domingo, 29 de setembro de 2024

DOMENICO LOSURDO - GUERRA E REVOLUÇÃO

DOMENICO  LOSURDO - Os comunistas e a revolução anticolonial mundial. Entrevista de Domenico Losurdo à TV BOITEMPO por ocasião do lançamento de seu livro GUERRA E REVOLUÇÃO.  
 
A Revolução de Outubro foi o começo da revolução anticolonial mundial. O centenário da Revolução de Outubro é, certamente, a ocasião para se discutir o significado do século XX.
Metodologicamente, eu escrevi... neste livro, eu citei um historiador francês chamado Edgar Quinet. Quinet, ao discutir o significado da Revolução Francesa, escreveu que para entender a Revolução Francesa temos que considerar não apenas a França, mas o mundo inteiro. Porque a França talvez não seja o país que mais se beneficiou da revolução. E eu acredito que esta metodologia é muito importante. Nós não podemos entender a Revolução Francesa se nós concentrarmos a nossa atenção apenas na França, apenas em um país..
O significado dessa revolução não pode ser entendido se nós abstrairmos da grande revolução anticolonial que aconteceu em São Domingos, atual Haiti. No despertar da Revolução Francesa, nós vemos em São Domingos uma colônia habitada em maioria por pessoas negras escravizadas e nós tivemos uma grande revolução anticolonial. Nós vemos uma revolução onde o líder foi Toussaint Louverture, um homem negro escravizado. E, na minha opinião, ele é um campeão da causa da liberdade e que tem um lugar importante no panteão de heróis da liberdade. Toussaint Louverture foi o primeiro a combater a escravidão Esse país, São Domingos, o Haiti, se tornou o primeiro país do continente americano a ser livre da escravidão. Não os Estados Unidos!
O primeiro lugar livre da escravidão foi São Domingos. Essa revolução é uma grande data da História mundial. E essa revolução foi, certamente, uma consequência da Revolução Francesa, foi o resultado da ala mais radical da revolução francesa. Mas a historiografia tradicional fala da Revolução Francesa sem falar da grande revolução negra. E nós já vemos aí as características do revisionismo histórico. A abstração da questão colonial, a abstração da contribuição dos povos colonizados para a derrubada da escravidão, para a derrubada do despotismo e para a afirmação da liberdade.
E o que eu disse agora sobre a Revolução Francesa é ainda mais válido se considerarmos a Revolução de Outubro. A Revolução de Outubro não pode ser entendida se nós considerarmos apenas a Rússia e a Rússia soviética. A Revolução de Outubro foi o começo da revolução anticolonial mundial. Isto é, se nós considerarmos o significado da História contemporânea desde a Revolução Francesa até hoje nós vemos o sistema mundial baseado na escravidão e dominação colonial sendo derrubado primeiro pelos jacobinos, por Toussaint Louverture e, mais tarde, pelos comunistas...pelo movimento comunista. Isto é, uma grande contribuição para a causa da liberdade dos jacobinos, primeiramente, e, mais tarde, para os comunistas, foi silenciada pela ideologia dominante e pela historiografia dominante. E esse silenciamento é, ao mesmo tempo, a reabilitação da tradição colonial, porque a opressão colonial é considerada por essa historiografia como algo que não é muito importante.  
Apenas a História da comunidade branca é importante.A opressão das colônias e das pessoas de origem colonial é considerada de pequena importância. Apenas desta forma, nós podemos entender a ideologia dominante segundo a qual os EUA foi o primeiro país democrático na História mundial. O que eles chamam de primeiro país democrático foi o país onde negros eram escravizados e os indígenas exterminados. Mas, para a ideologia dominante isso não tem grande significância.
 
POR QUE LER DOMENICO LOSURDO?  Vídeo da BoiTempo em que Jones Manoel comenta as obras de Domenico Losurdo, logo após o seu falecimento em 2018.
Salve galera porque ler Domenico Losurdo -  um intelectual marxista italiano que faleceu recentemente e sua obra se configura como a contra-história da modernidade burguesa. A obra de LOSURDO  tem  quatro vetores fundamentais - ele realiza a contra  história do liberalismo ou seja ele tira o liberalismo de um mito construído pela classe dominante que é uma ideologia política que sempre garante os direitos individuais à democracia, analisando por exemplo a relação íntima entre liberalismo e escravidão - também traz a questão colonial para o centro da análise histórica - então o que foi os processos de colonização em toda modernidade burguesa e que existem até hoje - a questão colonial que normalmente é apagada justamente pelos intelectuais liberais e  ideólogos da ordem dominante para criar essa ideia de um capitalismo democrático civilizado que garante os direitos individuais – não ressaltam a realidade da periferia do sistema das colônias.  LOSURDO também a partir dessa análise crítica do liberalismo da questão colonial propõe uma releitura da história do movimento comunista especialmente das experiências socialistas no século 20 buscando combater todos e cada um dos mitos que tem como objetivo demonizar a história e a identidade comunista. LOSURDO foi intelectual que enquanto vivo nunca fugiu das brigas fundamentais do seu tempo. Seu livro Stalin - história crítica de uma lenda negra e também  Guerra e Revolução sustentam que as principais leituras historiográficas sobre as experiências socialistas estão equivocados. A partir da obra de LOSURDO  podemos por exemplo derrubar o mito do totalitarismo que tenta aproximar como se fossem projetos políticos gêmeos, o nazismo e o fascismo e o socialismo soviético. Aliado a isso  propõe uma reconstrução do marxismo com bases não eurocêntricas, considerando a questão colonial e a questão nacional como centro da estratégia revolucionária –essa perspectiva perpassa toda a sua obra mas foi expressa de maneira sintética no livro recentemente lançado pela Boitempo “o marxismo ocidental” - a obra de LOSURDO  é fundamental para todo comunista mas particularmente para o comunista que atua na periferia do sistema capitalista como é o caso de todas as lutadoras e lutadores sociais que estão no Brasil. A partir de LOSURDO nós podemos derrubar os mitos da ideologia dominante e combater o liberalismo,  entender o verdadeiro sentido da democracia popular radical para os trabalhadores defender a soberania nacional dos povos em luta contra o imperialismo e ter uma visão crítica  das experiências socialistas de ontem e de hoje. Como intelectual polêmico nunca se furtou a crítica e autocrítica sua posição sobre a China por exemplo é minoritária no movimento comunista É o tipo de intelectual que você pode não concordar com muitos aspectos de sua obra mas sem dúvida a leitura é instigante. Me apropriando de um texto  de Fannon  eu diria que LOSURDO é um intelectual dos condenados da terra, ele pensa o marxismo e a crítica ao capitalismo à partir da periferia do sistema. É um intelectual que mesmo sendo italiano escrevendo da Europa sua obra tem muito sentido para as lutas do povo palestino coreano venezuelano brasileiro cubano e assim por diante. É um intelectual indispensável e fundamental pra pensar o processo de construção da revolução brasileira e da renovação do marxismo -  um sentido crítico revolucionário fugindo de qualquer eurocentrismo anti comunista, por isso é fundamental ler com muita atenção a obra do professor Domenico Losurdo não só um professor como um intelectual profundamente comprometido com o movimento comunista e com as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo.  Eu sou Jones Manoel sou professor de história e educador popular e militante comunista que como vários militantes no Brasil aprendeu muito com a obra do professor LOSURDO e com vários outros marxistas que para além de tentar melhorar esse sistema que não têm possibilidade de melhora a não ser uma outra sociedade em que  um outro mundo é possível e busca transformar radicalmente a ordem dominante com vistas a construir uma sociedade socialista.
 
