domingo, 12 de junho de 2011

Battisti e o complexo de "vira-latas"


O  CASO  BATTISTI  E  O  COMPLEXO  DE  VIRA-LATAS DO  PIG

Basta  observar o comportamento  da grande imprensa brasileira ou PIG  (partido da imprensa golpista ou grande mídia conservadora - que apoiou o golpe militar de 1964, sob orientação da direita norte-americana.) que  podemos constatar facilmente o “complexo de vira-latas” que sofre nossa elite conservadora, muito bem retratada aqui pelo caso Césare Battisti, nas manchetes desta semana.

O POVO on line
“A Itália eleva a pressão sobre o Brasil, suspende acordos, chama seu embaixador no País e acusa o governo de ter pressionado politicamente o Supremo Tribunal Federal (STF) a libertar o ex-ativista Cesare Battisti, na quarta-feira. "Diante do ocorrido, não há diplomacia que se sustente", declarou o ministro de Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, na manhã de ontem.”

Estadão.com.br

Para Mendes, STF saiu ''menor'' do julgamento

        Itália recorrerá a Haia contra liberdade para Battisti


Veja.abril.com.br
            O lobby pró-Battisti

Jornal O Globo
Imprensa italiana diz que libertação de Cesare Battisti foi 'vergonha e humilhação'
RIO - A libertação do ex-militante Cesare Battisti se tornou o assunto principal da imprensa italiana, que tratou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não extraditar o ex-ativista como uma humilhação e uma vergonha para a Itália. Sob o título "Brasil rejeita recurso da Itália", a versão on-line do jornal "Corriere della Sera" diz que a não extradição de Battisti foi uma derrota dupla para o país, mas também tornou-se um constrangimento para o Brasil.
Cita também os jornais   "Il Messaggero"  "Il Tempo"  "Il Giorno"   "La Repubblica"  "Liberazione".  Este último diz  “que de nada valeu os argumentos do relator do caso, Gilmar Mendes, a favor da extradição do ex-ativista”.   Todos eles tratam Battisti como “terrorista”.

ESTADO  DE  MINAS
Ministra italiana diz que decisão sobre Battisti é 'ato indigno de Nação civilizada'
A ministra italiana da Juventude, Giorgia Meloni, qualificou nesta quarta-feira de "ato indigno de Nação civilizada e democrática" a decisão do Supremo Tribunal do Brasil de não extraditar o ex-ativista de esquerda Cesare Battisti, condenado na Itália por quatro assassinatos. "A decisão dos juízes do Supremo brasileiro de não autorizar a extradição de um criminoso como Battisti representa a enésima humilhação para as famílias de suas vítimas", declarou Meloni, citada pela agência Ansa. A decisão da Justiça brasileira constitui "um tapa nas instituições italianas e um ato indigno de uma Nação civilizada e democrática", afirmou Giorgia Meloni.

E os editoriais.  Editorial do jornal O Estado de São Paulo.Edição quotidiana do 10 de junho de 2010.  “A decisão do Supremo causou perplexidade por dois motivos. O primeiro é de caráter político. ....Em vez de agir como Corte constitucional, como é seu papel, o Supremo infelizmente se deixou levar por pressões políticas. ....Com isso, eles consagraram o desrespeito flagrante ao tratado de extradição que o Brasil firmou, soberanamente, com a Itália, há 22 anos.” 

Editorial do jornal Folha de São Paulo. Edição quotidiana do 10 de junho de 2010
 “........No seu quinto e derradeiro pronunciamento sobre o caso, o Supremo decidiu por seis votos a três que não poderia reverter a medida de Lula. Com isso, o criminoso ganhou a liberdade, e a justiça mais uma vez deixou de se cumprir.”

O Voto Católico, na sexta-feira, 10 de junho de 2011  ( http://www.votocatolico.com.br/2011/06/folha-o-estadao-o-stf-e-cesare-battisti.html)  reproduz editoriais da Folha e Estadão :

“Caros leitores, apresentamos os editoriais publicados hoje pelos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, os dois de maior circulação no país. Abordam a nefasta decisão do Supremo Tribunal Federal que determinou a libertação do terrorista italiano Cesare Battisti. Ainda que nem sempre concordemos com a linha editorial desses jornais, a opinião de ambos, neste caso, é digna de ser acompanhada.”


