DESENVOLVIMENTISMO X NEOLIBERALISMO –
dois modelos em confronto.
Enquanto o mundo desenvolvido neoliberal entra em crise a partir de
2008 e não consegue sair dela; na América Latina várias países
conseguiram adotar um modelo alternativo que iniciou o
desenvolvimento social e a melhoria do bem estar social de suas
populações. O modelo neoliberal entrou em crise devido à excessiva
liberdade oferecida ao mercado financeiro pelas autoridades
monetárias, a partir dos anos 80 nos EUA, abusando assim da
especulação e das maracutaias que enganavam os investidores. O
modelo, enxugou a máquina estatal de gastos sociais, reduziu
impostos dos ricos e diminuiu o poder de barganha dos sindicatos de
trabalhadores para aumentar as margens de lucros dos oligopólios.
Criaram também toda uma ideologia favorável à liberdade do
capital, ao “Deus mercado”, às “maravilhas do neoliberalismo”
absorvidas totalmente pela mídia, inclusive na América Latina, cuja
elite conservadora é submissa à matriz.
O modelo desenvolvimentista, dos socialistas
democráticos, foram reeleitos na Venezuela de Hugo Chávez, no
Equador de Rafael Correa, na Argentina de Kirchner e Cristina, na
Bolívia de Evo Morales e no Brasil de Lula e Dilma. Todos
foram reeleitos contra a vontade de uma elite conservadora (apoiada
pela mídia local e pela direita americana), que lutou ferozmente
contra eles nas eleições, usando de artifícios desonestos,
calúnias e difamações. Enquanto a Europa se afunda em políticas
de austeridade, partidos governistas são substituídos por outros de
qualquer orientação que aprovam mais cortes sociais, promovem mais
privatizações e aumentam a desigualdade; na América Latina os
governos resolutamente viraram as costas para esse modelo, reduziram
a pobreza e a desigualdade, reergueram indústrias, proveram mais
recursos de controle corporativo, expandiram maciçamente os serviços
públicos e a participação democrática. O modelo
desenvolvimentista desenvolvido pela esquerda latino-americana se
baseia na melhoria dos indicadores sociais (redução da pobreza,
elevação de renda dos mais pobres, redistribuição de renda, queda
do desemprego, etc.) mas que resultaram também no incremento da
atividade econômica (crescimento do PIB, da renda per capita, da
produção econômica em geral). Como veremos em seguida. Todos estes
governos vieram depois de fracassados governos neoliberais e de seus
problemas tais como desemprego, juros, dívida, privatizações,
fraco desempenho econômico, recessão, etc.....
BRASIL E MÉXICO (neoliberal). A
mídia do pensamento único defende o modelo neoliberal, mesmo tendo
que mentir e esconder dados, como no caso do México, considerado um
“sucesso” do modelo liberal depois que se integrou ao bloco Nafta
(EUA, Canadá e México). No entanto, basta comparar alguns dados
econômicos-sociais para se perceber o fracasso deste modelo. No
período 2003-2012, usando dados do Banco Mundial e do Ministério do
Trabalho dos dois países vemos que o crescimento médio anual do PIB
brasileiro foi de 4,21%; o do México de 2,92%. O crescimento total
da economia brasileira foi de 42,17%; o do México de 29,29%. Por
outro lado, a renda per capita brasileira cresceu a uma taxa anual de
2,84% e a do México, 1,42%. O crescimento total da renda no Brasil
foi de 28,4%, e no México foi de 14,26%. E a participação dos
salários na renda chegou a 45% no Brasil, contra 29% no México.
