domingo, 25 de agosto de 2024

O ABC da Geopolítica Mundial.

O ABC da Geopolítica Mundial.

Breno Altman desvenda as relações Norte Sul e o surgimento do mundo multipolar, no post "O Brasil deve se aliar com EUA e Europa ou com China e Rússia?"  - Análise de Breno Altman",   que transcrevemos  de seu programa “20 minutos Analise” do Opera Mundi no You Tube no endereço abaixo:   https://www.youtube.com/live/ECtv9m6eHyw

Bom dia hoje é 13 de agosto de 2024. Meu nome é Breno Altman. Está começando mais um programa 20 minutos análise. O mundo está em polvorosa, da Ucrânia à Venezuela, da África Ocidental ao Oriente Médio. Um terremoto passa por todos os continentes. A ordem mundial estabelecida em 1991 dá múltiplos sinais de colapso. A crise mundial do capitalismo especialmente a partir de 2008 foi solapando a hegemonia mundial dos EUA conquistada após o triunfo na Guerra Fria  contra a União Soviética e o sistema socialista .  Qual é a perspectiva desse novo ambiente ?

Contexto histórico  internacional. Como deve ser lido e compreendido. Quais as lições que podem ser tiradas para a política externa brasileira. Quais os aliados e os inimigos nesse cenário ? Esses serão os pontos de minha exposição nessa terça-feira 13 de agosto de 2024.  

 

 ORDEM MUNDIAL BIPOLAR

 Mas vamos passo a passo. De 1945 a 1991, por 46 anos, o planeta esteve recortado por . De 1945 a 1991, por 46 anos, o planeta esteve recortado por uma contradição principal que determinava todas as situações regionais e nacionais: o confronto entre o sistema capitalista liderado pelos Estados Unidos e o sistema comandado pela União Soviética. A ordem mundial era BIPOLAR. O sistema capitalista havia sofrido uma fortíssima reformulação depois da Segunda Guerra Mundial.  É só então que nós podemos falar na criação de um sistema imperialista. Antes da 2ªGM nós tínhamos estados imperialistas que inclusive guerreavam entre si como na 1ªGM e parcialmente na própria Segunda Guerra Mundial. Depois da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos adquirem absoluta hegemonia sobre os países capitalistas e iriam construir um sistema imperialista com instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e também instituições militares como a OTAN que é um sistema vertical com um comando,  o comando norte-americano, com todos os demais países  capitalistas se subordinando aos Estados Unidos nesse sistema imperialista criado depois da Segunda Guerra. O mesmo aconteceria no sistema socialista, depois da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética já não era mais o único país socialista do mundo, cria-se um campo socialista na Europa formado por diversos países que se libertaram da ocupação nazista e do próprio capitalismo, vindo a integrar com a União Soviética um sistema socialista que também era vertical também tinha um centro de comando e esse centro de comando era exercido pela União Soviética.  Portanto não eram Campos ou Blocos mas Sistemas hierarquicamente constituídos com instituições financeiras e militares que expressavam o estágio mais elevado da luta de classes no plano internacional entre a burguesia e a classe trabalhadora. Cada uma dessas classes exercendo sua direção sobre sua própria coalizão de estados.

É claro que havia muitas Nações que não se incorporavam a esses sistemas havia países socialistas como a Yugoslávia e a China por exemplo, que tinham entrado em choque com a União Soviética a partir de distintos momentos e por diferentes razões se colocavam fora do sistema socialista comandado por Moscou. Também tínhamos sociedades que se libertavam do colonialismo e indicavam a intenção de seguir por um rumo socialista mas não estavam incorporadas ao sistema liderado pelos soviéticos. Por outro lado havia estados capitalistas e até pré-capitalistas que tinham no sistema imperialista liderado pelos Estados Unidos seu principal inimigo ainda que esses estados fossem governados por frações burguesas ou feudais locais. Um bom exemplo dessa situação eram países árabes como Iraque, Líbia, Síria e até o Egito onde correntes nacionalistas assumiram o governo nas décadas de 1950 e 1960. Esses  países que não integravam qualquer dos dois sistemas vieram a se articular no movimento dos Não Alinhados criado a partir dos princípios aprovados na famosa conferência de Bandung na Indonésia em 1955.

