Por que a direita perde no Brasil?
Por que a direita perde no Brasil?
A direita esgotou suas distintas modalidades de governo – ditadura
militar, governos neoliberais – entre 1964 e 2002, ficou esvaziada de
alternativas e tem que ver, passivamente, governos pós-neoliberais
derrotá-la – de 2002 a 2010, muito provavelmente 2014, completando, pelo
menos, 16 anos fora do governo.
Por que isso acontece? Em
primeiro lugar, porque se equivoca nos diagnósticos dos problemas
brasileiros e coloca em prática soluções equivocadas, sem capacidade de
fazer autocritica e emendar seus caminhos.
Prévio ao golpe de
1964, o diagnóstico se voltava contra “a subversão”, acusando complôs
internacionais que buscaria implantar no Brasil “o comunismo”. O
Estadão, por exemplo, chamava, nos seus vetustos editoriais, o moderado
governo Jango de governo “petebo-castro-comunista”.
Daí que o
centro do regime militar foi a repressão, para extirpar todos os vírus
da subversão, limpando o organismo brasileiro dos elementos infiltrados.
Nasceu de um golpe apoiado consensualmente pelo bloco dominante –
grande empresariado, imprensa, Igreja católica, governo dos EUA, FFAA.
Passada
a euforia inicial, o regime se estabilizou apoiado sempre na repressão,
mas também numa política econômica, em que o santo do “milagre” foi o
arrocho salarial, que permitiu o crescimento exponencial da exploração
dos trabalhadores e dos lucros das grandes empresas nacionais e
estrangeiras.
A retomada do crescimento econômico se baseou num
modelo com um marco classista evidente: se baseava no consumo das
esferas altas do mercado e na exportação, relegando a grande massa da
população, afetada pelo arrocho salarial. Foi uma lua de mel idílica
para o grande capital, que recebia todo o apoio governamental e não
encontrava resistência nos sindicatos – todos sob intervenção militar.
Foi
um sucesso que, assentado também nos empréstimos externos –
especialmente quando o capitalismo internacional passou do seu ciclo
longo expansivo do segundo pós-guerra a seu ciclo longo recessivo,
iniciado em 1973 –, o que fez com que o modelo se esgotasse com a crise
da divida – na virada dos anos 1970 à década seguinte.
Passou-se a
apostar na democracia como a solução de tantos problemas acumulados no
Brasil. O bloco dominante fez uma tortuosa transição da passagem do
apoio à ditadura para a democracia, ajudado pela fundação do PFL e pela
aliança, pela derrota da campanha das diretas e pela eleição do novo
presidente pelo Colégio Eleitoral, que consagrou a aliança entre o velho
e o novo – este na sua modalidade mais moderada, com Tancredo Neves.
O
governo Sarney funcionou como transição entre a temática
ditadura/democracia para a temática Estado/mercado. A democratização
reduziu-se ao restabelecimento formal dos direitos políticos, sem
democratizar nenhuma outra estrutura da sociedade: nem as grandes
corporações privadas, nem os bancos, a terra, a mídia.
Com Collor
introduziu-se no Brasil o diagnóstico neoliberal: a economia não
voltava a crescer por excesso de regulamentação. E, no seu bojo, vieram
as privatizações, o Estado mínimo, a precarização laboral, a abertura do
mercado. A queda do Collor deixou essas bandeiras disponíveis, que
encontraram em FHC sua reformulação – naquela que passou, até hoje, a
ser o diagnóstico da direita sobre os problemas do Brasil, resumidos num
tema: o Estado não é a solução, mas o problema – como enunciado por
Ronald Reagan há já mais de 30 anos.
Lula veio para desmontar
esses diagnósticos. O Estado mínimo favoreceu a centralidade do mercado
e, com ela, a exclusão social e a concentração de renda, pela falta de
proteção que politicas sociais levadas a cabo pelo Estado poderiam levar
adiante.
O sucesso dos governos Lula e Dilma deixa desarmados e
desconcertados os próceres – partidários e midiáticos – da direita. A
crise do capitalismo iniciada em 2008 e que segue sem hora para acabar,
gerou um novo consenso na necessidade de intervenção anticíclica do
Estado. A capacidade de resistência dos governos progressistas da
América Latina pela prioridade das politicas sociais, dos processos de
integração regional e dos intercâmbios Sul-Sul, e pela recuperação do
Estado como indutor do crescimento econômico e garantia das dos direitos
sociais da maioria – terminou de desarvorar a direita e deixá-la sem
plataforma e sem alternativas.
Os candidatos que buscam uma
brecha para se projetar – sejam Serra, Heloisa Helena, Alckmin, Marina,
Plínio, Aécio, Eduardo Campos – se situam à direita do governo. Não
conseguem reconhecer o extraordinário processo de democratização social
que o pais vive há mais de 10 anos. Ou tentam aparecer como seus
continuadores – como na primeira parte da campanha do Serra em 2010 –,
ou desconhecem o novo panorama social brasileiro e atacam o Estado – de
forma direta, como o Alckmin em 2006, ou de forma indireta, com a
centralidade do combate à corrupção, outra forma do diagnostico de que o
problema do Brasil é o Estado ou ainda na temática ecológica com a
visão de que a “sociedade civil” é alternativa ao Estado, como a Marina.
Assim,
a direita perdeu em 2002, 2006, 2010, e tem todas as possibilidades de
seguir perdendo em 2014 e depois também. Porque não entende o Brasil
contemporâneo, seu diagnóstico ainda é o neoliberal.
Postado por Emir Sader
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