Fácil perceber pelas manchetes e editoriais do PIG, o quanto que nossa elite conservadora sofre do complexo de vira-latas. As opiniões e os argumentos da elite, expressada por intelectuais entrevistados pelo PIG, são os mesmos da imprensa italiana, dominada pelo empresário  fascista e mafioso Berlusconi que controla a mídia, times de futebol e outros entretenimentos italianos (razão porque ganha eleições na Itália). Eles se espelham nesta elite estrangeira que nos tratam como cidadãos de segunda classe. A arrogância da direita italiana é tão grande que eles não admitem uma recusa ao pedido de seu governo, chegando a impor ameaças ao Brasil, tais como: boicote a produtos brasileiros, boicote à Copa do Mundo em 2014, recorrer ao Tribunal de Haia, chamar de volta o embaixador da Itália no Brasil, etc.
E nossa elite, como sofre do complexo de vira-latas, tem medo destas ameaças, comporta-se como subalterna aos interesses do Primeiro Mundo, como seres colonizados, como seres inferiorizados diante dos cidadãos da Metrópole. Daí, temos que aceitar tudo que nos impõe sem contestar nada pois eles são superiores, mais civilizados, mais educados, possuem altíssimos níveis de vida e  nós, complexados seres inferiores não temos outra alternativa a não ser nos curvarmos diante de seus interesses.

Celso Amorim: Brasil superou o complexo de vira-lata

Celso Amorim, grande ministro do governo Lula, considerado um dos melhores ministros de Relações Exteriores do mundo,  disse que o Brasil já conseguiu superar o “complexo de vira-latas”, devido à seriedade de sua política externa dos últimos 8 anos, sendo respeitado pela comunidade internacional. Hoje, Lula e o Brasil, estão na capa dos principais jornais e revistas mundiais, não é mais aquele Brasil de Carmem Miranda ou das mulatas dos carnavais. Enquanto Lula continua sendo considerado pela nossa “ complexada elite” o próprio “vira-lata”, o Brasil protagoniza a cena mundial, consagrando Lula como seu grande líder.
Celso Amorim, falou do desassombro da atual política externa brasileira e do sentimento que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues definiu como “complexo de vira lata”, ainda muito presente em alguns setores da sociedade brasileira.
Ou seja, enquanto a sociedade brasileira, o povo  e os setores mais progressistas já conseguiram superar o famoso “complexo de vira-latas” , a nossa elite conservadora e submissa aos interesses imperialistas ainda sofre desse mal. Sem dúvida que enquanto esta elite for submissa aos interesses alienígenas continuará sofrendo deste mal, pois é o seu papel defender aqui dentro os interesses dos colonizadores, tais como : privatizar a Petrobrás e nossas riquezas naturais, conceder favores especiais e prioritários às empresas estrangeiras, distribuir e consumir produtos culturais dos colonizadores, absorver e se espelhar em valores das metrópoles, etc.

Para José Dirceu, imprensa brasileira tem 'complexo de vira-lata'

Para o ex-ministro do governo Lula, José Dirceu, por meio de seu blog pessoal,  disse que, mesmo com o resultado na publicação norte-americana (quando a revista Time elegeu Lula um dos líderes mais influentes do mundo) os jornais brasileiros não destacam o prestígio de Lula no cenário internacional. Dirceu usou uma expressão criada pelo escritor brasileiro Nelson Rodrigues para citar o pouco destaque dado pela imprensa ao êxito de Lula. Para ele, os veículos de comunicação têm "complexo de vira-lata", em alusão à expressão criada por Rodrigues para dizer que o brasileiro se inferioriza em relação ao resto do mundo.
"Apesar de já ter sido reconhecido, além da Time agora, pelo Financial Times, Le Monde, El Pais, Washington Post  -  apenas para citar alguns veículos internacionais -, aqui, no Brasil, a imprensa continua acometida do que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata". Insiste e teima mesmo em minimizar a liderança do presidente Lula e seu prestígio internacional", escreveu Dirceu.
No post, Dirceu ainda afirma que o episódio serve para mostrar o "jogo político" da mídia, segundo ele, em favor da oposição. "Uma postura lamentável que mostra o quão distante está dos fatos a nossa grande mídia em sua preocupação em fazer o jogo político a favor da oposição.”