 

O TERCEIRO MUNDO  - MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS.

Esse movimento ainda existe, chegou a ser integrado por 120 Nações na sua imensa maioria da África e da Ásia e também da América Latina, era o chamado Terceiro Mundo em uma teoria pouco rigorosa a teoria dos Mundos pela qual o Primeiro Mundo seriam as nações capitalistas mais ricas, o Segundo Mundo estaria integrado pelos países socialistas e o Terceiro Mundo ficaria para classificar a periferia dos dois sistemas: a periferia do sistema socialista que não se integrava a esse sistema como era o caso de Cuba e a periferia do sistema capitalista.

Na época da guerra o movimento dos não alinhados teve um papel muito relevante embora autônomo na sua constituição, seu viés era declaradamente anticolonialista e anti-imperialista o que efetivamente levava esse movimento a ser um aliado estratégico do sistema socialista. Afinal tinham o mesmo inimigo: esse inimigo era o sistema imperialista liderado pelos Estados  Unidos.

 Desde a sua Fundação formal em 1961 até o fim da União Soviética em 1991 os principais estados do Movimento dos Não Alinhados foram Yugoslávia, Índia e Cuba com a China mantendo uma posição ambígua em função das suas desavenças com os soviéticos e da sua aproximação com os norte--americanos nos anos 70. A China teve um papel muito importante na criação do Movimento dos não alinhados nos anos 50 e 60 mas depois se afasta do Movimento dos não alinhados porque suas desavenças com a União Soviética passam a ser cada vez mais radicais e a China opta por um caminho de aproximação com os Estados Unidos nos anos 70 .

 

 ORDEM MUNDIAL UNIPOLAR. Com o colapso do sistema socialista em 1991 no entanto esse cenário mudou, o sistema imperialista fundado pelos Estados Unidos depois da 2ªGG passou a exercer seu domínio em todos os aspectos político econômico militar e cultural sem a existência do sistema socialista. Portanto, a partir de 1991 o mundo passa a ser UNIPOLAR, um sistema hegemônico exercido pelos EUA com o seu grande poderio militar incontestável.  Os não alinhados perderam força, se fragmentaram e se isolaram, com os Estados Unidos intervindo por todos os meios para desmontar qualquer outros planos hegemônicos. Países foram destruídos e despedaçados como a Yugoslávia enquanto outros foram invadidos e seus governos derrubados como foram os casos do Iraque e da Líbia.  Enquanto muitos outros países foram sugados pela dinâmica econômico-financeira do sistema imperialista e outros países ainda dispostos a resistir a exemplo de Cuba, Coreia do Norte, Irã foram cada vez mais bloqueados e marginalizados a partir do século XXI. 

 

