. Mobilizaram um décimo disso. Os participantes enfrentaram a vida dura com coragem. Quase todos com menos de 25 anos, dormiram ao frio, em colchonetes finos, sobre o chão da Liberty Plaza, próxima a pontos por onde trafegam trilhões de dólares todos os dias.

Mas tinham a seu favor dois fatores muito poderosos. Primeiro, o caráter simbólico do ato. Num país em que a direita domina o debate político, acua e coloca em xeque o próprio presidente e conquistou as ruas (por meio do Tea Party), o pequeno grupo de garotos e garotas foi capaz de fazer o que o establishment  progressista não conseguiu. Encarar a onda conservadora, produzir um fato político que revela audácia, convicção e atitude. Tocar simbolicamente, além disso, numa das grandes chagas da sociedade norte-americana: a imensa concentração de riquezas em favor do sistema financeiro, que está ameaçando inclusive os direitos básicos da maior parte da população.
O segundo fator que impulsionou o movimento está relacionado a isso, e é muito concreto. Ao questionar o mercado financeiro, os jovens acampados abriram diálogo com milhões de norte-americanos que estão angustiados com dívidas imobiliárias, junto aos cartões de crédito, ligadas ao financiamento de automóveis ao pagamento de mensalidades escolares e a um enorme feixe de contratos que se relacionam com a garantia da vida quotidiana. Estes milhões de endividados sofrem com a ausência de políticas que aliviem seus dramas, enquanto assistem, há pelo menos dois anos, aos anúncios de socorro público trilionário aos bancos e instituições que… provocaram a crise financeira. Como não se revoltar? “As coisas pioraram tanto que todo mundo quer participar”, contou a repórteres do Financial Times Ross Fuentes, uma garota acampada de 23 anos que integra o Partido do Socialismo Libertário — umas das organizações que se envolveram nos protestos desde a fase mais difícil.

A partir do final da semana passada, chegaram os sindicatos. Havia muitas razões para eles se envolverem, num cenário em que o desemprego ultrapassa 10%, os salários reais caem há anos, os trabalhadores estão muito endividados e não têm nenhuma certeza em relação a seu futuro? As necessidades comuns romperam barreiras. Há várias décadas, as relações entre sindicalismo e movimentos de contracultura são tensas — e conflituosas, na maior parte do tempo — nos Estados Unidos.


Reportagem de Tina Susman, no Los Angeles Times revela: um sinal de que é possível superar velhos traumas surgiu ontem, na passeata em Nova York. Entre as milhares de pessoas, encontraram-se, lado a lado, jovens anticapitalistas e enfermeiras em defesa do sistema de saúde. A fusão e diálogo entre os públicos, notou Tina, apareceu na diversidade das mensagens exibidas pelos participantes: “Havia cartazes protestando contra o racismo, o presidente Obama, os republicanos, os democratas, a fome, as guerras no Iraque e Afeganistão. Em contrapartida, defendia-se os direitos dos trabalhadores, os dos prisioneiros em greve de fome, mais impostos para os milionários e a reestruturação do sistema financeiro”.

Num sinal de que o movimento pode se enraizar, estavam presentes ícones da cultura norte-americana. A presença de Michael Moore  era de se esperar — assim como o apoio expresso há dias, ao movimento, por intelectuais de esquerda como Noam Chomsky e Tarik Ali. A novidade foi a participação, na marcha, de atores como Tim Robbins e Penn Badgley.

Se mantiverem esta amplitude, e o foco no sistema financeiro, as manifestações do Occupy Wall Street podem acrescentar um ingrediente novo, a um cenário marcado pelo atrelamento das elites dos países mais ricos a dogmas e por sua irresponsabilidade diante de problemas de enorme gravidade. Também nos Estados Unidos, há sinais de que a opinião pública prefere buscar o novo. A reportagem em que o New York Times registrou a difusão das manifestações revela que em Chicago, como inúmeras outras cidades, a paisagem dos acampamentos é marcada por mesas onde se oferece comida grátis — talvez um símbolo de que relações não-mercantis podem se espalhar. A ideia, que pode ter feito Milton Friedman revirar na tumba, está sendo bem aceita por seus concidadãos. Os gêneros são coletados junto à população. Na segunda-feira (3/2), os organizadores viram-se incapazes de consumir todo o alimento que lhes foi doado, e convidaram os sem-teto para compartilhar a refeição.

Publicado em 6 de outubro por Antonio Martins no rede social Outras Palavras