sexta-feira, 5 de abril de 2019

“QUEM MANDA NO MUNDO” ? Trechos do livro de Noam Chomsky.

14 de Agosto de 2018, 10:48, por Daniel Miranda Soares - 
QUEM MANDA NO MUNDO” ? Trechos do livro de Noam Chomsky ( ed. Planeta, SP, 2018)

A GUERRA FRIA FOI UMA FARSA..........No pós-guerra, os EUA difundiam uma "versão padrão" de que o primeiro compromisso do governo é garantir segurança CONTRA A AMEAÇA RUSSA..... Depois que a URSS foi extinta o governo americano continuou sua mesma política externa, invadindo e derrubando governos..... em sua "nova política" os EUA TINHAM QUE MANTER SEU ESTABLISMENT MILITAR.... sua "base industrial de defesa" - a expressão se referia à indústria hight-tech, que depende pesadamente de vasta intervenção estatal para pesquisa e desenvolvimento, atuando sigilosamente sob a asa do Pentágono....que os economistas costumam chamar de "economia de livre mercado". (p.191). .....CINQUENTA ANOS DE ENGANAÇÃO E MENTIRAS, o governo admitia-se discretamente que a principal preocupação no Terceiro Mundo não eram os russos, mas antes o que se chamava de "nacionalismo radical", que significava nacionalismo independente, que não estava sob controle dos EUA (dizia documento de Segurança Nacional da Casa Branca, gov. Bush, 1990)..…


NACIONALISMO? SÓ PARA OS EUA….TERCEIRO MUNDO NÃO PODE….. Os EUA defendem o nacionalismo pra eles mesmos, pois a economia americana depende pesadamente de uma substancial intervenção do Estado. (p.192)... Já para os outros do Terceiro Mundo é proibido governos nacionalistas... na América Latina governos nacionalistas tendem a atender os interesses da maioria da população....NÃO PODE!, primeiro tem que atender os interesses dos investidores norte-americanos, enquanto que a América Latina só deve servir para suprir matérias primas... Como as administrações Truman e Eisenhower deixaram bem claro, a América Latina não poderia passar por um "desenvolvimento industrial excessivo" que talvez prejudicasse os interesses dos EUA. (p.193).

ATROCIDADES….. um avião civil da Iran Air voo 655 foi abatido por um missil guiado disparado pelo cruzador norte-americano Vincennes, operando em águas iranianas no golfo Pérsico…. Todas as 290 pessoas a bordo morreram inclusive 66 crianças….é o caso de se perguntar… o que exatamente o Vincennes estava fazendo em águas iranianas ? A resposta é simples: a belonave estava defendendo o grande amigo de Washington, Saddam Hussein, em sua assassina agressão contra o Irã…… dois anos depois o comandante do Vincennes foi agraciado com a Legião de Mérito por “conduta excepcionalmente meritória na execução de extraordinários serviços”… a derrubada do avião não foi mencionada na cerimônia…. O Presidente Ronald Reagan culpou os iranianos pelo desastre e defendeu as ações do navio de guerra, que “seguiu ordens padrão e procedimentos amplamente divulgados, disparando para se proteger contra um possível ataque”. (p. 204).

ALÉM DA CRISE DOS MÍSSEIS CUBANOS…. Houve outras ocasiões próximas de uma eventual guerra nuclear….. em 1983, arquivos recentemente divulgados revelam que a situação era mais grave do que se supunha os historiadores…. Um estudo da CIA intitulado “O temor da guerra era real” concluiu que a inteligência dos EUA subestimou as preocupações com a Rússia e a ameaça de um ataque nuclear preventivo soviético… motivo: o governo Reagan lançou operações para sondar as forças aéreas soviéticas por meio da simulação de ataques aéreos e navais e de um alerta nuclear de alto nível, concebido para ser detectado pelos russos….Washington estava posicionando mísseis estratégicos Pershing II na Europa, a cinco minutos de tempo de voo de Moscou….. O protocolo das Forças Armadas soviéticas era retaliar lançando seu próprio ataque nuclear. Felizmente, o oficial no comando, Stanislav Petrov, decidiu desobedecer às ordens e não comunicar os alertas aos seus superiores. Ele recebeu uma reprimenda oficial. E graças a essa negligente falta de cumprimento do dever, ainda estamos vivos para falar a respeito. (p.229).