Nesse mesmo período, o Brasil criou 16 milhões de novos empregos
formais, e o México 3,5 milhões; e a pobreza absoluta foi reduzida
a 15,9%, no Brasil, e aumentou para 51,3%, no México. Por fim,
(pasmem-se), entre 2002 e 2012, o “investimento direto estrangeiro”
cresceu, no Brasil, de US$ 16,59 bilhões, para US$ 76,11 bilhões de
dólares. No México, caiu de US$ 23,932 bilhões, em 2002, para U$
15,455 bilhões, em 2012! Só para encerrar a comparação, em 2013 a
economia brasileira cresceu 2,3%, (uma das maiores taxas entre as
grandes economias do mundo), enquanto a economia mexicana cresceu
1,1%. Como o México pode servir de exemplo para o Brasil ? Na cabeça
dos neoliberais, o México é melhor que o Brasil porque as margens
de lucro são maiores, paga-se menos impostos e os salários são
mais baixos.
BRASIL. Pode-se comprar também
os 8 anos de governo neoliberal de FHC (1995-2002) com os governos
desenvolvimentistas de Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014).: 1)
Taxa de Desemprego (IBGE): FHC (Dezembro de 2003) – 12,6%; Dilma
(Dezembro de 2013) – 4,3%; 2) Taxa
Selic (Banco Central): FHC (Dezembro de 2002) - 25% a.a.; Dilma
(Agosto de 2013) - 11% a.a.; 3) Salário
Mínimo (IBGE): FHC (Dezembro de 2002) - R$ 200 (US$ 56); Dilma
(Agosto de 2013) - R$ 724 (US$ 323); 4)
Empregos Formais (Caged-Ministério do Trabalho): FHC
(1995-2002) - 5 milhões; Lula-Dilma (2003-2013) - 20 milhões; 5)
Escolas Técnicas Federais (MEC): FHC – 11; Lula – 214, Dilma –
208; 6) Universidades Federais
(MEC):
FHC – 1; Lula – 14; Dilma – 4; 7)
Índice de Gini (FGV): FHC (2002) – 0,588; Dilma (2012) – 0,519.
8) PIB(Banco Central): FHC
(2002) - US$ 459 bilhões (2o. da América Latina e 15o. do Mundo);
Dilma (2013) - US$ 2,2 Trilhões (1o. da América Latina, 2o. das
Américas e 6o. do Mundo); 9) Reservas
Internacionais Líquidas (Banco Central): FHC (Dezembro de 2002) -
US$ 16 bilhões; Dilma (Abril de 2014) - US$ 377,8 bilhões; 10)
Dívida Pública Líquida (Banco Central): FHC (Dezembro de 2002) -
60,5% do PIB; Dilma (Fevereiro de 2014) - 33,8% do PIB.
EQUADOR. Correa foi originalmente
eleito na esteira de um colapso econômico tão devastador que um em
cada dez equatorianos deixaram o país. Desde então, a sua
"revolução cidadã" cortou a pobreza em quase um terço e
a extrema pobreza em 45%. O desemprego foi reduzido, enquanto a
segurança social, a saúde e a educação gratuitas foram
rapidamente expandidas - incluindo o ensino superior gratuito.
(Seumas Milne do The Guardian, escreveu “A América Latina é a
alternativa”). Em 2013, Correa foi reeleito para o seu terceiro
mandato. Rafael Correa terá mais quatro anos no poder. Não é
difícil entender os motivos. O desemprego caiu para 4,1% no final do
ano passado – a menor taxa nos últimos vinte e cinco anos. A
pobreza diminuiu 27% desde 2006. Os gastos em educação mais que
dobraram em termos reais.
Um maior investimento em saúde ampliou o acesso da população aos
cuidados médicos. Outras despesas sociais também se ampliaram
substancialmente, incluído o subsídio do governo à aquisição da
casa própria.
Isso pode parecer insustentável, mas não é. O pagamento dos juros
da dívida externa do Equador é menos de 1% do PIB, o que é muito
pouco; e a dívida pública do país é 25% do PIB, o que também é
bem pouco.