A IMPORTÂNCIA DE DOMENICO LOSURDO. Desvendando  mitos sobre Liberalismo e Questão Colonial, mentiras sobre o Stalinismo e  críticas ao Marxismo Ocidental.
 
QUESTÃO COLONIAL.  Domenico Losurdo deixa claro na entrevista em que concedeu à TV Boitempo no Brasil que o Liberalismo burguês é uma falácia – tanto em termos liberais quanto democráticos – pois defende a liberdade ao mesmo tempo que a escravidão (uma questão menor para eles) quanto uma democracia livre (em que os direitos não são iguais para todos). Uma liberdade com racismo, discriminação e preconceitos vários e direitos discriminados e em consequência chegam até a justificar o genocídio – genocídio contra negros e indígenas. Democracia que justifica a SUPREMACIA BRANCA?   QUE DEMOCRACIA É ESTA?
 
STALINISMO. Domenico Losurdo também contribui muito junto com outros autores de seu tempo para desmistificar e desmentir o MITO DO STALINISMO.  Losurdo concorda com Ludo Martens. um historiador e presidente do Partido dos Trabalhadores da Bélgica, que publicou o livro Stálin – um novo olhar onde procura esclarecer e desmentir ideias sobre o mesmo, classificando-as como exageros, mentiras e invenções da mídia capitalista e anti-comunista a cerca do líder soviético.  As mentiras e mitos foram desvendados a partir da abertura dos antigos arquivos secretos soviéticos  realizados após a queda do regime soviético, da glasnost e perestroika (arquivos da KGB inclusive).  Autores como Robert Thurston, John Arch Getty, Losurdo e Grover Furr, debruçaram-se  sobre estes arquivos. Grover Furr afirma que Khrushchev mentiu em seu relatório de 1956. .Nenhuma das "revelações" concretas de Khrushchev sobre Stalin ou Beria se revelou verdadeira.  Entre aqueles que puderam ser verificados com dados, todos eram falsos.. O   historiador americano Robert Thurston, que publicou em meados da década de 1990 a monografia científica Life and Terror in Stalin’s Russia – 1934-1941, revelou as seguintes conclusões : o sistema de terror stalinista na forma em que foi descrito por gerações anteriores de pesquisadores (ocidentais) nunca existiu; a influência do terror na sociedade soviética durante os anos de Stalin não foi significativa; não havia medo em massa de represálias na década de 1930 na URSS; a repressão foi limitada e não afetou a maioria do povo soviético; a sociedade soviética preferia apoiar o regime stalinista do que temê-lo. Assim todo o discurso anti-stalinista criado no pós-guerra pelos ideólogos da Guerra Fria, principalmente aproveitando o relatório mentiroso de Khrushchev, foi indispensável para o sucesso do imperialismo. A partir, deste momento, o imperialismo e sua agência de inteligência, passaram a atuar ainda mais intensamente no combate ideológico anticomunista aproveitando-se da confusão instalada por Khrushchev. Os intelectuais que antes saudavam o heróico Uncle Joe da II Guerra Mundial, passam a compará-lo a Hitler, com  intenções distintas dentro da direita e, também da “esquerda”.  Aqui a propaganda anticomunista chega ao seu ponto primordial, explora a imagem comum entre ambos países, como antros do totalitarismo, para assim vender a idílica democracia liberal burguesa como a única via possível. Muita gente diz e esta é a verdade, que a Guerra Fria foi uma verdadeira guerra de narrativas em que a versão ocidental venceu amplamente, convencendo até mesmo os intelectuais da esquerda européia, que se tornaram anti-stalinistas e criaram o eurocentrismo.