(ADENDO ÀS INFORMAÇÕES DO BRENO :  Deve-se recordar aqui que mesmo antes das ordens mundiais Bipolar e Unipolar, antes mesmo da 2ªGM, o sistema imperialista americano (que era um dos sistemas imperialistas capitalistas, havia também o Britânico, o francês, etc – não era único) já intervia, pressionava e promovia invasões, golpes de estado e outros movimentos nos países do Terceiro Mundo,  para derrubar regimes democráticos eleitos pelo povo quer sejam socialistas ou nacionalistas – desde que fossem contra os seus interesses imperialistas. Esses movimentos foram cruéis, promoveram massacres contra populações inteiras (o caso da Indonésia – foram assassinados mais de um milhão de pessoas ligadas à partidos de esquerda num golpe que derrubou uma democracia para implantar uma ditadura militar com apoio americano) diretamente ou indiretamente financiando grupos fascistas e anti-populares, com muito dinheiro e ações de sabotagem apoiadas  pela CIA, etc. Segundo o  historiador indiano Vijay Prashad, seu  livro Balas de Washington é uma síntese da longa história de lutas dos povos do Terceiro Mundo pela libertação e por sua própria independência, mas que foram impedidos por golpes, assassinatos e massacres promovidos pelos EUA para que estes povos continuassem sob seu jugo imperialista….”queriam conter a onda que varreu a Revolução de Outubro de 1917 e as muitas ondas que açoitaram o mundo para formar o movimento anticolonial”.. O jornalista e ex-professor Urias Rocha, da UFMS realizou uma breve cronologia das invasões e ataques dos Estados Unidos ao redor do mundo nos últimos 150 anos – de 1846 a 2020. A quantidade de mortes pelas quais são responsáveis é de aproximadamente 110 milhões de pessoas. Nunca foram denunciados formalmente ante tribunais internacionais. Algumas delas: México (1846-48 – anexação do Texas); Chile (1891); Haiti (1891); Havaí (1893); Nicarágua (1894); China (1894-95); Coréia,Panamá, China, Filipinas, Cuba, Porto Rico, Espanha, Nicarágua, Samoa, Nicarágua e Panamá (alguns várias vezes,até 1901); Honduras, República Dominicana, Coréia, Cuba, Nicarágua, Honduras, China (até 1912)... Coréia (1951-53. 3 milhões de pessoas morreram); Guatemala (1954); Egito (1956, Nasser); Líbano (1958); Vietnã (1961-1975, 3 milhões de vietnamitas morreram e 60 mil soldados americanos...Entre outros.. Eles foram eficientes nestas missões ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, pois poucos países conseguiram se emancipar de seu domínio imperialista. Os que conseguiram tiveram apoio do lado socialista. Se considerarmos apenas o período Bipolar, nenhum país do Terceiro Mundo (com exceção da Coréia do Sul que se tornou um país desenvolvido) conseguiu sair das amarras do império, não conseguiram se desenvolver economicamente, continuaram pobres e subdesenvolvidos. Com exceção apenas de Cuba, Angola, Moçambique, Vietnam e países próximos à China e Rússia que tiveram apoio destes. Fonte para estes dados:  https://blogdodamirso.blogspot.com/2022/09/porqueos-paises-pobres-continuam-pobres.html ).

 

 SURGEM  AS CONDIÇÕES PARA O  MUNDO  MULTIPOLAR. 

Quatro fenômenos concomitantes foram desafiando a hegemonia exercida pelos Estados Unidos: o primeiro fenômeno foi o acelerado e robusto desenvolvimento econômico da China, que se torna a maior potência econômica produtiva do mundo em dólares PPC (Paridade do Poder de Compra) O segundo fenômeno foi a restauração soberana do Estado Nacional Russo. Putin recupera o potencial econômico da Rússia, aumentando estatais e produzindo armas – é a maior produtora de ogivas nucleares do mundo. O terceiro fenômeno foi a resistência de nações com maioria islâmica ao sistema imperialista especialmente do Irã. O quarto fenômeno foi a emergência de governos progressistas na América Latina a partir da eleição de Hugo Chaves na Venezuela em 1998.  Esses quatro processos entrelaçados a outros mais foram alimentados pela grande crise financeira do capitalismo em 2008, a partir da qual a agenda da burguesia imperialista dos países capitalistas avançados, torna-se cada vez mais agressiva.  A recuperação da taxa de lucro passava a depender do rebaixamento de salários e direitos trabalhistas, de impostos mais baixos sobre o capital,  da obtenção de novos mercados e fontes abundantes de matéria prima barata, da conquista de reservas energéticas.  Essa agenda tem implicado para a América Latina em uma radicalização das relações de dominação entre centro e periferia principalmente através do aprofundamento da Divisão  Internacional do Trabalho. Dessa divisão internacional do trabalho que vem sendo construída desde os anos 80 na etapa do neoliberalismo com o subcontinente latino-americano que vem  interrompendo seus processos de industrialização e voltando a ser um fornecedor de matérias primas e produtos agropecuários. Essa divisão internacional do trabalho vem se aprofundando como parte da resposta da burguesia imperialista à crise do capitalismo agravada a partir de 2008. A diferença fundamental dessa vez é que África e América Latina além da Ásia deixaram de ser territórios livremente disponíveis para o sistema imperialista. A  China ao transitar de exportadora de mercadorias para exportadora de tecnologias e capitais, além de ser uma grande importadora de commodities tornou-se forte rival na disputa por alianças e um grande obstáculo para a agenda do capital ocidental.  Essa situação tem provocado a erosão da hegemonia do sistema imperialista que recorre cada vez mais agressivamente aos seus dois pilares de sustentação : o predomínio do dólar como moeda mundial e a supremacia militar.