O governo também reformou e regulou o sistema financeiro. E aqui nós
chegamos ao que é, provavelmente, a mais competente reforma
financeira de qualquer país no século XXI. O governo tomou o
controle do banco central e o forçou a trazer de volta cerca de dois
bilhões de reservas que estavam no exterior. O dinheiro foi usado
pelos bancos públicos para fazer empréstimos que beneficiaram a
infraestrutura, o setor de construção e a agricultura. O dinheiro
que estava deixando o país foi taxado e os bancos foram obrigados a
manter 60% do seu patrimônio líquido no país. Isso levou as taxas
de juros para baixo. O objetivo de todas as alteração foi dar ao
sistema financeiro um caráter de interesse público, ao contrário
do que acontece em países como os Estados Unidos. Para que isso
acontecesse, o governo também separou o setor financeiro da mídia –
os bancos eram proprietários da maior parte das empresas
jornalísticas antes da eleição de Correa – e criou leis contra
monopólios. O Equador também deixou de pagar um terço de sua
dívida externa depois que uma comissão internacional concluiu que
aquela porção tinha origem ilegal. Mas Correa, um economista com
Ph.D., soube escolher o momento certo para ignorar a maior parte de
seus colegas.
Correa sofre críticas da mídia por ir contra a sabedoria
convencional e – provavelmente o maior pecado aos olhos da imprensa
da negócios – ter sucesso. A maior agressão da mídia veio
quando o Equador ofereceu asilo ao jornalista Julian Assange, do
Wikileaks.
Mas aqui, como na política econômica e na reforma financeira,
Correa estava certo. (Guardian traduzido para o Diário do Centro
do Mundo : “Por que o Equador ama Rafael Correa”).
A VENEZUELA de Hugo Chávez, sem
dúvida é o modelo socialista (anti-neoliberal, bolivariano e/ou
anti-imperialista, como dizia Chávez) que mais avançou na América
Latina e talvez por isso o mais perseguido pelos EUA (que inclusive
apoiou um golpe de Estado contra Chávez em 2002) e em consequência
pela direita latino-americana, que repete os mantras da direita
americana. Chávez ganhou eleições livres de 1999 até 2012 (15 das
16 eleições) durante os 14 anos no poder e, mesmo assim a mídia
conservadora o chama de “ditador”, porque a mídia americana
assim o classifica. A União Européia, a OEA, a UNASUR e até o
Centro Carter (do ex-presidente americano Jimmy Carter) reconheceram
a transparência das eleições venezuelanas.
Alguns resultados do seu modelo: 1)
Em 2005, a Unesco declara a Venezuela livre do
analfabetismo, graças ao programa de alfabetização denominado
Missão Robinson I.; 2) O número
de crianças na escola passou de 6 milhões em 1998 para 13 milhões
em 2011, e a taxa de escolarização agora é de 93,2%.; 3)
A Missão Robinson II foi lançada para levar a população a
alcançar o nível secundário. Assim, a taxa de escolarização no
ensino secundário passou de 53,6% em 2000 para 73,3% em 2011.; 4)
As Missões Ribas e Sucre permitiram que dezenas de
milhares de jovens adultos chegassem ao Ensino Superior. Assim, o
número de estudantes passou de 895.000 em 2000 para 2,3 milhões em
2011, com a criação de novas universidades.;
5) Em relação à saúde, foi
criado o Sistema Nacional Público para garantir o acesso gratuito à
atenção médica para todos os venezuelanos. Entre 2005 e 2012,
foram criados 7.873 centros médicos na Venezuela. O número de
médicos passou de 20 por 100 mil habitantes, em 1999, para 80 em