MARXISMO OCIDENTAL X MARXISMO ORIENTAL...
LOSURDO critica os marxistas ocidentais por analisarem o mundo num tipo de abordagem eurocêntrica, centrada apenas na visão do desenvolvimento capitalista na Europa (feudalismo > capitalismo > socialismo > comunismo), diferente da abordagem do marxismo oriental, que sem esquecer a luta de classes centra sua abordagem na luta anti-colonial e anti-imperialista. O marxismo ocidental queria excomungar o marxismo oriental, mas acabou sendo excomungado. Ele mesmo se definha e praticamente morre absorvendo parte da doutrina burguesa liberal, se contradiz e acaba concordando com as críticas liberais burguesas ao analisarem as experiências orientais. Os marxistas ocidentais no pós-guerra fria abominaram as experiências soviéticas e chinesas e desta forma sucubem à sua própria interpretação, pois ficaram presos às suas críticas tipicamente liberais burguesas. Dentre estes intelectuais eurocêntricos, o autor cita Perry Anderson (trotskista contra a União Soviética), Hannah Arendt, Michel Foucault, Giorgio Agamben, Antonio Negri, Slavoj Zizek, Max Horkheimer, Althusser, Marcuse, Adorno, Bloch, etc. Estes intelectuais acabaram defendendo o Imperialismo “democrático” que impuseram ditaduras e escravidão no Terceiro Mundo.
 
No Oriente (e na prática em todos os países onde os comunistas conquistaram o poder) o problema prioritário para os dirigentes políticos não era promover a “desintegração do aparelho estatal”, mas outro bem diferente : como evitar o perigo da submissão colonial ou semicolonial e de que maneira superar o atraso em relação aos países industrialmente mais avançados.
 
O Ocidente ao ganhar a guerra fria, praticamente mata o marxismo ocidental. Existia a visão de que o Ocidente era livre e democrático e o Oriente dominado por ditaduras totalitárias e cruéis.  Acontece que os marxistas no Ocidente negaram em suas análises, que as potências capitalistas ocidentais na verdade colocavam em prática políticas discriminatórias imperialistas tão ou pior do que os regimes totalitários. Daí que os marxistas sumiram durante um bom tempo na Europa. E vários marxistas ocidentais assumiram esta visão condenando os regimes orientais. Só agora, os ocidentais estão percebendo as diferenças entre os dois e começando a entender que a luta deveria na verdade, ser uma só.
 
Daniel Miranda Soares é economista formado pela UFMG e mestre pela UFV, e ex-professor de História Econômica e Economia.


domingo, 22 de setembro de 2024

UMA CRÍTICA AO MARXISMO OCIDENTAL

 

MARXISMO  OCIDENTAL   -  O fetichismo da derrota

 

Darcy Ribeiro era um frasista excepcional, destacando-se pela capacidade de sintetizar em sentenças curtas reflexões sofisticadas sobre problemas complexos. Ao lamentar aquilo que enxergou como tentativas frustradas de contribuição para o desenvolvimento nacional, o antropólogo criou uma frase que, com algumas variações, se tornaria um dos adágios mais repetidos da esquerda brasileira: "Perdi, mas detestaria estar no lugar dos que me venceram". Não é difícil compreender a popularidade da frase.

 

Encharcado de purismo ideológico e autoafirmação de superioridade moral, o adágio sintetiza com perfeição um fenômeno descrito por Domenico Losurdo e Roland Boer como "fetichismo da derrota".

Em maio de 2020, o historiador Jones Manoel publicou um vídeo abordando a questão da influência da cultura cristã na constituição do universo simbólico e teórico do marxismo ocidental. Malgrado a enorme importância da igreja católica na formação da cultura, do imaginário popular e do inconsciente coletivo dos povos ocidentais, a absorção de dogmas religiosos pelo pensamento marxista ocidental ainda é um tópico pouco estudado. Essa influência é acentuada por uma particularidade histórica. Ao contrário do marxismo oriental ou soviético, o marxismo ocidental jamais conseguiu produzir uma revolução e, consequentemente, jamais teve de lidar com o poder político. Assim, seu enfoque voltou-se para as análises filosóficas, estéticas e sociológicas - onde predomina a influência do imaginário cristão -, ao mesmo tempo em que se distanciou das discussões pragmáticas sobre o cotidiano das massas e a conquista do poder político.

 

Uma vez que nunca conseguiu produzir uma revolução, o marxismo ocidental também desconhece as dificuldades inerentes ao processo revolucionário - isso é, nunca teve de lidar com os problemas, as falhas, as contradições de uma revolução. A consequência disso é o reforço do purismo ideológico. Do alto de um pedestal de superioridade ético-moral, o marxismo ocidental se congratula por nunca ter precisado "deturpar" o marxismo nem "sujar as mãos" com o exercício do poder político - ignorando a obviedade de que tal purismo só existe por nunca ter sido posto em prática. Afinal, a única revolução socialista vitoriosa do ocidente - a cubana - foi inteiramente influenciada pelo marxismo oriental e soviético. Mas, julgando-se o guardião da pureza da doutrina, o marxismo ocidental aponta os dedos para todos. Condena o "revisionismo chinês". Critica o "totalitarismo coreano". Maldiz a "ideologia de Estado soviética". Renega o "autoritarismo cubano".

 

Avançando no paralelismo entre o marxismo ocidental o imaginário cristão, Manoel nota que, da mesma forma que o cristãos renegam os fatos históricos que contradizem a narrativa da benevolência cristã, os marxistas ocidentais renegam as experiências socialistas reais para não contaminar a pureza idealizada da doutrina marxista. A negação se dá rotulando as experiências socialistas como "traições", "contrarrevolução", "revisionismo" ou "capitalismo de Estado".

 

Como nenhum processo revolucionário está isento de contradições e falhas, o marxismo ocidental renega todas as experiências socialistas. Tudo vira capitalismo de Estado. O socialismo passa a ser tratado como o paraíso cristão, uma utopia, uma promessa divina de perfeição inalcançável que não cabe ao marxista construir - apenas esperar acontecer. Mesmo no caso das revoluções bem sucedidas, o marxismo ocidental costuma apenas aprovar o momento glorioso da tomada do poder - abandonando-a assim que surgem as primeiras evidências materiais do processo revolucionário em desacordo com a idealização da doutrina. Manoel pontua o exemplo da dissolução da União Soviética, que chegou a ser celebrada por marxistas ocidentais por supostamente libertar o marxismo de uma experiência histórica que o degenerou, dando à doutrina uma nova chance de redenção.

