Crise no setor siderúrgico afeta o Vale do Aço
Daniel Miranda Soares
(*)
Publicado originalmente no Jornal Diário do Aço em 01/08/2012 no endereço:
http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=65434
A desaceleração da economia internacional
impactou fortemente os resultados da siderúrgica mineira Usiminas no
quarto trimestre do ano passado. A companhia apurou lucro líquido de
R$ 77 milhões no período entre outubro e dezembro, o que
representou uma queda de 72% em relação a igual período de 2010.
No ano, a queda também foi dramática: o resultado líquido
totalizou R$ 404 milhões, 74% abaixo do volume apurado um ano antes.
A siderúrgica apresentou o pior resultado em relação a seus
concorrentes brasileiros, Gerdau e CSN.
Mas as coisas podem mudar para a siderúrgica
mineira a partir de agora. Estatísticas divulgadas recentemente,
sobre o mês de junho deste ano, corroboram um quadro mais otimista.
As medidas de estímulo do governo e de redução de impostos começam
a surtir efeito. Apesar do crescimento negativo da produção de aço
bruto em junho de 2012 em relação a junho de 2011 ter caído 8,5%;
no entanto houve crescimento positivo na produção de laminados em
3,1% principalmente pela comercialização de aços longos que
cresceu 9,2% no mesmo período. Portanto, houve reação
positiva na produção de aços planos, fabricados pela Usiminas e
usados na indústria automobilística, entre outros usos. Os aços
planos representaram mais da metade do volume comprado no exterior,
com 196 mil toneladas, alta de 26,7% em relação ao ano passado.
Esta concorrência com o produto importado é que é desleal para a
produção brasileira, mas mesmo assim as coisas melhoraram com a
desvalorização cambial que tende a diminuir o ritmo das
importações.
Uma reação importante também ocorrida no mês
de junho é o aumento das vendas de veículos novos nacionais em 16%
em relação ao mesmo mês do ano passado. As vendas de automóveis
cresceram 33,3% em junho em relação a maio deste ano, embora a
produção tenha caído 0,6% neste mesmo período. Vendas aumentando
e produção ainda em queda significa que temos estoques elevados,
mas em queda. Segundo dados da Anfavea, publicados em 05/07/2012, o
licenciamento de veículos novos leves cresceu 36,6% em junho, em
relação a maio de 2012, representando o melhor junho e segundo
melhor mês da história; e o licenciamento total (automóveis,
leves, caminhões e ônibus) de novos veículos cresceu 35,2%,
representando o terceiro melhor mês da história. Enquanto que a
produção neste mesmo período (jun/maio 2012) foi negativa em
2,6%. A Anfavea explica esse movimento na variação dos estoques: em
maio/2012 o estoque das fábricas representavam 13 dias e o das
concessionárias 30 dias. Já em junho os estoques caíram para 7
dias (fábricas) e 22 dias (concessionárias); ou seja o total caiu
de 43 dias de maio para 29 dias de junho. Os estímulos do governo
propiciaram aumento das vendas e redução do estoque. Com a
continuidade das reduções do estoque a produção tende a aumentar,
como já está acontecendo se medirmos a produção em média diária.
A média de produção diária de veículos novos em junho foi 7,2%
maior do que a média diária em maio deste ano.
Segundo a própria Anfavea, a redução do IPI, a
queda dos juros e o aumento do volume de crédito foram as principais
causas que explicam o aumento das vendas de veículos. O número de
emprego também aumentou na área da indústria automobilística:
foram contratadas 2.000 pessoas a mais em junho, em relação a
maio/2012.
Ipatinga também apresentou número positivo em
junho. Pela primeira vez em mais de um ano e meio, o município passa
a contratar mais trabalhadores do que demitir no setor de indústria
da transformação, segundo dados do CAGED, que registra o movimento
de emprego com carteira assinada. O total de emprego também foi
positivo, embora tenha havido queda de emprego no comércio e nos
serviços industriais de utilidade pública. O saldo líquido
positivo de 161 empregos em Ipatinga (admitidos menos desligados) é
maior do que o de Timóteo (22) e de Cel. Fabriciano (5) na indústria
de transformação.
As transferências tributárias ainda refletem a
crise no setor. As transferências de FPM (IPI e IR) variaram
irregularmente, com altos e baixos em torno de 4 milhões mensais;
enquanto que as transferências estaduais (ICMS, critério VAF)
permaneceram estáveis em torno de 9 milhões mensais, em Ipatinga. A
arrecadação do primeiro semestre de 2012 (critério VAF) foi
ligeiramente superior (2,9%, em termos nominais, sem descontar a
inflação) à do mesmo período do ano passado, em Ipatinga;
enquanto que no mesmo período em Timóteo a queda foi de 18%. As
variações nas transferências federais refletem a política de
redução de IPI (compensadas por aumentos no IR); enquanto que as
variações estaduais (positivas de maio para junho) refletem o
movimento do comércio e serviços locais, inclusive as vendas de
produtos siderúrgicos (já que os municípios ficam com 25% das
vendas das empresas locais).
* Daniel Miranda Soares - economista e administrador público aposentado, mestre pela UFV.
* Daniel Miranda Soares - economista e administrador público aposentado, mestre pela UFV.
Obs: dados divulgados pelo mesmo jornal no mesmo dia (baseados em fontes da própria empresa), confirmam as afirmações deste artigo.
"As vendas físicas totais
apresentaram no 2T12 (segundo trimestre de 2012), o melhor resultado desde o terceiro trimestre
de 2008 (3T08): 1,9 milhão de toneladas, crescimento de 25% em
relação ao 1T12 (primeiro trimestre de 2012). Consequentemente, a receita líquida do período
chegou a R$ 3,2 bilhões, 12% maior do que no trimestre passado.
Contribuiu para este resultado um aumento de 7% nas vendas para o
mercado interno, que atingiram 1,3 milhão de toneladas no período
de abril a junho."
Veja reportagem "Usiminas melhora performance" em
http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=65427
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