http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=71652
Daniel Miranda Soares *
As siderúrgicas brasileiras estão em crise e só conseguiriam sobreviver
com muita proteção do governo por meio de barreiras às importações de
produtos orientais, mais baratos que os nossos. O custo do aço chinês é
de aproximadamente US$ 550/ton e, no Brasil, este custo é de US$ 1,8
mil/ton. O governo aumentou o imposto de importação de 10 produtos
siderúrgicos, temporariamente, para 25% no final do ano passado; mas o
aço revestido (usado pelas montadoras de veículos) não entrou nesta
lista e continua sendo importado da China. Segundo Germano Mendes de
Paula, especialista em Siderurgia (pós-doutor pela Oxford University) “o
novo eixo da produção de aço no mundo será a Ásia. Os Estados Unidos e a
Europa deixaram de ser protagonistas nesse setor e o Brasil, devido ao
impacto crescente de sua matriz de custos, perdeu a competitividade para
ser um grande “player” global.”
A produção brasileira de aço se volta
mais para o mercado doméstico e, mesmo assim, com proteção
governamental. O Vale do Aço não cresce a taxas significativas desde os
anos 1990 – quando produção e população começaram a desacelerar, a
partir da abertura da economia do governo Collor. Portanto, há uma
tendência evidente à estagnação. Pode-se ainda manter o ritmo atual a
trancos e barrancos, mas sempre apelando para proteção fiscal e/ou
cambial. O câmbio mata. O risco de impactos negativos de uma expansão
das importações será muito maior em um processo de valorização cambial.
Com uma moeda desvalorizada, como é a chinesa, a indústria teria muito
mais chance de competir.
Apesar das dificuldades do mercado externo e da crise mundial, ainda
existem empresas que conseguem competir, melhorar sua produtividade e
enfrentar a concorrência estrangeira. São indústrias que investiram em
pesquisa e desenvolvimento tecnológico, como a Embraer. Neste sentido, o
setor petrolífero é uma grande promessa a partir das descobertas do
pré-sal e sua exploração. Nossas reservas são imensas e o que já foi
descoberto é apenas uma parte do que ainda está para ser descoberto.
China e EUA são os maiores importadores mundiais. Enfim, é um setor que
promete muito e está crescendo com tecnologia nacional, o que amplia em
muito as atividades industriais correlatas e os efeitos diretos e
indiretos destas, sustentados por investimentos em pesquisas &
desenvolvimento, que daria condições de competitividade às empresas
brasileiras. A Petrobrás possui hoje o maior plano de investimentos do
setor petroleiro mundial. Se cumprir todos os investimentos previstos se
tornará a maior do mundo em 2020. Deve construir mais quatro novas
refinarias até lá e ampliar algumas já existentes. O recém-anunciado
Plano de Negócios da Petrobras (2013-2017) mostra solidez da empresa.
Até 2017, serão investidos US$ 236,7 bilhões, contemplando a meta de
elevar a produção nacional de petróleo de dois milhões de barris diários
em 2012 para até 4,2 milhões, em 2020. Até 2020, portanto, teremos
dobrado nossa capacidade de refino de petróleo e derivados. A exploração
de petróleo no pré-sal, descoberto em 2006, atingiu a marca de 300 mil
barris/dia. No Golfo do México, para a mesma marca, necessitou-se de 17
anos. Esta produção na área do pré-sal alcançará 1 milhão de barris/dia
em 2017 (42% do total) e 2,1 milhões de barris por dia em 2020. A
Petrobras fez 53 descobertas de petróleo e gás natural nos últimos 14
meses (de janeiro de 2012 a fevereiro de 2013). Os investimentos na
construção de poços (exploratórios e de desenvolvimento da produção)
somam US$ 75 bilhões. A Petrobras utiliza, atualmente, 69 sondas
flutuantes para construção e manutenção de poços no Brasil. No período
2013-2020, serão 38 novas plataformas de produção.
No fim do ano de 2012 o governo federal (vários ministérios, BNDES,
Petrobrás, etc.) criou cinco territórios-precursores, (como dissemos em
artigo anterior) entre eles Ipatinga-Vale do Aço (MG), o único fora do
litoral brasileiro. Estes territórios são os APLs (arranjos produtivos
locais), que fazem parte do Prominp (Programa de Mobilização da
Indústria Nacional do setor de Petróleo Gás e Naval) e do programa
Brasil Maior: visam aumentar a oferta da indústria nacional para atender
a demanda do setor petroleiro e naval, aumentando o conteúdo local da
indústria brasileira. Os APLs são aglomerações de empresas, num mesmo
território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros
atores locais, como: governo, associações empresariais, instituições de
crédito, ensino e pesquisa. Esperamos que a integração do Vale do Aço
dentro da cadeia produtiva do setor petrolífero brasileiro venha
propiciar uma nova era de desenvolvimento para a região.
*) Economista, administrador público aposentado e mestre pela UFV.
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