 

Outra tendência aparentemente derivada da cristianização é a inclinação pela romantização da miséria, da morte e do sofrimento. O marxismo ocidental é viciado em cultuar o martírio e a dor. Essa tendência é observável no tratamento dispensado a duas figuras-chaves da Revolução Cubana - Che Guevara e Fidel Castro. Enquanto Che Guevara, morto durante uma sublevação fracassada na Bolívia, é tratado como um Cristo marxista - um símbolo de resistência, rebeldia e utopia -, Fidel Castro, que conseguiu efetivamente conduzir a Revolução Cubana e manter seu legado vivo por décadas, é tratado como um burocrata cheio de contradições e pecados a expiar. Da mesma forma, Salvador Allende e Hugo Chávez também recebem tratamento bastante diferentes, apesar do fato de terem trajetórias muitos parecidas. Ambos governaram com base em decretos, não raramente impondo sua vontade sobre o legislativo e o judiciário. Mas Allende morreu durante o golpe militar liderado por Pinochet, tornando-se um mártir e sendo reabilitado como um símbolo das aspirações do socialismo democrático.Hugo Chávez viveu o bastante para ter de lidar com as contradições das reformas que conduziu na Venezuela - sendo, portanto, desqualificado como um líder autoritário pela mesma esquerda que aplaude Allende.

 

Manoel propõe a história bíblica do confronto entre Davi e Golias como a base religiosa que inspira as diferentes atitudes do marxismo ocidental diante de dois exemplos de lutas anticoloniais e autonomistas - Coreia do Norte e Palestina. Malgrado o fato de que a Coreia do Norte operou, sob gestão de um governo socialista, um processo vitorioso de resistência ao imperialismo, criou uma economia forte e de estabelecer uma capacidade militar de dissuasão, o marxismo ocidental insiste em desqualificar o regime como um desvio ou traição ao purismo da doutrina. Já a Palestina, empobrecida, oprimida, privada de governo, exército e capacidade de reação, foi convertida em um símbolo universal de resistência - não raramente alimentada por imagens romantizadas de crianças armadas com pedras e estilingues para enfrentar blindados e soldados com fuzis. No Brasil, a romantização da barbárie pode ser observada no discurso de parte da esquerda marxista-leninista-maoísta que passou a desqualificar o MST e a questionar a legitimidade de suas pautas logo após o movimento se consolidar com uma mínima infraestrutura organizacional. Em seu lugar, adotaram a defesa romantizada da "resistência" da Liga dos Camponeses Pobres - descrevendo os sucessivos massacres dos seus membros como uma revolução. Para o marxismo ocidental, a esquerda não pode ser Golias - ela obrigatoriamente precisar emular um Davi desarmado, sem chance de ganhar qualquer contenda.

 

Manoel aborda ainda o caso exemplar da "cristandade" do marxismo ocidental - a análise feita pelo filósofo Slavoj Zizek sobre o golpe de Estado que apeou Evo Morales do poder na Bolívia. No artigo intitulado "Anatomia de um golpe", Zizek pontua como positivo o fato de que Evo Morales não revidou nem reprimiu os golpistas que o depuseram, literalmente exaltando a ausência do ímpeto revolucionário como prova de superioridade moral e definindo isso como evidência de consolidação de um socialismo democrático - quando parece mais com a aplicação literal do versículo do livro de Lucas sobre "oferecer a outra face" ao ser esbofeteado, em uma conjuntura política de quartelada de extrema direita.

 

Por fim, o historiador comenta que o marxismo ocidental parece ter renunciado ao objetivo da conquista do poder e ter se conformado a exercer de forma contínua a "resistência" - da mesma forma que um cristão adotaria a resignação e o conformismo enquanto aguarda a salvação vinda diretamente da intervenção divina. Assim, o marxismo ocidental exerce o que Manoel chamou de "gozo narcísico da derrota e da pureza": abre mão de participar do processo de transformação da sociedade, limitando-se a reagir às determinações alheias, e renuncia todas as experiências concretas de transição socialista, orgulhando-se de não ter nenhum vínculo teórico com as ações mundanas que poderiam comprometer sua pureza ideológica. Constrói assim, um ideário inofensivo, carente de qualquer capacidade transformadora, inútil para conduzir um processo de tomada do poder. E, ironicamente, transforma os guardiões do purismo ideológico da teoria marxista nos maiores "profanadores" da primazia do materialismo histórico e dialético, substituindo-o por um idealismo pueril e tacanho que não tem outro efeito além de elevar a altura do frágil pedestal de superioridade moral do marxismo ocidental. Ao que parece, resta rezar para que a esquerda sobreviva à queda.

 

 

FONTE: "PENSAR  A  HISTÓRIA- grupo do Facebook

 

 

 




domingo, 15 de setembro de 2024

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DOCUMENTÁRIOS "O ORIENTE E O OCIDENTE"

 

CONSIDERAÇÕES  SOBRE OS DOCUMENTÁRIOS “O ORIENTE E O OCIDENTE”

Os dois documentários produzidos pela EBS Documentary por pesquisadores de renomadas Universidades americanas e orientais são excelentes, muito bem elaborados e alcançando bons  resultados, nos dois episódios produzidos. Mas eles focaram mais por aspectos psicológicos e sociais gerais e não chegaram a analisar aspectos mais profundos do ponto de vista da ciência política.

Meus comentários tem a ver com aspectos geopolíticos mais abrangentes que podem comparar de maneira mais ampla as duas civilizações : as orientais e as ocidentais.

