Crise
nas siderúrgicas brasileiras – a crise mundial e os chineses
A Usinas Siderúrgicas de
Minas Gerais (Usiminas) registrou prejuízo de
R$ 531 milhões em 2012, ante lucro líquido de R$ 404 milhões
verificado em 2011, devido, principalmente, à redução no lucro
bruto e maiores despesas financeiras, decorrentes da desvalorização
do real frente ao dólar e à maior reversão de contingências em
2011, segundo o Brasil Econômico (IG). E isso tudo aconteceu
apesar do aumento da produção (7% superior a 2011); do aumento do
volume de vendas de aço (16% superior a 2011) ; do aumento da
produção de minério de ferro (5% superior ao ano anterior) com
volume de vendas 10% maior em 2012, em relação a 2011.
Mas
as coisas não são tão simples quanto pode parecer; há mais
variáveis em jogo no cenário mundial. O Brasil foi ultrapassado
pela Turquia caindo para o 9° lugar na produção mundial;
enquanto que a produção turca cresceu 5% em 2012, a do Brasil
recuou 1,5% o ano passado, produzindo 34,7 milhões de toneladas. A
China é a maior produtora de aço, com 716 milhões de toneladas
(3,1% a mais em 2012, com participação de 46,3% do total mundial e
o mais baixo custo por tonelada (US$ 550). No Brasil este custo é de
US$1,8 mil. O câmbio chinês é superdesvalorizado. No ano passado,
a siderurgia americana cresceu 2,5% e atingiu 88,6 milhões de
toneladas de aço bruto. O país vem se recuperando gradualmente após
a crise de 2008. Na
União Europeia, afetada pela crise econômica e financeira, houve
retração de 4,7% na produção de aço. A produção asiática
somou 1,012 bilhão de toneladas, mostrando expansão de 2,6% em
relação a 2011. O peso da região no cenário mundial da siderurgia
cresceu um ponto percentual, para 65,4% — quase dois terços do
montante global. Com esse desempenho, em 2012, segundo a entidade
World Steel Association (WSA), entidade que representa as
siderúrgicas em 62 países no mundo, o volume de aço bruto
produzido mundialmente ficou em 1,548 bilhão de toneladas, o
equivalente a crescimento de 1,2% ante o registrado em 2011.
Com
a alta capacidade ociosa, o setor de siderurgia e metalurgia tem
retirado o foco da produção de aço para maiores investimentos em
minério de ferro, explica Mauricio Canedo, pesquisador da Economia
Aplicada do Ibre-FGV. "A CSN, a Gerdau e a Vale colocaram em
seus planos de negócio a previsão de entrar mais pesado no minério
de ferro, que é o que tem dado mais retorno que a produção de aço,
o que tem a ver com competição feroz no setor", explica.
Segundo ele, a entrada dos chineses na produção de aço foi crucial
nessa crise. "Só nos últimos anos, o incremento de oferta de
aço dos chineses é maior que a capacidade instalada no Brasil. O
fluxo da China é maior que o estoque no Brasil." De acordo com
Aguiar (da Vale) a atuação da empresa em minério de ferro
continuaria no mesmo ritmo, apesar de ter que enfrentar solavancos da
desaceleração da demanda pelo aço. José Carlos Martins,
diretor-executivo de ferrosos e estratégia da Vale, concorda. "O
mercado de minério de ferro continua crescendo, o que tem é a
oferta que pressionou os preços para baixo. Se tivesse mais minério
para vender, venderíamos", disse.
As
exportações brasileiras estão caindo e as importações
aumentando. As exportações em 2012 totalizaram 9,7 milhões de
toneladas (-10,4% ante 2011) e US$ 7,0 bilhões (-16,8%). O Decom
(Dep. Defesa Comercial do Min. do Desenvolvimento) encontrou um
aumento expressivo das importações, cuja participação no consumo
do País saltou de apenas 4,5% em 2006 pra 36,6% em 2010. A
indústria brasileira de aço sofre forte impacto do cenário mundial
que acumula excedentes de produção de 500 milhões de toneladas.
Com as economias do Primeiro Mundo em retração, os produtores
tentam escoar sua produção nas economias emergentes. A concorrência
é grande e o dumping impera. Produtores brasileiros brigam para
defender seu espaço interno. A América Latina se tornou o segundo
maior destino das exportações chinesas (9% destas) de produtos
siderúrgicos em 2012. Para a Associação Latino Americana de Aço,
a chegada "agressiva" de tais exportações é uma ameaça
"real" para a indústria da América Latina.
