O antinacionalismo nos jornais
Enviado por luisnassif, qui, 17/05/2012 - 09:04
Por Marco Antonio L.
Na CartaCapital
Na
contramão da História
Roberto Amaral,
Leitor da seção “O Globo há
cinquenta anos”, recomendo sua leitura por alunos e
professores em sala de aula. Ali, quase diariamente, encontra-se um
repositório notável do atraso de nossa vida republicana, o
que nos possibilita conhecer o papel de nossa imprensa corporativa
como eficiente correia de transmissão da ideologia da Guerra
Fria (importando um embate que não nos dizia respeito e trazendo
para cá a visão estadunidense), invariavelmente de costas para os
interesses nacionais, avessa aos interesses populares e sempre atenta
aos negócios do grande capital, principalmente o capital
internacional.
os grandes jornais sempre se opuseram ao nacional
e ao popular, e assim combateram a campanha do “Petróleo é nosso”
e ainda hoje rejeitam a Petrobrás. Foto: José Vieira Trovão / Ag.
Petrobras
Escrevo “nossa imprensa” de forma proposital,
pois O Globo não era, não foi e não é uma
exceção nesse servilismo aos interesses antinacionais e, sobretudo,
contrários ao desenvolvimento do país e a tudo que diga respeito ao
povo. O cheiro dos marmiteiros sempre ofendeu ao olfato sensível dos
comensais dosLe bec fin.
Por coerência, os grandes jornais sempre se
opuseram ao nacional e ao popular, e assim combateram a campanha do
“Petróleo é nosso” e ainda hoje rejeitam a Petrobrás e se
arrepiam, irritadiços, sobressaltados, diante de qualquer movimento
que lhes possa sugerir o menor sintoma de nacionalismo (ou defesa dos
interesses nacionais) que possa pôr em risco o projeto do grande
Império. Ou de defesa do Estado. E sempre que este submerge, quem
paga o pato são os interesses da Nação e dos mais pobres.
Exemplar do que afirmo é a primeira página
da edição do Globo do dia 26 de abril de 1962.
Depois de anunciar com alegria a “Primeira explosão nuclear no
Pacífico”, sem danos ambientais (embora também
diga que “o engenho lançado de um avião que voava a grande
altitude, desencadeou numa força explosiva calculada entre 20.000 e
um milhão de toneladas de TNT”), o jornal condenava a ameaça de
aprovação do projeto do deputado Aarão Steinbruch que instituía o
13º salário: “Os meios financeiros consideram altamente
inflacionária e de consequências desastrosas para a economia
nacional a implantação de um 13º salário”.
A previsão catastrofista vem no discurso do
oráculo do conservadorismo de então: “Deixando de lado a
agricultura, para a qual faltam dados positivos, o economista Eugênio
Gudin calcula em cerca de Cr$ 80 bilhões a sobrecarga que o aumento
representaria no orçamento das empresas”.
Contam os fatos que o projeto foi aprovado e que
sua aplicação acumula, hoje, 50 anos de sucesso. Nenhuma empresa
faliu por conta dele, o comércio ganhou (e ainda hoje festeja a
iniciativa) e começávamos ali a investir no que até os ortodoxos
reconhecem ser a alternativa de nossa economia, a saber, o
fortalecimento do mercado interno.
Na contramão da História, a mesma imprensa
combatia, desde sua instituição, tanto o salário mínimo
(Decreto-Lei n.2 2.162 , de 12 de maio de 1940), quanto seus
reajustes anuais, sempre apontados como inflacionários. Assim, em
1954, o anúncio de um reajuste de 100%, afinal concedido, provocou
grande campanha de imprensa, a edição de um famoso e subversivo
“Memorial dos Coronéis” e, afinal, a demissão do Ministro do
Trabalho, João Goulart. Jamais aumentar salários, jamais regular a
remessa de lucros para o exterior, taxar as grandes fortunas e as
grandes heranças. Jamais estabelecer alíquotas crescentes do
Imposto sobre a Renda. Derrubar a CPMF e assim desfalcar o orçamento
de nada menos que o ministério da Saúde, ah! isso, sim… Para
“destravar a economia”? Não. Seu objetivo era reduzir o controle
das movimentações financeiras.