 

O PROGRESSO  DAS  DUAS  CIVILIZAÇÕES. Os analistas do documentario do EPISÓDIO 1 considera que os orientais avançaram em todas as áreas do conhecimento algumas mais do que os ocidentais em determinados períodos, e que os orientais não ficaram atrás em termos de ciência e tecnologia, por exemplo. O teorema de Pitágoras já era conhecido no Oriente, muito antes do que Pitágoras; e as matemáticas em geral se desenvolveram bem antes do que os Ocidentais; assim como em vários estágios tecnológicos estavam à frente (pólvora, imprensa, bússola, etc.). Em termos econômicos o Império Romano dominou o mundo e foi o maior PIB do mundo durante quase uns 10 séculos em sua época – IV a.C. até V dC aproximadamente.  Em seguida a China passa  a obter o maior PIB do mundo durante uns 10 séculos até o século XIX de nossa era (um quarto deste século). A partir daí passa a ser dominada pelo Ocidente e seus tentáculos imperialistas. Justamente este período é que me intriga. 

Os pesquisadores do documentário fizeram uma pergunta intrigante mas que eles não conseguiram responder adequadamente. Se o Oriente estava sempre se mantendo à frente, porque não superou o Ocidente? Porque o Ocidente ultrapassou o Oriente nos últimos séculos da consolidação do capitalismo? Exatamente essa é a questão que deve ser analisada – a ascensão do capitalismo no Ocidente. O Oriente se desenvolveu mais lentamente mas estava sempre avançando em termos gerais econômicos e científicos, mas não o suficiente para acelerar um processo de desenvolvimento rápido como aconteceu no Ocidente com o advento do capitalismo.

 

VISÕES  DIFERENTES  DO  MUNDO. E isso não aconteceu no Oriente devido às suas características culturais e sociais. No EPISÓDIO 2 do documentário, vimos que até hoje os orientais possuem uma visão de mundo mais abrangente, mais social, os indivíduos não se enxergam como um EU ATÔMICO (como os Ocidentais se veêm), mas se veêm a partir de terceiros, de como os outros podem percebê-lo – aqui o EU RELACIONAL é preponderante, porque os indivíduos se relacionam com o seu ambiente, interagem com ele, com a natureza, não se colocam acima da natureza, como os ocidentais. No Ocidente o INDIVIDUALISMO é preponderante, o indivíduo que se acha independente dos outros e acima deles, possuem  uma visão atomista em que os objetos são independentes um do outro.  No Oriente o preponderante é o EU RELACIONAL pois tudo se relaciona, os indivíduos não são considerados independentes, os objetos dependem um dos outros – o Ying e o Yang (a luz e a sombra) – eles dependem um do outro. Esta visão mais abrangente facilita uma análise mais solidária e mais realista e integrada do contexto social e econômico. A visão do mundo dos povos Orientais e Ocidentais é determinante para perceber como eles se comportam em relação a outros povos. Os orientais vêem os outros como reflexo do que eles pensam que os outros o vêem. Os Ocidentais vêm os outros a partir de si mesmo de sua individualidade, porque imaginam que eles são independentes e superiores à própria natureza.  Por exemplo, a China no auge de sua civilização nunca saiu por aí, atacando e dominando outras nações,  ou subjugando outros povos, a não ser os de dentro do seu contorno de poder (as divisões internas da China e Mongólia). Já o Ocidente se expandiu através da conquista de outros povos (que eles achavam inferiores) via violência, poder econômico e poder bélico – ou seja pela fôrça passaram a dominar povos em sua periferia na América e na África e posteriormente também na Ásia.   

 

O OCIDENTE CHEGOU PRIMEIRO AO CAPITALISMO.-  O ORIENTE VIRA COLÔNIA . Provavelmente devido às suas características culturais, individualistas, egocêntricas, preconceituosas e competitivas o Ocidente chega primeiro ao CAPITALISMO.  Os ocidentais inventaram o CAPITALISMO, ou seja o MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA, JUNTO COM  O  IMPERIALISMO para acelerar a produção de mercadorias e daí aumentar o lucro de suas empresas. O Imperialismo contribuiu bastante para este processo porque alargava o mercado e o lucro das empresas. Assim o Imperialismo passa a ser hegemônico a partir da expansão do capitalismo que em sua fase inicial vai do século XV ao século XVIII-XIX – ou seja da acumulação primitiva do capital até atingir a REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. Neste período houve uma enorme transferência de riquezas da periferia para o centro do sistema, que era constituído pelos países mais avançados que iniciaram o capitalismo:  Reino Unido, França, EUA, norte da Europa e Japão. O imperialismo destes países competiam entre si para dominar e implantar um sistema colonial (junto com a escravidão) na periferia de seu sistema (Américas, África e Ásia). Estas relações entre centro e periferia, eram relações de dominação e exploração econômica – riquezas minerais, ouro e prata, commodities das colônias direto para o centro hegemônico capitalista que deste modo acumulava quantidades enormes de riquezas que eram usadas para acumular capital, acelerar o desenvolvimento do modo de produção capitalista, com aumentos significativos de mercadorias, gerando lucros e mais lucros. Assim se acumulou uma quantidade enorme de capital primitivo que foi investido e alavancou a Revolução Industrial. Esta revolução gerou um grande progresso das fôrças produtivas dos países centrais – avanços enormes das ciências e novas tecnologias, inúmeras novas invenções e novos processos produtivos que aumentavam significativamente a produtividade do capital que usava a mão de obra assalariada (com baixos salários) para gerar excedentes cada vez maiores (o aumento da produtividade junto com baixos salários aumentava a mais-valia para as empresas). A mais-valia (relativa e absoluta) crescia constantemente pelo incremento da produtividade que diminui custos relativos e assim aumentava as margens de lucro. Tudo isto dentro do mercado que se criou com o advento do capitalismo e derrocada do feudalismo, gerando demanda e oferta, produção e consumo e daí a necessidade de criar cada vez mais mercadorias para os mercados que cresciam.  Assim o Imperialismo domina o mundo a partir da Revolução Industrial e ultrapassa o Oriente, que já no século XIX vira colônia dos ocidentais e também colônia do imperialismo japonês que já tinha conseguido desenvolver a sua Revolução Industrial durante o império Meiji (1860 em diante). Os EUA e Reino Unido e França entram na China, Índia, Vietnam, etc. . Os japoneses entram também na China e  Coréia. E cada um destes impérios extraem mais-valia para acumular capital e desenvolver suas economias mais desenvolvidas no mundo ocidental, que se tornam o centro do sistema mundial. Mas vejam que eles conseguem este avanço enorme de seu sistema econômico capitalista usando o imperialismo como arma, usando o poder bélico, violência, guerras e dominação pela fôrça. É assim que o Imperialismo se desenvolve. Na fase inicial de constituição do sistema eles competem entre si, até o começo da II Guerra Mundial.

