quinta-feira, 31 de agosto de 2023

BRICS - ASCENSÃO DO SUL GLOBAL AO DESENVOLVIMENTO

A revolução do BRICS: como a expansão do grupo simboliza a revolta do Terceiro Mundo

 30.08.2023 -  Valdir da Silva Bezerra* – Sputnik Brasil

 

A última cúpula do BRICS na África do Sul foi um marco para a história das relações internacionais, com a aprovação da entrada de seis novos membros ao grupo. Essa verdadeira revolução do BRICS também representa uma espécie de revolta do assim-chamado Terceiro Mundo contra as potências centrais do sistema.

A princípio, é preciso lembrar que o termo Terceiro Mundo foi utilizado (vagamente) durante a Guerra Fria para se referir a países economicamente menos desenvolvidos pertencentes à Ásia, África e América Latina, que possuíam certas características comuns, tais como maiores níveis de pobreza, elevadas taxas de desigualdade e dependência econômica para com os países avançados do Ocidente.

 

O assim chamado Primeiro Mundo era composto, por sua vez, pelos Estados desenvolvidos, incluindo Estados Unidos, Canadá, a Europa Ocidental, o Japão e países como Austrália e Nova Zelândia. Já o Segundo Mundo era composto pelo bloco comunista liderado pela União Soviética e os países do Leste Europeu.

Todavia, com o desaparecimento da União Soviética o termo Segundo Mundo já não é mais utilizado para se referir aos países do espaço pós-soviético ou mesmo à própria Rússia. Ainda assim, o título Terceiro Mundo continua em uso em diversos círculos acadêmicos e políticos ao redor do mundo.

 

A própria China, por exemplo, apesar de ter se desenvolvido economicamente durante as últimas décadas, permanece sendo considerada como parte do Terceiro Mundo, juntamente com regiões como América Latina, África e a maior parte dos países asiáticos.

Nos meios de comunicação social e na academia, quando se discute, seja o Terceiro Mundo seja o Sul Global, aponta-se que a culpa por seu subdesenvolvimento se deve ao fato de que, por um longo período da história, suas economias foram distorcidas pelas potências ocidentais (o chamado Primeiro Mundo), tornando-os dependentes dos grandes centros industrializados europeus e norte-americanos.

 

Em vista disso, os países do Terceiro Mundo foram incentivados a exercer o papel de meros exportadores de produtos primários para o mundo desenvolvido, enquanto absorviam destes produtos manufaturados de maior valor agregado; esse tipo de situação teria gerado, por sua vez, pouca mobilidade social, estruturas sociais e rurais de teor tradicionalista, além de uma deficiente distribuição da riqueza nacional.

Países como Brasil, Argentina, Índia e diversos Estados africanos teriam assumido, em algum momento do tempo, justamente essas características. Ora, dado que as economias dos países subdesenvolvidos na América Latina, Ásia e África foram orientadas para as necessidades dos países industrializados (pertencentes ao Ocidente, o assim chamado Primeiro Mundo), e dado que sua importância política se viu diminuída em vista dessa condição, todas essas regiões se viram menos representadas em instituições multilaterais de tomada de decisão global.

O controle destas organizações acabou então nas mãos de um pequeno grupo privilegiado de países (o vulgo G7), que passou a utilizá-las para o seu próprio benefício. O baixo poder de voto de países não ocidentais nestas instituições é um retrato claro da falta de consideração das potências centrais pelas economias emergentes, que, durante os anos 2000, passaram a pleitear maior voz e representatividade dentro do sistema.

Foi então que, em 2009, surge o BRIC, uma associação política heterogênea que visava enfrentar o caráter injusto da arquitetura global sob dominação do Ocidente, dando espaço para que países do Terceiro Mundo pudessem defender seus interesses no sistema.

Se antes, durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, as economias do Terceiro Mundo desenvolviam-se de forma lenta, nos anos 2000 o crescimento acelerado de diversos países latino-americanos, africanos e asiáticos apontava para uma nova realidade econômica global, realidade essa que demandava mudanças políticas significativas.

China e Índia, por exemplo, dois Estados com sistemas sociais e econômicos bastante distintos (mas ainda assim considerados como parte do Terceiro Mundo), desempenharam um papel fundamental na promoção dessa mudança sistêmica, que encontrou sua mais clara manifestação na formação e consolidação do BRICS.

 

Como resultado, o BRICS não somente auferiu maior autoridade no plano internacional, como também passou a operar no formato BRICS+, visando atrair a cooperação de países terceiros no âmbito das reuniões do grupo. Desse modo, conforme outros Estados foram sendo convidados a discutir as principais pautas da agenda global junto aos cinco membros originais, o BRICS foi gradualmente se transformando numa espécie de fórum dos países do Terceiro Mundo.

