1932: a guerra de 80 anos que ainda não acabou
No 9 de julho, São Paulo comemora oito décadas de sua “revolução constitucionalista” contra Getúlio Vargas. Um movimento que Lula definiu como “golpe” e que José Serra, como governador, tentou resgatar. Afinal, quem tem razão?
1) Por que não há, na capital paulista, ao contrário das outras
capitais metrópoles, uma única rua ou avenida que homenageie Getúlio
Vargas?
2) Por que depois de Júlio Prestes, eleito presidente em 1930, mas
não empossado, nenhum outro paulista conseguiu tal feito? (Jânio Quadros
nasceu no Mato Grosso e Fernando Henrique Cardoso no Rio de Janeiro)
3) Por que na bandeira paulista há a inscrição “Non Ducor, Duco” (Não sou conduzido, conduzo)?
4) Por que a data mais importante de São Paulo, o Nove de Julho,
celebra um movimento que poderia ter separado o estado do restante do
País?
5) Afinal, a revolução constitucionalista de 1932 foi um movimento em
defesa da democracia ou uma tentativa frustrada de golpe, arquitetada
pelas oligarquias cafeeiras de São Paulo, que se sentiam ameaçadas pela
Revolução de 1930?
O Brasil vive hoje sua plenitude democrática, nunca tantos se expressaram como agora, mas o discurso das oposições, frequentemente, trafega pela defesa de uma liberdade, que não está ameaçada. De todo modo, Serra se coloca como um dos heróis de 1932, que estão homenageados no Obelisco do Ibirapuera, porque se levantaram e pegaram em armas para enfrentar Getúlio Vargas.
São Paulo não gosta de Getúlio. E, de certa forma, também rejeita o chamado “lulismo”. Por quê? Certa vez, fiz essa pergunta ao economista Delfim Netto. E ele, com a fina ironia de sempre, respondeu: “Os paulistas nunca perdoaram o bem que Getúlio fez por São Paulo”.
Se os paulistas rejeitam Getúlio e o “lulismo”, o ex-presidente também tem um caso mal resolvido com São Paulo. Depois de cumprir seus dois mandatos na presidência da República, Lula quer porque quer tomar a principal cidadela tucana no País. E sempre fez de Getúlio seu principal referencial – mesmo em imagens oficiais, como aquela em que sujou as mãos de petróleo. Se Fernando Henrique tomou posse prometendo enterrar a era Vargas, Lula tratou de resgatá-la.
“A participação da juventude dava ao
movimento um ar de esperança na construção de um país democrático. Mais
uma vez, estava sendo jogada a sorte do Brasil. Após a independência e a
República, o desafio era o compromisso intransigente e inegociável com a
democracia.
Enganam-se os que imaginam que recordar 1932 é
simplesmente remexer no velho baú da história. É muito mais que isso: é
uma bela data da história do Brasil e de São Paulo. Seus sinônimos são a
liberdade, o voto secreto, a eleição livre, a independência dos três
Poderes, a Constituição.”
Lula, que se vê como herdeiro de Getúlio, talvez volte em 2018, ou mesmo em 2014, caso Dilma decida não concorrer à reeleição. Se isso ocorrer, mesmo que em eleições livres, podem escrever: as forças de São Paulo, lideradas por nomes como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, pegarão em armas para defender a ordem constitucional. Golpe ou revolução?
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