 

O IMPERIALISMO DOMINA O MUNDO. A partir da II GGM, os EUA passam a dominar todo o sistema mundial como potência hegemônica capitalista. Mas a partir da queda da URSS em 1991 os EUA passam a ser uma potência única no chamado MUNDO UNIPOLAR.

Pode se notar que durante todo o período Imperialista até hoje (XV-XXI) as relações entre o centro hegemônico e a periferia do Sul Global foram relações de dominação e dependência e de transferência de renda da periferia para o centro. Percebe-se facilmente que enquanto o centro se torna cada vez mais rico e desenvolvido, a periferia vai se tornando pobre e subdesenvolvida. Os países da periferia não conseguem se desenvolver nem melhorar a vida de sua população  – o subdesenvolvimento gera pobreza, fome e concentração de renda. Durante todo este período, qualquer tentativa de romper estes laços de dependência com o imperialismo, resultava em golpes de estado, intervenção militar, derrubada de governos mesmo sendo democráticos para evitar que estes países pudessem se desenvolver e adquirir autonomia e independência em seu próprio desenvolvimento. O Imperialismo considera que os países que não obedecem às suas regras ou não se tornam submissos às suas regras são considerados "inimigos do império" porque desenvolvem uma política externa independente e não condicionada às regras do Ocidente (Rússia, China, Irã. Venezuela, Cuba, etc.) e por isso estão sujeitos às sanções econômicas dos EUA, Europa, etc. o que prejudica bastante suas economias e o seu comércio externo. Cuba ficou enormemente prejudicada com estas sanções. Rússia hoje é o país que mais possui sanções do Ocidente, mas a Rússia conseguiu driblar estas sanções, por razões internas (as empresas estrangeiras que saíram foram substituídas por empresas nacionais, entre outras) e externas (aumentou bastante o comércio com a China), chegando mesmo a crescer economicamente. Neste caso as sanções resultaram em um bumerangue contrário aos interesses originais do Império. 

 

MAS O MUNDO COMEÇA A MUDAR COM O ADVENTO DO SOCIALISMO. ....A partir das Revoluções Socialistas do século XX, as coisas começam a mudar..... começando com a Revolução Russa de 1917, cuja experiência alternativa foi interessante (baseada principalmente em empresas estatais) mas não suficiente para sustentar o processo a longo prazo e terminou se dissolvendo em 1991. Durante este período temos o MUNDO BIPOLAR. A partir da queda da URSS, os EUA passam a ser potência única hegemônica constituindo o MUNDO UNIPOLAR. A dominação e a exploração pela fôrça controla todo o sistema mundial até que surge uma nova potência econômica alternativa. A China que fez sua revolução socialista em 1949, descobre um novo modo  de desenvolvimento econômico, usando as fôrças produtivas capitalista privadas do Ocidente para o seu próprio desenvolvimento, mas contando sempre com controle efetivo do Estado. O Estado passa a direcionar o desenvolvimento econômico e passa a distribuir a renda e melhorar as condições sociais de vida de sua população. Com este modelo a China consegue crescer a taxas altíssimas e acelerar o seu crescimento econômico como nunca visto na histórica econômica mundial – é o que os chineses chamam “socialismo de mercado” ou “socialismo com características chinesas”. Assim a CHINA se torna a maior potência econômica do planeta na última década. A partir do desenvolvimento da China e a recuperação econômica da Rússia de Vladimir Putin (que ultrapassa os EUA em termos de poderio bélico), o mundo passa a adquirir um contorno de MUNDO MULTIPOLAR. Pois países como Rússia e China não aceitam ingerência interna do Imperialismo - são países que possuem uma política externa independente e como tal são vistos como "inimigos dos EUA", ou seja contra os interesses do Imperialismo capitalista. Nesta lista incluem Irã, Cuba, Venezuela, etc.  Cada vez mais o Oriente se expande e cresce aceleradamente ultrapassando os níveis do Ocidente. Mais potências surgem e contrapõem o poderio do Império americano. O Império Ocidental se torna cada vez mais decadente, enquanto que o Oriente se desenvolve e aponta novas saídas ao controle hegemônico ocidental. Os sinais são evidentes de que o MUNDO MULTIPOLAR está se constituindo e fica cada vez mais evidente para os países do  SUL GLOBAL  (outrora chamado Terceiro Mundo ou países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento ou mesmo países periféricos do capitalismo) que é melhor eles se aliarem à Rússia e China do que se aliarem ao mundo imperialista. Está havendo um consenso no mundo periférico ou seja dos países mais pobres e subdesenvolvidos de que eles não vão ganhar nada com o Ocidente e de que a aliança com o Oriente é muito mais vantajosa para eles. Os BRICs se expandem e cada vez mais países estão se afastando de suas relações com o mundo imperialista dos EUA e Europa.

 

Daniel Miranda Soares é economista com mestrado em política e ex-professor de Economia.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

COMO OS ORIENTAIS E OS OCIDENTAIS VÊEM O MUNDO.

