sábado, 31 de março de 2012

Vale do Aço cresce mas perde posição relativa em Minas Gerais


O Vale do Aço cresce mas perde posição relativa

O último dado sobre PIB dos 853 municípios mineiros são de 2009 (apenas 2 anos atrás) publicados recentemente pela Fundação João Pinheiro, FJP, em convênio com o IBGE. Mas são dados brutos, a preços correntes, que tem que ser trabalhados. A FJP publicou dados sobre os municípios mineiros de 1999 até 2009. Usando um deflator implícito oficial (do IBGE), deflacionamos os dados para verificar o crescimento real do PIB de alguns municípios (PIB real = PIB nominal – inflação). Nesta análise percebemos que o crescimento do PIB, descontada a inflação, dos municípios do Vale do Aço (Região Metropolitana - RMVA), crescerem a um ritmo menor que outros municípios industriais de Minas Gerais. Enquanto que a RMVA cresceu apenas 29% nestes 10 anos, a região metropolitana de Belo Horizonte, RMBH, cresceu 55%. Na RMVA, Ipatinga cresceu 37,5%; Cel. Fabriciano 23,3%; Timóteo 6% e Santana do Paraíso 80%. Na RMBH e Colar metropolitano alguns municípios se destacaram: Betim cresceu 90,8%; Contagem 57,2%; Sete Lagoas 48%. Outros municípios em Minas: Uberlândia 88%; Montes Claros 66%.

A Região Metropolitana do Vale do aço sofreu os efeitos da crise 2008/2009, tanto que o PIB de Ipatinga e Timóteo decresceram (em termos nominais e reais) de 2008 para 2009. O PIB de Ipatinga foi de 6.169.205,3 reais a preços correntes de 2008 e em 2009 caiu para 5.659.344 a preços correntes. Enquanto que os PIBs de Cel. Fabriciano e Santana do Paraíso continuaram crescendo.

Em valores correntes do ano, os maiores PIBs mineiros de 2009 foram: Belo Horizonte (44,6 bilhões), Betim (25,2 bi), Uberlândia (16,16 bi), Contagem (15,41 bi), Juiz de Fora (7,42 bi), Uberaba (6,49 bi), Ipatinga (5,66 bi), Sete Lagoas (4,11 bi), Montes Claros (3,81 bi), Itabira (3,41 bi), Varginha (3,05 bi) e Gov. Valadares (2,85 bi). Este último em 12o. lugar. Timóteo está em 24o. lugar com um PIB de R$1,7 bilhões, ocupava a 16a. posição em 1999. E Sete Lagoas que estava em 12a posição em 1999 sobe para 8a posição em 2009.
E a participação de cada um deles no PIB total de Minas Gerais em 2009 foram: BH 15,5%, Betim 8,8%, Uberlândia 5,6%, Contagem 5,4%, Juiz de Fora 2,6%, Uberaba 2,3%, Ipatinga 2,0%, (2,2% em 2008), Sete Lagoas 1,4%; Montes Claros 1,3%; e Itabira 1,2%, Varginha (1,06%) e Gov. Valadares (1%). Ipatinga ocupava o 7​o. PIB mineiro em 1999 (com 2,1% ) e continua ocupando o 7o. lugar em 2009 (com 1,97% do total) . Ou seja, mantendo este ritmo nos próximos anos, Ipatinga poderá ser ultrapassada por Sete Lagoas e Montes Claros, que crescem a um ritmo maior.

Em termos de população Ipatinga ocupava o décimo lugar em 2000, continuando na mesma posição em 2010, crescendo a uma taxa de 1,2%a.a no período 2010/2000. Outros municípios da região também crescem a taxas baixas: Timóteo (1,29%a.a.), Cel. Fabriciano (0,62%aa). Santana do Paraíso (com 25.500 hab) é a exceção da região: sua população cresce a 4,15%aa (é a sexta mais alta taxa do Estado) e seu PIB cresceu 80% no decênio 1999/2009. A população de Belo Oriente (com 23.000 hab) também cresceu a uma taxa acima da média dos três maiores da RMVA (1,83%aa) mas o seu PIB, embora maior que o de Santana de Paraíso, mal acompanhou a inflação do decênio referido (-0,02%).

Com isso a participação relativa de nossa região diminui: em 1999, a RMVA participava com 3,24% do PIB mineiro, diminuindo para 2,88% em 2009; enquanto que a RMBH subiu de 32,99% em 1999 para 35,3% em 2009. Estas condições também são refletidas na Renda per Capita: na RMBH, esta renda cresceu 29% em termos reais no período 1999/2009; enquanto que na RMVA a renda per capita cresceu apenas 14% ;ou seja na média a RMBH ultrapassou a renda per capita da RMVA. Em valores de 2009, a renda per capita da RMBH foi de R$19.839, enquanto que a renda per capita da RMVA foi de R$18.832. Em 1999 a renda per capita da RMVA era 4,2% maior do que a da RMBH. Mas individualmente, Ipatinga com R$23000, Timóteo com R$21000 e Belo Oriente com R$20.700 continuam com renda per capita maior do que a de Belo Horizonte com R$18.000 em 2009. Por enquanto, porque neste ritmo seremos ultrapassados brevemente.