 

CAMPO ANTI-IMPERIALISTA

Ainda assim a ordem mundial de 1991 vem se deteriorando com velocidade incrivel, favorecendo as condições objetivas e subjetivas para o surgimento de um campo anti-imperialista que leve o mundo da ordem Unipolar de 1991 para uma ordem multipolar.  Esse campo anti-imperialista não é um sistema como na era da Guerra Fria, mas um bloco composto por distintos sistemas econômicos sociais e políticos que confluem na sua contradição no seu antagonismo contra o sistema imperialista.  Participam desse Campo anti-imperialista em formação desde estados socialistas como a própria China cujas características atuais são bem distintas da União Soviética,  até nações capitalistas periféricas com governos nacionalistas ou progressistas passando por repúblicas teocráticas  como o Irã.  Este é o confronto atual: um sistema imperialista e um campo anti-imperialista.  O primeiro passo estratégico para a articulação desse Campo em termos mundiais foi a criação dos Brics em 2009, durante reunião realizada na Rússia. Essa articulação econômica formada inicialmente por Brasil, Rússia, India,  China e África do Sul são as siglas do Brics. E essa coalizão formada inicialmente por estes cinco países em 2023 ganhou adesão de  Argentina, Egito, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Etiópia a partir de 2015.

 

OS BRICS

Os Brics passaram a ter um banco de investimento chamado NDB é a sigla para o nome em inglês do banco New Development Bank, Banco do Novo Desenvolvimento,  é um banco que atualmente é chefiado pela ex-presidenta brasileira Dilma Roussef,  aglutinando países que respondem por mais de 70% das reservas mundiais de petróleo, entre outras riquezas. Os Brics representam (dados de 2022)  36,6% do PIB Global contra 29,98% do G7,  a Cúpula do sistema imperialista. Aquela cúpula que é formada por Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Japão, Canadá e Reino Unido.  Por ser limitado ainda ao campo econômico os Brics são uma articulação econômica e não uma articulação geopolítica. Os Brics operam para desdolarização da economia mundial e a Constituição de uma institucionalidade financeira independente,  tanto dos Estados Unidos quanto da União Europeia e do Japão. Uma institucionalidade financeira progressivamente independente do FMI ou do Banco Mundial,  ainda que haja aliados geopolíticos dos Estados Unidos entre os integrantes do Brics como é o caso do Egito e da Arábia Saudita. Os  Brics+ (Brics mais) que é o seu novo nome depois de 2023, depois da adesão desse novo grupo de países, os Brics trabalha mais objetivamente para minar um dos pilares da sustentação do sistema imperialista, ao mesmo tempo em que ganha musculatura para oferecer fontes alternativas de financiamento que não estão condicionadas às mesmas regras e interesses do bloco liderado pelos Estados Unidos.

Veja Bem pessoal não se trata de ingenuidade sobre os objetivos da China e de seu principal aliado a Rússia,  mas de uma análise concreta dos propósitos que tem essas duas Nações, China e Rússia com a crescente polarização contra os Estados Unidos ,ambos países China e Rússia necessitam de Aliados que se descolem do sistema imperialista.  O que torna impositivo propor um programa multipolar baseado no respeito à diversidade de sistemas e interesses com reflexos sobre as próprias instituições mundiais.  China e Rússia necessitam defender a diversidade e a pluralidade,  não por uma questão moral, não porque sejam a  priori moralmente superiores que quaisquer outros estados, mas por uma polarização contra os Estados Unidos,  Rússia e China precisam de apoios e esses apoios somente podem ser construídos se tanto China quanto Rússia oferecerem essa pluralidade, essa diversidade de sistemas, sem querer impor modelos políticos, sem querer impor modelos econômicos, sem querer impor regras draconianas, sem querer impor planos que permitam exclusivamente o seu próprio desenvolvimento sem atentar pro desenvolvimento alheio, como ocorre com os Estados Unidos que  para manter o sistema fundado depois da Segunda Guerra Mundial  precisam da maior verticalidade possível do maior grau de submissão que puderem obter da aceitação como Universal do seu modelo político e econômico.  Tudo isso fica claro na sua estratégia belicista das sanções unilaterais que adota contra Nações que desafiam sua hegemonia e até mesmo no comando absoluto sobre Aliados históricos como a União Europeia.  Basta ver a submissão da União Europeia aos Estados Unidos tanto no que diz respeito à guerra da Ucrânia quanto no que se refere à questão Palestina, a Europa chega a aprovar resoluções contra os seus próprios interesses em função da verticalidade imposta pelos Estados Unidos no sistema imperialista.  A Europa aderiu às sanções contra a Rússia ainda que  essas sanções tenham provocado escassez de combustível e encarecimento brutal na aquisição de petróleo e gás trazendo inflação para os países europeus ao mesmo tempo em que geravam riqueza para empresas norte-americanas.  Ainda assim a União Europeia bateu continência aos Estados Unidos porque é assim que funciona o sistema imperialista, Ao contrário de China e Rússia, os Estados Unidos não desejam diversidade e pluralidade, não podem suportar diversidade e pluralidade, porque o sistema imperialista norte-americano para resistir à atual crise de hegemonia precisa ser vertical de comando único cada vez mais centralizado.

