"Lula, faça o tratamento pelo SUS"
(piada de mau gosto nas redes sociais)
O câncer de Lula e o preconceito
por Elizângela Araújo(trechos de seu artigo em www.viomundo.com.br)
‘De acordo com a agência de notícias IDGNow, especializada em tecnologia, houve 120 mil compartilhamentos da foto do ex-presidente com a mensagem ‘Lula, faça o tratamento pelo SUS’, no Facebook, desde sábado à tarde até esta segunda. Ainda não há números sobre a repercussão no Twitter’. Se o número é pequeno diante do total de usuários – 31 milhões de brasileiros utilizam o Facebook, segundo pesquisa do Ibope realizada em agosto – não deixa de assustar pelo nível dos comentários.
Outros políticos brasileiros enfrentaram a mesma doença – alguns morreram e outros a superaram – sem que houvesse semelhante “campanha”. A presidenta Dilma Rousseff, por exemplo, também tratou-se no Sírio-Libanês. Mário Covas, morto em 2001 depois de perder a luta contra um câncer na bexiga, também não foi alvo de semelhante galhofa.Roseana Sarney, Paulo Maluf, e se comoveram tanto com a morte do empresário Steve Jobs, morto no dia 5 de outubro também vítima de câncer. Enfim, há outros inúmeros casos de políticos menos ilustres que tiveram câncer e comoveram mais ou menos brasileiros. No entanto, em nenhum desses casos houve tamanha falta de sensibilidade e oportunismo como no caso do ex-presidente-metalúrgico. Não se trata de uma campanha pelo fortalecimento do sistema, mas de uma campanha anti-Lula. E se tantas pessoas passam a reproduzir uma brincadeira inconsequente como essa sem se importar de tripudiar uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico inquietante como esse, seja quem for, é sinal de que estamos consolidando uma sociedade com valores bem equivocados.
Nina Crintzs: Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto
por Nina Crintzs, no blog do Luis Nassif, por sugestão de Lu Witovisk (trechos de seu artigo).Há seis anos atrás eu tive uma dor no olho. Só que a dor no olho era, na verdade, no nervo ótico, que faz parte do sistema nervoso. O meu nervo ótico estava inflamado, e era uma inflamação característica de um processo desmielinizante. ..... Em poucas palavras: eu descobri, em detalhes, como se dá uma doença-auto imune no sistema nervoso central. Esta, específica, chama-se Esclerose Múltipla. É o que eu tenho. Há seis anos.Os médicos sabem tudo sobre o coração e quase nada sobre o cérebro – na minha humilde opinião. Ninguém sabe dizer porque a Esclerose Múltipla se manifesta. Não é uma doença genética.....
Mil médicos diferentes passaram pela minha vida desde então. Uma via crucis de perguntas sem respostas. O plano de saúde, caro, pago religiosamente desde sempre, não cobria os especialistas mais especialistas que os outros. Fui em todos – TODOS – os neurologistas famosos – sim, porque tem disso, médico famoso – e, um por um, eles viam meus exames, confirmavam o diagnóstico, discutiam os mesmos tratamentos e confirmavam que cura, não tem.
....
O diagnóstico de uma doença grave e incurável é um abismo no qual você é empurrado sem aviso. E sem pára-quedas. .... Porque já é suficientemente difícil estar vivo sem esta sentença de morte lenta e degradante....
O problema é que uma raiva desse tamanho cansa, e o tempo passa....
O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria” porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS?! O Sistema Único de Saúde? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer?
Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que têm o mesmo problema que eu. É pouca gente? Não vale a pena? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil.
O maior especialista em Esclerose Múltipla do Brasil atende no HC, que é do SUS, num ambulatório especial para a doença. De graça, ou melhor, pago pelos impostos que a gente reclama em pagar. Uma vez a cada seis meses, eu me consulto com ele. É no HC que eu pego minhas receitas – para o tratamento propriamente dito e para os remédios que uso para lidar com os efeitos colaterais desse tratamento, que também me são entregues pelo SUS. O que me custaria fácil uns outros R$2.000,00.
Eu acredito em poucas coisas nessa vida. Tenho certeza de que o mundo não é justo, mas é irônico. E também sei que só o humor salva. Mas a única pessoa que pode fazer piada com a minha desgraça sou eu – e faço com regularidade. Afinal, uma doença auto-imune é o cúmulo da auto-sabotagem.
Mas attention shoppers: fazer piada com a tragédia alheia não é humor, é mau gosto. É, talvez, falha de caráter. E falar do que não se conhece é coisa de gente burra. Se você nunca pisou no SUS – se a TV Globo é a referência mais próxima que você tem da saúde pública nacional, talvez esse não seja exatamente o melhor assunto para o seu, digamos, “humor”.
Quem me conhece sabe que eu não voto – não voto nem justifico. Pago lá minha multa de três reais e tals depois de cada eleição porque me nego a ser obrigada a votar. O sistema público de saúde está longe de ser o ideal. E eu adoraria não saber tanto dele quanto sei. O mundo, meus amigos, é mesmo uma merda. Mas nós estamos todos juntos nele, não tem jeito. E é bom lembrar: a ironia é uma certeza. Não comemora a desgraça do amiguinho, não.
As reportagens seletivas sobre o SUS
Enviado por luisnassif, ter, 01/11/2011 - 16:10 Comentário do post "O SUS, a ironia e o mau gosto"Por Carlos Sales
MInha esposa teve Doença de Crohn.
Hoje a doença está em remissão devido a um remédio chamado Azatioprina que é distribuído gratuitamente pelo SUS. Todo mês ela vai pegar o remédio na Farmácia de Alto Custo em Brasília-DF.
Este mês, quando ela estava pegando o remédio, percebeu uma equipe da TV Globo Local (DFTV) fazendo reportagem a respeito da distribuição desse tipo de remédio. Ela ficou observando de longe e, para algumas pessoas, eles ligavam as luzes e equipamentos, para outras não.
Quando ele estava de saída, a equipe a procurou (com os equipamentos ainda desligados) e perguntou se ela tinha recebido o medicamento que veio buscar. Ela disse que sim. O repórter perguntou se tinha recebido todos. Ela disse que sim. O repórter então desmobilizou a equipe e partiram pra outra pessoa.
Ao meio dia fomos ver a reportagem editada. O Alexandre Garcia mostrava o 'caos' na administração do Agnelo. Só mostraram as pessoas que não conseguiram o remédio e se reclamavam.
Meus amigos, esse é apenas um caso vivido. Imaginem o que acontece pelo mundo afora.
Esta é a imprensa no Brasil.
Vergonha !!!
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