2010, ou seja, um aumento de 400%. Cerca de 17 milhões de pessoas
puderam ser atendidas, enquanto que, em 1998, menos de 3 milhões de
pessoas tinham acesso regular à saúde. Foram salvas 1,7 milhão de
vidas entre 2003 e 2011. ; 6) A
taxa de mortalidade infantil passou de 19,1 a cada mil, em 1999, para
10 a cada mil em 2012, ou seja, uma redução de 49%.; 7)
De 1999 a 2011, a taxa de pobreza passou de 42,8% para
26,5%, e a taxa de extrema pobreza passou de 16,6% em 1999 para 7% em
2011.; 8) IDH: a Venezuela
passou do posto 83 no ano 2000 (0,656) ao 73° lugar em 2011
(0,735).; 9) O coeficiente Gini,
que permite calcular a desigualdade em um país, passou de 0,46 em
1999 para 0,39 em 2011. ; 10) Segundo
o PNUD, a Venezuela ostenta o coeficiente Gini mais baixo da América
Latina, e é o país da região onde há menos desigualdade.; 11)
Durante a presidência de Chávez, os gastos sociais
aumentaram 60,6%. Antes de 1999, apenas 387 mil idosos recebiam
aposentadoria. Agora são 2,1 milhões.; 12)
Cinco milhões de crianças agora recebem alimentação gratuita por
meio do Programa de Alimentação Escolar. Em 1999, eram 250 mil.;
13) A taxa de desemprego passou
de 15,2% em 1998 para 6,4% em 2012, com a criação de mais de 4
milhões de postos de trabalho.; 14) A
dívida pública passou de 45% do PIB em 1998 a 20% em 2011. A
Venezuela se retirou do Fundo Monetário Internacional e do Banco
Mundial, pagando antecipadamente todas as suas dívidas.; 15)
A Venezuela oferece um apoio direto ao continente americano mais
alto que os Estados Unidos. Em 2007, Chávez ofereceu mais de 8,8
bilhões de dólares em doações, financiamentos e ajuda energética,
contra apenas 3 bilhões da administração Bush. (“50 verdades
sobre Hugo Chávez” - Opera Mundi). Ver também o documentário
“Ao Sul da Fronteira” de Oliver Stone.
ARGENTINA. Os governos Cristina
Fernández Kirchner foram marcados pela redução da pobreza, pela
criação de 3,5 milhões de postos de trabalho, pela aprovação do
matrimônio igualitário e pelo crescimento do PIB. Puniu-se
militares que atuaram durante a Ditadura Militar Argentina, empresas
foram nacionalizadas e seguiu-se uma política externa independente.
No final de 2013, a dívida externa caiu para mínimo histórico de
17,9% do PIB. Entre 2003 e 2010, o CONICET (órgão de pesquisas
incorporado ao Ministério da Ciência e Tecnologia) contratou mais
de 8 mil pessoas, aumentando em 93,2% seu pessoal. A quantidade de
investigações em 2003 era de 3804, número que subiu para 6350 em
2010.
O Crescimento econômico da Argentina sob o governo de Néstor e
Cristina Kirchner foi um dos mais expressivos e acelerados da região.
A média de crescimento econômica da Argentina durante o governo de
Cristina Fernández foi de 7,9% anuais. Em 2011, o crescimento
econômico argentino foi o segundo maior da América Latina, perdendo
apenas para o Equador. Desde 2003, o país apresenta crescimento
econômico com taxas que oscilaram em torno dos 9%. O PIB per capita
de 2011, medido em paridade de poder aquisitivo do dólar americano,
é o mais alto da América Latina. Segundo dados do FMI para 2011, a
Argentina é a terceira maior economia da América Latina, superada
pelo Brasil e pelo México. Segundo um informe de 2010 da Comissão
Econômica para América Latina e o Caribe, a pobreza se encontrava
em 11,3%, o que significou uma redução de 34,1 pontos percentuais.