Com crescente urgência, os problemas do subdesenvolvimento, da falta de representatividade em instituições multilaterais dominadas pelo Ocidente, assim como a ênfase na multipolaridade nas relações internacionais tornaram-se o foco de permanentes debates intra-BRICS.

Como se não bastasse, discussões acerca da possibilidade de ampliação do grupo foram ganhando forma ao longo dos anos, culminando então na esperada expansão do BRICS, aprovada durante a última cúpula na África do Sul.

 

O BRICS mostrou, portanto, que a unidade do Terceiro Mundo é sim possível, e que ela pode ser expressada pela cooperação em plataformas políticas alternativas e abrangentes, facilitando a defesa de seus interesses no plano internacional.

Por certo, qualquer que seja o desenvolvimento futuro do grupo daqui para a frente, fato é que o assim chamado Terceiro Mundo (ou, para quem preferir, o Sul Global) já demonstrou claramente sua insatisfação com as estruturas de poder existentes.

Tais estruturas, dominadas pelo Ocidente (o vulgo Primeiro Mundo), além de radicalmente injustas também são radicalmente obsoletas, a julgar pelas novas realidades globais do século XXI. É por isso que, além de simbólica, a cúpula na África do Sul representou uma verdadeira revolta do Terceiro Mundo e uma revolução do BRICS.

 

FONTE:     https://sputniknewsbr.com.br/20230830/a-revolucao-do-brics-como-a-expansao-do-grupo-simboliza-a-revolta-do-terceiro-mundo-30107255.html

 

Valdir da Silva Bezerra*

Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo

Membro do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais sobre Ásia da Universidade de São Paulo (NUPRI-GEASIA)

Pesquisador do Grupo de Estudos Sobre os BRICS da Universidade de São Paulo (GEBRICS-USP)

Colaborador do Grupo de Estudos sobre a Rússia (PRORUS) da Universidade Federal de Santa Catarina

 

domingo, 27 de agosto de 2023

UMA NOVA CORRIDA PELA ÁFRICA?

 

Uma nova corrida pela África?

Como as grandes potências têm disputado influência no continente

 15.08.2023

 

A atual instabilidade política no Níger e a deterioração da influência europeia na África tem sido uma das principais pautas de discussões em tempos recentes. Enquanto isso, potências como China e Rússia têm ganhado cada vez mais espaço no continente.

Quanto ao caso do Níger, cerca de 15% de todo o urânio usado pela França em suas usinas nucleares são provenientes do país africano, que também responde por um quinto do estoque total de urânio da União Europeia. Ao mesmo tempo, o IDH de Níger se encontra entre os três piores do mundo, segundo dados da ONU de 2021.

Em verdade, a anterior elite política no Níger, encabeçada pelo presidente deposto Mohamed Bazoum, segundo denúncias, apropriava-se justamente da riqueza do país com o aval das potências ocidentais, tendo sido destituída por um movimento político-militar com forte conotação popular e que conta com o apoio de seus vizinhos africanos.

Diante dessa situação a própria França, de acordo com a junta militar hoje à frente do Níger, teria dado indícios de que poderia organizar uma intervenção internacional para "estabilizar a situação no país" e reempossar o antigo presidente.

 

Ora, para além da instabilidade no Níger, fato é que as mudanças ocorridas na economia e na política mundial nas últimas décadas foram tão significativas que o continente africano readquiriu sua importância geopolítica internacional e as grandes potências não se mostraram alheias a essa realidade. A Europa, por sua vez, vê sua posição cada vez mais enfraquecida na África.

Em suma, a perda da influência europeia na região possui raízes históricas. Afinal, no período de expansão do colonialismo europeu na África a partir do século XV, uma de suas principais motivações era justamente a obtenção de matérias-primas e recursos naturais do continente, sem se importar com a qualidade de vida de seus habitantes.

Para além disso, a França, país mais diretamente envolvido na crise no Níger, foi um dos que mais participou de intervenções militares no Norte da África em defesa dos interesses geopolíticos do Ocidente, como no caso do calamitoso bombardeio da Líbia em 2011 pela OTAN.

Ações desastrosas como essa por parte de potências europeias, causando mudanças de regime pela força, resultaram em crises migratórias, instabilidade política e no empobrecimento de países inteiros, colocando em xeque justamente a abordagem pseudo-humanista do Ocidente.

 

Em vista desse cenário de derrocada moral dos europeus, o espaço estava aberto para que Rússia e China ganhassem cada vez mais influência na África ao longo dos últimos tempos. Xi Jinping, por exemplo, no âmbito de sua Nova Rota da Seda, concedeu incentivos a empresas estatais chinesas para que investissem em todo o continente africano, sobretudo na construção de rodovias, portos e ferrovias, que visavam modernizar economicamente diversos países da região.

Como resultado, a China ganhou bastante influência política e prestígio perante as lideranças africanas. Dado que a África possui desconfianças bastante arrazoadas quanto aos países ocidentais por conta de seu conturbado passado histórico e colonial, não é de se surpreender que os investimentos chineses tenham sido recebidos com maior entusiasmo.