Lembremo-nos de que um dos primeiros atos dos
golpistas de 1964 foi a revogação da lei de remessa de lucros…
Agora, já começa a mesma imprensa a dizer que o
combate aos juros altos, aumentando o crédito ao consumidor, pode
constituir-se em agente inflacionário. Todos os países do mundo
podem ter juros mais baixos que o nosso e muitos deles crescer
em índices superiores ao nosso. Mas o Brasil, não. Esquecem-se os
catastrofistas, e esquecem propositalmente, que nosso país sempre
cresceu por força da expansão de seu mercado interno, responsável,
ademais, pela resistência de nossa economia ao abalos
exógenos, de que é exemplo esta última (no sentido de a mais
recente) crise do capitalismo financeiro.
O panorama internacional é de desaceleração (e
sabemos hoje que as potências europeias não conhecem vacina para a
crise, cenário persistente ainda por muitos anos), principalmente na
medida em que insistem na suicida política recessiva, imposta
unilateralmente (contra os países e suas populações) por uma
Alemanha governada pelos interesses dos banqueiros.
A desaceleração das grandes economias, seja qual
for o comportamento da China, cuja taxa de crescimento tende a decair
sob controle (felizmente), indica, para países como o Brasil, uma
queda de suas exportações, principalmente em setores como a
exportação de produtos primários, commodities e
minérios.
Esse panorama, que assim se descreve desde a
aceleração da crise, cobra da economia brasileira o fortalecimento
do mercado consumidor interno. Consumidor, bem entendido, na medida
em que tiver trabalho e renda.
O fortalecimento desse mercado interno – antigo
e permanente pleito da esquerda brasileira – é uma das mais
significativas conquistas do governo Lula. Para tal objetivo foi
importante o Bolsa Família, foram importantíssimas as políticas de
transferências previdenciárias e de assistência social e o apoio à
agricultura familiar. Mas fundamental foi o aumento de algo como 60%
do salário mínimo. Essas medidas foram responsáveis, em seu
conjunto, pela criação do que se chama de Classe C (ou de uma nova
classe C), cujo poder de compra é equivalente a 12% do PIB.
Essa política é aprofundada pela presidente
Dilma quando, corajosamente, decide enfrentar a ganância do sistema
financeiro insaciável e irresponsável, impondo uma política de
juros consentânea com nossa realidade e as necessidades de nosso
mercado, a saber, aumentando o acesso ao crédito, de que decorre o
aumento do poder de compra do mercado interno, a reativação do
comércio e da indústria, transformando em virtuoso o círculo
vicioso da recessão que aumentaria a recessão.
Nesse ponto identificamos um salto de qualidade da
atual política, na medida em que se livra dos grilhões do sistema
financeiro (parasita por definição) e se associa ao capital
produtivo, construindo novas perspectivas de vida para as grandes
massas, sempre marginalizadas pelos monetaristas de plantão.
Sabe-se, porém, que a nova política de Dilma,
nada obstante sua decisão pessoal, não seria exequível se o
governo não dispusesse do tripé Banco do Brasil-Caixa Econômica
Federal-BNDES, quase privatizados pela insânia neoliberal.
A política Lula-Dilma, assim, incorpora ao
desenvolvimento sua fundamental dimensão social, o acesso à
cidadania das populações mais pobres.
Enquanto isso, do outro lado do Equador, as
economias classicamente desenvolvidas (EUA, Inglaterra e Japão, para
não lembrar Grécia, Irlanda, Espanha e Itália…) convivem com
altas taxas de desemprego, baixíssimas taxas de crescimento
(tendendo para a estagnação) e no limiar da recessão, com seu
perverso custo político, as restrições ao Estado do bem-estar, a
xenofobia, as restrições ao livre-trânsito dos nacionais em suas
fronteiras, e, mesmo, a realimentação da direita, na França com o
fortalecimento da herdeira de Le Pen e na Grécia com o
reaparecimento de um arremedo de nazismo, e como tal tanto abjeto
quanto grotesco.
A combinação de recessão, miséria e
desemprego foram sempre o caminho mais curto para a instauração das
tiranias.
De outra parte, os países que se afastaram do
monetarismo e do catecismo neoliberal, como o Brasil, retomaram o
crescimento, aumentaram suas taxas de emprego e até aqui mantêm sob
controle a ameaça da recidiva inflacionária, e, assim, em situação
melhor que os “ricos” a enfrentar a crise global, uma crise do
sistema privado que estourou no colo do setor público.
Por isso mesmo, cada vez mais consolidamos a opção
democrática e começamos a transitar da democracia formal
(política), para o que, num amanhã ainda distante, poderemos chamar
de democracia real (à falta de denominação mais
adequada), aquela que realizará a justiça social.
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