Uma prova do que afirma José Dirceu é o blog de Reinaldo Azevedo, da revista VEJA, afirmando no dia 10/06/2011, que os “nacionalistas” e esquerdistas do STF nos submetem à um vexame em escala mundial:  “a decisão do Supremo evidencia apenas que o nacionalismo bocó, infelizmente, chegou ao tribunal, e fez uma parceria com o esquerdismo não menos bocó. que já havia chegado” (é a direita raivosa do Serra); mas cheia de preconceitos. Veja aí, imbutido o complexo de vira-latas : “Mas por que a soberania estaria ameaçada? Porque o estado italiano ousou lembrar que existe um tratado de extradição!!! É uma sandice! Eu chego a sentir vergonha de ter de transcrever aqui os dois primeiros artigos do tratado:...”  Mas parece que ele não sabe interpretar os textos do tratado, pois ele cita textualmente, o artigo III, letra “e” que dá ao executivo brasileiro todo o poder para decidir soberanamente (veja mais em baixo texto do Mauro Santayana).  No final do seu texto o blogueiro da extrema direita afirma textualmente: “Uma vergonha histórica para nós!”  É o próprio sentimento envergonhado do complexo de vira-latas da direita brasileira se manifestando, afirmando que sente vergonha, se sente inferiorizado de ser brasileiro diante do julgamento de um país superior, de um país que tem o poder de nos dizer o que é certo e o que é errado e que nós temos a obrigação de aceitar este julgamento porque eles são os donos da verdade. Mas quem é a Itália pra dizer o que é certo e o que é errado (veja mais em baixo informações sobre o poderosíssimo Sílvio Berlusconi) ?

Para Ana Maria Ornellas, cidadã como eu, professora em Minas (http://anamariaornellas.blogspot.com)  bastou a decisão de Lula que negou o pedido de extradição de Cesare Batistti para que o indisfarçável complexo de vira-latas da direita e de seus representantes na mídia conservadora e golpista, aflorasse com todos os seus contornos. No tocante a mídia, não se poderia esperar outra reação, pois, afinal, para o PIG quaisquer decisões tomadas pelo nosso governo que contrariem os interesses dos ditos países desenvolvidos - é uma atitude temerária e errática, para se dizer o mínimo. Ora, não foi por outra razão que durante os oito anos do mandato de Lula a política externa brasileira foi diuturnamente criticada. Também, como decorrência, e isso não é nenhuma novidade, os ataques mais virulentos foram desferidos contra os principais formuladores dessa política - altiva e soberana frente aos poderosos, mas ao mesmo tempo solidária e responsável perante os estados mais débeis, o Ministro Celso Amorim e o assessor de Lula, Prof. Marco Aurélio Garcia.

R
epito aqui o texto de Mauro Santayana (publicado no blog do Paulo Henrique Amorim), para confirmar a certeza e a correta decisão tomada pelo governo Lula e pelo STF, esta semana. 

