Chicana de Joaquim Barbosa - mensalão como trunfo da imprensa e do PSDB.
DAVIS SENA FILHO 13 de Setembro de 2013.
Publicado no blog Brasil247.com
A AP 470 é um processo longo e
complexo, que é usado de forma política por juízes, promotores,
políticos e pela imprensa de mercado. A chicana, quem diria, veio do
condestável juiz e presidente do STF, Joaquim Barbosa. Ao perceber que o
juiz decano Celso de Mello estaria pronto para votar e desempatar o
"jogo" a favor da admissibilidade dos embargos infringentes (recursos
cabíveis contra acórdãos não unânimes proferidos pelo Tribunal)
encaminhados pelos advogados de defesa de 11 acusados, JB não se fez de
rogado e adiou a sessão e o voto do decano para o dia 18 de setembro.
Nada como um dia após o outro —
reza o ditado popular —, pois salutar se torna lembrar que o juiz
Ricardo Lewandowski foi acusado por Joaquim Barbosa de fazer chicana,
com a finalidade de prolongar o processo do mensalão. A verdade é que
Lewandowski estava apenas a realizar a leitura de sua revisão quanto aos
processos relatados pelo relator do caso no STF, o juiz Joaquim
Barbosa, presidente da mais importante Corte do Poder Judiciário deste
País.
Lewandowski se sentiu
desrespeitado, e reagiu com indignação ao furor tão comum ao presidente
do STF. JB tem se mostrado um homem nervoso, agressivo e useiro e
vezeiro em tratar com desdém, ferocidade e autoritarismo as pessoas que
ele considere não estarem de acordo com a sua maneira de pensar e
interpretar os códigos do Direito, as leis do País, a Constituição e o
regimento interno do Supremo.
O magistrado dá a impressão ainda
que os fatos, as realidades e as causas que envolvem seriamente as
pessoas e que porventura tenham que passar pelo seu crivo são apenas
meros acontecimentos originados dos autos de inquéritos repassados pela
Procuradoria Geral da República. Entretanto, o processo mexe
profundamente com as vidas dos cidadãos acusados de cometer crimes como
formação de quadrilha e corrupção ativa. Esses fatos não podem ser
tratados por um tribunal de um estado democrático de direito com
interesse político e partidário e muito menos midiático.
Marco Aurélio de Mello, Gilmar
Mendes, Luiz Fux, Carmem Lúcia e Joaquim Barbosa se comportaram como um
time de futebol que ao perceber que vai perder resolve fazer catimba e
"melar" o jogo. O decano Celso de Mello disse que daria seu voto em
cinco minutos sobre a questão da aceitação ou não dos embargos
infringentes, que constam no regimento interno do STF e que tem força de
lei, além de prever a possibilidade de condenados pelo Supremo recorram
da decisão quando houver pelo menos quatro votos pela absolvição.
Celso de Mello disse em 2012 que
era favorável aos embargos infringentes. Sua opinião consta em vídeos
que circulam pela internet, bem como foi veiculada nos jornais
televisivos e na mídia impressa. Sabedores dos votos favoráveis dos
juízes Ricardo Lewandowski, Roberto Barroso, Dias Toffoli, Rosa Weber e
Teori Zavascki, além de Celso de Mello aos embargos infringentes, o juiz
Marco Aurélio leu o seu longo voto e depois passou a polemizar com o
juiz Barroso, de forma açodada e até mesmo desdenhosa ao chamá-lo de
"novato".
Joaquim Barbosa encerrou a sessão e
deu como argumento a seguinte pérola ou chicana: "O ministro Celso de
Mello disse que já tem seu voto pronto, mas como três ministros já se
ausentaram por conta da sessão no TSE, declaro esta sessão encerrada".
Volto a lembrar: Celso de Mello disse que pronunciaria seu voto em cinco
minutos, e mesmo assim o juiz JB não lhe deu ouvidos e adiou a votação,
que daria um placar de 6 a 5 para os magistrados favoráveis aos
embargos infringentes, ou seja, a um novo julgamento de 11 dos acusados,
conforme o regimento interno do STF.
Joaquim Barbosa prolongou o
julgamento e não ouviu ninguém da imprensa inquisidora a chamá-lo de
chicaneiro ou de usar seu cargo de presidente do STF a favor de pressões
vindas da mídia de negócios privados, que quer porque quer a prisão dos
envolvidos com o "mensalão". JB deu a oportunidade de a imprensa
corporativa pressionar durante quase uma semana o decano Celso de Mello
para que ele mude seu voto e opinião, bem como sua consciência no que
concerne aos embargos infringentes dos quais é favorável.