 

RUSSIA QUEBRA O MONOPÓLIO DA GUERRA MANTIDO PELOS EUA DESDE 1991.

Para completarmos o quadro analítico é preciso lembrar que outro Pilar do sistema imperialista foi abalado no dia 24 de fevereiro de 2022 quando a Rússia atacou a Ucrânia para garantir a proteção e a separação do Donbass, a zona leste ucraniana de maioria russa, depois de negociações infrutíferas que duraram 8 anos desde 2014.  Na tentativa por parte de Moscou de manter a Ucrânia fora da OTAN e de preservar a autonomia daquelas regiões de origem majoritariamente russa.  Nesse momento, no momento em que a Rússia resolve agir militarmente contra a Ucrânia quebrou-se o monopólio da Guerra exercido pelos Estados Unidos desde o desaparecimento da União Soviética.  Esse é um fato muito importante a quebra do monopólio da Guerra,  talvez no futuro os historiadores datem o 24 de fevereiro de 2022 como o fim dessa ordem Unipolar porque foi exatamente o momento em que se quebrou o monopólio da Guerra exercido pelos Estados Unidos até 24 de fevereiro de 2022.  Os Estados Unidos eram a única potência na face da terra que podiam ou que conseguiam impor os seus interesses por  meios militares, os demais países quando os Estados Unidos interviam de forma armada recuavam podiam até resistir um pouco mas eram obrigados a acatar os interesses dos EUA por conta do seu enorme poderio militar. Isso se quebra na Ucrânia.

 

DESEQUILÍBRIO MILITAR

Por isso a disputa na Ucrânia é tão importante entre outras razões para os Estados Unidos e para a OTAN mas o fato é que a Rússia se transformou em protagonista militar capaz de desafiar tanto os Estados Unidos quanto a OTAN.  Não é possível, para citar alguns exemplos, não é possível compreender as rebeliões populares e militares na África ocidental em países de antiga  colonização francesa sem incluir na análise o papel Militar de forças regulares e irregulares russas que deslocaram a influência Militar de franceses e norte-americanos. Isso tem sido fundamental para a substituição de governos na África ocidental.  Aqui eu me refiro a Burquina Fasso, ao  Niger e outras Nações que estão chutando para casa os antigos colonizadores franceses e também os americanos.  Um fator para que isso esteja sendo possível é a presença militar russa seja com forças regulares, suas armas, seja com grupos armados que a Rússia monta mas que não são oficialmente vinculados a Moscou.

 

FÔRÇAS ARMADAS VENEZUELANAS

 Seria pouco viável entender a capacidade da Venezuela construir Forças Armadas totalmente independentes dos Estados Unidos  sem a Rússia e isso tem sido decisivo para que Caracas possa conter sucessivas tentativas golpistas, incluindo ameaças de invasão militar como ocorreu no biênio 2019 2020.  O fato da Venezuela poder ter forças armadas totalmente independente,  que não são formadas pelos Estados Unidos,  que não adquirem armas norte-americanas ou europeias que podem constituir essas Forças Armadas a partir de armamento  Russo, isso permite um elemento de estabilidade na Venezuela contra as tentativas golpistas.   

