Tiro de Veja contra Lula sai pela culatra
Até este fim de semana, a
posição majoritária era de poupar a revista nas investigações da CPI do
Cachoeira. Isso deve mudar, pelo menos entre os deputados petistas,
depois da denúncia contra o ex-presidente, que teria chantageado o
ministro Gilmar Mendes. A CPI que dava sinais de esgotamento tende a
radicalizar-se
Minas 247 - A entrevista do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, à revista
Veja, pode acabar tendo efeito contrário ao desejado. A CPI do
Cachoeira, que caminhava para uma acomodação, pode radicalizar-se. O 247
apurou que vários parlamentares federais do PT estão profundamente
contrariados com o que chamam de “armação” da revista contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e líder do partido.
Segundo a Veja, Lula teria pressionado Mendes a protelar o
julgamento do mensalão para não prejudicar o PT nas eleições municipais
deste outubro. Segundo o ministro do STF, o ex-presidente teria
insinuado a possibilidade de blindá-lo na CPI em troca do adiamento do
julgamento do mensalão. Mendes já foi desmentido pelo ex-ministro da
Justiça Nelson Jobim, que participou da conversa relatada pela revista.
Como quase sempre ocorre, os deputados do PT não querem se
apresentar publicamente, ao menos por enquanto, por temerem represália
da revista. Mas eles vêem “inconsistências” na denúncia de Veja. Em
primeiro lugar, estranham que Lula tenha procurado justamente Gilmar
Mendes para negociar o atraso no julgamento dos mensaleiros. Nomeado
para o Supremo por Fernando Henrique Cardoso, Mendes não é relator do
processo do mensalão (Joaquim Barbosa), nem revisor (Ricardo
Lewandowski) ou presidente do STF (Ayres Brito). A negativa enfática de
Nelson Jobim também trabalha contra a veracidade da denúncia, segundo
eles. Jobim é amigo e ex-colega de Mendes no Supremo. Poderia, pelo
menos, sair pela tangente quando consultado sobre a reunião com Lula,
mas optou por uma negativa categórica: “De forma nenhuma, não se falou
nada disso”. Jogou o colega em maus lençóis.
Um outro aspecto lembrado é que, ao contrário de denúncias
anteriores, a deste fim de semana não teve tanta repercussão nos outros
meios de comunicação. Pelo contrário, repercutiu mais a negativa de
Jobim dada ao jornal O Estado de S. Paulo do que a própria fala de
Gilmar Mendes. O mesmo Mendes, no penúltimo ano do segundo mandato de
Lula na presidência, afirmou, à mesma Veja, ser vítima de grampo em
conversas com o senador Demóstenes Torres - até hoje o áudio dessa
escuta não apareceu.
O sentimento dominante na bancada petista é de que a Veja
estaria jogando suas últimas cartadas na tentativa de desmerecer a CPI
do Cachoeira, na visão dela uma jogada de Lula para acorbertar o
mensalão.
Não há deputado ou senador petista que acredite na nova
denúncia da revista, pelos motivos expostos acima e pelo histórico de
Veja contra Lula e o PT. Até este fim de semana, a posição era de
moderação em relação à possibilidade de chamar o jornalista Policarpo
Júnior, chefe da sucursal da publicação em Brasília, e o dono da
revista, Roberto Civita, para prestarem depoimentos à CPI. Agora, depois
da denúncia de Gilmar Mendes, essa posição corre risco.
O tiro de Veja contra Lula saiu pela culatra: vai
radicalizar uma CPI que dava sinais de esgotamento e reforçar a posição
de quem defende que as investigações não poupem nenhum lado, incluindo
os meios de comunicação.
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