Não obstante, não foi somente a China que aumentou sua presença na África nos últimos tempos. A Rússia também procurou fazer o mesmo. Em benefício de Moscou encontra-se o fato de que o continente africano ainda mantém vivo na memória a ajuda oferecida pela União Soviética durante a Guerra Fria para os processos de descolonização da África frente às antigas metrópoles europeias.

 

Por si só, esse histórico oferece um grande capital político para Rússia em sua relação com as lideranças africanas. Não é à toa que, no contexto das sanções ocidentais aplicadas ao país em 2022, a Rússia ampliou o alcance de sua política externa para a África, reaproximando-se do assim chamado Sul Global.

Além do mais, recentemente a Rússia prometeu às lideranças africanas assegurar o fornecimento de grãos necessários ao continente, atendendo assim aos anseios de segurança alimentícia regional.

Nos primeiros seis meses de 2023, por exemplo, a Rússia já exportou cerca de dez milhões de toneladas de grãos para a África. Não obstante, ainda em 2023 o comércio de produtos agrícolas entre a Rússia e o continente africano cresceu em torno de 60%.

Outra das questões que ilustra a proximidade entre russos e africanos nos últimos tempos são as interpretações em torno do conflito na Ucrânia. Ora, o plano de paz para o Leste Europeu elaborado pelas lideranças da África sugere justamente a suspensão do mandado de prisão a Putin emitido pelo Tribunal Penal Internacional, assim como a suspensão das sanções unilaterais aplicadas pelo Ocidente contra a Rússia.

A Europa, que desejava que a África seguisse os seus ditames com relação à condenação de Moscou, viu seus planos serem frustrados, sobretudo pela bem-sucedida realização da Cúpula Rússia-África, que teve lugar no final de julho em São Petersburgo.

 

No decorrer do fórum, aliás, ficou claro que a Rússia e a África defendem a "multipolaridade nas relações internacionais", reiterando a necessidade de estabelecer relações mais cada vez mais próximas, tanto no âmbito comercial quanto político.

Tal cenário se tornou inclusive mais vantajoso para o aumento da influência do BRICS na África. Afinal, vale lembrar que alguns países africanos (como Egito, Tunísia e Etiópia por exemplo) já manifestaram sua intenção de ingressar na associação, demonstrando seu crescente interesse pelo BRICS em um cenário de acentuado descrédito das potências europeias aos olhos do Sul Global.

 

Não obstante, o próprio Banco do BRICS já tem marcado sua presença na África. Além de seu escritório regional na África do Sul, o Egito hoje é um dos membros da instituição, ampliando assim o alcance global do Banco. No mais, na próxima Cúpula do BRICS a ocorrer na África do Sul ainda este mês, questões como a expansão do BRICS, envolvendo inclusive a adesão de outros países africanos ao bloco, certamente deverão fazer parte da pauta.

Tudo isso serve para demonstrar que, no despertar dessa nova era, a África caminha para se tornar um continente cada vez mais importante no cenário global.

Dessa vez, ao contrário do passado, essa importância se dará não mais pela exploração de seus recursos naturais pelas potências colonialistas europeias (esse recado já foi dado pelo Níger), mas sim por sua cooperação com novos polos de poder (como a Rússia, a China e o próprio BRICS) na construção de um mundo verdadeiramente multipolar.

 

FONTE:   Valdir da Silva Bezerra  -   no Sputnik Brasil

https://sputniknewsbr.com.br/20230815/uma-nova-corrida-pela-africa-como-as-grandes-potencias-tem-disputado-influencia-no-continente-29930919.html

 

A EXPANSÃO DO BRICS É UMA ÓTIMA NOTÍCIA

 

A expansão do Brics é uma ótima notícia

POR Hugo Albuquerque

Ao contrário do que diz a mídia, a expansão do bloco depois da última cúpula de Joanesburgo, na África do Sul, é um bom sinal de mudança global. As contradições internas dos 6 países admitidos não mudam isso, pois a possibilidade do Sul Global se integrar mais e ter sua própria moeda internacional são medidas que, na verdade, ampliam a liberdade.

 

A adesão de seis novos países ao Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul é uma ótima notícia. A cúpula sul-africana do bloco, inclusive, foi prestigiada por dezenas de países e mais de vinte fizeram pedido formal de entrada. Desta vez, entraram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Etiópia, Argentina e Egito.

Se o bloco original já era diverso, com jovens países como Brasil e África do Sul unidos a nações anciãs como China e Índia, agora é ainda mais: salvo os sul-africanos, todas as demais nações eram gigantescas. Dessa vez, teremos o acréscimo de países jovens que remetem à antiga civilização árabe – sauditas e emiradenses – ou Etiópia, Irã e Egito, países antiquíssimos, exceção feita apenas à jovem Argentina.