 

A CONTRADIÇÃO

Se as forças armadas venezuelanas continuassem a ser treinadas pelos Estados Unidos ou a comprar armas dos Estados Unidos ou da Europa evidentemente as forças armadas da Venezuela seriam um elemento favorável aos interesses imperialistas, como acontece nos demais países incluindo o Brasil o fato é que ao longo do século 21,  podemos constatar que a contradição principal do mundo passou a ser regida pelo confronto entre o novo Campo anti-imperialista liderado por China e Rússia e o velho sistema imperialista comandado pelos Estados Unidos. Todas as grandes disputas regionais e nacionais devem ser analisadas à luz dessa contradição como as situações da Venezuela, da Palestina e da Ucrânia,  é claro que essa não é a única contradição, não se pode ler a situação destes países, exclusivamente a partir dessa contradição entre o sistema imperialista e o campo anti-imperialista, mas ler a situação desses países fora dessa contradição é cometer um grave erro metodológico para podermos compreender o que se passa e o que está em jogo nessas nações, nós temos que fazê-lo a partir da identificação desta contradição principal que atualmente rege o cenário mundial , particularmente os países periféricos como o Brasil, Estes países  somente poderão encontrar uma nova via de desenvolvimento se forem capazes de se emancipar do sistema imperialista,  se esse sistema deixar de de existir ou se esse sistema perder completamente a hegemonia Mundial.  Quanto mais fraco estiver o sistema imperialista liderado pelos Estados Unidos menor poder de fogo terá o grande capital nacional que impõe um modelo econômico baseado na concentração de renda e riqueza, no rentismo, na sua super exploração do trabalho, no monopólio da terra e na dependência externa.  

 

O FIM DO IMPERIALISMO

Quanto mais debilitado estiver o sistema imperialista melhores serão as condições para livrar o Brasil e os demais países latino-americanos dos obstáculos que impedem seu crescimento industrial e impõe um modelo agro-extrativista cujas drásticas consequências econômicas sociais e ambientais são visíveis até para as pessoas mais desatentas.  Somente com o fim do sistema imperialista poderá haver democracia real, respeito aos direitos humanos, proteção às ameaças golpistas e as pressões internas e externas.  Somente com o fim do sistema imperialista poderá haver normalidade pros países poderem construir, cada qual a partir do seu modelo, regimes efetivamente Democráticos de Participação Popular e de respeito aos Direitos Humanos.  Portanto a derrota do sistema imperialista é um objetivo estratégico para aquelas forças políticas que estão dispostas a pensar o mundo a partir de uma perspectiva de justiça social, democracia e fim da concentração de renda e riqueza.

 

POLITICA EXTERNA BRASILEIRA – NÃO ALINHAMENTO ATIVO..