A continuar neste ritmo, o que se percebe é que o Vale do Aço está ficando pra trás, porque as outras regiões crescem relativamente mais, são mais dinâmicas, procuram novas alternativas; enquanto que aqui as coisas continuam do mesmo jeito há décadas. As mudanças que aqui ocorreram aconteceram por conta do ambiente econômico geral, devido ao dinamismo da economia brasileira, principalmente na área do renascimento da indústria naval e do desenvolvimento do setor petroleiro a partir do pré-sal. Estes dois setores puxaram algumas demandas aqui da região, mas mesmo assim outras regiões mais dinâmicas estão concorrendo com o Vale do Aço, que pode até perder algumas indústrias. Novos incentivos estão sendo oferecidos pelas políticas macroeconômicas do governo federal para recuperar a indústria brasileira da concorrência internacional. As regiões e os aglomerados industriais (tais como os arranjos produtivos locais) devem aproveitar estes novos incentivos que são iguais em todo o território nacional. A diferença para atrair indústrias estão em novos estímulos (tipo incentivos fiscais, financiamento e investimentos) por parte dos governos estaduais e dos governos municipais de cada região. Se isso não acontecer, o Vale do Aço pode continuar perdendo posição relativa e até mesmo indústrias importantes para outras regiões de Minas ou do Brasil (aliás Minas já perdeu várias disputas por novas indústrias).

A economia da RMVA é dependente de poucos produtos (principalmente de aços planos) portanto é mais vulnerável que a economia da RMBH que é bastante diversificada. Nos últimos anos a indústria siderúrgica brasileira vem sofrendo concorrência de importados devido à supervalorização cambial. Esta situação deixa nossa indústria metalúrgica mais vulnerável às intempéries da economia principalmente em tempo de crise externa. Se o governo federal conseguir reverter a situação cambial, como parece indicar com medidas mais fundamentais, podendo dar mais proteção às nossas indústrias, a situação pode melhorar para o VA. Mas mesmo assim, não é bom ficar dependendo apenas de uns poucos produtos, principalmente quando são bens intermediários (ou commodities industriais como aço e celulose, considerados de baixa intensidade tecnológica) : e de pouca inovação tecnológica. A RMBH produz produtos de alto valor agregado e de muita inovação tecnológica. Mas sempre é bom diversificar mesmo que não seja com produtos de alto valor agregado, como é o caso de Uberlândia, que continua crescendo muito e no entanto produz (produtos primários e de baixa intensidade tecnológica) : cigarros, alimentos (abate, laticínios), bebidas e rações. Betim cresceu muito mas é dependente da indústria automobilística (alto valor agregado mas de média intensidade tecnológica) – uma crise no setor derruba a economia do município. Contagem é mais diversificada, possui várias indústrias importantes (algumas de alto valor agregado e de alta intensidade tecnológica): indústrias metalúrgica, química, de refratários, máquinas e equipamentos e material elétrico, eletrônico e comunicações.

Segundo a classificação da UNCTAD, são exemplos de produtos de alta intensidade tecnológica, os produtos eletrônicos e de informática, produtos farmacêuticos e produtos da química fina, aviões etc. Os produtos de média intensidade compreendem, entre outros, equipamentos mecânicos, automóveis e máquinas elétricas. O principal exemplo de produtos de baixa intensidade são os produtos de metal e suas obras. Os exemplos de produtos intensivos em mão-de-obra e recursos naturais vão desde papel até vários produtos da indústria têxtil. Por fim, as commodities primárias incluem carnes, óleos vegetais e vários produtos da indústria alimentícia até metais ferrosos e não ferrosos. Assim quanto mais intensidade tecnológica mais se agrega valor ao produto, de forma geral; embora alguns produtos de pouca inovação tecnológica agreguem mais valor do que a maioria, devido à sua escassez no mercado.

Em 2011 a economia de Minas Gerais cresceu 2,7% (como a brasileira) em relação a 2010 : sofreu índices negativos em alguns setores (Celulose, Metalurgia Básica, Veículos Automotores, Têxteis, etc) e índices positivos em outros: Prod. Metal, Fumo, Químicos, Prod. Alimentícios, etc.).

A distribuição espacial da produção em Minas Gerais manteve‐se bastante concentrada ao longo da série 1999‐2009. Os cinco maiores municípios participaram com mais de 35% do PIB durante todo o período, ao passo que os 653 menores participaram com menos de 14%. Em 2009, cinco municípios acumularam 38,2% da atividade industrial. Os 20 maiores possuem 61,5% do PIB industrial. Enquanto que os 653 menores municipios obtiveram apenas 5,2% no produto industrial de Minas. Os maiores PIBs industriais de Minas em 2009 foram : Betim com 15,9% do total industrial do Estado ; Belo Horizonte com 8,5% ; Contagem com 5,5%; Uberlândia com 4,8% e Ipatinga em quinto lugar com 3,5% do PIB industrial mineiro.

Daniel Miranda Soares é economista aposentado, ex-professor de Economia do Unileste.

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