O
Decom (MDIC) publicou em 1/10/2012, no "Diário Oficial da
União", uma lista com cem produtos que terão o imposto
de importação elevado em até 25% de forma temporária. O
objetivo da medida é incentivar a produção nacional num momento de
acirramento da disputa com os importados por conta da crise
internacional. Estão sendo beneficiados com a medida 10 produtos
siderúrgicos, entre os 100, tais como chapas,
folhas e tiras . Várias investigações foram realizadas pelo CADE
(Cons. Adm. Def. Econômica do MDIC) e outras estão em andamento.
Mas
as siderúrgicas querem proteger seu aço revestido das importações
da China e encontram uma forte barreira: as montadoras de veículos.
O Decom negou pedido das siderúrgicas CSN, Usiminas e Arcelor Mittal
para adotar uma tarifa antidumping contra a importação de aço
revestido, o mais utilizado por fabricantes de veículos e
eletrodomésticos, vindo, principalmente da China e concluiu que
ocorreu um surto de importações de aço com dumping (a preços
abaixo dos praticados no mercado de origem) mas que isso não
provocou dano para as siderúrgicas nacionais. 'Não adianta uma
margem de dumping elevada se falta o dano. Os indicadores mostram uma
recuperação do setor no período', disse Felipe Hees, diretor do
Decom. O órgão encontrou margens de dumping que variavam de US$ 77
a US$ 412 por tonelada. A CSN, presidida pelo empresário Benjamin
Steinbruch, foi surpreendida com a decisão e, vai fazer de tudo para
reverter o resultado. A empresa entrou com um recurso, que está
sendo analisado pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
O
aço revestido custa hoje entre 15% e 20% mais caro que o
tradicional. É, portanto, o produto que as siderúrgicas mais querem
vender. Mas é também a principal matéria-prima de empresas
poderosas.
No
processo antidumping, aparecem como importadoras as montadoras Fiat,
Ford, Volks e Renault, além de empresas de outros setores como
Electrolux e Samsung. Está em jogo um mercado estimado em mais de R$
4 bilhões por ano, que são as vendas de aço laminado plano
revestido. Esse tipo de aço recebe um revestimento de zinco, pode
ser vendido até pré pintado e, entre outras funções, é utilizado
para fabricar carros e eletrodomésticos, como geladeiras. As
montadoras alegam que o aço brasileiro “é um dos mais caros do
mundo”. Embora estejam brigando para manter as tarifas de
importação estáveis, as montadoras compram um volume pequeno de
aço revestido fora do País. Essas empresas optam pelo produto
local, porque precisam do aço em depósitos próximos de suas
fábricas. A questão é que o valor do aço importado funciona como
referência no Brasil. As tarifas de importação, portanto,
interferem diretamente nas negociações de preço entre siderúrgicas
e montadoras. (com informações do Jornal Valor Econômico).
Mas
segundo Germano Mendes de Paula, especialista em Siderurgia
(pós-doutor pela Oxford University) o novo
eixo da produção de aço no mundo será a Ásia. Os Estados Unidos
e a Europa deixaram de ser protagonistas nesse setor e o Brasil,
devido ao impacto crescente de sua matriz de custos, perdeu a
competitividade para ser um grande “player” global.
Para Mendes, (Valor, 22/06/12) a competitividade da siderurgia
brasileira depende de vários fatores, tais como: taxa cambial,
preços das matérias-primas, vantagens logísticas, como proximidade
das minas de ferro, custos de energia e custos de investimento. Para
ele, o setor, no país, com isso, deve se voltar principalmente para
atender ao mercado doméstico. Como podemos ver, no entanto ainda dá
tempo de corrigir algumas distorções apontadas pelo professor,
quando deu a entrevista. A partir de então a taxa cambial
desvalorizou um pouco (o que é bom para o setor, embora precisasse
desvalorizar mais), preço das matérias-primas continua elevado,
vantagens logísticas tende a melhorar com os investimentos em
infra-estrutura, altos custos de energia elétrica (recentemente o
governo obrigou as concessionárias de energia a baixar preços, na
indústria a redução foi maior a partir de fevereiro de 2013) e
alto custos dos investimentos ( ano passado o governo obrigou os
bancos a reduzir juros; hoje os juros são os menores em décadas ). Estes novos fatores já devem estar
beneficiando o setor siderúrgico.
Daniel Miranda Soares é
economista e mestre pela UFV.
Obs: artigo publicado originalmente no Jornal Diário do Aço em 23/02/2013 e ampliado aqui neste blog.
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