Nesse contexto vamos falar da política externa brasileira atual que é baseada no conceito de não alinhamento ativo:  essa tese é correta ou está ultrapassada? Quando o presidente Lula assumiu em 2003 o seu então chanceler Celso Amorim formulou a política externa brasileira de uma maneira sintética como sendo uma política externa ativa e altiva.  Nesse terceiro governo Lula o mesmo Celso Amorim agora assessor internacional do presidente Lula reformulou o conceito com base na ideia de não alinhamento ativo - esse conceito parte da ideia de que os interesses brasileiros seriam melhor atendidos se o Brasil mantivesse capacidade de diálogo com os dois grandes polos.  E se o Brasil a partir desse diálogo fosse criando entre esses dois polos um campo intermediário um Campo não alinhado e a construção desse Campo não alinhado passaria não apenas por relações regionais na região natural do Brasil que é a América do Sul mas também por relações com os governos sociais Democratas da Europa e até mesmo com o partido Democrata dos Estados Unidos. Então era a ideia de um caminho do Meio, um caminho não alinhado um caminho no qual o Brasil poderia estar presente nos Brics poderia ter relações fluidas e fortes com Rússia e China,  aproveitando  o que estas relações têm de bom a oferecer especialmente novas condições de financiamento e novos mercados; mas ao mesmo tempo em que fortalecesse suas relações com os Estados Unidos e a Europa na medida em que isso poderia  trazer benefícios ao Brasil pela sua inserção ocidental.  Este é o conceito do não alinhamento, ou seja nas grandes questões  conflitivas do mundo de hoje o Brasil atuaria sempre por um tripé pragmático e não alinhado Qual é esse tripé? Paz . Sempre buscar uma solução pacífica segundo respeito ao direito internacional das Nações Unidas e das demais instituições e um terceiro fator a partir de uma postura de mediação o Brasil sempre se apresentando não como defensor de uma situação A ou B.  mas como um mediador, como um país capaz de ajudar a resolver os conflitos a partir dessas desses três critérios.  O Brasil poderia digamos se relacionar com a situação Mundial favorecendo os próprios interesses brasileiros.  Eu considero que,  essa é apenas a minha opinião uma modesta opinião, que esse conceito não tem pés na realidade, não tem base na realidade. Não tem base na realidade em primeiro lugar porque ao contrário do que aconteceu na Guerra Fria o espaço de não alinhamento é muito mais restrito. Na Guerra Fria havia um grande espaço de não alinhamento porque como eu já disse era um confronto entre dois sistemas verticais - o sistema capitalista ou sistema imperialista liderado pelos Estados Unidos e o sistema socialista liderado pela União Soviética.  Mas havia muitos países que não estavam integrados nem a um nem a outro sistema e isso abria espaço para o não alinhamento. Mas mesmo não alinhamento naquela época ele tinha um prisma muito claro que era a luta contra o colonialismo e a luta contra o imperialismo, esse espaço de não alinhamento está muito estreito hoje e é cada vez mais estreito porque esta polarização atual entre o sistema imperialista e o campo anti-imperialista praticamente domina todo o tabuleiro e esses interesses são absolutamente confrontados.  No que diz respeito aos interesses brasileiros não há o que se esperar do sistema imperialista. A fórmula que Ele oferece ao Brasil é a fórmula do suicídio econômico, da dependência e da submissão política. Vejam ali o acordo em discussão felizmente parece que adiado  sem prazo ou até enterrado o acordo Mercosul União Europeia ele é muito parecido com aquele velho acordo da ALCA é um acordo pelo qual em troca de ganhar espaço para os seus produtos agropecuários o Brasil cede espaço ainda mais pra indústria europeia, cede espaço para empresas europeias nas compras públicas. O Brasil aprofundaria por esse acordo União Europeia Mercosul as características neocoloniais de ser principalmente na divisão internacional do trabalho um país provedor de matérias primas e produtos agrícolas, se afastando cada vez mais das grandes cadeias industriais, das grandes cadeias de valor agregado do mundo. Esta é a fórmula que o sistema imperialista tem a oferecer aos países periféricos, além de impor o seu modelo econômico e político. 

 

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA – A SAÍDA É PELO MUNDO  MULTIPOLAR

