quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A condenação de José Dirceu

A condenação de José Dirceu

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

As eleições deste ano foram marcadas por um crescimento espetacular dos partidos de esquerda, em especial PT, PSB e PCdoB. Até o PSOL fez boa figura, elegendo um prefeito numa cidade pequena do Rio e perigando ganhar, no segundo turno, uma capital brasileira.

Declínio dos partidos da direita:




Ascensão dos partidos de esquerda




É nesse contexto que devemos entender a condenação, sem provas, de José Dirceu. O conservadorismo brasileiro o responsabiliza pela crise que vive. O partido da mídia se vê cada vez mais encurralado por um novo país, mais esperançoso, mais democrático, mais socialista. Não lhe resta outra coisa senão ranger os dentes, rancorosamente, e apelar para o judiciário. É bem mais fácil influenciar 11 juízes, a maioria formada na ideologia dominante – mesmo que tenham vindo de estratos humildes, como é o caso de Joaquim Barbosa -, e sem conhecimento suficiente de política, do que manipular a opinião de 140 milhões de eleitores.

Já aconteceu antes no Brasil e tem acontecido, com frequência alarmante, na América Latina. Em Honduras, a corte suprema derrubou o presidente; no Paraguai, chancelou um golpe parlamentar. A condenação sem provas de Dirceu é o que conseguiram fazer por aqui.

Existe toda uma literatura sobre a publicidade opressiva dos meios de comunicação, mas, no caso do mensalão, testemunhamos uma das mais sofisticadas, construída com afinco, dedicação e profissionalismo, por longos sete anos. O poderio da mídia tem declinado junto ao eleitorado, de forma geral, mas cresceu junto às elites. O seu poder de vida ou morte sobre a reputação de empresários, juízes ou políticos continua intacto. Raríssimos conseguem fugir a seus tentáculos. Lula é um caso à parte, e não é a tôa que a mídia tenta destruí-lo diuturnamente, desde 2005.

O espírito machartista, que vigorou de maneira terrível em 2005 e 2006, gerando demissão de centenas de jornalistas, e provocando um endurecimento estarrecedor na mídia, voltou a mostrar as garras no julgamento do mensalão. Juízes que não comungam das opiniões impostas pelos jornalões são espezinhados, humilhados, em notinhas, charges, editoriais. O nível de baixaria não tem limites.

No sábado, eu quase perdi o apetite ao me deparar, perplexo, com essa charge do Chico Caruso, na primeira página do Globo, mostrando Ricardo Lewandowski lendo seu voto num rolo de papel higiênico:




O propalado discurso sobre “respeito às instituições” vai por água abaixo quando se trata de impor o pensamento único da mídia. Ministros do STF que discordam de nossas teses? Pau neles! Sem tergiversação, sem classe, sem hesitar! A notinha asquerosa de Noblat segue na mesma linha:

Não há limites. Inventa-se. Calunia-se. Eu até catei da estante o livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault, onde a humilhação pública aparece com muita frequência na ideologia punitiva. Procura-se punir não apenas o réu, mas assustar toda a comunidade com a qual ele se identifica. Por isso a mídia armou um circo tão poderoso: condenando Dirceu, ela se vingou do Partido dos Trabalhadores, de Lula, e de todas as derrotas que a esquerda tem lhe inflingindo, e que continua a lhe inflingir. Derrotas essas que assustam a mídia corporativa, porque ela precisa manter sua ascendência política para sobreviver financeiramente. Publicidade institucional, uma legislação favorável, além dos contratos de compra de assinaturas, são elementos vitais para os barões da comunicação de massa no país, a quem não interessa nenhum debate em torno do papel político da mídia em nossa democracia.

Numa América Latina onde senhores feudais da mídia exercem uma influência poderosíssima sobre as cortes supremas, o risco à democracia ressurge na forma de golpes judiciários, os quais podem se dar de várias maneiras: cassando-se candidaturas, derrubando-se presidentes, chancelando golpes parlamentares, sempre com base, não em autos, não em provas, mas em ilações que nascem na mídia e se retroalimentam: há uma ilação de que houve compra de votos, então com base nisso se induz que o governo corrompeu o Congresso. Agora vemos que, não fosse uma forte mobilização social, a direita, de fato, teria derrubado o presidente Lula, e todos os avanços sociais que vimos nos últimos anos, não teriam acontecido.
....
Para finalizar, um pensamento de Nietzsche que talvez nos ajude a entender os preconceitos que afloram nos altos estratos da sociedade brasileira, que ainda não engoliram as mudanças paradigmáticas e simbólicas trazidas pelas ondas progressistas que tem açoitado a nossa costa:

“O orgulhoso sente despeito mesmo contra aqueles que o fazem avançar: olha maldosamente para os cavalos de sua carruagem”.

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