Crise em Ipatinga desacelera e inicia recuperação
12 de Dezembro de 2014
artigo originalmente publicado
no Diário do Aço em 10.12.2014 (edição digital e dia 11.12.2014 edição
impressa)no seguinte endereço:
http://www.diariodoaco.com.br/noticia/88100-7/opiniao/crise-do-setor-siderurgico-desacelera-em-ipatinga
A previsão de investimentos do BNDES
para o setor siderúrgico cai 46% no triênio 2015/2018 em relação ao
triênio 2013/2016. A decisão do BNDES se baseia no elevado índice de
ociosidade do parque instalado do setor. “O mercado mundial de aço tem
hoje uma ociosidade altíssima, com um Nuci (nível de utilização
da capacidade instalada) entre 72% e 74%. No Brasil, o Nuci é de 70%”,
comenta Pedro Sergio Landim, do BNDES. O Nuci já foi pior no período
pós-crise de 2009 quando chegou a 63%, havendo também um alívio na
balança comercial do setor, com as importações de aço caindo de US$ 5,4
bilhões em 2010 para US$ 3,7 bilhões em 2013. “O mercado de aço é
caracterizado, atualmente, por uma situação de sobre oferta e de margens
reduzidas, tanto no Brasil quanto no mundo”, afirma Landim.
A capacidade instalada atual no país é de 48,5 milhões de toneladas por ano. Segundo projeção do Instituto Aço Brasil (IABr),
o consumo aparente deve somar 24,7 milhões de toneladas este ano, queda
de 6,4% com relação ao ano anterior. Para 2015, o IABr espera uma
retomada “modesta”, com alta de 4% nas vendas ao mercado interno. O
setor vem reivindicando do governo medidas para conter as importações de
aço que devem subir 9,7% este ano. Embora o governo já tenha atendido
várias reivindicações que resultaram numa queda das importações, mas
concorrer com a China é muito difícil - o custo do aço chinês entra aqui
mais barato que o aço nacional, embora o aço brasileiro seja
competitivo em termos globais.
Ainda há gargalos a enfrentar para
diminuir mais os custos brasileiros, tais como: logística, custo
energético, dependência de importação de tecnologias, etc. O estudo do
BNDES, porém, aponta vantagens que podem contribuir para que a
siderurgia nacional possa sair da crise, como o desenvolvimento
tecnológico (uso do Tecnored - produção de gusa com maior variedade de
insumos; uso do biocoque, carvão vegetal, etc.) e a necessidade de aços
especiais para o pré-sal.
Tudo isso começou com a crise mundial de 2008, atingindo a China - maior produtora mundial de aço - que com a desaceleração da demanda mundial e décadas de expansão desenfreada agora atinge a indústria. A China está com excesso de oferta e tenta desovar sua produção no mercado internacional. Os lucros do setor siderúrgico chinês caíram 98 por cento no ano passado e muitas empresas registraram prejuízo. O governo chinês vai encorajar fusões e fechamentos de usinas obsoletas com o objetivo de aumentar a concentração nas 10 maiores empresas até 2015. Assim o governo chinês não mais vai ajudar as empresas em crise, simplesmente vai deixar que morram.
A crise do setor siderúrgico brasileiro atingiu em cheio a cidade de
Ipatinga, sede principal da Usiminas, a maior siderúrgica nacional.
A empresa acumulou um prejuízo de R$598 milhões em 2012, mas recuperou
bem em 2013 quando obteve um pequeno lucro de R$17 milhões. A empresa
realizou cortes de pessoal e de custos, diversificando suas atividades
com a mineração de ferro, mas mesmo assim houve queda de produção (4% em
relação a 2012) e sua dívida líquida permaneceu estável. Ipatinga sofre
as consequências da crise desde 2011. Dados do CAGED do Ministério do
Trabalho (emprego formal registrado em carteira de trabalho) revelam que
até 2010, os saldos de emprego (admitidos menos demitidos) foram
positivos em Ipatinga, mas de 2011 a 2013 foram negativos em 7858 postos
de trabalho na indústria de transformação.
Em Minas a indústria metalúrgica
obteve saldos negativos em postos de trabalho no mesmo período: 4362
menos empregos de 2011 a 2013. Mas enquanto a metalurgia mineira
registra menos 2179 empregos em 2014 (até outubro), Ipatinga registra mais 717 empregos em 2014, indicando alguma recuperação da indústria de transformação
da cidade, indústria esta que nunca sofreu saldos negativos no CAGED
desde 2011 em termos de Minas e Brasil. É claro que a cidade perdeu
preciosos postos de trabalho e isso teve consequências no comércio e no
setor serviços, afetando os empregos destes setores. Mas a partir deste
fundo do poço, com menos massa salarial, a cidade inicia um processo de
recuperação incrementando novas atividades em outras áreas, tais como
construção civil (+1315 novos empregos) e setor serviços (+1153).
Durante todo o período de crise a Administração Pública da cidade não sofreu reveses, mantendo o mesmo nível de emprego e o mesmo nível de receitas. Pode-se ver pela contabilidade pública que as receitas correntes do município não caíram em termos nominais, embora tenham aumentado menos que a inflação no período 2011/2012 (2,26%), mas conseguiram aumento acima da inflação em 2013/2012 (8,8%). Em 2014 (até outubro) as receitas totais são maiores do que todo o ano de 2013.
Embora a imprensa tenha dado destaque para a queda de arrecadação do ISS
(-25,2% em 2012/2011 e -4,4% em 2013/2012), no entanto a receita deste
imposto até agora está sendo maior do que foi arrecadado em 2012 e 16,8%
mais que 2013. A recuperação do ISS em 2014 é um sintoma de que a economia do município está em processo de recuperação. Além
do mais as receitas próprias do município (ISS, IPTU, taxas, etc.)
representam apenas 1/6 do total das receitas (nos municípios pequenos
estas receitas são menos de 1/10), pois os municípios brasileiros
dependem muito de transferências do governo estadual (ICMS via Lei Robin
Hood) e do governo federal (FPM, Fundeb, etc.). As transferências não
sofreram quedas nominais embora os aumentos tenham sido abaixo da
inflação mas foram compensadas com crescimentos maiores dos tributos
municipais em 2013/2012 (7,4%) e 2014/2013(10,6%). Enfim a Administração
Pública sentiu o impacto da crise, mas manteve-se em equilíbrio, não
sofrendo quedas no vermelho.
Embora a indústria metalúrgica esteja em crise em Ipatinga e em Minas, devido à situação internacional, não se pode dizer o mesmo da indústria de transformação em Minas e no Brasil. Ipatinga é o único dos cinco municípios selecionados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Petrobras para receber um programa de capacitação de fornecedores da indústria de petróleo e gás, longe do mar. “Justamente porque temos uma forte experiência em metal-mecânica”, acrescenta Jeferson Bachour Coelho, dono da Líder Indústria Mecânica, uma das empresas que constroem peças para a indústria naval.
Uma dezena de empresas do município
passou a fornecer peças para a cadeia produtiva do pré-sal e recebem
apoio de entidades industriais e de agencias de fomento como BNDES e
FINEP. Com o aumento da produção
do pré-sal que pode ser dobrada até 2020 e a entrada em operação de mais
quatro refinarias da Petrobrás (o Brasil não constrói refinarias desde
1980), nossa esperança é que o APL (arranjo produtivo local) desta
cadeia produtiva em Ipatinga e Vale do Aço, possa trazer grandes
progressos à indústria regional e mineira.
*Daniel Miranda Soares. Economista, Msc.
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