Há, é claro, muitas contradições. Podemos argumentar que embora a existência ou ampliação do bloco façam sentido do ponto de vista econômico e geopolítico, por outro lado, há imperfeições do ponto de vista da democracia e dos direitos humanos entre os aderentes e, até mesmo, os países já membros. Seja como for, a ampliação do bloco deve ser comemorada, porque certamente ela aponta para mais liberdade.

Liberdade importa?

Será que a presença da Arábia Saudita e do Irã ao bloco nos obriga a condenar sua adesão ou, de agora em diante, devemos silenciar sobre as violações dos direitos humanos perpetradas pelos seus governos? A resposta básica é: nem uma coisa, nem outra. A chegada desses países ao Brics conecta novas populações de centenas de milhões de pessoas e, assim, aponta para a possibilidade de mais liberdade econômica e política.

Quando a Arábia Saudita topa fazer de um bloco cujo banco de desenvolvimento é presidido por Dilma Rousseff, uma mulher que chegou a presidir um dos países fundadores do Brics, isso é uma vitória para as mulheres – até mesmo as sauditas e, naturalmente, tem de ir além disso. Quem tem de se explicar são os machistas brasileiros que aceitaram o impeachment ilegal dessa mesma Dilma.

A adesão de ricas petromonarquias como Arábia Saudita e Emirados Árabes produz a base material a ser utilizada para estruturar, no médio e longo prazo, um fundo monetário alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, países em dificuldades podem ser resgatados de forma racional e democrática, coisa que o FMI atual não faz, mesmo que seja controlado por assim chamados “países democráticos”, os quais são antes de tudo, ricos.

Esse mecanismo de resgate e, ainda, uma moeda comum para transações internacionais, como propôs o presidente Lula, é uma possibilidade concreta para o desenvolvimento do comércio e investimentos comuns que fortaleçam países de renda pequena, como a Etiópia e Índia, a países ricos como Arábia Saudita e Emirados Árabes – mas que são dependentes da exploração do petróleo -, passando por países de renda média como Brasil, Rússia, Argentina e China. 

Esse novo laço produz a possibilidade de mais liberdade, não menos, por que aumenta as opções e acesso a recursos para todos. Isso afasta populações inteiras do fantasma da fome, da pobreza ou mesmo ajudar na ação coordenada de emergências globais como a pandemia de Covid-19, na qual países ricos trabalharam para monopolizar o recebimento das primeiras doses das vacinas.

Precisamos ser coerentes: integrar mais é melhor

Hoje, muitos países ricos são “democráticos”, mas a ausência de socialismo os expõe a contradições perigosas. Se do ponto de vista interno, esses países ricos permitiram certas conquistas de direitos, fruto das lutas de trabalhadores e movimentos sociais, por outro lado, é impossível negar que países como Estados Unidos, Reino Unido e França são opressivos do ponto de vista externo.

Problematizar o conflito russo-ucraniano e a ação de Moscou não pode ser feita com pesos e medidas diferentes do julgamento sobre a ação global dos Estados Unidos em outros países. Muitos das mídias que condenam a chamada Operação Z na Rússia, pelo contrário, apoiaram a invasão norte-americana no Iraque amparada em notícias falsas — como apenas mais tarde, e com muitas mortes depois, foi admitido por grandes jornais americanos.

“Assim, os brasileiros podem conhecer realidades socialmente justas e os árabes podem encontrar sociedades mais livres, aprendendo mutuamente.”

No mais, se sanções ajudassem a mudar qualquer coisa, o Irã já seria o lugar mais livre do mundo. Não é o caso. Integrar mais é pedagógico. Assim, os brasileiros podem conhecer realidades socialmente justas e os árabes podem encontrar sociedades mais livres, aprendendo mutuamente. Muitas das civilizações milenares dos Brics têm a aprender com o Brasil do ponto de vista externo, uma vez que nosso país não tem histórico de invasões, mesmo fazendo fronteira com países menores.

A contradição é da existência, mas não podemos negar que mais integração gera mais solidariedade e a possibilidade de encontros transformadores. A expansão do Brics é, na sua concretude e imperfeições, algo da ordem da realidade – e é um fato a ser comemorado. Na noite de hoje, mais seres humanos estarão integrados.

Hugo Albuquerque

é publisher da Jacobin Brasil, editor da Autonomia Literária, mestre em direito pela PUC-SP, advogado e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia (IHUDD).

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

CHINA - MERCADO E SOCIALISMO - FÔRÇAS PODEROSAS EM EXPANSÃO

 

China, o fascinante voo do dragão

Como a emergência de um país que rejeita dogmas neoliberais, e está construindo o Comum, pode sacudir um Ocidente às voltas com desigualdade, estancamento econômico, devastação ambiental e fascismo. Crônica de uma viagem

 

Antonio Martins    10 de agosto, 2023    Outras Palavras

Antonio Martins é editor de Outras Palavras.