A taxa de pobreza da Argentina se tornou a segunda mais baixa da
América Latina, atrás somente do Uruguai (10,7%). De acordo com
relatórios do Banco Mundial, entre 2003 e 2009 Argentina dobrou sua
classe média passando de 9,3 milhões - 18,6 milhões de pessoas,
quase metade da população. O governo Cristina Fernández criou 3,5
milhões de postos de trabalho com carteira assinada. Entre 2003 e
2011, houve uma acentuada queda da taxa de desemprego. Em 2011, a
taxa caiu para 7,4%. Foi o quarto trimestre de 2012 a taxa de
desemprego diminuiu para 6,9%. Em agosto de 2013 anunciou um aumento
de 25% no salário mínimo tornou-se o maior da América Latina em
termos de compra, chegando a 3.600 pesos, também eliminou impostos
sobre os salários. Em 2009 foi implantado O programa AUH (com base
no Programa Bolsa Família brasileiro) de transferência direta de
renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de
pobreza e de extrema pobreza. Em dois anos, o AUH reduziu a pobreza
em 13%. Após o plano quinquenal do governo Perón entre 1947 e 1951,
o período de 2003 a 2010 foi o de maior construção de escolas na
história da Argentina. Entre 1969 e 2003, os diferentes governos
nacionais financiaram a construção de um total de 427 escolas,
enquanto que entre 2003 e 2010 se construíram mais 1100 escolas que
beneficiaram a meio milhão de alunos, segundo dados oficiais. Foram
criadas mais de dez novas universidades....a redução da mortalidade
infantil entre 2003 e 2012 foi de 33%. ...Em novembro de 2009, foi
aprovada a Lei de Proteção da Liberdade de Expressão e a
descriminalização da calúnia e difamação. As leis foram apoiados
pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas, observando que: "É
um passo importante para o avanço da liberdade de expressão na
Argentina e na América Latina." Hoje a Argentina tem uma das
melhores “ley de medios” do mundo, acabando com o monopólio no
setor e democratizando os meios de comunicação – um exemplo para
os outros países da região.
A vitória da democracia argentina, com a aprovação da Ley
dos Medios pela suprema corte, se reflete em todo o
continente, onde grupos privados de mídia, fortalecidos à sombra de
ditaduras e com apoio do imperialismo, tornaram-se a principal força
política de oposição aos governos progressistas da região.
“Quando a democracia renasce na América Latina, eles são os
únicos sobreviventes num ambiente devastado. Esses gigantes
poderosos, ainda apoiados por agências norte-americanas, abusaram de
sua força para influenciar o processo de redemocratização, impondo
leis e elegendo seus candidatos. Assim que a década negra do
neoliberalismo, quando a pobreza e a desigualdade de renda atingem
seus pontos culminantes, foram também a década de ouro da grande
mídia sul-americana, alinhada ao rentismo bilionário que sugava o
sangue dos trabalhadores do continente. Quando o jogo se inverte, e
os povos aprendem a usar o voto para derrubar governantes que não
exerciam políticas em seu benefício, esses grupos aderem à
oposição. Entretanto, repito, o problema não é seu oposicionismo,
e sim o ambiente de monopólio, sem leis, em que esses gigantes
operam. Uma passagem, citando o direito internacional sobre o tema,
atrapalhará a tentativa do Clarín (grupo que detinha o monopólio
da mídia na Argentina) de levar a decisão aos tribunais
internacionais. Diz o trecho, citando a Declaração
sobre Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos: “os
meios de comunicação têm um poder inegável na formação
cultural, política, religiosa, de todos os habitantes. Se estes
meios são controlados por um reduzido número de indivíduos, ou por
um só, cria-se uma sociedade onde um reduzido número de pessoas
exercem o controle sobre a informação e, direta ou indiretamente, a
opinião que recebe o resto da população. Esta carência de
pluralidade na informação é um sério obstáculo ao fundamento da
democracia”. (Miguel do Rosário – O CAFEZINHO).
Crescimento econômico e programas sociais asseguraram a reeleição
da presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner no domingo
(23 de outubro de 2011), com 54% dos votos contra 17% do segundo
colocado, o socialista Hermes Binner. Foi o resultado mais expressivo
nas urnas desde a redemocratização do país em 1983, quando Raúl
Alfonsin foi eleito com 51% dos votos. Cristina também se tornou a
primeira mulher reeleita na história da Argentina.