Ora meça! Os réus têm direito ao
contraditório e ao amplo direito de defesa. Ser acusado por meio de
provas tênues como disse certa vez o ex-procurador Roberto Gurgel a
respeito do ex-ministro José Dirceu é a desfaçatez em toda sua essência e
amplitude. Ressalta-se ainda que julgar alguém pelo cargo que ocupou e
supostamente por estar em tal posição ser obrigado a saber o que está
acontecer em seus pormenores é um absurdo. Provas têm de ser colhidas,
comprovadas e de forma inquestionável e absoluta, porque senão o
julgamento se torna julgamento à moda Torquemada.
Os juízes conservadores do STF e
que estão a fazer política partidária e ideológica há quase dez anos
cometeram chicana e jogaram o decano Celso de Mello às aves de rapina da
mídia comercial e privada, que, sistematicamente, tenta pautar o
Governo Federal e as instituições republicanas, ao tempo que faz
política no lugar dos derrotados PSDB, DEM e PPS. Joaquim Barbosa, Marco
Aurélio de Mello e Gilmar Mendes, principalmente estes, são juízes que
demonstraram, inequivocamente, seus compromissos com o lado reacionário
dos conservadores deste País.
São inúmeros os atos e ações
desses juízes em prol dos interesses do campo da direita brasileira. O
voto de Gilmar Mendes, por exemplo, foi um jogral de ataques políticos
ao PT. Com voz altissonante, tal juiz de ações jurídicas e pessoais
bastante questionáveis, atacou um partido como se a maior agremiação
política deste País e que mudou o Brasil em apenas 11 anos fosse
composta por bandidos. Quando um juiz de direita, de conduta pessoal e
profissional fortemente questionada por parte da sociedade se comporta
dessa maneira é porque ele não respeita os milhões de cidadãos
brasileiros que votaram no PT e nos seus aliados.
Gilmar Mendes é assíduo
frequentador lugares públicos e privados onde circulam políticos tucanos
e do DEM. Participa, inclusive, de reuniões sociais, de lançamentos de
livros de ataques políticos e pessoais ao ex-presidente Lula, ao PT, ao
José Dirceu, o que, indubitavelmente, não condiz com o cargo que ocupa,
pois ele é um dos juízes que julgam o "mensalão". Todavia, este juiz
autoritário e direitista não foi ao lançamento dos livros "A Privataria
Tucana" e "O Príncipe da Privataria".
É público e notório seu
preconceito pelo Partido dos Trabalhadores e por todo e qualquer
movimento social e popular. Como também são bastante conhecidos seus
habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas e ao médico Roger
Abdelmassih, dentre muitos outros casos polêmicos e, irrefragavelmente,
questionáveis pela sociedade brasileira e pelo mundo jurídico.
Gilmar Mendes passou a semana a ir
ao gabinete do ministro Celso de Mello para tentar convencê-lo a votar
contra o direito de os réus em ter ampla defesa, por intermédio também
dos embargos infringentes. Tal juiz nunca se comportou como juiz, mas,
evidentemente, como político tucano, ligado ao PSDB e nomeado pelo
ex-presidente FHC — o Neoliberal I — que neste momento faz pressão para
que o juiz Celso de Mello não vote a favor de conceder o direito aos
embargos infringentes.
Somente um cidadão pateta, mesmo
se fosse conservador, não perceberia que o "mensalão" é um processo e
julgamento político. A mídia e os partidos de direita e a classe média
coxinha e reacionária precisam da condenação de José Dirceu, de José
Genoíno e de Delúbio Soares como os seres vivos necessitam de ar para
viver. As eleições de 2014 vêm aí, e os adversários da direita são Dilma
Rousseff e Lula, duas lideranças do PT muito fortes eleitoralmente. É
preciso virar o jogo, e por isto não é à toa que Celso de Mello vai
ficar uma semana sob pressão da mídia, principalmente das revistas
Época, da família Marinho, e Veja, da família Civita.
Os tucanos nunca precisaram tanto
de condenações para politicamente se fortalecer. Por sua vez, esquecem
de seus golpes e falcatruas, escândalos e compra de votos, da Siemens e
da Alstom — do mensalão tucano. Eles se arvoram de paladinos da justiça,
da moral e dos bons costumes, mas se elencarmos seus escândalos e
incompetências e colocarmos no papel, tais incongruências são materiais
para a publicação de um livro grosso como um dicionário.
Merval Pereira, por exemplo,
simboliza todo o ardor e desejo tucanos para prender petistas. O
colunista de direita é autorizado pelos irmãos Marinho a ser suas vozes.
Porém, perdeu o rumo e o prumo. Se os réus do "mensalão" puderem
recorrer aos embargos infringentes, Merval é capaz de cortar os pulsos,
não tanto por indignação, mas, sobretudo, por saber que neste País a
Constituição e o estado democrático de direito ainda são respeitados. O
que resta agora é esperar, no dia 18 de setembro, o voto do juiz severo e
garantista Celso de Mello. É isso aí.
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