 

Entender a China é vital. Todos têm opiniões, simplificações, mas não compreensão das dinâmicas.A China representa avanços vitais, nas soluções de redução da pobreza, no combate à mudança climática, às formas de gestão descentralizada e participativa no território. Incorpora soluções de visão socialista, bem como mecanismos de mercado: é um sistema que funciona, e se ajusta permanentemente, à medida que evoluem as tecnologias e os desafios.Outras Palavras está ajudando na compreensão deste universo, com uma série de artigos. A China é importante demais para que continuemos a receber apenas slogans simplificadores.

– Prof. Ladislau Dowbor

 



Cravada a 2,4 mil quilômetros de Pequim, mas a apenas duzentos da fronteira com o Vietnã, a estação ferroviária de Nanning é um das joias de infraestrutura que povoam a paisagem chinesa. Inaugurada em 1951, dois anos após a revolução liderada por Mao Zedong, ela foi reconstruída por inteiro em 2013. A área de seu saguão principal equivale à de seis campos de futebol, com pé direito de 48 metros. Agora, por lá passam também algumas das linhas da maior rede de trens de alta velocidade do mundo, que tem 35 mil quilômetros é e duas vezes mais extensa que todas as outras somadas.

Mas o gigantismo não ofusca a delicadeza. Os passageiros aguardam os trens em poltronas confortáveis – boa parte delas com massageador. O acesso às composições, que partem do andar subterrâneo, se dá por meio de portões de embarque semelhantes aos dos aeroportos, porém silenciosos. Há restaurantes e lojas, mas nenhum painel publicitário. A arquitetura inspira-se nas varandas da região de Guangxi. O ar é ameno. Apesar do imenso volume da estrutura, os verões indóceis da cidade (a temperatura pode chegar a 39ºC e a umidade produz sensação permanente de estufa) são suavizados por um sistema que combina ar condicionado e cortinas eletrônicas de vento. Duas linhas de metrô ligam a estação à cidade. A energia é fornecida por painéis fotovoltaicos.

Também fora da estação, tudo parece novo em Nanning: os prédios – alguns muito altos – de apartamentos ou escritórios, o transporte público, os sistemas que mantêm limpas as águas do largo rio Yong, o asfalto das ruas e até parte das árvores, escoradas por estacas que indicam plantio recente. A reurbanização da cidade – tinha 1 milhão de habitantes em 2002 e atingiu 8,5 milhões no ano passado – é uma pequena parte do movimento que livrou da pobreza, nas últimas três décadas, o equivalente a três Brasis.

A ação tornou-se intensa a partir de 2015. Vizinha à próspera Guangdong – fulcro da grande abertura da economia chinesa, em 1992 – a província de Guangxi havia ficado para trás. Lá, 32% da população é de origem zhuang (a maior minoria étnica do país) e 44% viviam na zona rural. Seu PIB per capita equivalia a apenas 60% da média nacional; 10,5% (ou 6,4 milhões de pessoas) viviam na pobreza. À época, Xi Jinping enunciava o objetivo de “prosperidade comum”, que revia, ao menos em parte, o padrão de desenvolvimento até então vigente.

A base para o resgate de Guangxi foi o investimento público maciço, que se estendeu muito além da transformação urbana. O Estado lançou um esforço meticuloso para identificar os focos e causas de pobreza rural – muitas vezes oculta em rincões remotos – e um movimento peculiar para superá-la, que examinaremos em detalhe mais tarde. Preservou-se a pequena propriedade camponesa. Estimulou-se entre outras atividades, em Guangxi, o processamento do chá, de ervas da medicina chinesa e de frutas. Cinco anos mais tarde, o processo estava concluído em todo o país.

A força do dragão chinês é conhecida. A partir de 1977, a economia viveu um processo sem precedentes de industrialização, urbanização e avanço tecnológico. O país tornou-se a grande fábrica do mundo, e evoluiu da produção de têxteis e bugigangas eletrônicas baratas para bens e serviços sofisticados. Suas exportações são quase 50% superiores às dos EUA e o triplo das japonesas. A produção de riquezas materiais, quando medida pelo PIB, passou de menos de 3% a mais de 20% do total mundial e superou a dos Estados Unidos, segundo o critério que despreza a valorização artificial das moedas e considera a produção real.

Mas, previsivelmente, quase não se fala sobre o novo voo do dragão – aquele que poderia inspirar um Ocidente às voltas com múltiplas crises e acossado pelo fascismo. A eliminação da pobreza, as transformações como a de Guangxi, os novos saltos na Educação e Ciência ou os êxitos no combate à poluição e na transição energética não se devem apenas do crescimento do PIB. Derivam de uma virada política, que colocou a China na contramão da ortodoxia neoliberal e lhe permitiu evitar a armadilha rentista.

