Após 10 anos, Bolsa Família reduz miséria em 80%
- Publicado em Domingo, 03 Fevereiro 2013
- Escrito por Jussara Seixas
Por: Lucas Rodrigues, da EBC
Guaribas (PI) - Lançado no dia 3 de
fevereiro de 2003, no município com o menor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) do país, o Programa Fome Zero foi criado com o objetivo de
erradicar a miséria, com a transferência de renda e garantindo o
alimento para as famílias que viviam na extrema pobreza. Hoje, o Brasil
ainda tem pelo menos 5,3 milhões de pessoas sobrevivendo com menos de R$
70 por mês, diferentemente do início dos anos 2000, quando eram 28
milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Nos último dez anos, esse
número vem diminuindo. Em parte, por causa de políticas públicas de
ampliação do trabalho formal, do apoio à agricultura e da transferência
de renda. Hoje, a iniciativa, que ganhou o nome de Bolsa Família, chega a
quase 14 milhões de lares. Ela nasceu do Programa Fome Zero, criado
para garantir no mínimo três refeições por dia a todos os brasileiros. E
foi do interior do Nordeste que essa iniciativa partiu para o restante
do país.
Depois de dez anos, a Agência Brasil voltou a Guaribas, no sul
do Piauí, escolhida como a primeira beneficiária do programa de
transferência de renda. Localizada a 600 quilômetros ao sul da capital,
Teresina, Guaribas não oferecia condições básicas para uma vida digna de
sua população: faltava comida no prato das famílias, que, na maioria
das vezes, só tinham feijão para comer. Não havia rede elétrica e poucas
casas tinham fogão a gás. Mulheres e crianças andavam quilômetros para
conseguir um pouco de água e essa busca, às vezes, durava o dia inteiro.
A dona de casa Gilsa Alves lembra que, naquela época, “era difícil
encontrar água para lavar roupa”, no período de seca. “Às vezes, até
para tomar banho era com dificuldade". O aposentado Eurípedes Correa da
Silva não se esquece daquele tempo, quando chegou a trabalhar até de
vigia das poucas fontes que eram verdadeiros tesouros durante os longos
períodos de seca, com água racionada. Hoje, a água chega, encanada, à
casa dele. Pai de sete filhos, Eurípedes tem televisão e geladeira. Além
do dinheiro da lavoura e da aposentadoria, ele recebia o benefício do
Fome Zero e agora conta com o Bolsa Família. O benefício chega a 1,5 mil
lares e a meta é alcançar 2 mil neste ano, o que representa oito em
cada dez moradores da cidade. A coordenadora do programa em Guaribas,
Raimunda Correia Maia, diz que “o dinheiro que gira no município, das
compras, da sustentação dos filhos, gera desenvolvimento".
A energia
elétrica também chegou a Guaribas e trouxe com ela internet e os
telefones celulares. No centro da cidade, há uma praça com ruas calçadas
e uma delegacia, além de agências bancárias, dos Correios e escolas. A
frota de veículos cresceu e, hoje, o que se vê são motos, em vez de
jegues. O município conquistou o principal objetivo: acabar com a
miséria. Mesmo assim, ainda está entre os mais pobres do país e enfrenta
o êxodo dos jovens em busca de emprego em grandes cidades. Segundo o
IBGE, entre 2000 e 2007, quase 10% dos moradores deixaram Guaribas. Alan
e Rosângela podem ser os próximos. O Bolsa Família e as melhorias na
cidade não foram suficientes para manter o casal no município, já que
ali os dois não encontram trabalho. Os irmãos já foram para São Paulo e é
impossível sustentar a família de oito pessoas com um cartão (do Bolsa
Família) de R$ 130. Quem escolheu ficar na cidade sabe que muita coisa
tem que melhorar. O esgoto ainda não é tratado; algumas obras não saíram
do lugar, como a do mercado municipal. Até o memorial erguido em
homenagem ao Fome Zero está abandonado há anos. Longe de Teresina, os
moradores se sentem isolados, principalmente por causa da dificuldade de
chegar à cidade mais próxima: são 54 quilômetros de estrada de terra,
em péssimo estado, até Caracol. Isso torna difícil escoar a produção de
feijão e milho e faz com que todos os produtos cheguem mais caros. A
dificuldade de acesso também prejudica uma das conquistas da região: a
unidade de saúde. A doméstica Betânia Andrade Dias Silva levou o filho
de 5 anos para uma consulta e não encontrou médico. Ela desabafa: “É
ruim né?! Principalmente numa cidade pequena, na qual você precisa de um
atendimento melhor, tem que sair para ir para outra cidade, Caracol,
São Raimundo, que fica longe daqui. Por exemplo, caso de urgência, se
você estiver à beira da morte, acaba morrendo na estrada… Então, é
difícil". Há mais de um mês, o atendimento é feito apenas por
enfermeiras e por um dentista. Mesmo oferecendo um salário que chega a
R$ 20 mil, a prefeitura diz que não consegue contratar médicos. O jeito é
mandar os pacientes mais graves para as cidades vizinhas. Mas essa
situação pode começar a mudar ainda neste ano. Segundo informou a
Secretaria de Transportes do Piauí, o trecho da BR-235 que liga Guaribas
a Caracol deve começar a ser asfaltado em outubro. Por enquanto, está
sendo asfaltado outro trecho da rodovia, entre Gilbués e Santa Filomena.
O casal Irineu e Eldiene saiu de Guaribas para procurar trabalho em
outras cidades, mas voltou. Agora eles levantam, pouco a pouco, uma
pousada no centro da cidade. Irineu diz que a obra que está fazendo não é
“nem tanto pensando no agora”, é para o futuro. “Estou vendo que a cada
ano que está passando, Guaribas está desenvolvendo mais”. A expectativa
de Irineu e Edilene é resultado da mudança dessa que já foi a cidade
mais pobre do país. Mesmo com dificuldades, os moradores de Guaribas,
agora, olham para o futuro com mais esperança e otimismo. Eldiene
garante que vai ficar e ver a pousada cheia de clientes.
http://www.redebrasilatual.com.br/
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