sábado, 23 de outubro de 2010

TIRIRICA, A VINGANÇA DO POVO!

TIRIRICA, A VINGANÇA DO POVO!

No último dia 3 de outubro, o Brasil conheceu alguns dos seus novos mandatários. Governadores, senadores, deputados federais e estaduais, restando para ser decidida em segundo turno a eleição presidencial e de outros tantos governadores. Muitos foram os assuntos que fomentaram a campanha eleitoral, debates, corrupção, aborto, religião, “ficha limpa”... Entretanto, um assunto em especial roubou a cena nos noticiários, a eleição de Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca, apelido recebido da mãe, por achá-lo muito sisudo. Tiririca nasceu em Itapipoca, cidade de 114 mil habitantes no sertão cearense. Tem sete irmãos. Começou a trabalhar aos oito anos. Foi vendedor de algodão-doce e picolé. A carreira como palhaço iniciou no circo. Também foi equilibrista, malabarista e mágico. Nos anos 1990, ganhou projeção com o sucesso da música Florentina.

O famoso humorista, palhaço, agora deputado federal, foi eleito pelo PR paulista com expressivos 1.353.820 votos. Para se ter uma idéia, o segundo colocado, Gabriel Chalita do PSB, obteve 559.118 votos, Luiza Erundina, do mesmo partido, ex-prefeita da capital, recebeu 213.900 votos, sendo 178.003 votos dos paulistanos. Acontece que Tiririca, só na cidade de São Paulo, teve mais do dobro dos votos de Erundina, exatos 436.014 eleitores escolheram o palhaço como seu representante. Tiririca recebeu a segunda maior votação da história para o cargo de deputado federal no Brasil, título ostentado até então pelo falecido Dr. Enéas, que obteve mais de 1,5 milhões de votos em 2002, também no estado de São Paulo. A votação é tão absurda que, em quinze estados da federação, seria suficiente para Tiririca ser eleito governador.

A eleição do comediante não foi notícia apenas no Brasil, alguns jornais e revistas internacionais deram destaque ao fato. O blog "Americas", da revista britânica "The Economist", afirmou ser "deprimente e estranho", um país que tem a "tecnologia maravilhosa" das urnas eletrônicas, eleger Tiririca com mais de um milhão e meio de votos. Afirma ainda que a lei eleitoral brasileira induz à corrupção, já que os candidatos com grande votação ajudam a eleger outros do mesmo partido ou coligação. Esse sistema, diz o blog, cria "olheiros" em busca de candidatos "puxadores" de votos. A rede televisiva americana "CBS", afirmou em seu site que, "os americanos podem achar que a nação é conduzida por um grupo de palhaços em Washington (EUA), porém milhares de cidadãos brasileiros foram às urnas no domingo para eleger um verdadeiro palhaço para o Congresso”. O site do jornal britânico, "Financial Times", diz que Tiririca é um "sarcástico protesto do sistema político atual". O texto lembrou que atores e comediantes frequentemente se tornam políticos, como Arnold Schwarzenegger, que foi eleito governador da Califórnia em 2003. A BBC diz que analistas explicam a popularidade de Tiririca como reflexo da desilusão com escândalos políticos. O texto do site da rede britânica diz que, além de Tiririca, outras celebridades foram eleitas, como os ex-jogadores de futebol Romário e Bebeto. O argentino Clarín, chamou a candidatura de Tiririca de "manobra marqueteira". "Sua campanha se baseia na ignorância, no desconhecimento do que fazem os deputados, na honestidade brutal, ("Quero ser deputado para ajudar minha família!"), e em slogans que vão ficar na história". “Tiririca, pior que ta, não fica” e "Você sabe o que um deputado federal faz? Também não sei, mas vote em mim que eu te conto depois".

Penso que outro aspecto mereça ainda uma reflexão. Analistas políticos, jornalistas e políticos de outros estados, inclusive de Minas Gerais, vangloriavam-se por Tiririca ter sido eleito em um estado que não o seu. Não sei o que se passa na mente destes cidadãos, todavia tal afirmação me causa verdadeiro torpor, afinal, Tiririca, se empossado, (o TSE intimou Tiririca a provar não ser analfabeto), não assumirá seu cargo na Assembléia Legislativa Paulista, e sim no Congresso Nacional, ou seja, será mais um dos 513 deputados federais do Brasil, representante de todos os brasileiros. Alguns creditam a eleição de Tiririca ao descontentamento da população com os atuais políticos, outros dizem ser um voto de protesto, alguns afirmam ter ele recebido o voto dos mais humildes ou dos ignorantes. São muitas as teses, talvez todos estejam certos. Ou errados? Haverá semelhança no voto dado ao palhaço, aos votos do Dr. Enéas, Clodovil, Frank Aguiar, ou Maluf? Trazendo esta reflexão para Minas Gerais. Elegemos no último pleito personagens como Newton Cardoso, Marques e Gustavo Perrella. Os dois primeiros são conhecidos do grande público, Newton já foi até governador do estado, Marques, o último grande ídolo da torcida atleticana, porém, Gustavo Perrella, tem apenas o sobrenome do pai, o presidente do Cruzeiro. O que estes três mineiros teriam em comum com Tiririca, penso que nada, entretanto, a eleição deles pode ter muita semelhança. Não posso dizer que Marques e Gustavo Perrella serão maus políticos, mas quais são os motivos que os fizeram eleitos? O primeiro deve ter obtido a maioria dos votos de torcedores apaixonados, o segundo votos conquistados pelo sobrenome e dinheiro do pai. Haverá alguma consciência política nestes eleitores? Será que vislumbraram nestes cidadãos propostas para o estado e o país? E quanto a Newton Cardoso? Um dos políticos mais controversos do estado, acusado frequentemente de corrupção e tantos outros atos nada nobres. De onde viriam seus votos? Dos cidadãos de Contagem ou do interior do Estado? Não sei, entretanto também desconfio que seja um voto consciente.

Mais uma pergunta: Quem fará maior mal ao país? Um cidadão ignorante, analfabeto, se é que Tiririca o é, ou os doutores? Não apenas por terem formação superior, mas por serem doutores em “maracutaias” e corrupção, como Newton Cardoso, Paulo Maluf, Jader Barbalho, José Sarney, e tantos outros que infestam a câmara dos deputados e o senado federal. Quanto aos estadunidenses que zombam de nós por ter no congresso nacional um palhaço, me envergonharia mais se, depois de uma confusa eleição, descobrisse que o eleito fosse o Bush, um dos maiores facínoras da história.

Enfim, lembram-se do começo? Tiririca, a vingança do povo! Continuo acreditando que a maior vítima será esse mesmo povo brasileiro, pois votos de protesto foram aqueles endereçados ao Macaco Tião no Rio de Janeiro, ao Mosquito da Dengue no Espírito Santo e ao Idi Amin aqui em Minas Gerais, quando as cédulas ainda eram de papel. Eleger Tiririca e ainda levar alguns colegas de partido, não é protesto. Todavia, durante muitos anos os maus políticos nos fazem de palhaços, agora 1.353.820 BRASILEIROS resolveram eleger um palhaço para fazer companhia aos políticos no congresso. Só espero que Tiririca, ao final do mandato, possa voltar para os programas de TV e nos fazer rir, mostrar os mesmo dentes que a ele faltam, pois o palhaço corre o risco de aprender algumas lições com seus novos pares e sair de Brasília de camburão, direto para a PRISÃO.

Flávio Borges - estudante de Direito da PUC-MG.

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