A partir da crise global dos mercados financeiros em 2008 – e em especial após o início do mandato de Xi Jinping, quatro anos depois – Pequim iniciou uma nova flexão em seu projeto. A mudança pode tornar-se, ao longo do tempo, tão profunda e relevante quanto a comandada, após 1978, por Deng Hsiaoping. Mas o sentido é distinto. Numa economia então estatizada, Deng liderou a abertura às lógicas de mercado, à empresa privada e às corporações transnacionais. A atitude salvou o país do colapso que pôs fim ao “socialismo real”. O novo giro, ao contrário, reverte o peso das relações mercantis como força dirigente da economia e das relações sociais. Enfatiza, em vez disso, a necessidade de construir o Comum, com base numa ação incisiva do Estado para promover a igualdade e a prosperidade de todos. E estabelece mecanismos de planejamento e direção econômica inovadores, por não se basearem na estatização burocrática que caracterizou a experiência soviética.

O giro de Xi não significa uma ruptura radical em relação ao de Deng. A China não quer se desfazer do capital externo ou das empresas privadas. O Estado continua a atraí-las e estimulá-las. Mas as duas marcas principais do processo de desenvolvimento agora são outras. A primeira é o investimento público maciço voltado ao bem-estar das maiorias. Ele eclipsa, em boa medida, a reprodução das relações capitalistas. Porque produz, ao contrário destas, igualdade e desmercantilização das relações sociais.

É fácil compreender. Quando as políticas de Saúde do Estado, por exemplo, apostam em seguros privados, o acesso aos serviços médicos passa a ser mediado pelo dinheiro e se torna, por isso, desigual. Cada indivíduo obtém aquilo que pode comprar – de hospitais com hotelaria cinco estrelas a clínicas populares precárias. Mas se o mesmo Estado oferece a todos redes públicas de médicos de família e hospitais de excelência, ele garante acesso igualitário e desconstrói a proteção privada – pois a torna supérflua.

O investimento público chinês é complementado pelo novo planejamento – ou projetamento, como preferem denominá-lo autores como Elias Jabbour. Mesmo nos momentos de maior abertura, o Estado chinês não deixou de definir condições gerais para atuação da empresa privada. Mas a partir de Xi esta ação tornou-se mais intensa – inclusive porque, numa sociedade mais rica, cresce a força dos grandes grupos privados e das relações capitalistas. Parte da ação estatal tem sentido defensivo. Ao contrário do que ocorre no Ocidente, as Big Techs chinesas são controladas. Em 2021, o Grupo Alibaba foi impedido de lançar o que poderia vir a ser uma moeda digital própria, capaz de submeter as relações sociais a sua própria lógica. Em 2022, o Estado extinguiu o negócio, então disseminado e exuberante, das aulas privadas de reforço escolar. Considerou que elas davam vantagens aos filhos das famílias mais ricas, no acesso às melhores instituições de ensino públicas.

O aspecto principal do projetamento, contudo, é induzir os agentes econômicos. Marx chamou de “anarquia da produção” ao caos que inevitavelmente se produz quando os capitalistas, movidos por seus interesses particulares, investem em atividades que tendem a ser destrutivas, social e ambientalmente. Na China, as empresas privadas estão em toda parte. Respondem por 80% do emprego urbano. Mas o Estado age para conduzi-las, por meio de um feixe de mecanismos como o crédito (concentrado em bancos públicos), os tributos, a criação de infraestrutura e a ação das estatais, dominantes nos setores estratégicos.

Um dos resultados é limitar a exploração dos trabalhadores. O salário médio por hora na indústria chinesa triplicou entre 2005 e 2016, segundo a Organização Internacional do Trabalho e atingiu US$ 3,60. Segue em alta (veja gráfico abaixo, da mesma fonte, para o período 2008-2022). Já era, há sete anos, 33% maior que no Brasil e 71% superior ao do México. A melhora das condições de vida e a transformação da infraestrutura, resultados do novo voo do dragão, espalham-se pela paisagem chinesa e serão examinados em detalhe, em textos futuros. Vale a pena apontar de relance, desde já, os efeitos do mesmo movimento num ponto determinante do debate político atual: as relações entre o ser humano e o ambiente.



Os anos da grande abertura econômica produziram, na China um aumento da contaminação e das emissões de CO². O uso do carvão, base histórica da matriz energética, intensificou-se. O país tornou-se conhecido por imagens de cidadãos mascarados e aflitos, sob os céus sempre turvos de Pequim ou Shangai. Eclodiram desastres ecológicos como a contaminação dos solos, a desertificação, secas e inundações extraordinárias em grandes rios como o Yangtze e o Amarelo.

O roteiro é um clássico. Da Inglaterra no início do século XIX à Índia e ao Vietnã contemporâneos, a industrialização foi sempre marcada por uma relação alienada, que vê a natureza como “recurso” a ser domado e explorado. As causas variam: da falta de consciência ecológica à chantagem do capital – que aceita deslocar suas indústrias, desde que contemplado com regras ambientais frouxas.