BOLÍVIA
Nas eleições presidenciais de Dezembro de 2005, Evo
Morales conseguiu sair como vencedor ao obter 53,74% dos
votos, frente a 28,59% de seu principal opositor, Jorge Quiroga. Pela
primeira vez na Bolívia um indígena sobe ao poder mediante o voto
popular por uma margem considerável sobre o segundo postulante.
Assumiu o poder em 22 de janeiro de 2006 como o primeiro mandatário
boliviano a ser eleito Presidente da República em primeiro turno em
mais de trinta anos, e sendo reeleito
em 6 de dezembro de 2009. Em 1° de maio de 2006, Evo Morales declara
a nacionalização dos hidrocarbonetos e das refinarias, postos e
distribuidores de petróleo, gás e derivados, além de tornar o
governo boliviano sócio majoritário dessas indústrias, detendo 50%
mais 1 das ações. A economia boliviana crescia à uma média de 3%
nos governos anteriores. Nos três anos do governo Morales, a taxa de
crescimento do PIB subiu de 4.8% (2006), 4,6% (2007) para 6,1% em
2008, com destaque para o setor de mineração (crescimento de mais
de 50%) depois da estatização do setor. O PIB per capita cresceu
consideravelmente, passando de uma média de 7,700 pesos em 2000,
para 10.800 pesos em 2006 para 12.700 pesos em 2008. Também houve
incremento de bolsas tipo Bolsa Família, atingindo 20% da população,
melhorando consideravelmente a renda das famílias mais pobres. Nos
governos anteriores (2000 a 2005) havia déficit fiscal, no governo
Morales (2006-2008) a situação se inverte para superavit fiscal.
Depois da nacionalização, o governo passa a ter muito mais recursos
próprios aumentando o nível de investimentos produtivos (70%
estatal) na economia, mas aumentando também o volume dos
investimentos estrangeiros de 270 para 512 milhões de dólares no
período. As reservas internacionais também dobraram no período,
passando de 3,2 para 7,7 bilhões de pesos bolivianos. O valor da
Dívida Pública Externa caiu pela metade nestes três anos. A
arrecadação de impostos dobrou.
Alfabetização: A Bolívia
tinha 823.000 analfabetos, alfabetizou 820.000 atingindo 97% da
população, livrando-a portanto do analfabetismo e passando a ser o
terceiro país da América Latina livre do
analfabetismo (depois de Venezuela e Cuba). Número de
escolas construídas : 187 (203-2005) aumentou para 426 (2006-2008).
O número de atendimentos de pessoas no setor de Saúde passou de 1,3
milhões (2005) para 17 milhões em 2008. Número de ambulâncias : 4
(2005), aumentando para 334 em 2008. Quase 7 milhões de pessoas
foram beneficiadas com o programa Renda Digna.
Evo Morales já não é “a mudança” como em 2005, nem o
“enterrador da oligarquia” de 2009. Sua meta agora é convencer
os eleitores dos benefícios da “estabilidade” – como se
percebe no aumento do consumo e em um longo período de crescimento.
Se conseguir, terá o recorde de ser o presidente boliviano que durou
mais tempo no poder, por cima de Andrés de Santa Cruz, o fundador da
pátria. Uma pesquisa publicada recentemente deu a Evo Morales mais
de 45% das intenções de voto e 32 pontos de diferença com seu
concorrente mais próximo para as eleições do final deste ano
(2014). Pode ser reeleito pela
terceira vez.
Os governos socialistas democráticos da América Latina atacaram a
desigualdade social e racial, desafiaram a dominação dos EUA e
começaram a criar uma verdadeira integração regional independente
pela primeira vez em 500 anos. E, dado que a maioria foi reeleita,
não é surpreendente que continuem recebendo votos para continuarem
no poder. Os meios de comunicação ocidentais retratam os governos
do Equador e da Venezuela como ditatoriais. Na realidade, a ameaça
antidemocrática real vem de aliados do próprio EUA, que lançaram
golpes abortados contra Chávez e Correa e golpes bem-sucedidos em
Honduras em 2009 e no Paraguai em 2012.