OS EUA SÃO O PRINCIPAL ESTADO TERRORISTA DO MUNDO….(cap.17 e seguintes). Na cultura politica ocidental, torna-se como algo natural e adequado que o Líder do Mundo Livre governe um Estado bandido terrorista e proclame abertamente sua excelência nesse tipo de crime. Em 14 de outubro de 2014, a reportagem de primeira página do jornal The New York Times trazia um estudo elaborado pela CIA examinando operações terroristas de grande envergadura comandadas pela Casa Branca e realizadas ao redor do mundo, em um esforço para determinar os fatores que levaram ao sucesso ou ao fracasso de cada uma delas. E a organização não foi capaz de encontrar muita coisa. ….Em Angola, os Estados Unidos juntaram-se à África do Sul fornecendo o apoio decisivo para a UNITA, o exército terrorista de Jonas Savimbi. Depois que a própria África do Sul já havia retirado seu apoio daquele “monstro cuja ânsia por poder havia impingido ao seu povo um apavorante sofrimento (nas palavras do embaixador britânico em Angola, Marrack Goulding) numa declaração respaldada pelo chefe da CIA na vizinha Kinshasa. O alto funcionário da CIA alertava que “não era uma boa idéia” apoiar o monstro, “por causa da extensão dos crimes de Savimbi. Ele era terrivelmente brutal.
Apesar das amplas e assassinas operações terroristas apoiadas pelos EUA em Angola, forças cubanas expulsaram do país os agressores sul-africanos, forçaram-nos a deixar a Namíbia ilegalmente ocupada e abriram caminho para a realização da eleição em Angola…..eleição livre e reconhecida internacionalmente por 800 observadores internacionais, para quem as eleições haviam sido livres e justas, segundo o NYT. …..após sua derrota no pleito Savimbi desprezou o resultado das eleições e continuou a guerra terrorista com o respaldo dos EUA.

As façanhas de Cuba na libertação da África e no fim do apartheid foram enaltecidas por Nelson Mandela quando ele finalmente ganhou a liberdade. Um de seus primeiros atos foi declarar que “durante todos os meus anos de prisão, Cuba foi uma inspiração e Fidel Castro, uma torre de fortaleza…. As vitórias cubanas destruíram o mito da invencibilidade do opressor branco e inspiraram as lutas de massas da África do Sul…. Um ponto de inflexão para a libertação de nosso continente – e do meu povo - do flagelo do apartheid….. Que outro país pode apontar para um histórico de maior altruísmo do que Cuba demonstrou em suas relações com a África?”.

O comandante terrorista Henry Kissinger, ao contrário, ficou “apoplético” diante da insubordinação do “zé-ninguém” Castro, que a seu ver tinha de ser “esmagado”, conforme relatam William LeoGrande e Peter Kornbluh em seu livro Back channel to Cuba fiando-se em documentos recentemente dessegredados e liberados para conhecimento público. Em Cuba, as operações terroristas de Washington foram lançadas com plena fúria pelo presidente Kennedy e seu irmão para punir os cubanos por terem derrotado a invasão da baía dos Porcos orquestrada pelos EUA. Essa guerra terrorista não foi café pequeno. Envolveu a participação de 400 norte americanos, 2.000 cubanos, uma esquadra privada de lanchas e um orçamento anual de 50 milhões de dólares. A operação foi comandada em parte por uma base da CIA de Miami, violando o Ato de Neutralidade e a lei que proibe operações da CIA dentro dos EUA. As ações incluíram o bombardeamento de hotéis e instalações industriais, o afundamento de barcos pesqueiros, o envenenamento de plantações e rebanhos, a contaminação dos estoques de açúcar para exportação e assim por diante…. (típicas ações terroristas). Algumas dessas operações não receberam autorizações específicas da CIA, mas foram executadas pelas forças terroristas que a CIA custeava e apoiava, uma distinção que é irrelevante e não faz diferença no caso.

Como se revelou desde então, a guerra terrorista (Operação Mangusto) foi um fator de peso na decisão de Khrushchevde enviar mísseis para Cuba e na resultante “crise dos mísseis”, que chegou ameaçadoramente perto de uma guerra nuclear fatal. Deu-se atenção a apenas uma parte ínfima da guerra terrorista: as centenas tentativas de assassinar Fidel Castro, geralmente desconsideradas e tidas como meras traquinagens pueris da CIA. Além disso, nada do que aconteceu despertou muito interesse ou comentários. Em 2010 o pesquisador canadense Keith Bolender, publicou em seu livro Voices from the other side analisando os impactos das ações terroristas sobre os cubanos. Estudo valioso que em larga medida passou em branco e foi ignorado. …. a classe política aceita como normal e adequado que os EUA sejam uma superpotência terrorista, imune às leis e normas civilizadas.

De acordo com as mais importantes agências de pesquisa de opinião ocidentais (Win/Gallup International),o prêmio de “mais grave ameaça” cabe aos EUA, que o mundo considera a mais séria ameaça à paz mundial por larga margem. Felizmente, os norte-americanos foram poupados dessa informação insignificante. Quinze anos atrás o analista político Samuel Huntington alertava em um texto da revista Foreign Affairs, do establishment, que para a maior parte do mundo os EUA estavam “se tornando a superpotência vilã…. A única e maior ameaça externa às suas sociedades”. Suas palavras foram ecoadas por Robert Jervis, presidente da Associação Norte Americana de Ciência Política: “aos olhos da maior parte do mundo, o principal Estado bandido hoje são os Estados Unidos.” …. a opinião global corrobora, por ampla margem, esse juízo.

Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor universitário e mestre pela UFV.

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