domingo, 28 de abril de 2013

Vale do Aço: estagnação ou desenvolvimento?

Vale do Aço: estagnação ou desenvolvimento? 
Publicado originalmente em 28/04/2013, no Diário do Aço
http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=71652 


Daniel Miranda Soares *


As siderúrgicas brasileiras estão em crise e só conseguiriam sobreviver com muita proteção do governo por meio de barreiras às importações de produtos orientais, mais baratos que os nossos. O custo do aço chinês é de aproximadamente US$ 550/ton e, no Brasil, este custo é de US$ 1,8 mil/ton. O governo aumentou o imposto de importação de 10 produtos siderúrgicos, temporariamente, para 25% no final do ano passado; mas o aço revestido (usado pelas montadoras de veículos) não entrou nesta lista e continua sendo importado da China. Segundo Germano Mendes de Paula, especialista em Siderurgia (pós-doutor pela Oxford University) “o novo eixo da produção de aço no mundo será a Ásia. Os Estados Unidos e a Europa deixaram de ser protagonistas nesse setor e o Brasil, devido ao impacto crescente de sua matriz de custos, perdeu a competitividade para ser um grande “player” global.” 
A produção brasileira de aço se volta mais para o mercado doméstico e, mesmo assim, com proteção governamental. O Vale do Aço não cresce a taxas significativas desde os anos 1990 – quando produção e população começaram a desacelerar, a partir da abertura da economia do governo Collor. Portanto, há uma tendência evidente à estagnação. Pode-se ainda manter o ritmo atual a trancos e barrancos, mas sempre apelando para proteção fiscal e/ou cambial. O câmbio mata. O risco de impactos negativos de uma expansão das importações será muito maior em um processo de valorização cambial. Com uma moeda desvalorizada, como é a chinesa, a indústria teria muito mais chance de competir.   
 
Apesar das dificuldades do mercado externo e da crise mundial, ainda existem empresas que conseguem competir, melhorar sua produtividade e enfrentar a concorrência estrangeira. São indústrias que investiram em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, como a Embraer. Neste sentido, o setor petrolífero é uma grande promessa a partir das descobertas do pré-sal e sua exploração. Nossas reservas são imensas e o que já foi descoberto é apenas uma parte do que ainda está para ser descoberto. China e EUA são os maiores importadores mundiais. Enfim, é um setor que promete muito e está crescendo com tecnologia nacional, o que amplia em muito as atividades industriais correlatas e os efeitos diretos e indiretos destas, sustentados por investimentos em pesquisas & desenvolvimento, que daria condições de competitividade às empresas brasileiras. A Petrobrás possui hoje o maior plano de investimentos do setor petroleiro mundial. Se cumprir todos os investimentos previstos se tornará a maior do mundo em 2020. Deve construir mais quatro novas refinarias até lá e ampliar algumas já existentes. O recém-anunciado Plano de Negócios da Petrobras (2013-2017) mostra solidez da empresa. Até 2017, serão investidos US$ 236,7 bilhões, contemplando a meta de elevar a produção nacional de petróleo de dois milhões de barris diários em 2012 para até 4,2 milhões, em 2020. Até 2020, portanto, teremos dobrado nossa capacidade de refino de petróleo e derivados. A exploração de petróleo no pré-sal, descoberto em 2006, atingiu a marca de 300 mil barris/dia. No Golfo do México, para a mesma marca, necessitou-se de 17 anos. Esta produção na área do pré-sal alcançará 1 milhão de barris/dia em 2017 (42% do total)  e 2,1 milhões de barris por dia em 2020. A Petrobras fez 53 descobertas de petróleo e gás natural nos últimos 14 meses (de janeiro de 2012 a fevereiro de 2013). Os investimentos na construção de poços (exploratórios e de desenvolvimento da produção) somam US$ 75 bilhões. A Petrobras utiliza, atualmente, 69 sondas flutuantes para construção e manutenção de poços no Brasil. No período 2013-2020, serão 38 novas plataformas de produção. 
 
No fim do ano de 2012 o governo federal (vários ministérios, BNDES, Petrobrás, etc.) criou cinco territórios-precursores, (como dissemos em artigo anterior) entre eles Ipatinga-Vale do Aço (MG), o único fora do litoral brasileiro. Estes territórios são os APLs (arranjos produtivos locais), que fazem parte do Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional do setor de Petróleo Gás e Naval) e do programa Brasil Maior: visam aumentar a oferta da indústria nacional para atender a demanda do setor petroleiro e naval, aumentando o conteúdo local da indústria brasileira. Os APLs são aglomerações de empresas, num mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. Esperamos que a integração do Vale do Aço dentro da cadeia produtiva do setor petrolífero brasileiro venha propiciar uma nova era de desenvolvimento para a região.

*) Economista, administrador público aposentado e mestre pela UFV.
 

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