O
documentário South
of the Border (Ao Sul da Fronteira) é
um filme estadunidense de 2009, do gênero documentário político,
dirigido, escrito e produzido por Oliver
Stone. Para realizar o filme, Stone e sua equipe viajaram
do Caribe até o sul da Cordilheira dos Andes numa tentativa de
explicar o fenômeno que é o presidente venezuelano Hugo
Chávez na região e fazer um relato da recente guinada à
esquerda na América Latina. Também tentam compreender a chamada
Revolução Bolivariana de Chávez
e o desenvolvimento social da região no século XXI. Stone procurou
evidenciar o trabalho de vários outros
líderes latino-americanos de esquerda cujas políticas
geralmente recebem atenção limitada da mídia estadunidense e
europeia. São eles: Evo Morales da Bolívia,
Fernando Lugo do Paraguai, Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil,
Néstor e Cristina Kirchner da Argentina, Rafael Correa do Equador e
Raúl Castro de Cuba. Os personagens são conhecidos da
opinião pública, mas poucas vezes tiveram chance de falar na mídia,
especialmente na norte-americana, com suas próprias vozes. O
roteirista, o historiador britânico de origem paquistanesa Tariq Ali
definiu o projeto como "um road movie político".
Entrevista de Stone ao UOL cinema:
“.....No Brasil, na Venezuela, na Argentina. Grandes cadeias,
grandes famílias, eles são como os oligarcas. Eles são donos dos
meios de comunicação, das emissoras de televisão. E eles os usam
para interesse próprio. E eles mentem. E o Departamento de Estado
americano concorda com eles porque querem controlar a região e o
fazem. Eles fazem isso há 150 anos. O Departamento de Estado fornece
o material e os meios de comunicação americanos, as emissoras e as
agências publicam as histórias sobre todas essas pessoas. Até
mesmo Lula, que era [visto como] a "boa esquerda"
sul-americana, agora é visto como a "má esquerda" por
causa de sua posição a respeito do Irã, o que mostra quão louca é
essa situação.....Não acredito mais nos meios de comunicação
americanos. Tive minhas próprias experiências com eles. E acho que
eles foram tão negativos em relação a Chávez que nem mencionaram
os outros países. ...” …....”O filme é destinado aos
80% de pessoas que não são representados nesse tipo de filme, os
80% que foram beneficiados pelas políticas desses novos
líderes.”......... "Ao Sul da Fronteira" é uma história
imensa, que os americanos não conhecem. Eles não sabem nada sobre
isso. Eles ouvem uma versão completamente falsa sobre [o presidente
venezuelano Hugo] Chávez nos meios de comunicação americanos. Eles
não sabem nada sobre a Argentina, não sabem sobre a disputa de
Nestor Kirchner contra o FMI na América do Sul - [os argentinos]
promoveram grandes mudanças no modo como fazem negócios. Não sabem
que a Bolívia quer seus próprios recursos, sobre o Equador. Não
sabem nada a respeito disso.”
Oliver Stone tem razão quando diz que os americanos não sabem nada
sobre a América Latina e acrescentamos que nós também não sabemos
nada sobre nossos irmãos latino-americanos e nem mesmo sobre nós
mesmos, porque a mídia esconde
dados sobre nossa realidade, omite informações sobre o que estes
governos realizam. Se dependermos da MÍDIA fazendo a nossa cabeça,
sempre acharemos que estes governos são perversos, corruptos
e mau
intencionados. Ela criminaliza os governos de esquerda porque estão
a serviço dos interesses das grandes corporações multinacionais.
Ainda bem que temos a internet com muito mais opções de
informações. Alguém já disse que “o Brasil é o único país do
mundo em que o governo federal é censurado pela imprensa.”
Acrescentamos: o Brasil e outros países latino-americanos cujos
governos são perseguidos pela imprensa neoliberal.
Daniel Miranda Soares é economista e mestre pela UFV, aposentado
em administração pública.
Nenhum comentário:
Postar um comentário