“A decisão do STF,  ao não permitir a intromissão do governo italiano em assuntos internos brasileiros, transcende a personalidade de Cesare Battisti. Ainda que ele fosse o monstro que seus inimigos dizem ser, ainda que seus crimes fossem – como afirma o governo italiano – de reles latrocínio, a decisão de negar sua extradição é de estrita soberania brasileira. O Tratado de Extradição, com todo o respeito pelo advogado Nabor Bulhões, que representa a Itália, e é um dos mais respeitados profissionais de nosso país, prevê, claramente, que cabe à parte requerida considerar se os crimes cometidos são, ou não, políticos. O presidente Lula, depois de ouvir  seus assessores jurídicos – o que seria dispensável, diante da clareza do texto do acordo, decidiu negar a extradição. O presidente agiu conforme as suas prerrogativas constitucionais. O Supremo, sem embargo disso, e diante de certas dúvidas, esperou a chegada de mais um membro do colégio julgador para, enfim, reconhecer o óbvio, e, na preliminar, não acatar o governo italiano como parte no pleito. O artigo III do Tratado relaciona os casos em que “a extradição não será concedida”, e a letra “e” estabelece um deles: “Se o fato, pelo qual é pedida, for considerado, pela parte requerida, crime político”. A parte requerida, o Brasil, pela mais alta autoridade do Estado, considerou os delitos de Battisti como políticos. Logo, não há o que se discutir.”

Além do mais o julgamento de Battisti pela justiça italiana está envolto em arbitrariedades cometidas naquele período insuspeito em que a CIA financiava assassinatos de militantes de esquerda na Itália; sendo o primeiro e comprovadamente mais famoso (baseado em fatos reais exposto num filme de primeira linha) é o assassinato de Aldo Moro que com apoio das esquerdas italianas estava na iminência de ganhar a eleição para o cargo mais importante do país.  Segundo o movimento brasileiro “liberdade para Cesare Battisti” :  “a acusação contra Battisti baseou-se, única e exclusivamente, nas declarações de alguns membros também pertencentes ao PAC, que além de terem caído várias vezes em contradição, beneficiaram de diminuição da sua pena em troca da colaboração com a justiça.”

Mas quem é Sílvio Berlusconi, que a imprensa brasileira, tanto defende? Este exemplo de integridade do Primeiro Mundo?  Ele é  proprietário do império italiano de media Mediaset, além de ter controle dos principais meios de comunicação e ser dono de bancos, empresas de entretenimento e presidente do AC Milan. É o segundo homem mais rico da Itália. Segundo a wikipédia “tem sido acusado diversas vezes de corrupção e ligações com a Máfia, Gerou grande polémica na Europa ao apoiar a Guerra dos EUA contra o Iraque, em 2003. Para o escritor Paul Ginsborg, autor de Silvio Berlusconi; televisão, poder e riqueza, a combinação do populismo antidemocrático e do poder midiático de Berlusconi faz dele uma grande ameaça para a democracia. Nos últimos dez anos Berlusconi, foi objeto de inúmeros processos legais, nenhum dos quais terminou com uma sentença definitiva de condenação; foi acusado de conluio com a máfia, lavagem de dinheiro, evasão fiscal, participação em homicídio, corrupção e suborno de policiais e juízes. As controvérsias têm marcado nomeadamente os seus governos. E veja que exemplo de democracia: “em 11 de março de 2010, o Senado italiano aprovou uma lei que impede que ele compareça diante da Justiça para responder aos processos de corrupção e fraude, pelos quais é acusado. A revolta suscitada pela Lei Alfano é um exemplo notável. Esta lei estabelece que os quatro principais líderes do estado, o Presidente da República, o Primeiro-ministro e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado não podem ser julgados por qualquer delito alheios a sua posição, enquanto permanecerem no governo. Ou seja:  Berlusconi se beneficiou da legislação aprovada pela maioria parlamentar liderada por ele mesmo: essas medidas, que têm atraído intensa controvérsia política, foram definidas por leis ad personam. Ele manipula o legislativo e as leis, distorcendo-as a seu favor, não é à toa que está no poder há muito tempo. Desde 21 de dezembro de 2010, Berlusconi está sendo investigado pelo Caso Rubygate, por ter remunerado os serviços sexuais de uma menor de idade, a marroquina Karima El Mahrug, conhecida como Ruby, e por ter cometido abuso de poder ao obter a liberação da jovem após sua detenção por furto em maio.

Agora pergunto: que moral tem a Itália de cobrar justiça do Brasil ?


Daniel Miranda Soares, economista, administrador público, mestre e professor.


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