quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Veja blefa e não tem fita gravada

247 – Algoz dos chamados “mensaleiros”, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel não comprou a estória relatada por Veja neste fim de semana, segundo a qual Marcos Valério estaria espalhando a “interlocutores” próximos a tese de que Lula era o verdadeiro chefe do mensalão. Gurgel disse que Valério é um “jogador” e que suas declarações devem ser tomadas com cautela – ainda que o advogado de Valério, Marcelo Leonardo tenha negado que seu cliente tenha dado qualquer declaração a Veja.
Ocorre que Valério não é o único “jogador”. Assim como ele, a revista Veja, de Roberto Civita, também decidiu jogar cartas. O objetivo, evidentemente, é aniquilar o ex-presidente Lula. E como numa partida de truco, Veja blefou sem ter o Zap – a carta que derruba todas as outras. No caso concreto, o Zap seria a fita com a entrevista de Marcos Valério. E a possibilidade de que essa fita exista é remotíssima, praticamente nula.

A “existência” da fita, até agora, só foi confirmada pelo jornalista Ricardo Noblat. Disse ele que Valério deu entrevista a Veja e que, depois disso, diante da discordância do advogado Marcelo Leonardo, ele teria recuado e pedido à direção da revista Veja que a publicasse de forma indireta – atribuindo suas declarações a terceiros.
Ocorre que, para que essa estória fosse verdadeira, Valério teria que ter algum poder de pressão sobre Veja. Com que argumento um empresário praticamente falido, à beira da prisão, convenceria um jornalista e uma revista que caça Lula há oito anos a não publicar uma entrevista tão bombástica? Seria impossível qualquer tipo de acordo.

Se é assim, por que o PT ou os “petralhas” (como diz Reinaldo Azevedo) então não pedem a fita? Por uma razão bastante simples. Ninguém sabe, a esta altura do campeonato, qual é o estado emocional de Marcos Valério, um empresário que serviu ao PSDB, ao PT e que, em vez de ser recompensado, está prestes a ser preso. E por muitos anos.

O truque de Veja foi simplesmente utilizar uma das artimanhas mais manjadas do jornalismo – mas com uma audácia inédita. O “disse a interlocutores próximos” sempre foi um recursos utilizados por dois tipos de jornalistas: os que simplesmente inventam “offs” e aqueles que, de boa fé, aproximam-se de fontes que possuem informações relevantes, mas não podem se identificar. Só que, nestes casos, as “declarações” não são colocadas entre aspas – e nem vendidas aos leitores, na primeira página, como uma entrevista em “on”, com fita e gravador.

A reportagem foi apenas a peça inicial de um golpe engendrado. Uma entrevista inventada, tomada por verdade por adversários de Lula na política e nos meios de comunicação, e que paira no ar como o pretexto para uma futura ação judicial contra o ex-presidente.
Um blefe. Uma trucada. Mas sem o Zap.

Fala, Valério! Fala! Fala
do Dantas e dos tucanos!

“Queria muito que o Sr. Marcos Valério viesse falar nos canais de televisão, nos jornais, não a partir de aspas inventadas”, disse o senador Jorge Viana.

O Conversa Afiada reproduz trecho do discurso corajoso (até que enfim o PT começa a abrir o bico !) do Senador Jorge Viana (veja a íntegra na TV Afiada):

(…)

Queria muito que o Sr. Marcos Valério viesse falar nos canais de televisão, nos jornais, não a partir de aspas inventadas, mas a sua própria voz, contando a origem dessa organização criminosa de desviar dinheiro público para financiar partidos e base aliada. Certamente, se isso fosse feito, se o Sr. Marcos Valério falasse…

Quem está falando aqui é um Senador do PT. Eu queria muito que nós conhecêssemos a fita ou as fitas ou ouvíssemos a voz e os escritos do Sr. Marcos Valério contando a história, que começou em 98, com o PSDB e o PFL; passou por outros partidos, que estão firmes na República, e alcançou o PT. Lamento pelos erros do meu Partido, lamento que o PT não se conteve e caiu na tentação de achar um caminho fácil para resolver o problema da difícil composição de governo em nosso País por conta da legislação.

Se o Sr. Marcos Valério falar, gravar, contar a história, eu não tenho dúvida de que vai ficar mais fácil para os Ministros do Supremo julgar sem cometer injustiça, mas eu não tenho nenhuma dúvida de que o nosso País ficará melhor, porque a hipocrisia, o faz de conta vai ficar para trás, e aqueles que tentam dar lição de moral, que moral nenhuma têm para nos dar lição de moral, vão ter que dar explicações ao País porque criaram uma organização criminosa e agora tentam jogar a culpa no Partido dos Trabalhadores e tentam trazer o Presidente Lula para um debate do qual ele está muito distante, pela vida, pelo que construiu neste País.

(…)


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