quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O dia em que a USP reviveu a ditadura

DE  NOVO, UM GOVERNO  TUCANO  TEM  APOIO DA  MÍDIA

9 de Novembro de 2011 - 1h46

Estudantes da USP entram em greve contra presença da PM

Pelo menos 2 mil estudantes da Universidade de São Paulo (USP), presentes em assembleia na noite de terça-feira (8), no prédio do curso de História, aprovaram uma greve para protestar contra a presença da Polícia Militar (PM) no campus Butantã e a prisão de 73 pessoas durante a ação de reintegração de posse na manhã do mesmo dia, feita pela Tropa de Choque.

Durante a assembleia de ontem, convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que representa todos os universitários do campus, os jovens denunciaram as condições a que os presos foram submetidos: confinados dentro dos ônibus que os transportaram até o 91º DP, onde prestaram depoimentos, sem banheiro, sob sol forte, desde o começo da manhã.

“Liberdade aos presos políticos da USP”, ecoavam gritos dos estudantes nos corredores da FFLCH. Outros falavam em universidade sitiada: “Nesta manhã, a USP acordou em estado de sítio. Logo pela manhã, os moradores do Crusp foram acordados com bombas de gás lacrimogêneo. Além dos estudantes, tem mulheres e crianças que moram lá e sofreram da mesma forma com essa ação policial”.
Nos solidarizamos com a causa. Uma invasão da polícia no campus dessa forma só foi visto na ditadura militar. Por isso, disponibilizamos uma equipe de advogados e organizações de todo o país se manifestaram a favor dos estudantes e doaram recursos”, contou ao Vermelho Luiz Carlos Prates Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, presente na assembleia, e integrante da Coordenação Nacional de Lutas (ConLutas), que encabeçou o rateio dos valores para os presos.Os universitários presos podem ser acusados de dano ao patrimônio público, crime ambiental e desobediência civil. A reitoria acusa o grupo de ter depredado o espaço da reitoria, ocupado desde o dia 1º de novembro. Para reforçar essa tese, a grande mídia tem exibido imagens da reitoria com móveis amontoados, restos de comida na cozinha e paredes pichadas. Nas paredes, palavras pedem a saída do reitor João Grandino Rodas. Além disso, a polícia apresentou bombas caseiras que teriam sido encontradas no local. Os estudantes negam ter danificado o prédio da reitoria e de fabricarem as bombas. “Foi plantado, assim como o mobiliário quebrado”, disse em entrevista a um portal, o estudante de letras, Rafael Alves.Durante o dia, pais dos alunos que estiveram na 91º DP criticaram a prisão dos filhos. Para não prejudicarem os jovens, pais e mães não se identificaram. Numa folha de papel escrita por um deles, mandaram a seguinte mensagem:

“Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.

O que deflagrou a ocupação da reitoria foi a prisão de três universitários, na quinta-feira (27), depois de serem abordados por policiais. Eles estavam portando maconha no estacionamento da faculdade de História e Geografia. O fato causou confronto entre estudantes e policiais que culminou com a ocupação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e, posteriormente, da reitoria.

Mas, antes disso, muitos estudantes, professores e trabalhadores do campus já vinham denunciando que a presença da PM na USP faz parte de uma ação da reitoria e do governo do estado para restringir o movimento estudantil, além de ferir a autonomia da universidade.

Estudantes detidos na USP passam dia em ônibus e acusam PM de fabricar cena de destruição


Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Publicado em 08/11/2011, 19:50O governador Geraldo Alckmin criticou a atitude dos alunos. “Os estudantes precisam ter aula de democracia, precisam ter aula de respeito ao dinheiro público, respeito ao patrimônio público. Não é possível depredar instituições que foram construídas com o dinheiro da população que paga impostos. Eles precisam ter aula de respeito a ordem judicial”, afirmou.
Os alunos fazem questão de negar que tenham depredado as instalações da Reitoria. Após o cumprimento da ordem de desocupação, cinegrafistas de algumas emissoras de televisão foram chamados para fazer imagens do prédio, e registraram aquilo que, na versão policial, seria a destruição de máquinas e equipamentos promovida pelos jovens.
“Com certeza o ambiente em que fomos abordados não foi o ambiente que deixamos”, argumenta um rapaz detido. “Durante as revistas e tudo o que estava acontecendo, ouvimos por diversas vezes barulho de quebradeira. Agora vieram dizer que tem um monte de coisa danificada. Objetos que colocamos em salas separadas sumiram.”
“Um retrocesso histórico toda essa força bruta na universidade”, queixou-se, pelo Facebook, o jovem de perfil PaulinhoIn Fluxusz, também detido. “Impressionante ver a PM apresentando falsos coquetéis molotov ao lado do meu cachecol”.

“Rodas provou que merece o título (inédito) de persona non grata da Faculdade de Direito”. A ocupação da Reitoria foi um movimento pacífico, apresentado pela mídia de forma totalmente distorcida para a sociedade, e que reivindicava algo que deveria fazer parte da normalidade: participação nas decisões. Se a USP fosse uma universidade democrática, se o Reitor fosse eleito com o voto direto da comunidade universitária, se no Conselho Universitário houvesse uma representação adequada de estudantes, funcionários e professores, não haveria ocupação. As questões seriam discutidas e encaminhadas normalmente, no diálogo. Ocorre que a USP é um feudo, onde um pequeno círculo de poder manda e desmanda. O Reitor nomeia a maioria dos eleitores do Reitor que o sucederá. E assim um pequeno grupo, um círculo de poder, ligado ao Governo do Estado, perpetua-se como proprietário da USP. (Posição do coletivo Universidade em Movimento sobre a ação da Tropa de Choque e a ocupação do campus pela Polícia Militar)


Celso Lungaretti: Escalada autoritária na USP é início de golpismo?

por Celso Lungaretti, em Náufrago da Utopia
Previsivelmente, a ditadura mal extirpada em 1985 insinua-se pelas frestas da democracia.
A presença e a ação da Polícia Militar no campus da USP, como um túnel do tempo, nos remete diretamente aos  anos de chumbo, quando tais demonstrações de força, de uma truculência e de um ridículo atroz, eram amiúde utilizadas para intimidar estudantes e cidadãos.
Pareceu estarmos assisitndo de novo a prisões em massa de universitários como as do congresso da UNE em Ibiúna e ataques a campi como o deflagrado por Erasmo Dias contra a PUC.
Foi o máximo de perda que poderia causar um episódio de absoluta insignificância. E, agora, a exigência de fiança para libertar quem jamais deveria ter sido preso é outra grotesca aberração — para não dizer evidente provocação.
Este caminho só leva ao acirramento dos ânimos, até se chegar ao que ninguém deveria querer: universitários mortos ou feridos por aqueles a quem compete defender a coletividade de bandidos, não tumultuar ambientes acadêmicos, com a conivência de um reitor sem legitimidade e sob as ordens de um governador que segue as piores cartilhas direitistas.
NÃO vale a pena ver de novo

O dia em que a USP reviveu a ditadura,  Texto : Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, do MediaQuatro

A detenção dos estudantes que fazem parte um movimento contra a repressão política e pela saída da Polícia Militar do campus representa uma escalada na criminalização das manifestações populares dentro da, talvez, mais importante universidade o Brasil. Dezenas de alunos e funcionários já respondem a processos administrativos baseados em um regulamento interno de 1972, criado em plena ditadura militar, por terem participado de outras manifestações no campus da USP nos últimos anos, algumas, inclusive, reprimidas fortemente pela polícia com o uso de cassetetes, balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.

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