 

Como os Orientais e os Ocidentais vêem o mundo.

 

Resumo do documentário  “O Oriente e o Ocidente – Episódio 2 de 2”  de 43 minutos em um outro de 15 minutos da  EBS Documentary,  postado no Youtube há 12 anos, realizado por pesquisadores de Universidades americanas e chinesas. Neste documentário se usa Ocidente para países como EUA, Canadá e Reino Unido; e Oriente para países como China, Coreia e Japão. Postagem de 43 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=AbzGGYA3dbg

Postagem de 15 minutos, resumo da mesma fonte: https://www.youtube.com/watch?v=-AhGhcH518M

 

Os ocidentais em sua maioria vêem o espaço como algo vazio, eles tendem a considerar o espaço como um ambiente onde os planetas flutuam, os objetos no espaço existem de forma independente do que há ao seu redor, MAS os orientais acreditam desde os tempos antigos que o espaço é preenchido com a energia conhecida como GUI, os objetos feito com este elemento estão intimamente ligados ao ambiente. É a partir destas perspectivas distintas que surgem as diferenças entre o Oriente e o Ocidente. No pensamento Ocidental  se dois objetos estão separados eles não produzem efeito algum um ao outro, entretanto no pensamento Oriental os dois objetos separados influenciam um ao outro de alguma maneira, foi dessa maneira que os antigos estudiosos do Oriente vieram a compreender que as marés eram resultado da interação entre a Terra e a Lua .

Os ocidentais tendem a enfatizar a individualidade dos objetos. A totalidade se refere ao agrupamento de coisas individuais, MAS para os Orientais a totalidade se refere a um amontoado sem qualquer individualidade distinta, em outras palavras unidade. Diferentes atividades cerebrais são tipicamente combinadas quando orientais e ocidentais  vem objetos em uma figura. As áreas do cérebro que são associadas principalmente com a percepção. Então o cérebro quando vê uma figura tem que interpretar todas as formas contornos e curvas... e o que nós notamos é quando um cérebro asiático vê uma figura, ele observa a figura como um todo e a parte do cérebro que presta atenção nos objetos individuais não é tão ativada assim.... enquanto os americanos quando olham para a mesma figura o seu cérebro se concentra nos objetos isoladamente.  Os movimentos dos olhos dos ocidentais e dos orientais foram estudadas enquanto eles viam um tigre na selva . O que descobrimos é que os americanos focam os objetos mais salientes e os asiáticos passam muito mais tempo para o que está ao fundo principalmente variando o olhar entre o plano de fundo e o objeto. No pensamento oriental as características de um objeto podem variar dependendo de onde ele esteja, então um tigre no zoológico é visto como diferente de um tigre na selva. Os objetos pertencem ao campo que está ao seu redor – o que é conhecido como a SITUAÇÃO. Os orientais podem ter a tendência a analisar demais a situação de um objeto já que ela determina as suas características.

Considere a pergunta, porque esse objeto é azul.  Para os ocidentais a causa está dentro do objeto porque o espaço ao seu redor é vazio.No pensamento oriental o espaço é preenchido com GUI e os  objetos são uma concentração deste  GUI  logo o objeto é azul por causa do gui que está ao seu redor. Este objeto azul está intimamente ligado aos objetos que estão à sua volta o que significa que deve haver atividades mais complexas fazendo com que ele seja azul.

A interação do Ying e do Yang é o princípio que representa o pensamento oriental. Ying é a sombra e Yang é a luz. De acordo com este princípio nenhum objeto existe sem o outro. ASSIM como a luz e a sombra.

“Isso existe e aquilo existe. Isso fez aquilo surgir. Sem isso não há aquilo. Isso desaparece e aquilo desaparece. “ Samyuktagama, sutra budista.

Os ocidentais separam os objetos e interpretam o seu significado. Separar e interpretar são uma ANÁLISE. A sua origem está no processo de separar. Classificar as coisas traz grandes vantagens isso contribui com o desenvolvimento do conhecimento ao longo do tempo ... é daí que deriva o desenvolvimento científico. A palavra ciência que deriva desse conceito significa separar e isso significa muito para os ocidentais . Os escultores da Grécia antiga exemplificaram esse processo de pensamento analítico. .. eles acreditavam que a beleza de um objeto vinha da proporção correta de cada parte. Isso é conhecido como GOLDEN RATIO ou RAZÃO DE OURO. A Última Ceia de Leonardo DaVinci é a mais famosa pintura na história ocidental; É famosa não apenas pelo seu mérito artístico mas também por apresentar uma perspectiva interessante dos objetos nela desenhados. Este tipo de perspectiva é característico de muitos estilos de pintura ocidental. Quando olhamos pinturas asiáticas identificamos facilmente que os artistas mantem uma visão a partir do Alto, o que é uma técnica completamente diferente da perspectiva ocidental na qual há uma limitação do mesmo ponto de visão. Com este tipo de perspectiva o espaço pode ser incorporado a um sistema coordenado , ao fazer isso o espaço vira um espaço objetivo. A palavra OBJETO pode se referir tanto a alvo de observação como qualquer coisa. O objetivo originado do objeto significa não subjetivo. Além do seu sentido literal a frase “eu vejo” pode significar também eu entendo. Essa perspectiva a qual se origina o ato de ver é um elemento importante para entender a mentalidade ocidental.

Na cultura Ocidental o EU está quase sempre no centro de tudo. Em inglês o pronome pessoal EU é escrito com letra maiúscula sempre, não importando a sua posição na frase. Até mesmo a palavra INDIVIDUAL formada do prefixo negativo IN e da palavra DIVIDIR  sugere algo que já não pode mais ser dividido. Individuais são sinônimos de ÁTOMO os quais são vistos como indivisíveis e impossíveis de quebrar em parte menores. Na cultura ocidental os indivíduos são frequentemente tratados como ÁTOMOS que são as unidades básicas de todas as coisas. Na cultura americana a INDIVIDUALIDADE é um valor supremo. Os ocidentais são criados para serem independentes. Independentes originalmente significa não depender de alguém. A palavra INDEPENDENTE é a combinação do prefixo negativo IN e o verbo depender que significa estar sujeito a.....