O que não está no script é um país do Sul Global assumir liderança na despoluição de sua sociedade e na conversão para energias limpas. Os primeiros sinais de preocupação ecológica na China vêm do início dos anos 1970, com políticas internas limitadas e participação tímida na Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente, da ONU (1972) e na Rio-92. A mudança significativa começa há pouco mais de dez anos, já no período de Xi Jinping. Em 2012, o 18º congresso do Partido Comunista Chinês afirma que construir uma “civilização ecológica”, é um dos cinco “objetivos do desenvolvimento nacional”.

Outra vez, os resultados são obtidos por meio de investimento público e a condução, pelo Estado, dos agentes privados. No primeiro trimestre de 2023, a capacidade de geração de energia solar na China atingiu 228Gw – equivalente a dezesseis usinas de Itaipu, e mais que a de todos os outros países do mundo somados, segundo a organização norte-americana Global Energy Monitor. Mais 379Gw estão sendo instalados. A geração eólica ultrapassou 310Gw, o dobro de 2017 e o equivalente à soma dos sete países seguintes juntos. Em 2022, o país fabricou 80% dos painéis solares e 57,4% dos veículos elétricos do mundo.

Os resultados políticos do investimento público em favor do bem-estar chamam atenção. Há um vasto debate a ser feito sobre os sistemas institucionais do Ocidente e da China. O que se dirá a seguir não é uma tentativa simplista de apresentar as formas de governo chinesas como superiores – e este tema será retomado. Mas é preciso deixar que os fatos falem. Em março deste ano, a fundação Aliança de Democracias (AoD) sondou, em 53 países, a percepção de suas populações a respeito do caráter dos regimes políticos respectivos. A pesquisa denomina-se “Índice de Percepção de Domocracia”. Fundada por Anders Rasmussen, até há pouco secretário-geral da OTAN, a AoD é abertamente pró-ocidental. Mas a enquete revelou que 73% dos chineses consideram seu país “democrático”, enquanto o percentual cai para 54% nos EUA, 53% na Holanda e 49% na França. Uma das causas centrais parece estar no fato de que 58% dos norte-americanos acreditam que seu sistema político serve “à minoria”. Na China, são apenas 10%.

There is no alternative, disse Margareth Thatcher, e cunhou a frase que se tornou emblema do neoliberalismo. Pode haver, em meio à crise civilizatória em que mergulhou o planeta, um país onde as maiorias acreditam que o Estado age em seu favor – e em que esta opção é bem sucedida?

Ao longo do tempo, a liderança chinesa soube tirar proveito das ideias vindas do exterior, sempre que as julgou adequadas a seu projeto. Num mundo idílico, livre da luta de classes e de suas misérias, as soluções chinesas seriam agora examinadas pelas elites ocidentais com atenção e interesse; e em seguida adaptadas e incorporadas, ao menos em parte.

Há um motivo para que isso não ocorra. A China avança sobretudo porque contraria os dogmas que mantêm em pé o edifício ideológico neoliberal; e em especial, por ter evitado o rentismo, a forma ultraparasitária de captura da riqueza coletiva que caracteriza o capitalismo contemporâneo. A riqueza coletiva que lá assume a forma de investimentos públicos, modernização da infraestrutura, valorização dos salários ou transição energética, aparece no Ocidente transmutada em múltiplas demonstrações de fausto individual e regalias. Mas expressa-se sobretudo na “exuberância irracional” dos mercados financeiros; nos mega-fundos globais de investimento, que acumulam patrimônio superior ao PIB dos EUA; nos paraísos fiscais onde os muito ricos mantêm seu dinheiro para se livrar de impostos; na corrupção permanente do sistema político pelo poder econômico, raiz da crise que consome a democracia.

Aprender com a China significaria, para a classe rentista que passou a governar o capitalismo, abrir mão de seus privilégios e desconstruir a si mesma. Por isso, ao invés de olhar para a experiência chinesa, fazem-se curiosos esforços para evitar que ela seja examinada. Busca-se isolá-la; bloquear os caminhos por onde avança; se possível, provocar seu fim.

Na esfera econômica, os EUA e seus aliados fazem-no por meio de uma guerra comercial que nega a globalização – seu projeto mais caro por décadas – para tentar evitar que Pequim tenha acesso aos chips mais avançados e possa assumir liderança também em tecnologias como a inteligência artificial. No plano geopolítico, os EUA mergulharam, desde Barack Obama, em um giro para a Ásia. Para isso, aceitaram abrir mão de controlar o Oriente Médio – até então seu objetivo estratégico central. O movimento acirrou-se sob Donald Trump e não refluiu com Joe Biden. Em seu movimento mais recente, Washington tenta atrair a China, em Taiwan, para uma cilada semelhante à que armou para a Rússia na Ucrânia.