Não há nada o que se esperar dos Estados Unido e da União Europeia eles estão ao lado dos piores inimigos dos povos o tempo todo,  como a gente vê na questão Palestina o apoio praticamente incondicional dos Estados Unidos e da União Europeia ao regime colonial e racista de Israel,  ao regime sionista ou a postura que adotam Estados Unidos e União Europeia em relação à guerra da Ucrânia cujo único objetivo é bloquear, isolar, enfraquecer e derrotar a Rússia não porque a Rússia atacou a OTAN  mas porque a Rússia é uma aliada militar fundamental da China que disputa hegemonia com os Estados Unidos. Basta ver o que os Estados Unidos e a União Europeia fazem com a Venezuela, fazem com Cuba, fazem com qualquer país que ousa ofuscar ou combater a hegemonia norte-americana no nosso continente. Na Venezuela  apoiam  a Extrema direita, a golpes de estado,  a sabotagens, adotando sanções. É  isso que é o sistema imperialista, evidente que nada se pode mais esperar desse sistema. Alianças antes do sistema imperialista, quando eram vários sistemas (p.ex. antes da 2ªGGM) eram possíveis para incentivar a industrialização – acordo Getúlio Vargas com Frank D. Roosevelt para criar a CSN. Mas esse momento já passou porque o inimigo do sistema imperialista hoje não é outro que não o próprio mundo periférico que quer se libertar da hegemonia do sistema imperialista.  O sistema imperialista não apresenta possibilidades de acordo que abram ao Brasil e outros países da América do Sul uma Nova via de desenvolvimento, ao contrário estas possibilidades na minha opinião estão exclusivamente na aliança com Rússia e China.  Especialmente porque Rússia e China não propõe a construção de um sistema vertical mas de um campo no qual possam estar presentes distintos sistemas e modelos  numa situação multipolar.  A aliança com a Rússia e com a China é o caminho para a ordem multipolar, quanto maior for a aliança do Brasil com a Rússia e com a China melhores serão as possibilidades de desenvolvimento brasileiro, maiores serão os recursos para o desenvolvimento brasileiro, melhores serão as possibilidades democráticas do Brasil porque é também por exemplo na aliança com Rússia e China que as Forças Armadas Brasileiras poderiam se libertar da indústria de defesa dos Estados Unidos seguindo o mesmo caminho da Venezuela. Uma aliança cada vez mais próxima com Rússia e China seria fundamental porque esta independência da nossa indústria de defesa em relação ao sistema imperialista permitiria deslocar as Forças Armadas Brasileiras do papel que historicamente elas cumprem no nosso país de guarda pretoriana dos grandes capitalistas, de instrumento de tutela sobre o estado, portanto na minha repito modesta opinião a política externa brasileira está ultrapassada e conduz o Brasil a equívocos em várias questões.  Por exemplo agora na Venezuela, o fato é que o Brasil tampouco reconheceu até agora a vitória de Nicolás Maduro ao contrário do que fizeram Rússia e China e há declarações do próprio Celso Amorim ou do Rui Costa, chefe da casa civil muito ruins que colocam em questão a soberania de um país aliado como a Venezuela.  Por que há essa atitude, entre outras razões penso eu, porque a política externa brasileira é guiada por um objetivo falso, esse objetivo do não alinhamento, esse objetivo de ficar de bem com os dois lados não é sustentável no mundo de hoje, eu acredito que o conceito de não alinhamento ativo deveria ser substituído pelo conceito de alinhamento soberano.  Uma clara aliança com Rússia e China está ali esperando a terceira cadeira nessa mesa do campo anti-imperialista. Rússia China e Brasil seria um tripé fundamental para fortalecer esse Campo anti-imperialista, necessariamente diverso e plural e soberano,  porque é da Lógica desse Campo anti-imperialista que tá sendo criado a multipolaridade. O Brasil não terá que mudar o seu modelo político e econômico em função de pressões externas em função da pressão da Rússia e da China, não é isso que está sendo construído nesse Campo anti-imperialista, o Brasil mudará seu modelo político econômico seu sistema político econômico em função dos desejos e das aspirações das lutas das massas brasileiras e não por pressão externa nesse desenho que vai adquirindo o campo anti-imperialista.

Portanto o alinhamento soberano pelo qual o Brasil possa exercer sua liderança natural na América Latina me parece ser hoje a política mais adequada respondendo ao próprio título do programa a própria pergunta que o nosso programa de hoje colocou, o Brasil deve se aliar aos Estados Unidos e a Europa ou a Rússia e a China eu não tenho dúvidas em afirmar que nossos Aliados naturais especialmente em um mundo cada vez mais polarizado como atual para que nós possamos construir um novo ciclo de desenvolvimento para que nós possamos ter financiamento para a nossa reindustrialização para que nós possamos manter mercados para os nossos produtos para que nós possamos cumprir uma liderança democrática e humanista no mundo,  a nossa aliança natural  é com a Rússia e com a China, no mundo onde há cada vez menos espaço para o não alinhamento e assim termino minha longa exposição de hoje, peço desculpas pelo tempo que eu tomei, antes de passarmos as perguntas e comentários eu queria lembrar vocês que operamundi continua a sofrer ataques sionistas, o que vem ocorrendo desde que iniciamos a cobertura da ofensiva de Israel contra o povo palestino, nós seguimos lutando para levar informação gratuita independente a todos e a todas, mas nós precisamos da ajuda de vocês para manter e desenvolver a nossa cobertura jornalística, isso é muito importante para nós, eu queria fazer esse apelo a vocês, opera mundi está lançando uma campanha de arrecadação e vocês podem ajudar.

 

FONTE:  Opera Mundi, programa 20 minutos análise, “O Brasil deve se alinhar à Europa e  EUA ou com à Rússia e China?”, análise de Breno Altman.  Veja no endereço abaixo:

https://www.youtube.com/live/ECtv9m6eHyw