Para os Orientais tudo no espaço está mudando constantemente. Para o típico oriental tudo é resultado destas interações com o ambiente. Este crisântemo é parte desta interação. Ele é o resultado de várias interações com o ambiente por um longo tempo .

“Para que um crisântemo floresça, uma coruja deve piar na primavera” (trecho de um poema coreano de So Chongju).

Muitos objetos são criados e desaparecem como resultado de diversos fatores . No budismo isso é chamado “....” (algo como yeugui) que significa que as coisas surgem a partir de outras que já existem... se refere à idéia de que todas as coisas derivam das condições ...  o conceito da rede de Indra é introduzido no livro Avatamsaka Sutra – uma importante escritura budista. A rede de Indra se refere a grande rede que cobre o espaço. Esse termo é uma metáfora que sugere que tudo no espaço é parte desta rede. As bolhas transparentes estão em cada nó desta rede...Essas bolhas representam cada objeto no espaço e cada uma delas reflete a imagem das outras bolhas que a cercam. A maneira com que as bolhas transparentes refletem outras bolhas faz a analogia à mentalidade oriental de projeção relacional. Do ponto de vista oposto o que é visto é oposto à nossa perspectiva logo as pinturas são retratadas de maneira diferente da perspectiva do observador. Pinturas coreanas populares fornecem exemplo dessa perspectiva exterior. A figura pintada não a partir do ponto de vista do pintor mas do ponto de vista do objeto. Se você olhar de perto para uma das  bolhas da rede de Indra você poderá ver que esta bolha reflete várias folhas . No budismo isso é chamado de ......(algo como inshudadadeeu)... que significa que as partes pertencem ao todo e o todo pertence às partes...  Se você olhar atentamente para uma folha você poderá encontrar nela a figura de uma árvore inteira ... há muitos eventos como esse na natureza... isso é tão amplamente aceito que no Oriente é considerado como uma Lei da Natureza. A Lei da Natureza é aplicada ao corpo humano. Na chamada medicina oriental o corpo humano é comparado a um pequeno universo. De acordo com a medicina oriental os humanos são saudáveis quando eles vivem de acordo com a Lei da Natureza... se eles vão contra elas eles ficam doentes. 

No Ocidente porém a mente humana pode ser frequentemente vista como superior as leis da natureza. No Ocidente acredita-se que é a mente que encontra a verdade e não a natureza. Nas faculdades ocidentais eles sempre dão ênfase a seminários, dão ênfase a debates porque isso vem das tradições gregas, quanto mais você lida com o outro mais você discute com o outro , é mais provável que juntos encontrem a verdade e foi exatamente isso que Aristóteles disse – que a verdade é uma característica do discurso, então nós discutimos debatemos argumentamos e assim descobrimos qual é a verdade no meio disso. Desde os tempos antigos no Ocidente a observação e a análise tem-se desenvolvido para encontrar a verdade... nesse processo é necessário que o Observador apresente suas descobertas e permita que os outros procurem por enganos e erros. Assim o processo de trocar idéias e manter uma discussão livre é necessário para que a verdade seja encontrada. No Ocidente a oratória tem sido amplamente considerada . É por esta razão que a eloquência e a retórica foram transformadas em formas de artes visuais.

Ao contrário do Ocidente as pessoas que são eloquentes frequentemente não são confiáveis no Oriente. Em um contexto japonês as pessoas dizem que toda infelicidade vem da boca... aí temos a idéia que falar não é visto como uma coisa boa . No Oriente uma imagem negativa da eloquência existe há muito tempo.... os orientais tradicionalmente expressam que a linguagem é um meio para comunicar significado, então ela não existe para outro propósito. O filósofo juandi (algo como) proferiu a frase “....” a qual diz que se você entende algo então esqueça as palavras.... O próprio Confúcio se referiu que a linguagem não pode conter todos os significados do mundo. .

Para os Ocidentais a atividade na mente e na linguagem acontecem ao mesmo tempo, quando vem um cachimbo surgem em suas mentes a palavra cachimbo e eles a reconhecem. Esse princípio de identidade é um ponto chave da Lógica Ocidental.. PRINCÍPIO DE IDENTIDADE: A = A.  No (ishing= pronúncia em chinês) um livro de filosofia oriental, i se refere a mudança, o assunto principal do livro é mudança e alteração. Enquanto a filosofia ocidental básica é o princípio da identidade , a filosofia básica do Oriente é o princípio da mudança. Nas pinturas ocidentais os pintores pintam os objetos bem na frene deles, os pintores visitam os lugares onde os objetos estão localizados e os pintam. Nas pinturas orientais os pintores dão ênfase às janelas de suas mentes. Primeiro eles fotografam os objetos em sua mente, então quando voltam para casa eles recuperam as imagens que estão em suas mentes e pintam em seus quadros. Quando a mente do pintor é como uma bolha transparente o bambu refletido na bolha sugere que o Observador e os objetos sejam um só na mente. As bolhas mais transparentes são capazes de refletir melhor os objetos, é por isso que na cultura oriental a expressão “a mente deve estar limpa” é bastante usada. A mente mais limpa é capaz de virar uma só com os objetos . No pensamento oriental encontramos a verdade não através da discussão mas através da meditação que torna a mente da pessoa limpa e calma. Os ocidentais tentam entender as coisas analisando os objetos e os orientais tentam tornar um só com ele.

Fonte:  https://www.youtube.com/watch?v=-AhGhcH518M