quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"Lula, faça o tratamento pelo SUS"

"Lula, faça o tratamento pelo SUS" 
(piada de mau gosto nas redes sociais)

O câncer de Lula e o preconceito

por Elizângela Araújo 
(trechos de seu artigo em www.viomundo.com.br)

‘De acordo com a agência de notícias IDGNow, especializada em tecnologia, houve 120 mil compartilhamentos da foto do ex-presidente com a mensagem ‘Lula, faça o tratamento pelo SUS’, no Facebook, desde sábado à tarde até esta segunda. Ainda não há números sobre a repercussão no Twitter’. Se o número é pequeno diante do total de usuários – 31 milhões de brasileiros utilizam o Facebook, segundo pesquisa do Ibope realizada em agosto – não deixa de assustar pelo nível dos comentários.
Outros políticos brasileiros enfrentaram a mesma doença – alguns morreram e outros a superaram – sem que houvesse semelhante “campanha”. A presidenta Dilma Rousseff, por exemplo, também tratou-se no Sírio-Libanês. Mário Covas, morto em 2001 depois de perder a luta contra um câncer na bexiga, também não foi alvo de semelhante galhofa.Roseana Sarney, Paulo Maluf, e se comoveram tanto com a morte do empresário Steve Jobs, morto no dia 5 de outubro também vítima de câncer. Enfim, há outros inúmeros casos de políticos menos ilustres que tiveram câncer e comoveram mais ou menos brasileiros. No entanto, em nenhum desses casos houve tamanha falta de sensibilidade e oportunismo como no caso do ex-presidente-metalúrgico.  Não se trata de uma campanha pelo fortalecimento do sistema, mas de uma campanha anti-Lula. E se tantas pessoas passam a reproduzir uma brincadeira inconsequente como essa sem se importar de tripudiar  uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico inquietante como esse, seja quem for, é sinal de que estamos consolidando uma sociedade com valores bem equivocados.

Nina Crintzs: Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto

por Nina Crintzs, no blog do Luis Nassif, por sugestão de Lu Witovisk (trechos de seu artigo).
Há seis anos atrás eu tive uma dor no olho. Só que a dor no olho era, na verdade, no nervo ótico, que faz parte do sistema nervoso. O meu nervo ótico estava inflamado, e era uma inflamação característica de um processo desmielinizante. ..... Em poucas palavras: eu descobri, em detalhes, como se dá uma doença-auto imune no sistema nervoso central. Esta, específica, chama-se Esclerose Múltipla. É o que eu tenho. Há seis anos.Os médicos sabem tudo sobre o coração e quase nada sobre o cérebro – na minha humilde opinião. Ninguém sabe dizer porque a Esclerose Múltipla se manifesta. Não é uma doença genética.....
Mil médicos diferentes passaram pela minha vida desde então. Uma via crucis de perguntas sem respostas. O plano de saúde, caro, pago religiosamente desde sempre, não cobria os especialistas mais especialistas que os outros. Fui em todos – TODOS – os neurologistas famosos – sim, porque tem disso, médico famoso – e, um por um, eles viam meus exames, confirmavam o diagnóstico, discutiam os mesmos tratamentos e confirmavam que cura, não tem.

....
O diagnóstico de uma doença grave e incurável é um abismo no qual você é empurrado sem aviso. E sem pára-quedas. .... Porque já é suficientemente difícil estar vivo sem esta sentença de morte lenta e degradante....
O problema é que uma raiva desse tamanho cansa, e o tempo passa....

O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria” porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS?! O Sistema Único de Saúde? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer?

Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que têm o mesmo problema que eu. É pouca gente? Não vale a pena? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil.

O maior especialista em Esclerose Múltipla do Brasil atende no HC, que é do SUS, num ambulatório especial para a doença. De graça, ou melhor, pago pelos impostos que a gente reclama em pagar. Uma vez a cada seis meses, eu me consulto com ele. É no HC que eu pego minhas receitas – para o tratamento propriamente dito e para os remédios que uso para lidar com os efeitos colaterais desse tratamento, que também me são entregues pelo SUS. O que me custaria fácil uns outros R$2.000,00.

Eu acredito em poucas coisas nessa vida. Tenho certeza de que o mundo não é justo, mas é irônico. E também sei que só o humor salva. Mas a única pessoa que pode fazer piada com a minha desgraça sou eu – e faço com regularidade. Afinal, uma doença auto-imune é o cúmulo da auto-sabotagem.
Mas attention shoppers: fazer piada com a tragédia alheia não é humor, é mau gosto. É, talvez, falha de caráter. E falar do que não se conhece é coisa de gente burra. Se você nunca pisou no SUS – se a TV Globo é a referência mais próxima que você tem da saúde pública nacional, talvez esse não seja exatamente o melhor assunto para o seu, digamos, “humor”.
Quem me conhece sabe que eu não voto – não voto nem justifico. Pago lá minha multa de três reais e tals depois de cada eleição porque me nego a ser obrigada a votar. O sistema público de saúde está longe de ser o ideal. E eu adoraria não saber tanto dele quanto sei. O mundo, meus amigos, é mesmo uma merda. Mas nós estamos todos juntos nele, não tem jeito. E é bom lembrar: a ironia é uma certeza. Não comemora a desgraça do amiguinho, não.


As reportagens seletivas sobre o SUS

Comentário do post "O SUS, a ironia e o mau gosto"
Por Carlos Sales

MInha esposa teve Doença de Crohn.
Hoje a doença está em remissão devido a um remédio chamado Azatioprina que é distribuído gratuitamente pelo SUS. Todo mês ela vai pegar o remédio na Farmácia de Alto Custo em Brasília-DF.
Este mês, quando ela estava pegando o remédio, percebeu uma equipe da TV Globo Local (DFTV) fazendo reportagem a respeito da distribuição desse tipo de remédio. Ela ficou observando de longe e, para algumas pessoas, eles ligavam as luzes e equipamentos, para outras não.
Quando ele estava de saída, a equipe a procurou (com os equipamentos ainda desligados) e perguntou se ela tinha recebido o medicamento que veio buscar. Ela disse que sim. O repórter perguntou se tinha recebido todos. Ela disse que sim. O repórter então desmobilizou a equipe e partiram pra outra pessoa.

Ao meio dia fomos ver a reportagem editada. O Alexandre Garcia mostrava o 'caos' na administração do Agnelo. Só mostraram as pessoas que não conseguiram o remédio e se reclamavam.
Meus amigos, esse é apenas um caso vivido. Imaginem o que acontece pelo mundo afora.
Esta é a imprensa no Brasil.
Vergonha !!!

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