Mas é no terreno da luta de ideias que a ofensiva anti-Pequim torna-se intensa e quotidiana. E surge uma virada reveladora. A China foi, durante muitos anos, enaltecida pelos políticos e ideólogos do establishment ocidental. Milton Friedman e Margareth Thatcher visitaram-na e se entusiasmaram. Na narrativa dos neoliberais, o país era visto como prova da inevitabilidade do capitalismo. A União Soviética caíra. A abertura chinesa à empresa privada supostamente confirmava que era inútil e tolo desafiar a supremacia dos mercados. O Partido Comunista governava, é verdade. Mas o fim deste resquício maoísta e a emergência de uma democracia liberal eram apenas questão de tempo. Além de tudo, os chineses usavam seus superávits comerciais gigantescos para financiar, com compras maciças de treasuries, o déficit comercial dos Estados Unidos…

A lua-de-mel azedou quando ficou claro que a China não tencionava submeter-se – e tinha outro projeto. Agora, voltam à cena as armas conhecidas da demonização. Para que suas políticas antineoliberais  não “contaminem” o debate político, Pequim é apresentada nas mídias do Ocidente como uma espécie de mundo inferior, incomunicável. Dados como os vistos acima, sobre o aumento expressivo dos salários reais e o avanço da transição energética, causariam impacto, se fizessem parte do debate corrente. Para bloquear este risco, mobilizam-se os preconceitos. O país é apresentado como uma ditadura autoritária, em que a população trabalha sem direitos, não desfruta das liberdades básicas e é obrigada a engolir ordens impostas de cima.

Livros como o recente Como a China escapou da terapia de choque, de Isabella Weber, descrevem as polêmicas intensas e às vezes prolongadas que precedem, em Pequim, a tomada de decisões cruciais. Quem lê os jornais e os artigos dos think tanks chineses disponíveis em inglês dá-se conta de como são tratados, aberta e extensamente, problemas como desemprego juvenil, a redução do crescimento econômico pós-pandemia ou os riscos à privacidade representados pelo reconhecimento facial. De nada serve: para as mídias ocidentais, a China continua a ser o deserto de debate de ideias.

Nos séculos XVI e XVII, os missionários jesuítas que foram à China trouxeram ao Ocidente o pensamento de Confúcio. Traduziram-no e o publicaram. Julgaram que, por defender uma ética sem deus e sem fantasias em relação à vida pós-morte, o filósofo não concorria com as crenças cristãs. Suas ideias, imaginaram, podiam ser incorporadas à doutrina hegemônica, que se tornaria mais rica. No século XXI, um neoliberalismo convertido em dogma não é capaz de fazer o mesmo com as saídas chinesas para a crise global…

A poética política que a China projeta também incomoda à esquerda, quando esta é romântica. Pequim parece-lhe impura: aceitou a lógica suja dos mercados, quando isso lhe foi indispensável. E mesmo hoje, quando é um nítido contraponto ao credo capitalista, o processo chinês não cabe no figurino das velhas ideias de revolução. Xi Jinping parece simpático e bem humorado. Mas como compará-lo, segundo certa estética, a Lênin e Trotsky, celebrando no Smolny a vitória da revolução; ou a Fidel e o Che, em meio a guerrilhas, charutos, salsa e rum?

A ilusão romântica tem um preço. Mais de trinta anos após o fim da União Soviética, a esquerda no Ocidente não foi capaz de formular um projeto alternativo. E quase nunca reconhece que ele é necessário, diante das imensas mudanças operadas, desde o pós-II Guerra, na produção e captura das riquezas, na estrutura de classes, na natureza e composição do poder político e nas relações sociais. Divide-se entre um pragmatismo eleitoral cego e uma nostalgia diante de uma classe operária que já não existe e das revoluções que ficaram para trás.

A poética chinesa, ao contrário, é antropofágica. Parece não crer em ideal. Deglute e transforma o que lhe serve. Não se vê como modelo. Reconhece o experimento e o erro. Sua trajetória está transformando o mundo. Por desprezar a perfeição, é um convite fascinante à criação política.

Visitei Pequim e a região de Guangxi entre 12 e 26 de julho, a convite da embaixada chinesa em Brasília e do Grupo Internacional de Comunicações da China. Este é o primeiro de uma série de textos originados da viagem e de um longo acompanhamento da realidade do país, que segue em curso. O objetivo político é explícito: verificar de que forma as políticas chinesas podem ser contraponto à onda de regressão e pessimismo que marca o Ocidente.

FONTE: https://dowbor.org/2023/08/china-o-fascinante-voo-do-dragao.html?fbclid=IwAR2wVCvxrWwML4YjSrBszKy6hDWvvA6G58FqgJSLSY9M2CAqQ_XkUYj-lFw          

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